Na falta do Diabo, venha a diaba.
Passos Coelho bem avisou: é em setembro que chega o demo. E, se não chegou, então mais vale apregoá-lo, alguém acreditará. Ou, como mandam os spin doctors, se há um incêndio em minha casa é melhor atear fogo à cidade porque assim ninguém nota – ninguém nota nem as sondagens tristes, nem a sordidez do apadrinhamento por Passos Coelho do livro do Saraiva, nem a dificuldade de ter candidatos autárquicos, nem o desgosto de não ter havido sanções até agora.
Mariana Mortágua tem então mais uma medalha ao peito: conseguiu juntar de novo o PSD e o CDS, o que não estava nada fácil. Conferência de imprensa conjunta, vociferação, ataque pessoal, tudo como seria de esperar. Afinal, uma pequena taxa sobre os patrimónios imobiliários de mais de um milhão de euros é “ilegal, imoral e inconstitucional”, isto dito pelos ex-governantes que impuseram sem eficácia um imposto de selo de 1% sobre os patrimónios imobiliários de mais de um milhão de euros. Vê-los portanto rasgarem as vestes, porque o investimento vai morrer, porque os franceses se vão embora, porque os Vistos Gold já ninguém os quer, porque os poupadinhos vão ficar prejudicados, porque as heranças serão devastadas, tudo seria comovente se tivesse sentido. Pois que não, como é que se viu, uma deputada discutir soluções fiscais, então não é que ela tomou de assalto o Terreiro do Paço, oh da guarda?
Marques Mendes abriu o caminho na SIC: “é um crime”. Ele não gostou muito de quando Gaspar e Passos e Portas aumentaram os impostos em 4 mil milhões, gostou assim-assim quando baixaram as pensões e os salários, mas cobrar mais cem milhões ao património imobiliário de luxo faz-lhe saltar a tampa: “é um crime”.
Miguel Sousa Tavares, que a casinha em ruinas lá na terra nunca mais vai ser recuperada e que é melhor demitir António Costa. Mas a casinha lá na terra não vai pagar sobretaxa do IMI. Nem a casa de família, pois quem tem essas duas propriedades não é abrangido.
Gomes Ferreira, que os chineses vão deixar de investir e o capital estrangeiro vai fugir. Mas ninguém ensinou ao Gomes Ferreira que a maior parte destas compras de casas não é investimento? (Já reparou que nos canais generalistas de TV só há a explicação carinhosa da posição da direita sobre o assunto e nem para amostra há uma voz que se atreva a discordar desta linha tremendista de Mendes-Sousa Tavares-Gomes Ferreira?)
Paulo Rangel, inocente quanto a questões de economia, transforma a ignorância em atrevimento e também se mostra ofendido por Mariana ter explicado que só a compra da habitação nova é investimento; as outras compras e vendas da mesma casa não são investimento e são irrelevantes para a conta do PIB. É “ideologia”, grita Paulo; é “ciência socialista”, vocifera Paulo; mas é o Eurostat, Paulo. E, se se derem ao trabalho de pensar um bocadinho, tanto Gomes Ferreira como Rangel até conseguem perceber porquê: se Gomes Ferreira vender de manhã a sua casa a Rangel e a recomprar à tarde, para a revender no dia seguinte ao mesmo ou a outro colega e assim sucessivamente, talvez isso os torne muito amigos mas não acrescenta um cêntimo ao PIB, pois não?
Sérgio Sousa Pinto, sabendo do que fala, fica-se pela indignação contra estes “jovens burgueses cripto-comunistas” e ainda contra os “habilidosos pantomimeiros da velha escola” e esta “paródia senil”. Suspeito que escolheu cuidadosamente todas as frases.
José Milhazes, sempre cordial, anuncia que Mariana Mortágua está louca e deve ser internada (“Não se trata de um diagnóstico, mas de um caso clínico… O Conde Ferreira no Porto voltou a receber pacientes). Por delicadeza, só desejo as melhoras a este jornalista.
A brigada neoconservadora, neste caso capitaneada por Helena Matos, Rui Ramos e Paulo Ferreira, garante que a substituição do imposto de selo de 1% por uma sobretaxa de 1% é o princípio da instalação do bolchevismo, oh que vergonha para os pergaminhos da nossa Pátria.
Fernando Sobral, cavalheiro como sempre, anuncia que mergulhámos nas trevas medievais da floresta de Sherwood. No dia seguinte já passou da floresta de Sherwood para “uma versão tropical do regime de Kim-Jon-un”. Suponho que algum dia alguém notará que o jornalismo está a acabar e que, ao primeiro frémito de uma discussão, muitos jornalistas preferem escrever como proto-dirigentes partidários.
O Diabo, portanto. Ou a diaba, o que é muito mais sinistro, porque tem um sorriso mavioso e nos encanta com a sua voz ponderada.
Ora, esta diaba traz-nos duas lições.
A primeira é que enquanto o imposto de selo sobre os patrimónios imobiliários de mais de um milhão existia para fingir, a república estava salva; a partir do momento em que se pondera uma pequena taxa marginal sobre os mesmos patrimónios imobiliários, a democracia colapsou e as forças tenebrosas do Mal ocuparam Portugal, Mariana é Darth Vader e Costa é o Lorde Voldermort.
A segunda é uma lição para a esquerda: se há esta agitação desesperada, com comentadores televisivos a declararem a sua adesão à insurreição que vem (Vai ser como a TSU do Passos Coelho! Vai ser como a queda de Cavaco! Ocupem a ponte!), com o jornalismo económico a marchar como um exército em defesa do investimento dos chineses e franceses – que não afinal não é investimento, mas este é um dos casos em que o diabo não está nos detalhes – tudo por causa de um imposto marginal sobre o património dos milionários, façam o favor de se preparar para quando houver impostos sobre os rendimentos que incluam os dividendos e ganhos de capital e se puderem aumentar as pensões pobres dos nossos pais e avós que trabalharam a vida toda.
No mínimo, na falta da diaba ou mesmo de razões, a velha arma de sempre, uma boa inventona. E depois virá o resto.
Excelente artigo.
Mas o que é mais extraordinário (ou talvez não…) ao ler alguns comentários é realmente constatar os níveis de ignorância realmente assustadores de muita gente em Portugal (e que até lê estes blogues…).
Chegam ao ponto de repudiarem impostos e de considerarem qualquer forma de redistribuição social um roubo. Não conheço nenhuma sociedade por mais hiper-capitalista que seja – começando pelos EUA – onde não existam impostos e formas de redistribuição da riqueza. Como dizem os americanos, só há duas coisas certas na vida: “death and taxes”.
Não percebem coisas absolutamente elementares tais como a de que são os poderes públicos – em síntese o Estado – que definem o quadro regulatório e macroeconómico sem os quais não há economia que funcione – por mais “liberal” que seja – e que naturalmente esse papel (fundamental) tem um preço que se chama imposto.
A avaliar também por alguns dos comentários a este artigo não entendem (ou têm dificuldade nisso) que a compra de uma casa (em segunda mão designadamente) só por si não representa qualquer valor acrescentado mas apenas uma mudança de titularidade.
Além disso – mas aqui creio que o Dr. Francisco Louçã poderá esclarecer melhor o assunto – creio também que, se por hipótese o primeiro proprietário realizou uma mais valia na venda, isso significa tão só que o valor da casa entretanto aumentou e que a casa já valia mais antes da compra por circunstâncias do mercado – a venda ter-se-á então limitado a tornar líquida essa mais valia potencial ou ilíquida.
Por razões semelhantes, julgo que por ex. a compra da TAP ou da EDP não representou necessariamente investimento – em termos de valor acrescentado para o conjunto da economia – mas simplesmente uma mudança de titularidade (a compra da EDP traduziu-se numa transferência de propriedade do Estado Português para o Estado chinês). Outra questão é saber se com essa compra vieram ou não investimentos adicionais (prometidos, no caso, mas não sei se concretizados). Aí sim já haveria valor acrescentado e portanto investimento.
Assustador realmente.
Afinal, foram muitos. Marques Mendes, Miguel Sousa Tavares, Gomes Ferreira, Paulo Rangel, Sérgio Sousa Pinto, José Milhazes, Helena Matos, Rui Ramos, Paulo Ferreira, Fernando Sobral, Francisco Louçã, Catarina Martins,… milhares e milhares de pessoas que comentaram o assunto pelo país fora – concordando ou discordando.
Disto tudo, o colunista conclui que o assunto era de somenos e que serve apenas para disfarçar não sei que problemas de Passos Coelho, como afirma logo a abrir.
Eu não espero grande coisa dos políticos, ex-políticos ou da elite intelectual lisboeta. Acho que, na realidade, quase ninguém espera. Este texto é um bom exemplo da razão para isso. Falta-lhes a seriedade que o ar sisudo parece indicar.
O mundo está a precisar de umas diabas a la Mortágua.
Aleluia, como me alegro de ver alguém “dar porrada” na ignorância e arrogância do Rangel, um indivíduo que tem sido uma profunda deceção para quem via nele um herdeiro da tradição social-democrata do psd. Um indivíduo arrogante, presunçoso, mesquinho e ignorante. Um político pequenino que pensa que é alguém. Quanto à Mariana, personagem com o qual especialmente simpatizo no Bloco pela consistência e tranquilidade, fez asneira. Estas medidas são para discutir no debate do orçamento. Mau timing, dá a sensação que se está sempre a subir impostos e não é verdade; aumenta o desgaste das medidas necessárias ao orçamento de 2017 e finalmente não cabe ao BE anuncia-las. Pode dizer quais as medidas que acha relevantes ou que defende mas em sede própria, não “tira da cartola” uma conferência de imprensa no parlamento para anuncias medidas fiscais. E, por favor, mais cuidado com as expressões utilizadas, já se sabe que esta gente pega em tudo.
Riqueza é o valor líquido dos stocks de activos e passivos, tangíveis ou financeiros, detidos em certo momento do tempo (por exemplo, dos dias 31 de Dezembro de cada ano) por certa pessoa. É igual ao total de activos menos o total de passivos.
Rendimento é o total de fluxos de remunerações recebidas por certa pessoa durante um certo período de tempo (por exemplo, salários, juros, rendas ou dividendos anualmente desde o dia 1 de Janeiro até ao dia 31 de Dezembro de cada ano).
Estes conceitos são universais e aplicam-se a qualquer pessoa (ou país), seja rico ou pobre, banqueiro ou bancário, calceteiro ou executivo, seja ou não arguido e tenha ou não o cadastro criminal limpo.
Por exemplo, eu (de quem nem conhecem o nome e nem têm de conhecer) tenho, neste momento, como riqueza unicamente o total acumulado de fluxos de poupança iguais ao meu rendimento menos o meu consumo ao longo das várias décadas em que já vivi.
A minha riqueza é a soma dos meus fluxos de poupança.
A minha poupança é aquilo que eu não consumi em certo período para, como precaução, poder consumir no futuro independentemente das variações ou interrupções nos fluxos de rendimento.
A minha riqueza é o meu seguro pessoal, constituído á custa do meu esforço (trabalho e decisão de não gastar em consumo), para obstar às incertezas do futuro.
A minha riqueza é o meu seguro pessoal, constituído à custa do meu esforço, independentemente da forma como está ou não está depositada ou constituída sob a forma de títulos tangíveis ou financeiros ou sob a forma de bens correntes ou de luxo
Redistribuição não conta para o PIB.
Redistribuição é roubo.
Redistribuição, pelo menos a não consentida, é roubo.
Democracia é o regime em que os demagogos podem ganhar e exercer poder incentivando, estimulando a rapacidade, ganância, extorsão e roubo das maiorias sobre as minorias.
Este artigo é demagogia.
Isto só tem dois problemas.
Um é que na sua opinião impostos são roubo.
Outro é que, ao contrário do que diz, a “redistribuição” funcionou da maioria para a minoria: afirma a Autoridade Tributária que as 900 famílias mais ricas de Portugal pagam 1/50 do imposto que lhes cabia.
Demagogia é defender o roubo, tem razão.
A minha opinião, tal como ficou expressa, não é que impostos são roubo.
O que eu disse é que redistribuição, pelo menos a não consentida, é roubo.
Repito a minha opinião:
Redistribuição, pelo menos a não consentida, é roubo.
Ponto final neste ponto.
Ahhh, a deliciosa dualidade de critérios.
Imposto para 1 milhão de € é Justiça fiscal. Mas para 500 mil já estamos a dar machadas nos pilares da sociedade…
Dois blocos de apartamentos em Telheiras é luxo, mas se for só um já estamos a atacar o pobre do assalariado português. Afinal, pelo discurso da direita, principalmente por esse “guru” económico que é José Gomes Ferreira, um fiscal da EMEL ou o dono da tasca da esquina podem perfeitamente adquirir um condomínio de luxo com o que lhes sobra ao fim do mês.
Haja coerência.
Note-se as polémicas sucessivas com medidas que, ao meu ver, pecam apenas por serem tardias. A Geringonça ainda nem um ano teve e já levou a direita a convocar duas manifestações ao direito de cear foie gras e Moet et Chandon.
Não podiam pedir sinal mais claro de que caminham na direcção certa.
Para haver debate público, é preciso haver alguém que o lance… por isso o Bloco está de parabéns.
Podia ter sido melhor lançado?
Podia, mas não era a mesma coisa. Esta semana ficaram a saber quem não sabia, que para o PSD e CDS, “Classe Média”, são pessoas com casarões de meio milhão, e é para essa tal “Classe Média” imaginária que eles governam…
Até porque este debate sobre a taxação de patrimónios elevadíssimos já aconteceu há 3 décadas nos países mais desenvolvidos da Europa. E na altura, tal como cá, agora, os muito ricos, os partidos de direita, e a comunicação social de direita, também barafustaram.
E também reservaram um lugar no inferno para as “Marianas” norueguesas, finlandesas e dinamarquesas, por exemplo, “perigosas comunistas que comem crianças”.
Mas depois acalmaram, e as leis foram aprovadas…
Este tipo de taxação de património, trás benefícios para a sociedade, para que o Estado dê oportunidades a outros de chegarem a ricos e a muito ricos, além da questão da desigualdade, da especulação imobiliária em tempos de baixas taxas bancárias, etc…
Força Bloco. Força Geringonços!!!
Trickle-down Economics pura e dura é a bandeira dos partidos de direita.
A direita em Portugal anda a reboque da direita dos EUA, com o patrocínio do FTimes.
O estado de Califorma é um bom exemplo para apoiar Mortrágua.
As pessoas esquecem que democracia é uma arena onde se digladiam interesses, so que o povão sente mais a dor dos ricos, acabando por esquecer dos seus próprios interesses.
Ficou muita gente alarmada com o anúncio do dito imposto. No meu caso gostaria de pagar o imposto, nem que fosse a dobrar, gostaria que me dissessem como hei-de fazer.
Não herdei, não roubei, por isso nada tenho, apesar de começar a trabalhar aos dez anos de idade e tenho setenta e três…
Ficou muita gente alarmada com o anúncio do dito imposto. No meu caso gostaria de pagar o imposto, nem que fosse a dobrar, mas como não tenho património, gostaria que me dissessem como hei-de fazer. Não herdei, não roubei, por isso nada tenho, apesar de começar a trabalhar aos dez anos de idade e tenho setenta e três…
Acho muito bem que a Mariana não esteja calada de modo sublinhar que a tributação do património de luxo tem origem no BE. Se não arrisca-se a que o PS de António Costa fique com os louros, porque a imagem que passa é que as medidas políticas positivas sejam do Governo, esquecendo-se dos partidos mais à esquerda que têm um papel importante no seu desenho e no exercício da influência política.
Sendo os média propriedade de quem terá um acréscimo na sua carga fiscal (ainda que proporcionalmente irrelevante se comparada com a suportada por quem tem rendimentos até 50000€/ano) é natural que exista esta tempestade dentro do copo de água, claro que os sedentos de controvérsia irão projectar alguns salpicos, tacanhos serão aqueles que não sendo afectados por esta medida, que peca por ser diminuta, fazem deste tema uma notícia.
Com diabas assim o Inferno não há-de ser tão mau.
À parte o gracejo, já não tenho dúvidas: se a Direita anda desacabelada é porque este imposto é mais justo que o nascer do sol.
Não é desejável nem possível, por força da democracia, impedir o pronunciamento público de deputados, comentadores, instituições, testas de ferro, lobistas e todo o tipo de forças de pressão no exercício condicionador da elaboração deste OE 2017 ou outro.
É próprio da natureza humana procurar influenciar os acontecimentos e fazê-lo “puxando a brasa à sua sardinha”.
É isso que está em curso.
Cada um ficará com a responsabilidade da assunção ou clarificação das suas opções.
Neste caso a Comissão Europeia que tinha chegado a um acordo está a desfazê-lo em praça pública ficando no papel de troca tintas sempre na linha do garrote chantagista.
Muitos horrorizam-se com a possibilidade de ser aberto caminho ao grupo restrito quem vive no fausto, sem pagar impostos, poder vir a ter a oportunidade de participar no esforço público de sustentar o Estado que querem para os proteger e à propriedade.
Causa alguma estupefação ver pelintras, assalariados ou trabalhadores à peça sem vínculo laboral e sem furtuna herdada, nem construída, nem potencial ou de azar, que o Euromilhões não não lhes acerta nas cruzinhas, assanhados em calorosa defesa da impunidade das grandes fortunas.
Cada um ficará com a sua e Portugal ficará com um OE 2017.
A direita anda perdida. Isto acontece porque verdadeiramente não há ideias por ali, e parece que o desespero por causas causas verdadeiramente nobres se abateu para aquelas bandas, tal a cegueira. É evidente que se trata de pequenos passos para debelar injustiças profundas e nisso até com sociais democratas e democratas cristãos devíamos avançar.
As coisas aconteceram-lhe muito rapidamente. Ficaram confusos.
Com todo o respeito, deixem-me dizer que toda esta conversa acerca do novo imposto sobre imóveis mais não é que luta política e que no fim, ou fica pelo caminho, ou vão pagar os mesmo de sempre. Com efeito:
1) Se abranger apenas quem tiver imóveis com Valor Patrimonial Tributável (VPT) superior a 1 (um) milhão de euros a receita gerada vai ser irrisória, sendo expectável que nem chegue para cobriu os custos inerente ao lançamento do imposto. Isto dado que são poucos os contribuintes (exceptuando empresas) com imóveis cuja soma dos VPT´s é superior a um milhão de euros. Além de que, se alguém tiver mais que 1 milhão em imóveis, pode sempre fazer um escritura de doação de parte dos imóveis aos seus descendentes (operação esta isenta de imposto) e contornar desta forma a aplicação do imposto…
2) Para gerar receita que se veja (ex.:200 milhões de euros) a base tributável terá, forçosamente, que ser muito inferior ao dito milhão e quiçá até inferior ao 500 mil euros. Pelo que, a ser assim, não vão ser os ricos os atingidos, mas sim a dita classe média. Aliás qualquer imposto só dá receita significativa se incidir sobre a classe média.(Por outro lado todos os imposto começam “de baixinho” e depois é vê-los aumentar – IVA começou nos 16% já vai nos 23%, o IRS tem vindo sempre a subir, etc.).
Neste contexto, permita-me que lhe diga Dr. F. Louçã, que o novo imposto ou é mera demagogia – fica sempre bem clamar que é aos ricos que tem que se ir buscar o dinheiro – ou, sem dúvida nenhuma, vai ser a chamada classe média a pagar….
Para que o seu argumento tenha sentido, conviria fazer contas. O imposto de 1% lançado pelo CDS e PSD sobre patrimónios de 1 milhão daria receita de 100 milhões, e permitia que muitas casas fugissem. Se o imposto abranger as propriedades desse valor sem fuga, pode chegar aos 200 milhões.
Que critérios definem a classe média em Portugal?
É muito elucidativa,esta reação corporativa de parte bastante significativa da comunicação social bem instalada,em Portugal.Afinal,dominar os Media,é fundamental(e farto-me de rir,cada vez que alguem sugere que o Publico,ou o Expresso são antros de “comunas”.Pois são,o David Dinis,é um deles).Alias,os Media servem exactamente para isso:para a propaganda,e para manter as 100 familias mais ricas de Portugal,a viver á grande,e neste caso,á portuguesa.e pergunta para o Passos(um homem,que gosta de ser visto,como um homem de familia):então,e as outras,são descartaveis? são consumiveis,que se deita para o lixo?já passaram o prazo de validade?
Está óptimo, como sempre.
Melhor, impossível.
Mas… é ‘ó da guarda’ (vocativo)…
Relativamente ao imposto sobre o património imobiliário será considerado o valor tributável menos o valor da hipoteca do imóvel ?
Muitos dos imóveis estão hipotecados como deve saber.
impostos sobre os rendimentos que incluam os dividendos e ganhos de capital – justamente uma das coisas que é preciso referir é que os verdadeiros super ricos, o top 10 dos milionários, tem a sua fortuna em acções . ora bem quando é que essa fortuna passa a ser taxada ? isso dá muito mais do que 200 milhões e basta chegarem a uns 10 ou 100 contribuintes, Boa sorte o Povo Anonimo que está nas lonas agradece
Posso fazer dois comentários?
Primeiro: no seu texto transparece um pouco mais do que admiração e o esforço realizado na enumeração exaustiva das objecções à “Diaba” são exemplares. É perfeitamente compreensível.
Segundo: a frase “No mínimo, na falta da diaba ou mesmo de razões, a velha arma de sempre, uma boa inventona. E depois virá o resto.” revela uma compreensão genuína dos mecanismos sociais onde a razão é um parente afastado. As ‘inventonas’ só funcionam na presença do knee-jerk.
A compra de casas por investidores estrangeiros dinamiza o mercado imobiliário e leva ao aumento do investimento em novos empreendimentos. Devemos ser sérios na análise efectuada e ter em conta o licenciamento de novas obras.
Aumenta o preço. Más notícias para a população.
Caro Francisco,
Como professor de economia, você deveria saber que essa afirmação é do mais ridícula e demagoga que pode fazer.
Se aplicarmos esse pensamento retrógado ao resto da economia, então deveremos proibir todo o investimento estrangeiro e nacional porque, de certa forma, isso irá inflacionar preços de bens e serviços???!!!???
Eu não sou defensor do investimento imobiliário como investimento produtivo ou reprodutivo, ou seja, como investimento que impulsione directa e sustentadamente o tecido produtivo de um país.
Contudo, esse investimento, em democracia, não só é necessário (pois todos temos o direito de ter uma casa – vocês não adoram falar em direitos? – e embora nas nossas casas não produzamos batatas, automóveis ou aviões, todos necessitamos de casas para viver, certo?) como jamais será mau.
Passo a explicar o porquê, caro professor:
Se tivermos investimento estrangeiro (ou nacional, é irrelevante) em imobiliário, várias coisas podem acontecer e nenhuma delas é negativa.
O investimento em imobiliário, num mercado livre e em democracia como o nosso (não como na Venezuela ou Cuba), dá-se por um ou mais dos seguintes motivos:
– Há stock de casas a mais no mercado, ou seja, há menor procura que oferta, e há quem decida comprar parte desse stock excedente por diversas razões e normalmente não é para especulação ou encaixar mais-valias (até porque num cenaŕio de stock excedente tal não se proporciona). Neste cenário, não há qualquer aumento de preços para a população pois não havia sequer procura para as casas existentes. Neste cenário podemos incluir situações de quem compra activos imobiliários como refúgio, como segunda habitação ou até mesmo para recuperar imóveis antigos que, por serem antigos, constituiam stock excedente devoluto e que passa a ser stock aproveitável.
– Há falta de stock no mercado e produzem-se novas habitações. Neste cenário aumentamos a oferta para igualar a procura e a tendência será o preço descer ou se manter, no minimo. Nunca subirá. Isto é óptimo para a população, pois vê satisfeita a sua necessidade de ter habitação e o preço, pelo menos, não sobe.
– Há falta de stock no mercado mas não se produzem novas habitações. Se há falta de stock e se não há novas habitações a serem construídas afinal o que há para comprar? Neste cenário os preços para a população mantêm-se ou podem aumentar mas por culpa da falta de stock e falta de produção de novas casas, não pela culpa de investidores. A médio/curto prazo, e numa economia livre de mercado, os agentes irão perceber que há falta de stock e vão começar a produzir habitações, satisfazendo, uma vez mais, a necessidade de habitação e diminuindo os preços, ou pelo menos travando oseu aumento.
No caso de investimento estrangeiro imobilário, estamos a falar de divisas/liquidez que entra directamente na economia portuguesa e que pode/deve ser usada pelos agentes para diminuir endividamento, para reinvestir em activos produtivos ou simplesmente como poupança para o futuro.
Ora, Portugal está num cenário em que há EXCESSO de stock de casas e em que há EXCESSO de stock de casas devolutas.
Pode explicar-me em que é que o investimento (estrangeiro ou nacional, é irrelevante) iria prejudicar o mercado imobiliário?! Não há sequer procura para a oferta que existe.
Esta mania dos comunistas e neo comunistas em querer controlar o livre mercado e a economia sempre resultou em desgraça e miséria. Será que vocês não entendem que é o ser humano, por ele próprio, que deve regular a oferta e procura?
Só o ser humano, e a sua LIVRE escolha, poderá equilibrar o mercado. Não se esqueça que ninguém compra activos/bens/serviços que não são úteis e que ninguém produz activos/bens/serviços que não são vendáveis!
Obrigar uns a produzir/não produzir e outros a comprar/não comprar é sim o que leva à destruição das economias.
Tenho pena dos seus alunos.
Se gosta de discutir o sexo dos anjos, não o vou contrariar. Afirmei que a compra de casas, depois da primeira venda, não é investimento nem conta para o PIB. Quem o afirmou e afirmou mesmo, ignora as regras do Eurostat e já agora, da contabilidade nacional. Não é investimento, será preciso escrever com mais clareza?
Concordo inteiramente com o teor do texto mas tenho uma dúvida q poderá ainda acrescentar mais qq coisa à matéria: o valor para se obter o visto Good não é/ era de 500 000.00? Onde está o pânico?!
Só espero que Miguel Silva não seja economista, porque a lição de liberalismo que aqui nos trouxe é de uma crueldade tal que, classificada na escala de Richter estaria à altura de uma Pompeia. Para além da ingenuidade com que nos diz que “há quem decida comprar parte desse stock (casas e edifícios) excedente por diversas razões e normalmente não é para especulação ou encaixar mais-valias” (pergunto-me para que será…), dá o mote para compreendermos o que se passará quando “os agentes irão perceber que há falta de stock e vão começar a produzir habitações” … ó meu caro, antes disso e numa altura em que se começará a notar que há falta de casas no mercado, terão subido os preços e estarão os tais que decidiram comprar o excedente de stock, “sem intenções de mais-valia”, a injectar o produto no mercado e a extorquir-lhe, a si, o excedente de poupança.
Francisco,
Na minha opinião, este foi talvez um dos melhores artigos que escreveu até agora. Parabéns. No entanto, permita-me uma pequena correcção:
“[…] as outras compras e vendas da mesma casa não são investimento e são irrelevantes para a conta do PIB”.
Não necessariamente. A compra de uma casa já existente é contabilizada no PIB não na componente investimento, como bem diz no artigo, mas através da mais-valia do antigo proprietário. Concordo que talvez tenham sido irrelevantes nos últimos anos pois dada a desvalorização do mercado imobiliário em Portugal, foram vendidas imensas casas com mais-valias negativas (i.e. com contributos negativos no valor do PIB).
No entanto, as compras e vendas da mesma casa podem ser muito relevantes para o cálculo do PIB, por exemplo, durante uma bolha imobiliária como a que aconteceu em Espanha mesmo antes de rebentar a crise – uma parte nada negligenciável do aumento do PIB em Espanha nesses anos deveu-se a pura especulação imobiliária, isto é, foi um crescimento balofo.
Logo, se substituisse a expressão “são irrelevantes” por “têm-se mostrado irrelevantes” ou “foram irrelevantes nos últimos anos”, melhoraria o artigo.
Bem haja e continuação de bons artigos,
Pedro Ferreira
Exacto: o valor acrescentado e nada mais.
Francisco,
Acabei de analisar mais em detalhe a forma de contabilizar a compra e venda de casas no PIB e clarifiquei uma ideia qua acabei de dar no comentário anterior.
A mais-valia afecta o valor do PIB mas não entra directamente nesse cálculo. Por exemplo, se eu comprar uma casa por 100, vendo-a no mesmo ano por 110 e meto os 10 de lucro debaixo do meu colchão, o impacto dessa transacção no PIB é nulo. Se no entanto em usar parte desses 10 para comprar um carro melhor, ir à marisqueira celebrar a venda, o que seja, então parte desses 10 voltam a entrar na economia e por essa via afectam positivamente o PIB. Como é pouco provável não usar nem que seja uma parte dessas mais-valias, então não é de todo errado dizer que a essa parte das mais-valias contribuem para o PIB (tirando um estrangeiro que compra e vende um Portugal e leva para o seu País a mais valia).
Um ponto adicional que acho relevante para clarificar esta questão do ser ou não ser investimento: ser ou não ser investimento, é apenas uma convenção contabilística.
A contabilização da compra de casa como investimento só acontece se for para habitação própria e permanente (ou se for um edifício para uma actividade mercantil, claro) e trata-se de uma norma relativamente recente. É o chamado “Owner-Occupied House”, que torna mais comparável famílias com casa própria e quem, não tendo casa própria, tem de pagar uma renda mensal. Para tornar os rendimentos destas duas famílias mais comparáveis, decidiu-se então valorizar a casa para habitação própria e permanente como um “investimento” que o próprio faz (se pretender viver lá mais de um ano) a qual fornece “serviços de alojamento” ao próprio dono ao preço de mercado de arrendamento. Este proprietário paga portanto uma renda a si mesmo, mas parte do seu rendimento é alocado a ter um tecto para viver, tal como o que aluga uma casa também tem de alocar parte do seu rendimento para poder ter um tecto. Ou seja, o facto de ser “investimento” é uma pura convenção contabilística.
Fica por explicar por que razão um carro próprio não é considerado investimento o qual forneceria serviço de transporte ao próprio – estas questões foram no entanto postas em cima da mesa durante a discussão do “Owner-Occupied House”;
Fica também por explicar por que razão o anterior Governo gritou bem alto que os vistos gold atraiu investimento estrangeiro. É que se a casa comprada pelo o Sr Yan não foi para habitação própria e permanente, não é investimento coisíssima nenhuma, nem sequer por convenção contabilística. Eu tenho uma explicação para isso mas guardo-a para mim.
Resumindo, que isto já vai longo: as mais-valias afectam indirectamente o PIB na proporção em que são usadas na economia (e não na totalidade como eu poderei ter deixado a entender no comentário anterior), as menos-valias também, no sentido em que induzem uma contracção do consumo, entre o deve e o haver, não é certo para que lado cai o pendor, mas à falta de dados mais concrectos podemos admitir que o seu valor no PIB nos últimos anos não deverá ter sido elevado e, mais importante que tudo, chamar investimento a uma casa nova (e não a um carro novo) é uma pura convenção contabilística.
Pedro Ferreira
Percebeu portanto que a compra de uma casa em segunda mão não é investimento. Optimo.
Uma injustiça.
O professor Louçã, 13 anos no parlamento, milhares de projetos lei e horas de entrevista em horário nobre conferencias ee politica e economia e no fim nem uma taxinha, nem uma portaria ostenta o seu nome.
Vem esta pirralha que nem tem de idade tantos anos como você de academia e pumba.
Imposto Mariana Mortágua.
A política é mesmo um mundo muito ingrato.
O sentimento subjacente não aparenta ser esse. Parece-me ser de orgulho (é uma Co-Autora).
Está em boa forma Francisco Louçã. Excelente.
Dizer que “outras compras e vendas da mesma casa não são investimento e são irrelevantes para a conta do PIB” não é ideologia, é só desonestidade intelectual.
Ignora o papel que o sector imobiliário tem na reabilitação dos centros urbanos, trazendo de volta negócios e turismo.
Os argumentos são apenas uma desculpa esfarrapada para extorquir dinheiro a um dos poucos sectores que apresentam algum dinamismo.
Pois são irrelevantes. Não contam. O PIB é uma conta, sabe disso? Tem regras que são definidas pelo Eurostat. E portanto a compra de uma casa em segunda mão não conta para o PIB. Não conta mesmo. É actividade económica, mas não conta para o PIB. Quanto a “extorquir” dinheiro aos milionários através de uma taxa de 1%, respeito que se sinta ofendido.
PIB=Salários + Rendas + Juros + Lucros
E nós que só tínhamos razões para desconfiar dessa senhora Mortágua (lembrar inquérito ao BES) e as melhores razões para confiar nas Helenas Matos e Marques Mendes…
Este comentário do sr Pedro Vilar dá vontade de rir à gargalhada.