Foi entregue na AR a petição “Cidadãos contra o Acordo Ortográfico (AO)”. Um assunto que, por omissão e indiferença, tem recebido um alheamento do poder (actual e anteriores). Muitos media – mais acordistas do que o acordo – têm, também, evitado dar voz a movimentos, testemunhos e análises contra o AO.
Neste tema importante para o País e para a promoção da língua é lamentável o défice do seu escrutínio público, desde o início até hoje. Isto apesar de entidades de reconhecido peso institucional e profissional manifestarem as suas perplexidades e dúvidas, o que deveria impor um consenso tão alargado quanto possível. Falo, p. ex., da Academia das Ciências de Lisboa, da Sociedade Portuguesa de Autores, da Associação Portuguesa de Tradutores, de uma das Associações de Professores de Português. Falo ainda de muitos escritores, académicos, linguistas.
Já tudo se disse sobre esta manta de retalhos anacrónica, ambígua e prenhe de facultatividades absurdas. Uma imposição que empobrece a nossa língua, que elege a unicidade da prevalência do critério fonético como base da mudança, em detrimento da preservação da sua raiz etimológica.
Na apressada Resolução do C. Ministros de 8/2011 argumentou-se que o AO iria “garantir uma maior harmonização ortográfica entre os oito países da CPLP”. E o que temos visto? Confusão linguística, alguns países como Angola e Moçambique sem ratificar o acordo, muitas hesitações no Brasil e o Vocabulário Ortográfico Comum permanentemente adiado.
O português, como a 5ª língua nativa no Mundo, tem beneficiado da sua diversidade lexical, sintáctica e semântica, num contexto de globalização de relações, culturas e negócios. O intercâmbio de programas televisivos, em especial de telenovelas, é a prova da sua riqueza linguística.
Alguém imagina os países de língua inglesa a celebrar um acordo para homogeneizar por decreto as suas 18 variantes ortográficas (desde logo entre a Grã-Bretanha e os EUA), ou as 21 variantes de castelhano ou as 15 do francês?
Entre os argumentos dos defensores do AO, saliento três: o de já não se poder voltar atrás pela confusão e gastos que seriam gerados; o de não haver necessidade de continuar a usar as consoantes mudas; e o de acabar com alguns acentos para facilitar a aprendizagem da língua.
Quanto ao primeiro, é o velho argumento do facto (ou fato?) consumado. Ou, como agora sói dizer-se, do “não há alternativa”. O AO é mau, diz-se, mas nada a fazer. É um argumento atávico, de desistência e de visão redutora de curto-prazo. Há problemas na mudança? Claro que sim, mas não podemos agir em função da conveniência do momento, do facilitismo e do “deixa-andar”.
A degola inocente de consoantes mudas tem originado um caos. Em muitos casos, não respeitando a etimologia também comum a outras línguas (p.ex., actor, factor, sector…), permitindo a ambivalência de critérios e o (ab)uso de todo inaceitável do AO (facto, fato; pacto, pato, etc.). Já o h no início de uma palavra – a mais muda consoante do nosso alfabeto – subsiste enquanto grafema, dizem os ideólogos do AO, por razões etimológicas. Noutros casos de mudez da consoante, este fundamento não interessa, no h já é decisivo. Haja coerência! Claro que homem sem h, seria uma pena impedindo a existência de homens com H grande. E uma hora H, sem o inicial h? seria “Ora O”?
Por fim, a supressão de alguns acentos – dizem – para tornar mais acessível o ensino do português e não maçar muito os (pobre) alunos. Quer dizer, um AO para tornar a gramática mais lúdica e prolongar a indigência gramatical que grassa e se vai tornando a norma. Notável!
Ora O!
Quando, no início dos anos 70, um novo Acordo Ortográfico eliminou os acentos grave e circunflexo em palavras com o sufixo “-mente” e com sufixos iniciados por “z” (-zinho, -zito…), foram inúmeras as confusões e os mal-entendidos. Ouvia dizer-se: já não há acentos em português, o acento circunflexo e o acento grave deixaram de existir, agora já não sabemos escrever, etc. etc.
Assim, depois deste Acordo, qualquer palavra acentuada, que seja acrescentada de um sufixo (“-mente”, “-zinho”, etc.), perde o acento:
só – somente; sozinho (antes do Acordo de 1971: sòmente; sòzinho)
avô, avó – avozinho, avozinha (antes do Acordo de 1971: avôzinho; avòzinha)
café – cafezinho, cafeeiro (antes do Acordo de 1971: cafèzinho, cafèeiro)
cortês, órfão – cortesmente, orfãozinho (antes do Acordo de 1971: cortêsmente, òrfãozinho [NB: o til não é um acento] )
Desta maneira, depois do Acordo de 1971, o acento grave (`) passou a existir, unicamente, nas seguintes palavras portuguesas: “à / às” e “àquele / àquela / àqueles / àquelas” (“eu vou à praia”; “eu vou àquela praia”)
Se, nessa altura, houvesse Internet tal como hoje, os protestos seriam inúmeros – e muita gente revoltar-se-ia contra tal absurdo, “fruto do impulso de gente ignorante e com pouca cultura”, “nunca seremos colaboracionistas e cooperantes de uma ESTUPIDEZ deste calibre”, “Trouxe vantagens? Nenhumas. Nunca se escreveu com tantos erros em Portugal, como presentemente”, “Ó gentinha ignorante!!!!!! “, “Fique com a sua ortografia terceiro-mundista, que eu ficarei com a ortografia CULTA da Língua Portuguesa”…
Deliciei-me a ler este longo, pertinente e saboroso texto da autoria de Agostinho de Campos, na Introdução ao terceiro volume da antologia “Paladinos da Linguagem” (ed. Livrarias Aillaud e Bertrand, 1923). Como Bocage, diria: “Zoilos, estremecei, rugi, mordei-vos”!…
https://ciberduvidas.iscte-…
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/o-caos-grafico/3515
Como escreveu um jornalista, “a philosophia dos que atacam o acordo ortográfico deixa-me exhausto”…
Ora ó, dr. Agão!
Para defender o seu ponto de vista – tão legítimo como o meu – não precisava de me mudar o nome (aliás, sem lógica). Mas já agora respondo ao seu desafio: se fosse Agão, talvez o senhor fosse Osta.
Muito prazer.
«E uma hora H, sem o inicial h? seria “Ora O”?»
Agão ou Osta, não se preocupe; como sempre, daqui a uns trinta anos, já ninguém gasta tempo a discutir isto. Foi sempre assim com os Acordos e Reformas anteriores. O tempo não volta para trás. A próxima geração rir-se-á de toda esta polémica.
Mais uma vez e, depois de ler tudo o que me aparece sobre os prós e contras do “acordo” ortográfico ,confirmo que os portugueses mais ignorantes , desconhecem completamente a diferença entre “evolução” e “involução”. Mudar ,mudar ,mudar . O quê ,porquê, para quê ? Mudar o que está bem para algo degradado e completamente desnecessário e prejudicial , é que é “bom” . Dizem que isso é ser progressista , é evoluir .Santa ignorância ! Se o acordo é assim tão bom , porque foi feito nas costas do povo , imposto anti-democráticamente e os políticos fogem de o discutir ? Porquê o medo de debater o assunto ?Metem a cabeça na areia e fogem do assunto como o diabo da cruz e ,continuam a IMPÔR uma coisa absurda , que a grande maioria dos portugueses não quer . Agora ,deixaram adormecer o argumento de “pharmácia” e “farmácia”que , diga-se de passagem ,não apoia em nada o chamado “acordo” e batem na tecla da despesa e transtorno que provocaria a revogação da “enormidade” . Porquê ? A imposição da “aberração” foi grátis ? O caos que gerou, não foi um transtorno? Não serve para nada ,a não ser para fazer dos portugueses motivo de chacota para os brasileiros a quem quiseram lamber as botas e afastar ,ainda mais o Português ,das outras línguas . Um pouco de dignidade e vergonha , precisa-se , senhores políticos . Encarem o que fizeram e tenham a inteligência (se conseguirem) de admitir e corrigir o erro.
O Acordo não foi discutido? Não foi feita outra coisa ao longo de décadas. Porque escrevíamos linguíça e os brasileiros lingüiça? Era pelas diferenças fonéticas ou só por haver uma diferença a nível legal? O Acordo só é mau para quem não o entende nem tentou aplicar. Alguma vez tentou aplicar o Acordo, dr. Bagão Félix, ou só fala “em teoria”? Há milhões de alunos a aplicá-lo sem que se lhes conheça grandes problemas, basta ver o que dizem as associações de pais e a associação de professores de português (a verdadeira, não a que foi criada por meia dúzia de gatos pingados, a maioria deles nem professores de português no ativo, só para se opor ao Acordo). E é engraçado ver o que se lê da Academia das Ciências. Quer dizer, a Academia é que fez o Acordo (e se ele tem erros, a culpa é exclusivamente da Academia), a Academia é que andou a pugnar pela aplicação do Acordo e convenceu os governos disso, e agora é essa mesma Academia vem dizer que é preciso mudar o que ela mesma determinou, criando um incidente diplomático com o Brasil? É que o Brasil também já aplicou o Acordo, mas lá a 100%. E o mais ridículo é que a Academia é paga pelo erário público para fazer isso! Haja seriedade. Já viu as propostas que a Academia faz agora e os erros que o documento de propostas da Academia tem? Aquilo foi feito de olhos fechados por quem não tem competência nenhuma. Para um professor como eu, seria o verdadeiro caos… Para saber que palavras têm consoante muda, tínhamos que saber que consoantes é que os brasileiros pronunciam! E o seu amado c de actor cairia na mesma, porque os brasileiros não o dizem, mas o de recepção ficava, porque é dito pelos brasieliros. Isto cabe na cabeça de alguém? Quem controla a Academia, que tanto nos quer controlar a todos, sem categoria científica nenguma para o fazer?
E, no entanto, a Língua Espanhola, através de um acordo entre todas as academias, adotou recentemente um reforma comum. E a Francesa, com adesão de França, Suíça, Bélgica e Quebeque, idem, em 1990.
Quanto ao “h”, também não sei porque persiste. Os italianos aboliram-no há muito tempo.
Quais são, na opinião do autor, as variantes ortográficas do espanhol? Acho que não existem (sou espanhol).
Como estudante (e amador) do português, não posso avaliar a qualidade do acordo ortográfico, mas posso afirmar a dificuldade para ter um domínio aceitável da ortografia. A norma brasileira, portuguesa, antes e após o acordo. Façam a sua escolha, devidamente justificada pelos académicos, mas definam uma norma comum.
No corrector do Word poderá encontrar 21 variantes do castelhano,.
Microsoft não decide as variantes do espanhol, mas as academias da língua de cada país que trabalham conjuntamente. Aliás, as variantes das línguas do corrector de Word consideram convénios nacionais além da ortografia, como o símbolo da moeda e o formato das datas
Dr. Bagão Félix
A sua opinião foi partilhada por muitos aquando da reforma ortográfica de 1911, que o Senhor entende contribuir para a defesa de Portugal e da língua.
Opiniões não se discutem mas pensou no que escreveu? Defesa da língua só é possível com uma ortografia unificada. De outro modo, o português que imporá no mundo é o português do Brasil.
Disso não tenho qualquer dúvida, até porque entre nós há uma generalizada tendência para substituir o português pelo inglês.
Comparar a reforma de 1911 com o acordo de 1990 não faz qualquer sentido. Em 1911 não existia qualquer norma estabelecida, existia apenas o caos ortográfico, pelo que foi um acto absolutamente imprescindível.
Caro Senhor Fernando Lima
Não comparei a reforma de 1911 ao acordo de 1990. Disse que ambos provocaram muitas reações, o que é verdade; não julgo necessário, neste comentário reproduzir o que da reforma de 1911 escreveram, entre muitos outros,Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa. Recomendo, aliás, a leitura de edição original da «Mensagem», de 1934.
”O português, como a 5ª língua nativa no Mundo,…” isto só pode ser para rir. Continua a ser patético este pretensiosismo megalómano Tuga de querer ser alguma coisa no mundo….À falta do resto, agarremo-nos a isto… com ilusões ainda podemos nós… Na realidade, mesmo na língua, é uma herança pesada esta que se pretende impor às gerações futuras. Parte do crónico e eterno atraso cultural deste e dos povos que ainda a balbuciam radica precisamente no uso desta língua anacrónica totalmente desadaptada às exigências de rigor, clareza, objectividade que ela de modo nenhum potencia e que o mundo actual exige. Veja-se o brilhante sucesso da língua inglesa e da sua difusão global. Essa sim uma língua útil, capaz de relacionar povos e latitudes diversas sem perda de objectividade e clareza e sem o estapafúrdio de nuances e subentendidos e obscuridades de léxicos e regras gramaticais de línguas estafadas como a portuguesa. Foi certamente uma língua com o seu tempo, mas para quê continuar a onerar os povos com esta sobrecarga inútil? Que cada um pois – no meio dessa irremediável confusão de regras e significados e pronúncias – a fale como quiser enquanto houver quem o entenda. Uma coisa é certa: o próprio pensamento do indivíduo continuará a ressentir-se do anacronismo do seu veículo linguístico, e ele continuará atrasado e desadaptado como até aqui. E cada vez mais irrelevante.
Supremo analfabetismo. O inglês não é sequer uma língua, é uma lixeira linguística. É, aliás, a marca do atraso cultural milenar dessa plebe pré-histórica e da actual idade do lixo.
A idade do lixo usa uma lixeira linguística, a inteligência dos símios do inverno não dá para mais. A propósito, “intelligence” é mais uma cópia tosca, dos anglo-saxónicos, de uma palavra latina. É que esse conceito, como a maioria dos conceitos da civilização, não existe entre eles, por isso usam cópias toscas, um latim de anglo-saxónico – o latim ridículo da pré-histórica barbárie.
Para ajudar à festa de analfabetismo, aparecem depois os ignaros que dizem que devemos copiar as cópias toscas, dos anglo-saxónicos, do latim. Enfim, usar o ridículo latim de anglo-saxónico, é realmente algo muito inteligente, muito evoluído.
O conhecimento é uma coisa exigente, é muito mais fácil ficar na puerilidade dos imbecis e copiar os mais atrasados de entre eles. Mas o resultado não é o mesmo.
Caro Silva não seja tão hilariante a mostrar a sua ignorância. Seguramente que os anglo-saxónicos são mais do seu nível cultural do que os latinos. Mas não tente passar o ignaro do chinelo da sua miséria cultural.
Queira dizer então qual a 5ª língua nativa do mundo.
1. Mandarim
2. Espanhol (castelhano)
3. Inglês
4. Bengali
5. Hindi
6. Russo
8. Japonês ( 125 milhões)
9. Alemão ( 98 milhões)
10. Chinês ( 77,2 milhões)
11. Javanês ( 75,5 milhões)
12. Coreano ( 75 milhões)
13. Francês ( 72 milhões)
14. Vietnamita ( 67,7 milhões)
15. Telugo ( 66,4 milhões)
16. Cantonês (chinês) ( 66 milhões)
17. Marati ( 64,8 milhões)
18. Tamil ( 63,1 milhões)
19. Turco ( 59 milhões)
20. Urdu ( 58 milhões)
21. Min nan (chinês) ( 49 milhões)
22. Jinyu (chinês) ( 45 milhões)
23. Gujarati ( 44 milhões)
24. Polaco ( 43 milhões)
25. Egípcio ( 42,5 milhões)
26. Ucraniano ( 41 milhões)
27. Italiano ( 37 milhões)
28. Xiang (chinês) ( 36 milhões)
29. Malaio ( 34 milhões)
30. Hakka (chinês) ( 34 milhões)
31. Kannada ( 33,7 milhões)
32. Oriya ( 31 milhões)
33. Panjabi (ocidental) ( 30 milhões)
34. Sunda ( 27 milhões):
35. Panjabi (oriental) ( 26 milhões)
36. Romeno ( 26 milhões)
37. Bhojpuri ( 25 milhões)
38. Azerbaijão ( 24,4 milhões)
39. Farsi (ocidental) ( 24,3 milhões)
40. Maitili ( 24,3 milhões)
41. Hauçá ( 24,2 milhões)
42. Argelino ( 22,4 milhões)
43. Birmanês ( 22 milhões)
44. Servo-croata ( 21 milhões)
45. Gan (chinês) (20,6 milhões)
46. Awadhi ( 20,5 milhões)
47. Tailandês ( 20 milhões)
48. Holandês ( 20 milhões)
49. Iorubá ( 20 milhões):
….
7.Português, cerca de 10 milhões (e 7º apenas se considerado como português o crioulo brasileiro falado por cerca de 200 milhões; os africanos falam nativo gentílico; timorenses e macaenses irrelevantes)
Não conheço o Sr Silva. Contudo seria bom que verificasse os factos antes de pôr em causa o número de falantes a nível mundial. Não disputo de forma nenhuma a Crítica de Bagao Felix ao AO e o que ele pode representar para os lusófonos… se (e o “SE” com maiúsculas) alguma vez este acordo for aplicado. Bagao Felix também não deixa por mãos alheias os falantes de Inglês e Francês -em termos de línguas oficiais dos países que as falam. Contudo, Sr. Silva, embalado por essas dúvidas lançadas por pessoas como o Sr e outras que diziam que em Angola não falavam português, lancei-me, como chefe do Servico Português do Canal Africa num empreendimento que, possivelmente, ninguém fez até hoje. Saber quantos falantes havia realmente em Angola e em Moçambique. Este exercício foi feito a custas do Canal Africa da SABC. No fim do inquérito concluiu-se – muito para descontentamento dos cépticos, apesar de ter sido feito só em Luanda por causa da guerra, o que não altera muito o resultado final porque uma das estratégias conseguidas de Savimbi era expulsar as populações rurais para a cidade, para dar cabo das estruturas de Luanda – concluiu-se, dizia, que 99% da população de Luanda (na altura extraordinariamente inflacionada pelos motivos acima expostos) falavam português como primeira língua nas suas próprias casas. Em Mocambique o resultado do inquérito foi de 67%. Mas sabe, Sr. Silva, não é por acaso que isto acontece. Tanto Samora Machel como Agostinho Neto decidiram declarar o português como língua oficial das referidas ex colónias porque era um meio de unificação do país. Em Moçambique há 49 línguas e idiomas. Já viu o que seria a não unificação da língua? Inflizmente, o berço da língua não tem as condições econômicas para a promover ainda mais, mas isso é outra estória. Só mais uma pergunta: porque teria sido que Timor escolhe para língua oficial o Português, apesar da enorme pressão exercids pelas Nações Unidas de Kofi Anan e da Australia (com enormes interesses em Timor)? Já se deu ao trabalho de pensar nisso. Que somos a quinta língua mais falada não tenho quaisquer dúvidas, contribuindo para isso o Brasil. Mas também não tenho qualquer dúvida que este Acordo deve ser deitado para o caixote do lixo o mais depressa possível!
Se o crioulo brasileiro não é português e, por isso, não conta para os cálculos, onde é que foi buscar falantes de castelhano e inglês, para os colocar na 2º e 3º posição?
O crioulo das ex-colónias portuguesas não conta, mas o crioulo das ex-colónias britânicas e ex-colónias espanholas já conta? Enfim, só poderia vir dessa plebe que apela a que se fale o mais tosco dos dialectos pré-históricos: o inglês.
O inglês é uma lixeira linguística onde encontramos o latim mais macarrónico que se conhece. Democracy, monarchy, civilization são apenas alguns dos inúmeros exemplos dessa barbárie pré-histórica a tentar falar latim.
Trocar uma língua latina por um dialecto germânico, composto maioritariamente pelo mais tosco latim macarrónico, é realmente uma evolução. É a tal evolução do analfabetismo que resultou nesse grunhir da barbárie.
E, já agora, por que não escreveu em inglês?
A barbárie ocidental é pré-histórica porque não domina a escrita, hoje.
Vocalizar palavras é o mesmo que vocalizar números, não serve para muito. Conseguir vocalizar os números não é suficiente para saber matemática. Conseguir vocalizar palavras não é suficiente para saber ler e muito menos aceder à percepção que a língua dá.
Saber ler um número é saber o que ele significa e não apenas vocalizar esse número. Saber ler palavras é saber ler o significado da palavra e não apenas vocalizar a palavra, como ainda acredita a pré-histórica barbárie ocidental.
O AO é uma demonstração cabal do analfabetismo da corte política. É o mesmo que retirar os algarismos que não são vocalizados num número. 4509 não é igual a 459, facto não é igual a fato, mas isso é para quem sabe ler, para os analfabetos que apenas vocalizam é indiferente.
A “classe” política é analfabeta ao ponto de não saberem sequer que o significado está contido nas palavras. Não sabem ler nem o que é a leitura de palavras.
O AO é o espectáculo do analfabetismo da “classe” política. Para que não restem dúvidas do nível cultural e da competência que essa corte de analfabetos apresenta.
Nem mais!
Se dúvidas houvesse da incapacidade das recentes hostes políticas, o AO90 colocou na ribalta toda a incompetência dos partidos que (des)governam o país, começando pela ilegalidade da “coisa” e acabando nas incongruências do “dito”, não deixando de passar pela obscuridade do “negócio” e “interesses escondidos” que levam ao “deixa andar”. Não é que eu seja fundamentalista da ortografia mas, se o pareço ser, deve-se tão somente à estupidez, imbecilidade e oportunismo (no mau sentido) de “certa gente” que pensou alterar artificialmente uma língua que tinha duas normas e que, pasme-se, passou a ter três normas oficiais mais umas quantas ao gosto de cada um.
Comparo o caos do AO90 às regras de trânsito: imagine-se que o sinal de sentido proibido era abrangido por uma “facultatividade” e, a gosto do freguês, poderia ser sinal de sentido único. Há mais exemplos, visíveis até no Diário da República, onde um dos mais recorrentes é aparecer um “fato” em vez dum “facto”.
Ninguém tem falado do afastamento dos deputados que se opunham ao AO90 (em todas as bancadas), havendo assim uma MÁFIA de interesses escondidos nas Direcções Partidárias e uma nova COMISSÃO de CENSURA e AMORDAÇAMENTO em Portugal. Por que motivo esses deputados “anti-acordistas” foram afastados das listas partidárias e das eleições legislativas? Já o fiz anteriormente e vou fazê-lo novamente este ano, por ser ano de eleições: vou enviar mensagens de correio electrónico a todos os partidos instando-os a exporem publicamente a sua posição quanto ao AO90 e informando-os de que somente votarei num de entre os que se opuserem a essa imbecilidade que dá pelo nome de AO90.
Por favor… Não generalize as suas próprias insuficiências. A Academia Nobel acaba de dar o Prémio da Literatura a um bardo. A oralidade é uma forma histórica de cultura – desde os clássicos gregos, do teatro à poesia declamada. Comparar regras da representação matemática com a ortografia de uma língua está para lá do aceitável e só podia ser sugerido por alguém que precisa de escrever para calcular 1+1…
Sobre o acordo, tomo a liberdade de fazer “copy&paste” de uma escrita de Maria Clara Assunção ( abibliotecadejacinto.blogspot.pt/2009/08/o-acordo-ortografico-e-o-futuro-da.html ). Mais um conjunto de propostas que os engenheiros sociais, a quem devemos agradecer por desenharem o nosso futuro, não levaram em conta.
“O acordo ortográfico e o futuro da língua portuguesa
Tem-se falado muito do Acordo Ortográfico e da necessidade de a língua evoluir no sentido da simplificação, eliminando letras desnecessárias e acompanhando a forma como as pessoas realmente falam. Sempre combati o dito Acordo mas, pensando bem, até começo a pensar que este peca por defeito. Acho que toda a escrita deveria ser repensada, tornando-a mais moderna, mais simples, mais fácil de aprender pelos estrangeiros.
Comecemos pelas consoantes mudas: deviam ser todas eliminadas.
É um fato que não se pronunciam. Se não se pronunciam, porque ão-de escrever-se? O que estão lá a fazer? Aliás, o qe estão lá a fazer? Defendo qe todas as letras qe não se pronunciam devem ser, pura e simplesmente, eliminadas da escrita já qe não existem na oralidade.
Outra complicação decorre da leitura igual qe se faz de letras diferentes e das leituras diferentes qe pode ter a mesma letra.
Porqe é qe “assunção” se escreve com “ç” e “ascensão” se escreve com “s”?
Seria muito mais fácil para as nossas crianças atribuír um som único a cada letra até porqe, quando aprendem o alfabeto, lhes atribuem um único nome. Além disso, os teclados portugueses deixariam de ser diferentes se eliminássemos liminarmente o “ç”.
Por isso, proponho qe o próximo acordo ortográfico elimine o “ç” e o substitua por um simples “s” o qual passaria a ter um único som.
Como consequência, também os “ss” deixariam de ser nesesários já qe um “s” se pasará a ler sempre e apenas “s”.
Esta é uma enorme simplificasão com amplas consequências económicas, designadamente ao nível da redusão do número de carateres a uzar. Claro, “uzar”, é isso mesmo, se o “s” pasar a ter sempre o som de “s” o som “z” pasará a ser sempre reprezentado por um “z”.
Simples não é? se o som é “s”, escreve-se sempre com s. Se o som é “z” escreve-se sempre com “z”.
Quanto ao “c” (que se diz “cê” mas qe, na maior parte dos casos, tem valor de “q”) pode, com vantagem, ser substituído pelo “q”. Sou patriota e defendo a língua portugueza, não qonqordo qom a introdusão de letras estrangeiras. Nada de “k”.
Não pensem qe me esqesi do som “ch”.
O som “ch” pasa a ser reprezentado pela letra “x”. Alguém dix “csix” para dezinar o “x”? Ninguém, pois não? O “x” xama-se “xis”. Poix é iso mexmo qe fiqa.
Qomo podem ver, já eliminámox o “c”, o “h”, o “p” e o “u” inúteix, a tripla leitura da letra “s” e também a tripla leitura da letra “x”.
Reparem qomo, gradualmente, a exqrita se torna menox eqívoca, maix fluida, maix qursiva, maix expontânea, maix simplex. Não, não leiam “simpléqs”, leiam simplex. O som “qs” pasa a ser exqrito “qs” u qe é muito maix qonforme à leitura natural.
No entanto, ax mudansax na ortografia podem ainda ir maix longe, melhorar qonsideravelmente.
Vejamox o qaso do som “j”. Umax vezex excrevemox exte som qom “j” outrax vezex qom “g”. Para qê qomplicar?!?
Se uzarmox sempre o “j” para o som “j” não presizamox do “u” a segir à letra “g” poix exta terá, sempre, o som “g” e nunqa o som “j”. Serto? Maix uma letra muda qe eliminamox.
É impresionante a quantidade de ambivalênsiax e de letras inuteix qe a língua portugesa tem! Uma língua qe tem pretensõex a ser a qinta língua maix falada do planeta, qomo pode impôr-se qom tantax qompliqasõex? Qomo pode expalhar-se pelo mundo, qomo póde tornar-se realmente impurtante se não aqompanha a evolusão natural da oralidade?
Outro problema é o dox asentox. Ox asentox só qompliqam!
Se qada vogal tiver sempre o mexmo som, ox asentox tornam-se dexnesesáriox.
A qextão a qoloqar é: á alternativa? Se não ouver alternativa, pasiênsia.
É o qazo da letra “a”. Umax vezex lê-se “á”, aberto, outrax vezex lê-se “â”, fexado. Nada a fazer.
Max, em outrox qazos, á alternativax.
Vejamox o “o”: umax vezex lê-se “ó”, outrax vezex lê-se “u” e outrax, ainda, lê-se “ô”. Seria tão maix fásil se aqabásemox qom isso! Para qe é qe temux o “u”? Para u uzar, não? Se u som “u” pasar a ser sempre reprezentado pela letra “u” fiqa tudo tão maix fásil! Pur seu lado, u “o” pasa a suar sempre “ó”, tornandu até dexnesesáriu u asentu.
Já nu qazu da letra “e”, também pudemux fazer alguma qoiza: quandu soa “é”, abertu, pudemux usar u “e”. U mexmu para u som “ê”. Max quandu u “e” se lê “i”, deverá ser subxtituídu pelu “i”. I naqelex qazux em qe u “e” se lê “â” deve ser subxtituidu pelu “a”.
Sempre. Simplex i sem qompliqasõex.
Pudemux ainda melhurar maix alguma qoiza: eliminamux u “til” subxtituindu, nus ditongux, “ão” pur “aum”, “ães” – ou melhor “ãix” – pur “ainx” i “õix” pur “oinx”.
Ixtu até satixfax aqeles xatux purixtax da língua qe goxtaum tantu de arqaíxmux.
Pensu qe ainda puderiamux prupor maix algumax melhuriax max parese-me qe exte breve ezersísiu já e sufisiente para todux perseberem qomu a simplifiqasaum i a aprosimasaum da ortografia à oralidade so pode trazer vantajainx qompetitivax para a língua purtugeza i para a sua aixpansaum nu mundu.
Será qe algum dia xegaremux a exta perfaisaum?”
Lindo António!
Concordo e também já o sugeri num outro local de debate em que habitualmente participo. Mas… e os regionalismos? O ditongo “ÃO” no Puertu prununciasse “OM”: curassom, diréssom; a conssuante V prununciasse B: bombeirus buluntárius, istou a bêr,…
Se formos pelo critério fonético nunca haverá uniformidade, antes pelo contrário, criaremos uma tal diversidade que deixaremos de ter uma língua e passaremos a ter dialectos regionais. Daí que toda a argumentação em favor do AO90 seja uma irracionalidade, própria de mentes desgastadas e incapazes de somar 2 + 2.
Já me esquecia…
Mesmo respeitando “à risca” as regras do AO90, uma tradução para português terá de ter sempre duas versões: uma para Portugal e outra para o Brasil, o mesmo se aplicando a todos os textos. Porquê? Porque a gramática e os vocabulários são diferentes (tão diferentes que volvidos 30 anos sobre o nascimento do AO90 ainda não houve, nem se vislumbra que haverá, consenso para criar um “vocabulário comum”). É o mesmo que misturar azeite com vinagre por decreto.