Este fim-de-semana, a actualidade internacional foi marcada por dois eventos associados a fugas de informações publicadas no Sueddeutsche Zeitung (“Panama Papers”, que revelam o uso de offshores, entre outros, por alguns políticos influentes) e um segundo, com menor impacto mediático, na wikileaks (Conferência telefónica de responsáveis do FMI).
A fuga de informação da wikileaks transcreve uma conversa entre o nosso conhecido Poul Thomsen, dinamarquês, responsável do FMI para a Europa, antigo chefe de missão da Grécia e de Portugal, a chefe de missão do FMI para a Grécia, Delia Velkouleskou e Iva Petrova, também do FMI, conversa essa que terá decorrido a 19 de Março de 2016, estando dois dos intervenientes no hotel Hilton em Atenas. Nessa conversa, Poul Thomsen, talvez frustrado com a indecisão calculista dos principais responsáveis políticos da zona euro em relação a uma matéria em que tinham em Julho de 2015 prometido actuar ou pelo menos estudar – a reestruturação da dívida pública da Grécia –, sugere abertamente que a única forma de levar os “Europeus” a decidir alguma coisa, nomeadamente, a concordar em reestruturar a dívida da Grécia, seria criar uma crise artificial, o que ele designa por “evento”. A ideia que transparece da conversa é que o objectivo do FMI seria levar novamente a Grécia à beira da bancarrota (i.e. um evento de incumprimento ou “default”), para conseguir que a Alemanha acedesse em reestruturar a dívida da Grécia. Para o fazer, Poul Thomsen sugere que o FMI deveria começar por não publicar um dos relatórios sobre a Grécia e que deveria recusar-se a reunir com o Governo grego.
O que Poul Thomsen sugeriu fazer, a ser verdadeiro, é extremamente grave. E a forma casual como discutiu a questão com os seus colegas, embora com cuidado suficiente para não ser demasiado explícito, suscita a questão de saber se já o teriam feito no passado! Será que alguma das crises e dos dramas que vivemos desde 2010 – e mais, que os gregos viveram na pele nos últimos anos – foram encenados, desta forma cínica e sem respeito pelo sofrimento humano, por altos quadros do FMI ou de outras organizações da troika?
Um evento de incumprimento, ou o mero risco de tal evento, tem consequências económicas relevantes e graves, que podem ser da ordem de várias dezenas de milhares de milhões de euros, afectando economias reais e mercados financeiros: há sempre agentes ou especuladores a sofrer elevadas perdas e outros a registar elevados ganhos. Que um alto responsável do FMI possa sozinho decidir causar tais eventos de forma artificial tem profundas implicações. Em particular, é impossível manter essa informação – de que se planeia criar um “evento” – confidencial, pois há sempre uns poucos a ter acesso a essa informação, nem que sejam as entidades por detrás das escutas que agora foram reveladas pela wikileaks.
A fuga de informação sobre esta conversa dos responsáveis do FMI, levou o primeiro-ministro grego a escrever uma carta à directora do FMI, Christine Lagarde e esta, “apanhada em flagrante”, responde de forma irritada e em tom de desafio, sem se deixar envergonhar pela situação, fazendo exigências (nomeadamente que as autoridades gregas assegurem que não ocorrem escutas dos seus funcionários), deixando implícitas ameaças e acedendo aristocraticamente em enviar a sua equipa para continuar as negociações. É evidente que as conversas dos responsáveis do FMI podem ter sido retiradas de contexto e acredito que as negociações que estes quadros do FMI estão obrigados a empreender sejam penosas e difíceis. Não obstante, será que os fins (a reestruturação da dívida grega) justificam os meios, para a responsável do FMI?
Parece-me que a resposta correcta de Christine Lagarde teria sido suspender os responsáveis do FMI e iniciar um procedimento interno de averiguações. E estes quadros do FMI, bem como técnicos e responsáveis de outras instituições multilaterais, independentemente dos fins que os motivam, não deveriam, não poderiam, sentir-se e agir como intocáveis; deveriam ao invés ter medo, ou melhor, pavor das consequências pessoais, profissionais e patrimoniais por serem apanhados em conspirações como aquela em que estes responsáveis do FMI aparentemente foram apanhados … a ser verdade.
A Sra. Lagarde tem obrigação de abrir um inquérito para apurar a verdade.
Já ninguém ignora que a receita e o objectivo do FMI é apenas a submissão da soberania dos Estados á hegemonia do poder financeiro Global.
Podemos entender esta situação no contexto do terrorismo Corporativo do Capitalismo selvagem global .
O FMI é apenas uma das várias organização terroristas Mundiais lideradas por banksters, que se apropriaram do sistema financeiro/monetário e o converteram num instrumento de saque massivo ás populações.