Cheguei a Christchurch ainda um pouco abalado após me ter despedido de Catherine no dia anterior. As saudades apertavam cada vez mais, e sentia-me cada vez mais desejoso de regressar um dia a casa seja lá onde ela for.
Christchurch foi uma surpresa. Após deixar tudo no meu hostel, decidi passear um pouco pela cidade, onde fui surpreendido pela devastação do sismo de Fevereiro de 2011. Não consigo por em palavras o quanto a cidade foi totalmente abandonada e na energia que enche agora a cidade. Poucos são os edifícios que estão ainda de pé, e os que sobreviveram estão perto de serem condenados a uma demolição precoce. Admito que não me surpreenderia ver uma multidão de zombies, tal como nos filmes, a surgir por detrás de um dos edíficios onde já não resta nenhuma janela. Após 1h a deambular pela cidade, admito que se vi no máximo 2 ou 3 pessoas que por sinal seriam turistas.
Todo este clima, tirou as poucas energias que tinha no corpo, pelo que tive que regressar então ao hostel para me preparar para o dia seguinte. Esperava-me em breve um salto de queda livre, com muitas emoções pelo meio.
Admito que não por coragem, mas porque tendo a racionalizar tudo, pouco era o nervosismo antes de saltar do avião. A vista era mais do que fabulosa, e nem mesmo o avião que tremia por todos os cantos, foi suficiente para me intimidar.
A porta abre e eu continuo calmo. Enquanto isso, vejo o camera man e alguns dos instrutores a saltarem à minha frente. O meu instrutor coloca-me então na borda do avião e foi apenas aquando o salto que senti um misto de panico com uma total desorientação. Algumas piruetas entre outras manobras totalmente desnecessárias, mas que me proporcionaram depois do salto muita satisfação, fizeram parte do salto. Após alguns segundos, o paraquedas abre por fim e resta apenas silencio.
Não consigo sequer descrever o que foi aquela experiência que me custou perto de 190 euros. Sei que sim foi caro e em tempo de crise é um luxo, mas visto que nem prendas de natal tive ou que não me tenho sequer tratado lá muito bem com toda a comida barata, muitas dormidas em hostels que não desejo a ninguém, isto foi uma prenda bem merecida.
Foi então que aterro por fim, abraço o meu instrutor e percebo que alguem estava caido no chão magoado. Não tenho instrução em medicina, mas sei ainda o suficiente para ter corrido logo na direcção do instrutor que se encontrava no chão.
Pergunto-lhe o que se tinha passado, pelo que me explica que o primeiro paraquedas se tinha enrolado à volta do seu pescoço esticando-lhe as costas, e forçando-o a abrir o paraquedas de reserva. Após alguns exames básicos, concluo que o risco de algo grave ter acontecido era mínimo, mas sento-me ao seu lado até o helicoptero chegar.
Com algumas gargalhadas sobre o meu trabalho, e sobre algumas aventuras relacionadas com o seu trabalho lá passamos o tempo até um helicoptero absurdamente grande chegar. Senti-me um pouco como um Tom Cruise muito aldrabado. Saltei de um avião, socorri alguém, apenas faltava salvar o mundo e ficar com a miúda gira. No entanto os dois últimos difícilmente estariam para chegar.
O dia estava a chegar ao fim e era tempo de regressar novamente a Christchurch.
Após tantas aventuras no dia anterior, era tempo de me preparar para me juntar a mais uma das pessoas que conheci na internet, e começar viagem com ela. Desta vez temos então Svea, uma alemã de 24 anos que tirou um ano para trabalhar na Austrália, e que viaja agora pela Nova Zelândia.
Para poupar dinheiro e para conseguir mais alguma emoção, decidi então pedir boleia até Queenstown. Esperavam-me então 600 km em que difícilmente iria conseguir encontrar alguém que me levasse até ao final do meu percurso.
Poucas foram as dificuldades que tive, e pelo caminho tive o prazer de conhecer Tom, um casal que regressava de férias e o qual nunca cheguei a saber o nome, duas senhoras que acabaram por nos levar a sitios fora da sua rota para que conseguíssemos ver o quao bonito é o seu país, London um divorciado de 35 anos fanático por motas e festas, e por fim Sam um “Kiwi” com muito orgulho no seu país, também regressando de férias, e com um coração de ouro.
No final conseguimos cobrir perto de 600km em menos de 11h, e com muitas coisas para contar. Cheguei então ao hostel com um sorriso nos lábios, por saber que toda esta experiência foi mais do que positiva, e com muitas energias fantásticas para me deixar continuar em frente.
Desde que aqui cheguei que tudo à minha volta parece em muito surreal. Parece como que pintado ou construido por mãos humanas tal e qual parque de diversões. Passei já por Christchurch, a cidade fantasma, Queenstown, a cidade perdida nas montanhas, Milford Sound, o surreal parque natural que nunca irei esquecer, os glaciares Fox e Franz Josef, e agora um pequeno parque de campismo natural, no meu caminho para o norte da ilha sul.
Penso que por vezes quem aqui vive, ou sente na pele e vive toda esta magia que nos rodeia, ou simplesmente nem sequer tenta compreender o que tem aqui de tão precioso. Sei que depois do filme do Senhor dos Aneis, muita coisa mudou, e hordes de turistas invadem ambas as ilhas durante todo o ano. Sei também que nestes últimos 4 meses de viagem, isso não ajuda em nada à hospitalidade dos habitantes locais.
No entanto sei também que pouco irá estragar a magia deste local, e aguardo então pelo seu desfecho no dia 16. Muito em breve irei ter uma semana na Argentina e depois parto então para a Bélgica onde irei iniciar uma nova viagem, desta vez sem sair do mesmo sítio.
Por enquanto tenho toda esta magia da Nova Zelândia, dentro de mim.
Os sonhos nascem aonde formos felizes!!!
Fabuloso…nada melhor essa faceta de aventura,é preciso ás vezes, até ser um pouco inconsciente!!Mas o qual ficam experiências inesquecíveis!!
Agora na Argentina, vai ser mais divertido….ou não fosse a terra do tango!!
Até à próxima Filipe!
E sem duvida que irei aproveitar. Conto até tirar umas aulas de tango durante a semana que lá irei estar. Mas tudo depende do “budget” que já é bastante baixo.
Obrigado
Viva Filipe. Não imagina que Christchurch continuasse assim, após este tempo decorrido do desastre… Mas claro, reconstruir uma cidade não deve ser fácil.
Quanto ao teu salto, tive oportunidade de fazer um idêntico este Verão passado. Foram 4000m e 50s de queda livre. Uma excitação tremenda e aquando da abertura da porta… um pânico que me fez pensar, já em salto, que não iria chegar lá em baixo sem antes perder os sentidos. Bem, tudo pânico, dei saltos e piruetas… e no final lá consegui estabilizar e tentar aproveitar a vista e a sensação. O corpo humano não foi feito para sentir aquilo… =)
Espero por mais noticias tuas! Abraço, JF @ Porto
O meu grande problema foi ir cheio de coragem e racionalizar tudo. Depois quando lá cheguei percebi que nada podia ser racionalizado. E o pior penso que é quando a nossa cabecinha começa a dar instruções de que algo está errado.
Grande abraço João
Arrebatador…..
Força, falta muito pouco. E a Argentina vai ser um espectáculo 😉
Let the magic grow within you… =)
Obrigado Rita. Falta já muito pouco e dia 29 irei estar em Portugal por uma semana. Aterro em Lisboa e depois bem, vai ser reencontrar amigos, fazer a minha tatuagem para comemorar esta viagem e depois logo vemos.
Abraço