Escreveu altivamente um editorial: “um ditador é um ditador”. Já outros tinham sentenciado, naquele estilo marrão que faz títulos sumarentos: “um ditador é um ditador é um ditador”. Não discutam, a história não conta, caluda. Mas os jornais mandaram correspondentes a Cuba para exuberantes reportagens acerca do funeral de Fidel Castro, no meio de páginas de evocação heróica. Se tudo é igualmente indiferente, tiveram também um correspondente no funeral de Pinochet e enalteceram a sua história?
A SIC, a TVI e a RTP passaram horas de directos com a caravana que levou a urna pelas estradas de Cuba. Fizeram o mesmo quando morreu Pinochet e elogiaram os seus feitos no Chile?
Marcelo Rebelo de Sousa apresentou a Cuba as condolências de Portugal. O Presidente de então fez o mesmo com Pinochet, também ele ex-presidente de um país com o qual Portugal tem relações diplomáticas?
O Presidente português visitou Cuba e insistiu em ter um encontro com Fidel, apimentado com fotografia. Algum enviado português foi a casa de Pinochet, nem que fosse um cônsul, para tirar uma selfie e publicar no Facebook uma foto sorridente dos dois?
O governo faz-se representar no funeral de Fidel por um ministro. O governo de então enviou um ministro ou qualquer representante de Estado ao funeral de Pinochet, ou sequer uma coroazinha de flores?
O Papa enviou mensagem de pesar. Rajoy e Juncker, chefes da direita europeia, elogiaram a “figura de importância histórica” e que foi “herói para muitos”. Esqueceram-se de fazer o mesmo com Pinochet?
Os partidos aprovaram no parlamento dois votos de pesar. Ocorreu-lhes votar tal pesar quando Pinochet morreu?
Ninguém se lembra mas, já ex-presidente, Pinochet visitou Portugal para intermediar um assunto de compra e venda de armas, tendo sido alvo de manifestações populares, não constando que os negociantes tivessem conseguido mexer um dedo para o defender (foi no tempo de um governo PS). Em contrapartida, toda a gente se lembra que quando Fidel veio a Portugal foi uma festa popular. Os dignitários dos partidos de direita acotovelavam-se nas cerimónias para o cumprimentar. Muitos dos que agora o insultam lá andaram ao beija mão.
A comunicação social, o Presidente, o governo e os partidos, o Papa e as autoridades europeias sabem que só um sonso compara Fidel a Pinochet e não caíram nessa esparrela, que ficou reservada para os ideólogos.
Mas os ideólogos rasgaram as vestes, indignados com tudo. Indignados com o PSD, que se absteve. Indignados com o CDS, que fez de conta. Indignados com o Presidente, mas disso não convém falar. Indignados com o governo, mas está em alta. Indignados com a história, porque a derrota dos sul-africanos em Angola é uma mágoa abissal. Indignados com a perda, que os casinos em Havana eram do melhor. Tudo o resto é instrumental: Marques Mendes critica o seu partido tanto por não ter candidatos autárquicos como por não recusar o voto de pesar, afinal é Passos Coelho o seu alvo e vale tudo; o ex-director do Expresso critica quem não demonizou o homem, não abra por favor o jornal que encontrará encómios abundantes sobre o dito cujo. Nenhum deles está a analisar quem foi Fidel, nem muito menos a discutir a história de Cuba, estão somente a escrever sobre as disputas mais comezinhas que os ocupam. O problema da direita com Fidel não é a democracia, é flutuarem no tempo ao sabor dos ventos e da vontade de ajustes de contas caseiros.
No mais, seguem Trump, a nova luz no firmamento da direita. Aprenderam com ele que disparar mais depressa do que a própria sombra é a política desejável. Pensar, nunca, e muito menos compreender (se quiser ler, em alternativa, um artigo informado e inteligente de opositores de Fidel, abra aqui).
Se não quiser analisar os factos, não há história, fica a ideologia, ou um molde universal que explica tudo porque não sabe nada. O mais certo é que na direita se continue assim, parece que ficam felizes com tão pouco.
Francisco Louçã, as pessoas têm uma certa tendência a gostar de palhaços. Normalmente é o palhaço pobre que cativa mais mas há também quem prefira o(s) palhaço(s) rico(s)
Resumindo a retórica do senhor professor ao que realmente interessa, podemos concluir sem qualquer tipo de dúvida, que se este senhor tomasse o poder, as arenas portuguesas ficariam manchadas de sangue e não seria dos touros. Digo arenas,porque este senhor não faria igual a Pinochet, na utilização dos estádios de futebol para a primeira limpeza revolucionária. Este senhor é um perigoso ditador da cabeça aos pés, felizmente, não tem a coragem de o assumir. Neste triste país temos muitos a pensar de igual maneira. Afonso Costa, Salazar, Cunhal, Louçã. Todos uns grandes democratas. Shame on you, senhor Louça.
Para usar um adjetivo de Fidel, prefiro continuar a viver numa “multiporcaria”.
Uma falácia é uma falácia, que é uma falácia, Professor. Cristo poderia ter descido à Terra e assistido ao funeral de Fidel que isso não apagaria os crimes da ditadura cubana. No fim, é isso que conta, apesar das tentativas de uns e de outros para enviar os crimes dos ‘seus ditadores’ para o buraco da memória. E, já que falamos de História, cabe lembrar que durante a crise dos mísseis de Cuba, Fidel escreveu uma carta a Khrushchov pedindo-lhe que lançasse um ataque nuclear preventivo contra os EUA em caso de invasão da ilha, o que teria naturalmente destruído toda a civilização, Cuba incluída. Será que é em parte essa atração pelo abismo que caracteriza a Esquerda que explica o fascínio que Fidel ainda exerce sobre ela? A mim confesso que ele não exerce nenhum, mas isso talvez seja um defeito da minha costela conservadora…
Oh Jaime Santos, o que me preocupa é o fascínio que Fidel exerce sobre a direita e sobre tantas figuras! Marcelo Rebelo de Sousa, o governo português, o Papa, Mariano Rajoy, já para não falar nos figurões de direita que o foram abraçar quando visitou Portugal. Suponho que fica tão indignado com essa “falácia” como eu.
Eu acho que o Jaime leu a historia de Cuba escrita por William Buckley…..
Esses figurões de que fala Francisco Louçã serão mesmo de direita? E ainda que algum o seja, representará a direita? O único fascínio que vejo aqui é o que Fidel exerce sobre a esquerda que quer à força incluir a direita nesse fascínio. Será uma forma de mitigar alguma má consciência?
Tem razão.Sobra o KuKluxKlan.
«Os nossos filhos da p… não o são menos por serem nossos. Um ditador não o deixa de o ser por se aproximar das nossas convicções políticas. A não ser, claro, que as nossas convicções políticas não incluam a democracia e a liberdade»
As palavras acima citadas não são as de um «encanizado» de Direita, são de Daniel Oliveira, um dos seus correlegionários de Esquerda.
Faço-lhe duas perguntas, de todo legítimas, após ter lido este seu maniqueísta artigo, e que gostaria que me respondesse: as suas convicções políticas, Francisco Louçã, incluem a democracia e a liberdade? Acha que a defesa da liberdade e da democracia só é sincera quando parte de vocês de Esquerda?
Não precisava de ter ficado ofendida. Eu só lembrei que Marcelo Rebelo de Sousa foi há semanas a Cuba para se fazer fotografar com Fidel. Lembrar esse facto não ofende, pois não? E depois, o Papa. E depois tantos líderes da direita portuguesa a cumprimentar Fidel quando ele veio a Portugal. tudo factos.
Para o caso de estar interessada na historia de Cuba e perceber o contexto da “ditadura” cubana sugiro-lhe que leia o seguinte (https://chomsky.info/20150205-2/) e depois volte aqui e nos de um exemplo de um Pais que em circunstancias semelhantes tenha atingido para os seus cidadaos os mesmos direitos sociais.
Na verdade, muitos opinionistas insurgiram-se contra as referências a Fidel Castro quando favoráveis. Dizer que Fidel foi um ditador, é verdade; que o povo cubano, não é livre; é verdade. Mas, pergunta-se? Nós, portugueses, somos livres? Digam-me qual é o tipo da nossa liberdade? Económica? Financeira? Social? Já agora; naturalmente que quem nos governa não é nenhum ditador; mas será que verdadeiramente nos governa? Se não nos governa; quem nos governa afinal? Por fim; se somos livres; qual o preço da nossa liberdade?
Sou eu, Gens Ramos, outra vez. Francisco Louçã : afinal, qual é o nosso tipo de liberdade? Os portugueses são livres?
Donde se infere que os ditadores não se medem pelo glamour. Entre Fidel e Pinochet, que venha o diabo escolher quem mais monstruosidades cometeu. Ainda hoje, sugerir um abaixo-assinado para a demissão do presidente da República, em Cuba, levaria ao paredón. A comparaçâo da dinastia dos Castros com a monarquia de Felipe talvez fosse mais convincente.
A “encazinação” da direita e, acrescento, de alguns que se dizem de esquerda contra Fidel Castro tem, sem dúvida, a ver com as razões apontadas por Francisco Louçã e que muitos não perdoam: a restituição da dignidade ao povo cubano (um exemplo a esconder) ou a derrota dos sul-africanos em Angola, que contribuiu enormemente para o fim do apartheid.
Outros são apenas a voz do dono, que é preciso respeitar para não perder o emprego.
Há um artigo valioso de Ignacio Ramonet em http://blogs.publico.es/dominiopublico/18733/fidel-castro-y-la-represion-contra-los-intelectuales/ porque testemunha, na primeira pessoa, a hipocrisia dos grandes defensores da liberdade de expressão : depois de ter publicado, em 2006, o livro “Fidel Castro, Biografia a duas vozes” foi erradicado completamente das páginas dos jornais onde escrevia – El País, La Voz de Galicia, Le Monde – da radio pública “France Culture”, vendo, ainda, o seu contrato não ser renovado na Universidade Paris-VII, onde leccionava há 35 anos.
Ramonet refere, ainda, o caso de Chomsky, censurado nos grandes meios de comunicação do seu país, os EUA, que dão lições de liberdade e democracia a Cuba.
Agitar águas inclui julgamentos sumários, delitos de opinião e fuzilamentos? Fuzilamentos que quase sempre dão em morte. Assassinatos, isso…
Mais uma vez de acordo com a sua indignação. O governo que mandou um ministro ao funeral e que o outro governo se esqueceu de fazer o mesmo com Pinochet deviam ser demitidos sem apelo nem agravo. E o Papa também devia ser expurgado, foi uma vergonha o que disse sobre Fidel.
Neste país não se lê a concorrência? Se Francisco Louçã lesse tinha tomado conhecimento de um artigo de Cristina Margato “Cuba (pouco) livre” onde a música é outra. Fico curioso como é possível ser contra os réis de Espanha por serem monarcas e nada dizer sobro o modo como a família Castro é dona do poder em Cuba. “um ditador é um ditador é um ditador” Mas por alguma razão um ditador de esquerda tem mais glamour que um ditador de direita. Será que o glamour é proporcional às vítimas que fizeram e à miséria que causaram? Mistério.
Certamente e isso exige a demissão já do director da SIC, se não mesmo do do Expresso. Não é que publicaram reportagens sobre o funeral?
Cada um é livre de adorar os ídolos que quiser. Espanta-me sempre é a forma como os ditadores de esquerda, mesmo fazendo pior, têm sempre melhor imprensa que os ditadores de direita. Casos assim lembram-me sempre o velho militante Rubachov em o Zero e o Infinito. Fica uma duvida: Sabe dos fuzilamentos de La Cabana? Parece-me que nunca o vi mencioná-los.
É por partilhar a sua indignação que acho que se deve iniciar o processo de impugnação do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, perigoso adorador de ditadores de esquerda. Conto consigo.
Canonizem o Fidel se quiserem mas não me obriguem a gostar dele.
Sr. Prof. Dr. Francisco Louçã,
Em 1993, visitei Cuba. Atravessei Cuba de autocarro, com gentes Cubanas, com porcos e galinhas no tejadilho desse autocarro.
Nessa altura, também atravessei, de bicicleta, zonas campestres, sem turistas e zonas turísticas, do melhor que Cuba oferecia na altura.
Ao longo da minha vida, desde então, falei em Portugal e em países dos PALOP, com Cubanos, favoráveis ao regime e opositores do regime.
Como balanço final, do que vi, do que ouvi, do que li, cheguei à seguinte conclusão: as sociedades, por mais educação e saúde que tenham, após o limiar económico da mediania ser ultrapassado, querem liberdade, direito de circulação.
Não tenho conhecimento de muros e outros impedimentos para se entrar em Cuba.
O inverso, sair de Cuba, já não é a mesma coisa.
A dúvida seria desfeita, numa eleição livre, voto secreto, em Cuba. Até lá, liberdade, sempre!
Cumprimentos. Rui Pinto
Apreciado Dr. Louçã,
Ok quanto à hipocrisia dos atores políticos e de muito do debate.
Mas não desvie a atenção do essencial: as torturas, as execuções e prisões arbitrárias, a falta de democracia e de liberdade, etc, etc.
De facto, um ditador é um ditador. E Fidel, apesar de todo o encanto que possa ter tido, foi um brutal e meio doido ditador. Ponto final!
E à beira de Fidel, Salazar até seria um tipo pacato e decente.
Totalmente de acordo. Acho que devia sugerir uma petição pública para a demissão do Presidente Português, o malandro que se foi fazer fotografar com tal ser.
Ao ler a crónica e, sobretudo, os comentários do professor Louçã fiquei negativamente impressionado. O esforço descomunal que o professor Louçã fez para defender uma narrativa de Esquerda vs. Direita ignorando a história e princípios que ele próprio defende em público para defender Fidel Casto é de to impressionante e, pelo tom que usou, pueril.
Da mesma forma que uma pessoa de bem acha vergonhoso o professor Louçã fazer estes elogios à um ditador é vergonhoso ver o papa a tecer elogios à Fidel e isto nada tem a ver com ser-se de direita, centro ou esquerda, basta ser uma pessoa intelectualmente honesta.
Se o professor Louçã afastar-se da “história oficial” do revolucionário anti-americano conseguirá ver que é de tremenda desonestidade dizer que Pinochet foi um diabo e o Fidel Castro foi um anjo. Ambos foram ditadores que fizeram recurso à força para “manter a ordem” e é impossível mudar isto. Basta olhar para os milhões de pessoas que fugiram em condições de alto risco do “paraíso castrista”.
A batalha na pequena vila no sudeste angolano contra as SADF do regime do apartheid limpam todos os males? Ou o professor Louçã desconhece que o regime castrista esteve directamente envolvido na purga ocorrida em Angola em 1977? Evento que vitimou milhares de angolanos. O aumento considerável do acesso à cuidados médicos de qualidade apagam as mortes no paredão por delito de opinião? Justificam a supressão da liberdade?
Fidel Alejandro Castro Ruz traiu o povo cubano, foi um ditador que não admitia diferenças de opinião, deu educação mas retirou as liberdades necessárias para dar uso aos canudos, criou um exército de licenciados pobres e presos no seu próprio país, Fidel Castro é um falhado e a sua grandeza é pura fantasia ideológica.
Quando alguem em Miami,gritou abaixo o Fidel,viva ao Trump,os comentadores encartados de direita logo responderam:abaixo o Fidel,viva o Pinochet.Conclusão:os cubanos anti castristas ainda sabem que estamos em 2016,os comentadores de direita ainda não passaram do ano da graça em que o ditador tuga caiu abaixo do cadeirão.
Fidel, tal como as demais figurinhas ridículas do século XX e XXI (como a da actual “sopeira e o seu aleijadinho”), demonstra o estado de atraso cultural da barbárie ocidental.
Numa população madura não há figuras paternalistas, nem salvadores, muito menos líderes e afins criaturas da plebe pueril.
A plebe pueril é que procura e segue líderes, os outros têm cabeça própria e não reconhecem qualquer superioridade a ninguém. A ordem só existe numa população com maturidade, que já conhece os índios da adolescência (poderosos, líderes e afins). Uma plebe sem maturidade anda ao acaso de idiotas, dos seus discursos e delinquências.
A puerilidade da barbárie ocidental observa-se na forma como procura e adere às figurinhas paternalistas. É uma plebe que se comporta como uma adolescente em plena puberdade, que delira e obedece ao paleio do imbecil mais néscio que lhe aparecer. Hitler é a marca do atraso dos Alemães, Estaline dos soviéticos, Fidel é a marca da estupidez dos Cubanos. O líder é a marca do atraso da plebe que lhe obedece.
A base de uma sociedade é a ordem e não o poder (poder é coisa de imbecis). A ordem não reconhece “grandes homens”, nem líderes, nem poderosos e muito menos os jogos entre eles (jogos de poder).
Uma sociedade é um estado de maturidade social que difere diametralmente da plebe adolescente.
Uma sociedade ocorre numa população madura que se rege pela ordem. A plebe imatura comporta-se de forma pueril e subserviente ao imbecil que se apresentar como paizinho deles, salvador e afins, e anda ao acaso das vontades desse imbecil.
Os “grandes homens” demonstram apenas a pequenez da plebe acéfala que os segue. Ao líder segue o néscio, porque os outros tem cérebro próprio.
Assertivo, como em todos os anteriores comentários que tive a oportunidade de ler
Belo comentário.Mais uma pedrada no charco, principalmente num dia em que Francisco Louçã devia ter estado sossegado em vez de voltar a tocar neste tema.
Louçã, esqueci-me de acrescentar ao comentário anterior…
Ainda bem que Cuba não se tornou numa dinastia comunista como na coreia do norte pois todos sabemos o quão contra monarquias e coisas do género são os comunistas.
A escolha de Raul Ruz foi muito acertada e demonstrativa do processo democrático baseado no mérito e consenso que são tão típicos do comunismo.
Olá Louçã, o teu amigo Johnny está de volta
Quer se ache o fidel um herói ou um monstro, uma coisa é certa, o homem já era um dinossauro, não acha?
É melhor assim que ele já tenha ido fazer companhia ao tiranossauro rex e outros.
Um “ditador” que nos impulsionou até aqui. Sou de esquerda e não sou muito de idolatrias, mas fica a minha eterna gratidão a Fidel, por me ter ajudado a estar aqui ( ao lado dos mais desfavorecidos e desprotegidos e com vontade de continuar ): A maré pode não estar alta, mas quero ajudar a agitar as águas.