A propósito das declarações homofóbicas de Gentil Martins, médico, ou das declarações xenófobas de André Ventura, dirigente e candidato do PSD em Loures, houve quem ensaiasse uma fuga indiscreta com um protesto contra o “politicamente correcto”, uma espécie de censura que intimidaria a liberdade de expressão dos coitadinhos. Aceitar essa discussão admitiria que se trate de um simples problema de linguagem, quando é uma questão de atitude social e de discriminação que fere porque pretende ferir. Lastimo esse nevoeiro, tanto mais que se conhece bem como os termos mobilizam os significados: se hoje ninguém usa a sério uma expressão do tipo “fazer judiarias”, é simplesmente porque sabemos o que foi a perseguição a judeus ao longo de séculos e que culminou nos tempos da nossa perigosa civilização.
A linguagem deste caso só é interessante porque o dirigente do PSD, tendo provocado uma tempestade política, veio reafirmar a sua posição, amparado pelo apoio de Passos Coelho e da chefatura laranja. Ou seja, fez questão de manter as suas palavras e de as realçar com mais boçalidades (desejar que o primeiro-ministro vá de férias para sempre, o que é que isso quer dizer?). Ele, doutorado em Direito e professor universitário, quer fazer-se notar por ser boçal. É o estilo que faz a sua candidatura, é aí que joga o seu destino. Ele quer ser conhecido no país pelo modo Trump.
A sua defesa pelo PSD é um risco político. O CDS, que agradece esta possibilidade de se apresentar mais o centro, foge da aliança. Mas até se poderia explicar que, na dúvida, os partidos tendem a defender-se: o autarca socialista de Loures, antes da eleição de Bernardino Soares do PCP, já tinha dado alguns passos no mesmo caminho, e o presidente de junta de Cabeço Gordo, do PCP, impediu o funeral de um cigano na sua terra usando qualquer pretexto (e foi defendido pelo partido).
No entanto, o caso de Ventura é de outra dimensão. Fazer-se amado pela extrema-direita (“é um dos nossos”, diz com orgulho o PNR) é um sinal político, aliás prejudicial do ponto de vista eleitoral, mas acho que há muito mais nesta história.
Ventura é um produto de outra escola: do partido, certamente, admito que até dessas juventudes onde se aprende a matreirice e o carreirismo, mas o que determina a sua pose é a televisão e o comentário desportivo onde iniciou a sua carreira pública. É na pesporrência, na ligeireza, no fanatismo que determina os lugares da normalidade no comentário desportivo (há excepções), que Ventura aprendeu a lançar achas para a fogueira. Como os dirigentes dos clubes, Ventura percebeu que, para ser notícia, é preciso saber ser detestável. O facínora é quem vence na comunicação clubística. E o futebol é um bom caminho para a política (esta semana abri a televisão e vi um debate entre apoiantes dos três maiores clubes, dois deles eram dirigentes do CDS, que sabem por onde vai a sua carreira).
Que a grande maioria dos ciganos trabalhe e não depende de prestações sociais (vd. o gráfico), que importa isso para Ventura? Ele já se colocou no mapa nacional, graças à sua exibição xenófoba. Sairá depressa, é certo, a sua derrota nas eleições em Loures é inexorável, mas ele pensa em outros voos. Para isso, só precisa de ficar agarrado a um clube de futebol numa televisão perto de si e ir proferindo uns dislates ofensivos, para que alguém vá reagindo e se fale dele.
Professor Louçã:
Há largas horas a esta parte, HOJE, coloquei um comentário ao post. Ainda não foi publicado. Passo a enumerar as possíveis razões para a sua não-publicação:
– Não foi considerado adequado e, como tal, não foi publicado;
– O autor do post não teve disponibilidade para o efeito.
Solicito me informe de conformidade. Em caso de ausência de resposta não voltarei a fazer comentários a posts de sua autoria.
Antecipadamente agradecido.
Cumprimentos.
Uma caso curioso: nos idos de 1974/75, e mesmo depois, o amor dos então PPD/PSD e CDS (e PPM…) pelos ciganos era imenso. A ponto de, frequentemente, se verem bastantes elementos da comunidade cigana nos seus comícios (com extensão aos da AD, Galvão de Melo, etc.). Como é que eu sei? Ora bem, eu vi! Num comício, na Guarda, no então “liceu”, numa tarde de domingo de 1976, o grosso dos assistentes vinha da comunidade cigana. E já tinha visto antes a presença de alguns, geralmente vindos de fora, para não serem conhecidos, em duas outras ocasiões, também no Interior. Esse comício, aliás, foi boicotado por gente ligada aos partidos de esquerda locais, onde avultava um conhecido membro do MRPP que…acabou vereador na Câmara da Guarda pelo…PSD!
Sim. Os partidos de direita arregimentavam membros da comunidade cigana, não só para “fazer número”, mas também com o intuito de utilizarem, particularmente os homens, como “tropa de choque” onde sentiam dificuldades.
É curioso que, agora, acusam-nos de não interiorizarem o Estado de Direito…Não surpreende! Quando, antigamente os usavam como arma para impor um Estado de…Direita!
Lamento dizê-lo mas o discurso de Louçã é fradesco e de sacristia. O Ventura faz o que todos os políticos fazem. Parece que começou a hora da mudança. De facto, estes políticos que nos têm governado estão completamente fora do prazo de validade. E os mais recentes protagonistas têm somente aprendido a linguagem do milieu. Nada têm transformado.
Os capitães estão velhos e muitos deles dedicam-se a fazer teses de doutoramento. Está na moda. Também já não existem guerras que os justifiquem, a eles, os capitães pretensamente revolucionários. De forma que a Sociedade Civil deve agarrar o destino nas suas próprias mãos. Os partidos políticos não promovem a mediação da sociedade. Recebem milhões em subsídios e em honrarias e benesses, mas nada fazem. É como diz o Ricardo Araújo Pereira:”Eles falam, falam mas não fazem nada…”.
Os ciganos comportam-se fora das regras, não pagam contas,etc… O primeiro problema é a negociação com os representantes da etnia. Aceitam a integração em troca da aculturação? Querem ou não querem? Negociação. Vamos resolver as consequências indo às causas.
Os políticos e os partidos devem acabar com o discurso de virgens imaculadas. No fundo, fazem naturalmente o que toda a gente faz. O Ventura é igual a toda a gente. Quer poleiro. E os outros também não querem? Acabem com o politicamente correcto, por favor,
Como diz o comentador Filipe Martins, cada vez há mais deploráveis à Clinton. A abstenção e os votos nulos e brancos aumentam em praticamente todos os países da Europa em actos eleitorais. A teoria sociológica está a enquadrar em velocidade máxima a mudança da mediação do Estado com a Sociedade. Os partidos políticos já não servem de forma eficaz a vida em sociedade. Não resolvem problemas e são antros de corrupção e maus costumes.Não são exemplo para ninguém.
Está a ver, Nelson Faria, como este blog é generoso? Em casos de pessoas como o senhor, que precisam de começar um texto insultando, o blog dá-lhe a oportunidade daquele módico de felicidade que obtém sem ter de pagar consulta.
Senhor Professor:
Se insulto é dizer que o seu DISCURSO é fradesco e de sacristia…então não sei o que entende por insulto.
Parece-me que está com muito sensibilidade, o seu ego deve ter crescido muito nestes últimos tempos…
A última parte da sua resposta parece-me despropositada. Só despropositada. Não tenho ego suficiente para me sentir insultado. Não me considero uma PRIMA DONNA. Cuidado, não se debruçe tanto…ainda se defenetra.
Adeus, Senhor Professor. Passe bem.
Ainda bem que está feliz.
Defenestrar deriva de de + fenêtre e também do latim fenestra, ae janela).
Presumi que em Francês a derivação terá sido fenestre > fenêtre, com síncope da consoante s. Não consultei o dicionário de Português para confirmar e erradamente utilizei o verbo defenetrar em vez de defenestrar.
Se eu fosse linguista, tal não teria acontecido. Para me penitenciar vou escrever 1000 vezes DEFENESTRAR e comer dez malaguetas para ganhar tento na LÍNGUA.
Vamos agora talvez saber o que vale nas urnas em Portugal o racismo e a xenofobia, fazendo eu também votos para que o “virtuoso” seja rapidamente constituído arguido e condenado. Saudações democráticas ao Bloco de Esquerda pelas denúncias que fez do “virtuoso”.
Em Outubro,verá o que pensa a “maioria silenciosa” de Loures e não os esquerdistas,com acesso à comunicação
Que a grande maioria dos ciganos trabalhe e não depende de prestações sociais (vd. o gráfico), que importa isso para Ventura?
* O gráfico não mostra isso.
Então o ‘gráfico’ mostra o quê ó avantesma? Que mesmo trabalhando a miséria grassa e que o nível de rendimentos é sempre miserável, ou não?
Louçã esteve francamente bem nesta polémica.
É óbvio que se tratou de um despropósito total o ataque aos ciganos. Coisa gratuita e feia, pois no próprio partido do dito há quem desfalque muito mais o país que os ciganos todos juntos de Portugal. Acresce que são uma minoria antiquíssima ( mais patriota que muitos neste país), cristãos, portadores de uma cultura brava, cheia de méritos (eu acho-lhes um piadão). Amantes da liberdade, orgulhosos de si e da sua vida nómada, eles são a alegria das nossas feiras por esse país fora – uma corrente de vida vibrante e colorida que é tão património imaterial como outras formas e expressões culturais. Que tristeza ofender gratuitamente gente que simplesmente faz por viver como pode e lhe é permitido.
*
Quanto à outra questão, trata-se de opinião. Mal disto tudo quando não houver espaço para opinião.
Também há outra ” minoria antiquíssima ( mais patriota que muitos neste país), cristãos, portadores de uma cultura brava, cheia de méritos (eu acho-lhes um piadão). Amantes da liberdade, orgulhosos de si e da sua vida “cosmopolita”, eles são a alegria das nossas “comportas” por esse país fora – uma corrente de vida vibrante e colorida que é tão património imaterial como outras formas e expressões culturais.”
E que também “desfalcam muito mais o país que os portugueses todos juntos”
Faz-me um bocado de confusão que ideologias (extrema esquerda) que sempre perseguiram homossexuais agora armarem-se em paladinos da defesa dos mesmos. É conhecido o respeito que os regimes chinês, cubano e norte-coreano têm para com os homossexuais (já para não falar das perseguições que eram vítimas na URSS e países satélites).
O comportamento heterossexual é que é a norma, se o não fosse não estaríamos a ter esta discussão, a raça humana já tinha desaparecido. A minoria, fora da norma, deve ser respeitada, mas também não tem o direito de querer impor esse comportamento como a norma para a maioria que não o é.
Quanto ao Ventura disse que existe “uma excessiva tolerância com alguns grupos e minorias étnicas” e que “os ciganos vivem quase exclusivamente de subsídios do Estado”. Uma opinião que é livre de expressar, não parece insultuosa e que até aprece ser confirmada por um estudo (existem para todos os gostos e feitios) colocado por um comentador no observador:
“Factos curiosos, sobre ciganos, em Portugal:
(pág 177, fig 28) 25% são estudantes apesar de 75% não chegar ao 6º ano
(pag 181, fig.34) quase 20% casam com menos de 14 anos. e cerca de 3/4 casa antes dos vintes, sendo que mais de 80% casa pela “lei cigana”
(p.183, fig37) <7% são filhos de um progenitor não-cigano
(p184, fig39) 60% tiveram o 1º filho entre os 10-20 anos (sim, 10 anos…e mais de 10 anos, em média, a menos que o resto da população)
(p 186, fig 42) 1/3 vive do RSi, outro 1/3 depende dos familiares (provavelmente que recebem o RSI) e menos de 10% trabalha
(p193, tabela12) 25% não procura emprego porque não tem tempo para isso
(pps 195, 197;figs. 47,50) 95% tem casa, 75% com estacionamento mas como não têm jardim "são relegados assim a uma habitação miníma". Além disso quase 3/4 gasta menos de 200€ por mês em rendas E água E eletricidade E luz E gás E tv
http://www.poatfse.qren.pt/upload/docs/Documentos/estudo_ennic.pdf “
Outra coisa estranha: “Fazer-se amado pela extrema-direita (“é um dos nossos”, diz com orgulho o PNR) é um sinal político, aliás prejudicial do ponto de vista eleitoral”, e fazer-se amado pela extrema-esquerda não é? Isto parece-me um pouco xenófobo.
Se chamam homofóbico a uma pessoa, ela pode defender-se chamando parvo à outra? Ou tem que se sujeitar às judiarias que lhe quiserem fazer? Como é que se chamam as pessoas cuja argumentação é apenas o insulto? Tem que haver um nome para isto, certamente. Essas juventudes em que se fazem carreiras matreiras, são só as “do outro lado”, certo? A nossa esquerda-chic não pode ouvir umas verdades? Quem se mete com elas, também leva?
Leu ao menos o estudo que cita, que explicam que os ciganos trabalham na candonga? Eu ajudo “Manuela Mendes esclarece que “uma percentagem grande trabalha”, só que muitas vezes não se trata de trabalho no mercado formal, com um contrato ou um salário. Ainda assim, muitos estão desempregados, bastantes recebem o Rendimento Social de Inserção”.
E agora explico. Eu não posso dizer que os ciganos são inferiores ou superiores a mim. Mas demonstro facilmente que se auto-segregam, não trabalham, roubam. Está tudo no estudo que citou, se o quiser ler. . Como Louçã diz dos comentadores desportivos, “há excepções”. E pronto, já está tudo bem.
E quanto às declarações do Dr. Gentil Martins, a argumentação do BE não tem ponta por onde pegar. Não pode um cidadão discordar da forma como outros se comportam? Não discrimina ninguém, não muda o comportamento consoante a pessoa. Homofobia é tomar acção contra alguém com base na sua preferência sexual.
Eu ajudo, novamente “Não vou tratar mal uma pessoa porque é homossexual, mas não aceito promovê-la. Se me perguntam se é correto? Acho que não. É uma anomalia, é um desvio da personalidade.”.
Já sei, como não concordo consigo, sou homofóbico, racista e xenófobo. Nem sei como é que perdi tanto tempo nesta resposta…
“A nossa esquerda-chic não pode ouvir umas verdades? Quem se mete com elas, também leva?”
Que verdades são essas? Como li no editorial do JN de ontem:
214 benefíciários de RSI (a uma média de 113€ por pessoa) e cerca de 60 mil ciganos em Portugal… é fazer contas.
Só os ciganos trabalham na economia informal? Tendo em conta que há uns anos esta representava cerca de 25%, então, talvez os ciganos sejam os trabalhadores mais produtores que aí andam! Metem os brancos num bolso, já se vê!
Quando um médico afirma, nessa qualidade de médico, que a homossexualidade é uma anomalia estamos perante um erro científico, nada mais. A opinião dele pouco interessa.
Posto isto, também não entendo como é que perdeu tanto tempo a escrever essa resposta.
Nem sebe como perdeu tanto tempo na resposta?
Verdade, dissestes nada.
Quanto à comunidade cigana grupo étnico mais segregado da europa ao longo de dezenas de séculos. – Pensou no efeito?
Tudo que escreveu sobre a comunidade cigana — suas palavras : E agora explico. Eu não posso dizer que os ciganos são inferiores ou superiores a mim. Mas demonstro facilmente que se auto-segregam, não trabalham, roubam. — encaixam na descrição que alguns pensam dos portugueses em Luxemburgo, neste inicio de século.
Escreveu – É uma anomalia, é um desvio da personalidade.
Em que se baseou?
Esta a ser homofóbico.
Tipicamente previsíveis. Recorrem rapidamente ao insulto se alguém tem uma opinião diferente da sua.
Eu explico. O que coloquei entre aspas não fui eu que escrevi. Fui ler o estudo citado pelo autor do artigo, e fui ler a entrevista e esclarecimento do Dr. Gentil Martins.
Estes comentadores não fizeram nem uma coisa nem outra. Limitaram-se a disparar o teclado.
Não tenhamos tanta certeza de que guinchos como os do tal Ventura são «um risco político». Também ninguém acreditava que um esteio da estirpe do Trump chegasse a Presidente e agora é olhar para ele.
É só ouvir um pouco das conversas nos cafés e nos transportes públicos para ficar preocupado, se não mesmo em pânico. Os deploráveis são aos milhões.
Temo que a maioria do povo português pensa como André Ventura.
Esqueceu-se de referir que o estudo a ser citado diz que 33.5% dos ciganos afirma que o RSI é a sua principal fonte de rendimento, mas apenas 9.1% dizem que é o trabalho…
Infelizmente não é de agora.
Passos Coelho e a sua direcção atraem mais racistas e fascistas, do que pãezinhos com chouriço com fio de azeite por cima.
Logo se notou em 2010 com o seu ódio à nossa Constituição livre e democrática que lhes dá abrigo, algo que nem Cavaco do BPN, apesar de ter piorado com a idade, nunca se atreveu a desafiar aquando PM, e bem ou mal lá foi respeitando os fundadores do PSD, de odiarem mais os fascistas da extrema-direita do que a extrema-esquerda.
E já era previsto que depois da fase “Tea Party mitómana evangélica”, este PSD passar à fase “Racista-Fascista-Trump”.
É uma vergonha.
E também é uma vergonha Francisco Louçã e o Bloco usarem uma notícia do Correio da Manhã, para denegrirem o PCP por causa de regras de Freguesia, agora que vamos entrar na fase traumática do Bloco, que embora um partido importante e necessário, não tem implantação nas autarquias (dá muito trabalho estar junto das pessoas no terreno), além do trauma anual de não conseguirem organizarem festas partidárias no Verão.
Esquecendo o facto do “inimigo” do Bloco não ser o PCP, mas sim o PSD, CDS, e PS (semi-“inimigo, na actual conjuntura).