O cinema não resiste à tentação de arrombar as portas (acabo, eu também, de o fazer, mostrando a imagem do golpe de misericórdia no apartamento de Jean-Louis Trintignant e de Emmanuelle Riva). Mas o que é leal neste filme é a permanente negociação dessa intromissão. Não podia ser de outra maneira: os vivos não percebem nada dos mortos.
Dito isto: um novo puritanismo anda a querer dizer-nos o que se deve ou não filmar – recordem-se as reacções a Nana, de Valérie Massadian (por causa da matança do porco e da criança), ou a Michael, de Markus Schleinzer (por causa do actor-criança e do pedófilo) . Para que fique claro: o cinema faz mal. Se não fôssemos suas vítimas não estaríamos aqui.
(A Amour, de Michael Haneke, a Palma de Ouro de Cannes e o recente vencedor dos prémios do cinema europeu, voltarei…)