Hoje, DocLisboa, Mekong Hotel, de Apichatpong Weerasethakul
Uma relação entre mãe e filha ao longo dos séculos. A mãe é um vampiro e chega a comer a filha quando esta está no auge da sua paixão por um homem. O espírito da mãe é colocado num vaso debaixo de água e o espírito da filha segue o seu homem nas várias reencarnações dele – enquanto isso mãe e filha vão comunicando telepaticamente.
Isto era filme de Apichatpong Weerasethakul – que nunca chegou a ser feito, esteve para se chamar Ectasy Garden. O que o cineasta tailandês faz em Mekong Hotel é recriar momentos desse argumento à beira do Mekong, na fronteira entre Tailândia e Laos, região onde filmou O Tio Boonmee… É como se Mekong Hotel estivesse então a contemplar Ectasy Garden. Ou seja, um documentário sobre um filme que nunca chegou a ser feito e que absorve, ele próprio, as características daquilo que é puro fantasma: uma placidez convidativa que nos apanha, porque alberga, como esta região atravessada pela serenidade do Mekong, uma memória traumática da História. Isto é, Mekong Hotel é Apichatpong meets Apichatpong. Não é um filme sobre fantasmas, é um filme-fantasma.