Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Ricardo Cabral

3 de Março de 2016, 14:00

Por

A depressão na zona euro é quase uma escolha política “deliberada” da UE

Lorde Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra entre 2003 e 2013 e vice-governador entre 1998 e 2003, publicou agora um livro “The End of Alchemy” (O fim da alquimia), tendo-o apresentado esta terça-feira na London School of Economics (LSE). Evidentemente Mervyn King tem alguma motivação em provocar polémica, agora, para criar interesse no seu livro. E, graças ao seu “gravitas” e relevância como importante decisor, causou polémica ao afirmar na LSE:

Nunca imaginei que assistiríamos de novo num país industrializado a uma depressão mais profunda do que a vivida pelos Estados Unidos nos anos 30, mas é isso que ocorreu na Grécia. […] É terrível e aconteceu quase como um acto deliberado de política o que faz com que seja ainda pior.

O Telegraph publica um extracto do livro, que vale a pena ler. Já muitos – em que me incluo – disseram algo muito parecido com o que Mervyn King agora tão eloquentemente expressa nesse capítulo. Espero que Mervyn King, enquanto governador, entre 2010 e 2013, tenha defendido veementemente tal posição nas suas reuniões com decisores da Europa continental. Lamento que, no âmbito dessas suas funções, não tenha tido a coragem para expressar tal posição publicamente, o que muito teria contribuído para evitar ou, pelo menos, minorar a desgraça que se abateu sobre o sul da Europa e, em particular, sobre demasiado muitos dos meus conterrâneos. Afigura-se-me que  foi um “desserviço” que fez à União Europeia e aos interesses do próprio Reino Unido, ao “atirar“ estas palavras para fora do seu mandato.

Contudo, as suas afirmações, agora após o “mea culpa” em relação à reestruturação de dívida de outra famosa instituição – o FMI – , são muito importantes e necessárias. Porque são escritas por mais uma figura de proa do “establishment”, independente, prestigiada e pensante, que finalmente clama contra a política irracional que continua a afundar o projecto de integração europeia. Espero que Wolfgang Schäuble leia, pelo menos, esse capítulo do livro de Lorde King.

Comentários

  1. Uma questão me persegue: vejo nisto tudo a evolução normal do sistema capitalista que inexoravelmente se envolve em contradições insolúveis:
    – loucos e INCONTORNÁVEIS mercados financeiros
    – crise da banca (sinal de contradições insolúveis do sistema)
    – ditadura financeira
    Não percebendo nada de economia, à minha volta leio sempre análises que esclarecem sobre a CRISE, mas não a definem como uma EVOLUÇÃO NORMAL e portanto, tentam explicar que há erros, sem que expliquem PORQUÊ eles são cometidos. Frequentemente se ignora que nas sociedades humanas os caminhos prosseguidos são sempre os melhores para a parte que vai ao leme: os agiotas do sistema, os ganhadores.

  2. Estamos sempre a usar declarações de pessoas cuja única seriedade decorre de serem coresponsáveis diretos das injustiças que sofremos para credibilizarmos o que “Vemos, ouvimos, e lemos e insistimos em ignorar”

    Olhamos para a Europa e percebemos que o papel principal que desempenhou com a aplicação do chamado Plano Marshall: foi fazer de tampão à união soviética. Acabou essa missão portanto, para quem gere o mundo, o Estado Social deixou de ter interesse geoestratégico. O empobrecimento é uma decisão estratégica para acabar com o modo de vida desenvolvido na Europa nos últimos 70 anos e substituí-lo por um modelo copiado dos EUA que é afinal a potência ocupante, mesmo que sofisticadamente, da Europa do pós guerra.

    “Nunca imaginei que assistiríamos de novo num país industrializado a uma depressão mais profunda do que a vivida pelos Estados Unidos nos anos 30, mas é isso que ocorreu na Grécia. […] É terrível e aconteceu quase como um acto deliberado de política o que faz com que seja ainda pior.”

    Esta confissão serve para descanso de consciência pesada, mas também para que a empreitada continue.

    O chamado projeto de construção europeia em nome da paz, liberdade, democracia pluralista estado social democrático e de direito é um embuste.

    Não é possível fazer um Império Europeu.

    Ainda não estão consolidadamente desfeitos os muitos Impérios com capital em cidades europeias. Quem pode acreditar na súbita submissão de todas essas capitais a uma qualquer que seja sem uma guerra como a que fez os Estados Unidos da América?

    1. Está enganado em relação aos Estados Unidos, há sua história e motivações profundas. estou aqui há 15 anos e posso garantir-lhe que sou muito mais livre como cidadão Americano do que alguma vez fui como cidadão “Europeu”. A Europa inventou mais um modelo de opressão dos povos, desta vez uma coisa matemática com bancos e chancelarias, uma coisa modernizada para o Sec XXI. Esta é a especialidade da Europa continental. Ou nos levantamos e recuperamos a independência como Portugueses ou estamos condenados a aprofundar a nossa cobardia colectiva e a culpar os outros pela nossa falta de coragem. E olhe que isto não é uma opnião de alguma estrema esquerda desatinada. Ouça lá esta com calma, vinda da direita sóbria: https://www.youtube.com/watch?v=q_gyYnwu4Pw. Deixe-me que lhe diga caro amigo – a América foi inventada por europeus a fugir de alguma coisa. Esse velho monstro levantou outra vez a cabeça aí. Será cortada como no passado, mas não sem arruinar gerações e culturas de perneio. A América tem as suas falhas, mas a opressão dos povos europeus é uma coisa completamente nativa.

  3. http://www.paulcraigroberts.org/2016/02/22/the-evil-empire-has-the-world-in-a-death-grip-paul-craig-roberts/

    Paul Craig Roberts:

    O Império do Mal tem o mundo num aperto de morte…. (tradução automática)

    Em meus arquivos há uma coluna ou duas que introduzem o leitor a aum livro muito importante de John Perkins “Confissões de um Assassino Econômico” .

    Um EHM é um agente que vende a liderança de um país em desenvolvimento em um plano econômico ou desenvolvimento maciço. The Hit Man convence governo de um país que os empréstimos de grandes somas de dinheiro de instituições financeiras dos EUA, a fim de financiar o projeto vai elevar os padrões de vida do país. O mutuário tem garantia de que o projeto vai aumentar as receitas de produtos e fiscais Interno Bruto e que estes aumentos permitirão que o empréstimo seja reembolsado.

    No entanto, o plano foi concebido para sobrestimar os benefícios, em que o país endividado não pode pagar o principal e juros. Como Perkins ‘explica, os planos são baseadas em “análises financeiras distorcidas, inflacionando projeções e manipulando a contabilidade”, e se o engano não funcionar, “ameaças e subornos” são usados para fechar o negócio.

    A próxima etapa do engano é a aparência do Fundo Monetário Internacional. O FMI diz ao país endividado que o FMI vai salvar a sua notação de crédito, emprestando o dinheiro para reembolsar os credores do país. O empréstimo do FMI não é uma forma de ajuda. Apenas substitui o endividamento do país aos bancos pela dívida para com o FMI.

    Para reembolsar o FMI, o país tem que aceitar um plano de austeridade e concorda em vender ativos nacionais a investidores privados. Austeridade significa cortes nas pensões sociais, serviços sociais, emprego e salários, e as economias orçamentais são utilizadas para reembolsar o FMI. Privatização significa venda de petróleo, minerais e infraestrutura pública, a fim de reembolsar o FMI. O negócio normalmente impõe um acordo de voto com os EUA na ONU e aceitar bases militares dos EUA.
    Ocasionalmente líder de um país se recusa o plano ou a austeridade e privatizações. Se subornos não funcionam, os EUA envia nos chacais-assassinos que remover o obstáculo para o processo de saques…………………

    Perkins mostra que, apesar de suas revelações, a situação é pior do que nunca e se espalhou para o próprio Ocidente.

    As populações da Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, Itália e os próprios Estados Unidos estão agora a ser saqueada pela atividade Hit Man…..

    Hoje, a única diferença entre o capitalismo e gangsterismo é que o capitalismo conseguiu legalizar seu gangsterismo e, por isso, pode roubar mais do que a Máfia.

    Dr. Paul Craig Roberts foi Secretário Assistente do Tesouro para Política Económica (Presidente Reagan) e editor associado do Wall Street Journal. Era colunista do Business Week, Scripps Howard News Service, e Creators Syndicate.

    1. “Hoje, a única diferença entre o capitalismo e gangsterismo é que o capitalismo conseguiu legalizar seu gangsterismo e, por isso, pode roubar mais do que a Máfia.”

      Perturbou-o assim tanto ó Liberal ?

      Não é a minha área…Mas há por aí excelentes profissionais que o poderão tratar …

      Boa sorte.

  4. A Grécia e Portugal têm o que merecem, mais ainda não têm tudo o que merecem. Portugal reagiu bastante bem, mas em 2015 parece ter decidido atirar-se de novo para o fundo do poço, em vez de continuar a tentar trepar para fora dele. Recolherá aquilo que semeou, e não vai demorar seis anos desta vez.

  5. Qualquer coisa esta muito mal de facto! Depois de duas decadas de previsoes catastroficas sobre a divida do Japao, o ministerio das financas japones leiloou esta semana divida a dez anos a um juro final negativo….os mercados estao preparados a perder dinheiro, caso retenham o papel de divida ate 2026. Afinal a divida japonesa parece um oasis de seguranca, de tal forma que a procura excedeu 3 vezes a oferta! Em que parte da teoria macroeconomica que se ensina nas universidades se encaixa o Japao? Talvez o BCE devesse repensar alguma coisa…

    1. A receita japonesa prolonga-se há mais de vinte anos, sem resultados. Bora lá experimentar também! Ganda ideia!

    2. Sm, porque a resposta neoliberal a crise de 2008 tem sido um sucesso!!! Eu gostava que o Liberal explicasse porque e que a Australia e a China foram os unicos paises que nao entraram em recessao em 2008. Porque e que a Islandia cresce actualmente mais do que qualquer pais da zona Euro. E depois tambem explicasse como e que paises em recessao dentro da zona Euro irao crescer com a politica de desvalorizacao interna preconizada pelos credores?
      Alguem uma vez disse: ”Ter trabalho e cimento e ferro e maquinaria e transportes abandonados, e afirmar que nao podemos sustentar o esforco de embarcar na construcao de portos ou o que quer que seja e o delirio da confusao mental”. Isto e tao relevante hoje como era em 1930.

    3. Descculpe lá Rocha, mas não vou ser generoso para com o seu longo peditório, até porque ele começa logo mal, referindo uma “resposta neoliberal à crise de 2008”, em vez de referir a resposta dos Estados ocidentais à crise de 2008. Passo.

    4. Não, não, a pergunta do Rocha é acertadíssima. A Islâncida recuperou a sua idenpendência recusando-se a pagar, recusando o abraço estrangulador da EU suspendendo todas a negociações, declararam a bancarrota, e re-arrancaram a máquina económica. Sabe, aquelas coisas que países independentes, com a sua moeda e o seu futuro costuma fazer em ocasiões semelhantes.

  6. Como se prova pelo comportamento desse autor, enquanto governador do Banco de Inglaterra, grande nº de pessoas só se move por interesses puramente egoístas. Não falou quando devia, para não perder o emprego e outros “empregos”, fala agora que quer vender o seu próprio livro. Nem apetece comprar o livro do homem!
    Mas, sendo como ele e muitos outros dizem, sobre a escolha da depressão na zona euro pela UE, alguém ganha com essa depressão. Quem? Pode escrever sobre o tema? Obrigada.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Tópicos

Pesquisa

Arquivo