Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

24 de Janeiro de 2016, 20:46

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Surpresa nas cartas marcadas

Marcelo ganhou. Era o resultado anunciado mas tremeu até ao último minuto. O candidato de direita fez a campanha ao centro, entronizando-se como o melhor amigo do governo Costa, dado que, para Marcelo, mais vale ser presidente da marmita durante um par de anos do que duque recalcitrante a vida toda. Com tal amor, arriscou a dissidência da direita, mas esta soube engolir o sapo. O recado é este: se a direita quer guerra, ainda vai ter que esperar.

O PS, dando por certo que Marcelo ganharia e medroso da sua divisão interna, escondeu-se numas “primárias” entre Nóvoa e Belém e a coisa descambou em rasteirice. Belém desapareceu. Mas Nóvoa, homem de esquerda, quis fazer-se ao centro com Eanes como tutor, com o dissabor desagradável de se ver comparado a Cavaco. Merecia ter uma segunda volta. O recado é: como na vida os comboios não passam pela paragem do autocarro, o PS perdeu ao fugir.

À esquerda, a certeza é que está a mudar o mapa político. Arrasando as sondagens, Marisa, gigante, demonstrou que há muita gente que não está a ver o filme. Outubro não foi um sinal volátil, foi o início de viragem de uma vontade popular que desconfia dos bonzos do regime e quer desequilibrar a desigualdade. Foi sobretudo a afirmação de uma direcção potente, em que Catarina Martins demonstra mais uma vez que há surpresas até nas cartas marcadas. Ao contrário de Marcelo, Catarina e Marisa parecem suspeitar de novas pressões europeias para mais austeridade. Então, o recado é: o governo, cá dentro, e a Comissão Europeia, fora e dentro, devem perceber que a paisagem se inclinou. Portugal está a mudar.

Comentários

  1. Portugal está a mudar. E não só Portugal: o Mundo também. Se fosse só Portugal, poderíamos ver nesta mudança uma aberração, um exotismo, e não lhe dar importância. Mas hoje há um padrão visível demais e abrangente demais para não ser tido em conta. Os revolucionários da esquerda ou da direita estão a ganhar terreno aos conservadores da direita ou da esquerda. Talvez ainda não no que toca o poder; mas certamente já no que toca a autoridade.

  2. Apesar da maioria dos portugueses ter demonstrado grande maturidade por se ter abstido ainda é de salientar uma minoria importante que galhofeiramente se juntou ao triste espetáculo das eleições fruto da ignorância que cabe a todos nós denunciar e esclarecer. Esta triste constatação de 40 e tal % da população não conseguir arranjar nada de útil ou simplesmente agradável para fazer no tempo raro da chamada ao voto não deixa de me preocupar num país onde a vacuidade do fotebol e das eleições ainda parece infelizmente fazer escola. Os filhos destes saberão fazer melhor que os pais. O país agradecerá.

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