Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

13 de Julho de 2015, 09:05

Por

O princípio do fim da União Europeia

Este fim de semana alucinante começou com um plano grego, assessorado pelo governo francês, apoiado por uma grande maioria parlamentar e, logo depois, por vários governos europeus. No frenesim dos acontecimentos, talvez o leitor ou a leitora já se tenha esquecido que, no sábado de manhã, o entusiasmo era tanto que fontes oficiais admitiram que seria possível um rápido acordo nessa mesma tarde e que a reunião de chefes de governo até poderia ser dispensada.

Sim, a proposta grega era muito difícil e era um compromisso extremo. Marisa Matias, num texto detalhado, analisou bem as suas condições, num contexto de opções políticas a que aqui me referi há dias. Já Nicolau Santos, exasperado, interpretou a proposta como a morte de um projecto. O facto é que a negociação ainda nem tinha começado e as piores surpresas estavam para vir.

A Grécia chegou aqui com um défice colossal, o que foi imposto por sucessivos anos de políticas de austeridade, que criaram uma recessão como nenhum outro país europeu sofreu fora de períodos de guerra. Como explicou Elisa Ferreira aqui no PÚBLICO, a Grécia esteve sempre condenada ao pior:

Ora a lógica dos programas de ajustamento impostos à Grécia como contrapartida dos empréstimos da ZE e FMI foi uma espécie de ‘conta de chegar’, como dizem os brasileiros e como descreve o famoso economista Barry Eichengreen: ‘os credores calcularam de início o excedente primário necessário ao reembolso da dívida’ e ‘a seguir forçaram o país a esmagar despesas e a cobrar impostos de modo a obter esses excedentes’. Ou seja, os países do Euro e o FMI ‘ignoraram o facto de que, ao fazê-lo, condenaram o país a uma depressão ainda mais profunda’, na qual, acrescento eu, a dívida e o empobrecimento florescem.”

O empobrecimento foi a meta deste ajustamento fanatizado. Os seus autores sabiam que não alcançariam os objectivos proclamados quanto à dívida, mas o que pretendiam de facto era o que não estava no menu declarado: dar uma lição ao mundo e começar a mudança de regime social nos países em que a população foi mais rebelde ou os ganhos das políticas sociais contrariaram a lógica privatista da austeridade.

No entanto, as condições alemãs no Eurogrupo foram mais longe do que se poderia imaginar. Durante a tarde de sábado, constou que havia um documento de Schauble a prever o confisco de 50 mil milhões de euros de património grego, a registar numa instituição privada (com sede no Luxemburgo… e dirigida por Schauble com Gabriel, estava tudo pensado) para garantia dos credores, mais um conjunto de condições que retomava as velhas obsessões ideológicas (agravar as reduções de pensões e nova lei laboral). Ou então, surpresa, a saída da Grécia do euro e, nesse caso, uma reestruturação limitada da sua dívida soberana. Varoufakis tinha predito que Merkel e Schauble tentariam impor a expulsão da Grécia, não precisou de dois dias para ter  confirmação. Ao fim da tarde, uma foto do documento foi mesmo divulgada pela imprensa internacional, era verdade. Reunião tumultuosa, adiada para domingo, no domingo não houve conclusões, mas o Eurogrupo entregou um texto aos chefes de governo – era uma versão ampliada do texto de Schauble, deixando entre parêntesis (mas não retirando) os pontos sobre a expulsão da Grécia, que não tinham sido consensuais.

Começou assim a cimeira dos chefes de governo. O ponto de partida era ameaçador pois, como ainda lembra Elisa Ferreira no mesmo artigo, “O consenso europeu exige uma obediência total ao dogma da austeridade na versão da direita europeia que, a partir da ‘grande coligação alemã’ (CDU/SPD), consegue juntar no mesmo coro muitos dos protagonistas socialistas, sobretudo do norte da Europa: vejam-se as declarações de Sigmar Gabriel, líder do SPD alemão, do holandês Dijsselbloem e até de Martin Schulz, presidente do PE, que entretanto as desmentiu.”

A demonstração desta “obediência total” foi dada pelo chefe do SPD e vice-primeiro-ministro da Alemanha, Gabriel, que disse tudo e o seu contrário: tinha conhecimento da proposta da Schauble de saída da Grécia do euro, aprovou-a primeiro e desaprovou-a depois. As declarações aflitas de António Costa, que esteve presente na reunião do partido socialista europeu em que Gabriel apareceu por breves instantes, garantindo que o homem não alinhava com Merkel, são um débil desmentido da unidade do governo alemão.

Em todo o caso, a novidade das primeiras horas da cimeira terá sido a oposição de Hollande e de Renzi à expulsão da Grécia. No entanto, os dois estadistas concordam com a punição da Grécia e com a austeridade agravada, incluindo, ao que parece, com a solução colonial do confisco de património a ser entregue ao fundo (cuja sede passa para Atenas, para disfarçar o facto inédito da apreensão directa dos bens gregos).

Entretanto, Merkel terá chegado a exigir à Grécia que abdique da soberania fiscal em troca do empréstimo. Ou seja, uma autoridade estrangeira passaria a cobrar os impostos. A imprensa alemã chamou a isto uma alarmante “humilhação deliberada“.

Ao fim de dois dias, houve então um acordo. Nova lei laboral, aumento do IVA, redução de pensões, privatizações, tudo para ser aprovado em dois dias pelo parlamento grego para que 4ªf se passe a negociar um financiamento-ponte, de modo que os credores emprestem para se pagarem a si próprios. Nas próximas horas saberemos das condições políticas implícitas, se é uma remodelação do governo, se é uma nova coligação com os partidos mais confiáveis para Merkel, se são novas eleições no Outono.

Depois do fim de semana, o que resta de tudo isto? Um governo da Alemanha que tem uma lógica regional para a Europa do centro e do norte, que tem uma ambição política que atropela qualquer conciliação com outros estados e que tem uma visão económica estrita que se baseia na receita da recessão. Ao longo da vigência do plano de ajustamento do Tratado Orçamental, este governo e esta política terão poderes de excepção na Europa. Serão o nosso Reich por vinte anos e depois logo se vê. Por isso, enganam-se os que escrevem, na Grécia e noutros países, que estamos a assistir à surpresa de um golpe: de facto, o golpe já está inscrito nos tratados e está simplesmente a ser aplicado. Todo o poder desta força foi convocado para se impor à Grécia, que ficará submetida a um regime tutelado.

A diferença deste fim de semana para os dias, meses e anos anteriores é mesmo essa exibição do poder imperial, da mesquinhez da vingança contra o referendo grego, da arrogância da política de austeridade. E a consequência é devastadora: não pode haver dúvida, de Berlim só há autorização para austeridade. Ou seja, a Grécia ficará ainda pior com este programa. Será humilhada, será retalhada, será vendida, será diminuída. Não sairá da sua crise social, porque a austeridade só permite agravá-la. Ao fim dos três anos deste novo resgate, só lhe restará outro resgate ou a expulsão.

Ao mostrar o que quer, a Europa-tal-como-ela-é mostra que não há futuro nem para a promessa, nem para o “projecto”, nem para a sua União. O que assistimos nestas horas sofridas foi simplesmente ao início do fim da União Europeia que conhecemos, e não foram os gregos quem atirou a matar, como lembra Krugman. Alguém se atreve a dizer hoje que não é Merkel quem manda com mão de ferro?

Comentários

  1. A Alemanha é o País que mais tem contribuído nas ajudas à Grécia. Ajudou quando os seus bancos perdoaram metade da dívida. Ajudou no primeiro resgate. Ajudou no segundo resgate. Vai ajudar no terceiro resgate.

    E depois ainda é injuriada pelos Gregos e criticada pela generalidade da esquerda Europeia. Bons, bons, devem ser os Ingleses, pois não vejo críticas aos Britânicos. Mas esses… não ajudam a Grécia nem com uma libra.

    Vamos lá compreender este mundo.

    1. Os bancos alemães receberam os seus créditos. E a Alemanha não pôs um cêntimo: as autoridades europeias foram buscar aos mercados asiáticos dinheiro emprestado, voltaram a emprestá-lo à Grécia a uma taxa de juro maior e embolsam os lucros. Ficou claro?

    2. Nao ficou nada claro mesmo !!

      Alias nenhuma das suas respostas foram satisfatorias !

      Numa primeira fase, os emprestimos feitos a Grecia serviram de facto para pagar divida da Banca Alema e da Banca de outros Paises .

      Entenda-se que atras da Banca estao varios investidores privados, fundos de pensoes etc.etc.etc., por isso nao se trata aqui de proteger banqueiros !!

      Encontrando-se na altura a Grecia a beira de um incumprimento era logico que era importante proteger o sistema bancario dos varios Paises Europeus que tinham financiado a Grecia e evitar um efeito de colapso e de domino a nivel da Europa.

      Era importante por isso garantir que em primeiro lugar fosse servida a divida privada e ao mesmo tempo se continuasse a alimentar a Grecia.

      Ou acha que se deveria ter deixado cair a Grecia ja nessa altura ??

      No perdao de divida que se seguiu os credores privados tambem contribuiram.

      Como se sabe que a divida grega e impagavel vao sobrar para os contribuintes alemaes neste momento 87 mil milhoes de Euros, e sabe-se que nao vai ficar por aqui.

      Os contribuintes alemaes ja foram avisados que o orcamento de estado a partir de 2020 vai comecar a comportar o pagamento desse montante.

      Sim , e verdade que a Inglaterra (UK) nao esta disposta a ajudar a Grecia nem com uma libra !!

      Se fossemos serios e de facto solidarios entao deveriamos propor que se criasse um imposto de solidariedade a nivel da Europa identico ao imposto de solidariedade que os alemaes pagam ate hoje pela reunificacao da Alemanha.

      Se cada Europeu pagasse 50 Euros por mes, por exemplo, resolveriamos os problemas gregos !!

      Ou solidariedade significa os outros que paguem a conta ?

  2. O Tsipras refere que não está mandatado pelo povo para tirar a Grécia do Euro (apesar de todas as afirmações de elementos do Syrisa contra o Euro), mas para negociar um novo resgate é que não tem mesmo nenhum mandato do povo grego. O programa do Syrisa e as afirmações de Tsipras na campanha eleitoral (e até depois das eleições) são claríssimas na oposição à existência de um novo resgate. E finalmente, o referendo foi uma resposta inequívoca do povo grego que não quer mais austeridade, não compreendo como alguém pode ser tão apegado ao poder de modo e virar as costas ao do seu próprio partido (ou movimento), pensar em obter apoios da oposição para aprovar um pacote vai contra tudo o que afirmou e defendeu, e ainda querer ficar no poleiro.

  3. Amanhã é um dia HISTORICO !
    É o dia em que o primeiro país do mundo é conquistado não pelas armas mas sim pelas finanças, qual exercito de 100.000 homens. Um dia histórico sem dúvida !
    Os gregos escolheram ser servos a viver na miséria mas LIVRES

    1. Quando estavam a esbanjar o dinheirinhos poupado pelos alemães, violando dolosamente os tratados que assinaram, não se queixavam… Agora amolem, e quem tem pena é galinha. Como nós portugueses sabemos bem, se há alguma coisa que a Troika foi, foi benevolente. Demais, para o meu gosto. De estrutural, pouco foi feito.

  4. Não será o principio do fim da UE, mas a garantia do fim de uma UE de cariz socialista que deixou marcas muito negativas nos países mais a sul. Não estou de nada de acordo com a ideia de supremacia alemã. Os países mais pequenos (e mais pobres que a Grécia) têm estado bem mais incomodados com mais esta ajuda. Já não se trata de empréstimos, as intenções da Grécia em pagar as continuais ajudas que lhe foram dadas não são sérias o que transforma os empréstimos em “dádivas”. A Grécia vai para os 400 MM€ de ajuda e tem uma divida de 325 MM€ (já com perdão de metade de 250 MM€). Não é um problema de divida, é um problema de completo descontrolo financeiro e social que os gregos NÃO querem corrigir, sendo o único país que insistem em manter-se fora das regras da UE. Essa é uma opção de Grécia e não uma imposições da Alemanha. Mas também sei a vontade de “castigar” Tsipras está bem presente. A verdade é que se perdeu 6 meses, a Grécia está pior e eu junto-me aos que pensam que se as ideias de Tsipras fossem para a frente, ainda pior estariam daqui a 6 meses ou 6 anos. Penso assim por uma questão de convicção politica, sim, mas principalmente por constatar os resultados dos países do centro e norte da Europa que têm abandonado o socialismo e os do sul que insistem ignorar os problemas e arranjar culpados para esconder as tristezas.

    1. Curioso. Quem falsificou as contas e fez o buraco financeiro foram os partidos irmãos do da senhora Merkel e do senhor Hollande. Nessa altura, a Alemanha vendia 12 submarinos à Grécia. A culpa é mesmo de quem?

    2. Independentemente de quem apoiavam na altura, parece-me que a culpa é dos gregos mesmo. Os buracos não foram feitos às escondidas de ninguém. Os gregos sabiam o que se passava. Tal como sabiam as implicações de comprarem 12 submarinos, mas nesse ponto o atual ministro responsável pela marinha (esse sim um perigo democrático) diz que esse setor é intocável. Governos diferentes, ideias iguais. Dr Louçã eu sou da opinião que os governos são espelhos das sociedades e a Grécia está muito longe de ser a exceção que confirma essa regra.

    3. Perdão de 250 mil milhões? Desde quando? Atira-se com cada n.º ao ar, sem a mínima noção.

    4. 250 MM€ era o valor da divida em 2012. Tal como escrevi, o perdão foi de metade desse valor. Na realidade os investidores privados aceitaram perder mais de metade, tendo o perdão sido de 177 MM€ (março de 2012)

    5. Permito-me citar Krugman (The New York Times 12Julho15): “mesmo que se considere Tsipras um incompetente imbecil. Suponha-se que se quer claramente o Syriza afastado do poder.Admita-se, mesmo que se vê com bons olhos “empurrar” esses gregos “chatos” para fora do Euro.
      Mesmo com essas anteriores premissas tomadas como verdadeiras, esta lista de exigências do Eurogrupo é loucura. ….Quem poderá no futuro acreditar nas boas intenções da Alemanha?…..Mas sejamos claros: o que aprendemos neste par de semanas que passaram é que ser membro da Eurozona significa que os credores podem destruir a nossa economia se pisarmos o risco…..O projeto europeu- um projecto que sempre apreciei e suportei – sofreu um terrível golpe, talvez fatal. E o que quer que seja que se pense do Syriza, ou da Grécia, não foram os gregos que o deram.

  5. Sr. Francisco Louca

    Isto e tudo so campanha politica pela esquerda ou o senhor acredita mesmo no que escreveu ?

    O Senhor como economista , ex-lider politico de um partido e deputado durante anos conhece concerteza os contratos e as regras da Uniao Europeia , ou nao ??

    Ou e daqueles que acha que a Uniao Europeia e uma Uniao de transferencias bancarias onde se passam cheques de uns Paises para os outros ?? Se e, volte a dar uma revisaozinha aos contratos por favor !!

    Atras da Europa que o Senhor tanto fala, estao tambem os eleitorados e os contribuintes de todos e de cada um desses Paises, ou o Senhor ignora isso ??

    Nao se esqueca que esse mesmo eleitorado, esses mesmos contribuintes sao na sua maioria os credores da Grecia !!!

    Ou o Senhor acha que Portugal se deve endividar ainda mais para ajudar a Grecia ??

    Ou o Senhor acha que deve ser a Alemanha e os seus contribuintes a pagarem a divida Grega ?

    Os do Norte que paguem as despesas dos do Sul ??

    Quem e que disse que a Grecia tinha a Bomba atomica na mao para atirar em cima da Europa e da Alemanha com a ameaca da saida da Grecia do Euro ??

    Cuidado, porque essa mesma esteve agora quase para rebentar nas maos do Sr. Tsipras !!!

    Ao contrario ja seria um escandalo, nao e ??

    O que o Sr. Schäuble propos, e para sermos serios, foi que : “No caso de nao se conseguir chegar a um acordo restaria a saida da Grecia do Euro ” , e isso entre parentes !!

    A Grecia la sabe porque e que nao quer sair do Euro !!

    Mal estaria a Europa se estivesse nas maos da Grecia !! Ou o Senhor preferia que a Uniao Europeia tivesse a ser gerida como a Grecia tem sido nas ultimas decadas ?

    Ou o Senhor e daqueles que tambem exigem mais dinheiro, mais divida, sem condicionalismos ??

    Se alguem aqui e um Europaista e o Sr. Schäuble que esteve desde o inicio do processo ao lado de Helmut Kohl.

    O Senhor tem uma ideia muito distorcida do que e a Alemanha de hoje !! Se ha coisa que nao falta aqui na Alemanha e solidariedade e respeito pelas pessoas !! E eu sei do que estou a falar !!

    Nao incite para a discordia entre os povos !!

    Nao seja preconceituoso !!

    1. Estamos de facto em pontos de vista diferentes. Eu creio que Schauble e Merkel destroem a Europa: um continente governado por um Estado e que captura os bens de outro Estado (50 mil milhões de euros gregos colocados numa empresa privada), que exige que uma empresa publica alemã fique com as telecomunicações gregas e tudo o que mais se verá, é a destruição da Europa. E se ler todos os textos que cito, verá que isso é a opinião de jornais de direita como o Financial Times e muitos outros.

    2. Não ignore o facto da Alemanha ser a principal beneficiária da arquitectura do euro e das politicas europeias.
      Qual foi o grande favor que a Alemannha fez à Grécia?
      Emprestou dinheiro que sabia que a Grécia não podia pagar, mas fê-lo para dar tempo aos bancos alemães de se livrarem da exposição à Grécia. E agora vem reclamar que os contribuintes alemães não podem suportar a dívida grega. Quem colocou essa dívida no colo dos contribuintes europeus foram precisamente os governos desses países.
      A Grécia precisa de duas coisas: Reformas estruturais e uma reestruturação da dívida. Fazer só um não resolve coisa nenhuma.

    3. Louçã (14-jul, 10:31): E quantos euros fica a Grécia a dever depois do resgate (e depois de já lhe terem sido perdoados 100 mil milhões)? Não são para aí 330 mil milhões, que provavelmente nunca serão pagos e sairão dos nossos impostos?

    4. Compreende-se o ponto de vista da Manuela, que já adotou o nível de arrogância alemão, apesar de dizer apenas banalidades vazias do ponto de vista económico. A questão crua: Há uma forte assimetria de níveis de produtividade à qual os fundos estruturais não puseram fim e o monetarismo aplicado contribuiu para cindir ainda mais. Manuela, parabéns por viver bem na alemanha. Aqui em Portugal estamos a assistir à delapidação crua do estado. Já não há educação, já não há saúde, já não há nada. Dou-lhe um conselho: Não regresse.

    5. Obrigado pela sua resposta.

      Pena que nao respondeu as minhas perguntas.

      Eu acho que cada um de nos, uns mais do que outros, consoante o nosso papel na sociedade, devemos assumir uma certa responsabilidade e termos em atencao o impacto das nossas declaracoes. Principalmente no seu caso que e uma figura publica !

      Eu nao sei se esta informado mas a proposta da existencia desse Fundo nao se trata de uma captura mas sim de uma garantia, Fundo esse independente, que sera Europeu e nao alemao, e trata-se de uma exigencia do ESM – Mecanismo de Estabilidade Europeu com sede no Luxemburgo.

      Por isso e que a proposta inicial foi feita para que esse Fundo ficasse localizado no Luxemburgo, mas no final do Acordo foi decidido e por vontade da Grecia , que o mesmo ficasse com Sede em ATENAS !!

      Por isso nao insista que o Fundo e um Fundo Alemao de uma empresa privada com sede em Luxemburgo porque nao e verdade !!

      Esse Fundo nao e para ser atingido imediatamente mas sim durante um periodo ainda nao definido.

      Como tambem deve saber esse Fundo nao se destina somente a pagamento de divida mas sim para Atenas poder resgatar os seus bancos e outra parte para ser investido na economia grega.

      Como tambem deve saber vai ser utilizado o ESM – Mecanismo de estabilidade Europeu – no financiamento do 3. resgaste a Grecia. Esse mecanismo preve regras e condicionalismos muito apertados e uma delas e que o beneficiario de garantias de pagamento.

      Isto so para lhe responder que a Alemanha quer capturar bens dos outros Estados !! O que nao e verdade e o Senhor sabe-o melhor do que ninguem.

      Nao se trata aqui neste caso de pontos de vista diferentes mas sim de FACTOS !!

      A Deutsche Telekom , tal como a Telefonica , Vodafone e outras, estao envolvidadas no mercado internacional de telecomunicacoes desde de estarem nos Estados Unidos ate a Asia.

      Se a Deutsche Telekom e accionista maioritario da OTE na Grecia, a Telefonica e o maior operador de telecomunicacoes moveis na Alemanha.

      Se no processo da liberalizacao da economia europeia ha uma historia de sucesso, essa e a da liberalizacao das telecomunicacoes !!

      Se o Senhor Louca pensar como europeu note bem que num prazo recorde foram de facto destruidos milhares de empregos nas telecomunicacoes, mas foram criados ao mesmo tempo outros tantos .

      Ao mesmo tempo que se modernizava em tempo recorde toda a infraestrutura de telecomunicacoes na Europa, baixaram-se extraordinariamente os precos ao consumidor e presta-se hoje um servico de extrema qualidade a toda a populacao europeia.

      Se ha alguem que anda a fazer shopping pela Europa fora, nao sao os capitalistas alemaes mas sim os capitalistas chineses !!

      Ou voce conhece alguma privatizacao em Portugal que tenha sido feita a favor de capital alemao ?

      E pena que o Financial Times ou o Economist so sejam citados conforme a conveniencia .

      Tenha um Bom dia !!

    6. Não, Situada em Atenas ou no Luxemburgo, uma empresa privada que capta bens de um Estado é uma condição colonial.

    7. Fundo: Martin Schulz acha uma boa ideia.
      “A ideia é de Jean-Claude Juncker, lançada no quadro do primeiro programa, há uns anos: activos de privatizações utilizados para gerir a dívida grega. Os 50 mil milhões é um montante indicativo. Mas não devemos falar dos valores primeiro, devemos falar, antes de mais, do princípio. A ideia é estabilizar a capacidade da Grécia de gerir a sua dívida. Não é uma má ideia […] O problema [que é preciso resolver] tem a ver com a eficácia [do fundo] e com a propriedade: a quem pertence o fundo? Não podemos pôr a riqueza nacional dos gregos nas mãos de terceiros para gerir. Pelo que ouvi a Grécia não se opõe à ideia, a questão é perceber quem é que controla o fundo, a quem pertence. Tenho a certeza que conseguiremos encontrar uma solução para a estrutura deste fundo”, acrescentou Schulz, que recuperou depois, a propósito deste fundo, o alerta sobre a necessidade de evitar a “humilhação do povo grego”.
      http://m.jornaldenegocios.pt/news.aspx?ID=372974

      Louçã refere: “[…] uma empresa privada que capta bens de um Estado é uma condição colonial”.
      – Há algum precedente histórico similar?
      Sim. Escreve Jorge Nascimento Rodrigues, em “Portugal na Bancarrota” [2012], sobre “1892-1902: A Longa Reestruturação da Dívida”:
      “O governo ensaia ainda outro expediente em 1891 – a contratação do famoso empréstimo baseado no monopólio dos tabacos, que foi dado a uma imediatamente criada Societe des Tabacs de Portugal, montada em tempo recorde por um sindicato bancário liderado pelo Credit Lyonnais e pela Societe Generale de Credite Industriel. Aos credores internacionais já não bastava a palavra do Estado português ou o apetite pelos “melhoramentos materiais” – eram precisos activos seguros, e o monopólio daquele vício era um deles. O empréstimo seria emitido no montante de 250 milhões de francos amortizaveis em 35 anos com um juro de 4,5%.” [Pg.125]
      Nascimento Rodrigues explica então como as “rivalidades geopolíticas evitam protectorado”, tendo sido a proximidade aos britânicos relevante na “reestruturação em 1902”. Vejamos mais alguns excertos do livro:
      “As negociações com os credores arrastaram-se, de facto, por dez anos […] Um dos temas mais conturbados é o do controlo das alfândegas portuguesas directamente pelos credores. Os franceses julgaram ser o momento certo de passar por cima da soberania de Portugal e irem diretos à fonte de rendimentos. Os credores alemães colaram-se à ideia. Os ingleses opuseram-se.
      […] Um dos pontos controversos era o “artigo X”, um artigo secreto exigido por franceses e alemães que pretendiam garantias diplomáticas oficiais, escritas, de que o acordo seria cumprido custo o que custassse à soberania portuguesa. A lei da reestruturação da dívida ocultou o referido artigo e garantia que a “autonomia” financeira, económica e administrativa da “nação portuguesa” não estava beliscada. Na realidade, em julho de 1902, Mattozo Santos, ministro dos Negócios Estrangeiros […] enviaria uma nota diplomática ao conde Von Tattenbach-Ashold do governo imperial de Guilherme II […] E, em dezembro do mesmo ano […] a Louis d‘Abril, do Ministério dos Negócios Estrangeiros da III República francesa. […] As notas eram muito claras confirmando as exigências de alemães e franceses. Confirmavam que “o governo [português] aplicará especialmente e de preferência para aqueles títulos os rendimentos aduaneiros do continente do Reino na Europa, exceptuando os tabacos e os cereais”. [Pg 128-130]

  6. Bem haja, Dr. Louçã.

    Esperemos então que os partidos á esquerda do PS, tirem de vez a ideia de se coligar com este partido, que como todos sabemos quer seguir as ordens que vêm de fora, e respeitar Tratados que são simplesmente impossíveis de cumprir.

    Se haviam dúvidas elas foram esclarecidas agora.

    Nunca foi tão urgente começar a pensar em planos de saída do euro, e outros planos de contingência, envolvendo todas as nossas autoridades.
    O momento é de crise e os partidos de direita têm que se unir também á esquerda, porque afinal de contas os partidos alemães de esquerda e de direita estão todos unidos contra as periferias.

    Senão, nunca mais chegamos a 1999. Tínhamos o Escudo, desemprego abaixo de 6%, crescimento acima de 3% e praticamente não emigrávamos.

    Aproveitem a dica de Schauble durante as negociações: saiam do euro quanto antes!!!

    1. Parece de propósito. Ainda ontem aqui falei do Deutsche Bank e das suas “fragilidades”.

  7. Parece-me que no fundo, no fundo os alemães estão a fazer bluff. A média prazo, a alemanha tem muito mais a perder com a saída da grécia do euro, do que a grécia. Se a grécia sair, vai passar muito mal durantes uns anos e depois vai recuperar, e vai ter uma economia pobre mas suficiente para garantir uma vida razoável aos gregos, e com a qual os gregos conseguem viver. Se a saída da grécia levar à desagregação da zona euro, as novas moedas vão desvalorizar, as exportações alemãs vão baixar e vai aparecer o desemprego na Alemanha.
    E na alemanha, desemprego significa o derrota do governo percepcionado como causador desse desemprego.

  8. Isto tudo também pode ser o fim da esquerda na Europa. É bom que o Syriza se explique muito bem porque se colocou de joelhos (pelo menos parece). É que acabo de ver o Rui Tavares a ser dizimado pelo Nuno Melo na SIC notícias!

  9. Muito fraquinho o seu argumento, caro professor Louçã. Sobre a cobardia do Varoufaquis – nem uma palavra. Sobre o pseudónimo utilizado – muita verborreia…Enfim, burgueses de esquerda que não aceitam quem contrarie… Porque o que o Varoufakis fez foi cobardia pura: não ficou para resolver e procurou sair do barco antes que acontecesse o inevitável! (agora o professor Louçã prepara-se ou não para atirar ao lado e desviar a questão essencial – Varoufakis cobarde! – criticando quem fez este comentário)

  10. Logo no primeiro resgate deveria ter sido negociado um perdão de dívida à Grécia, mas mediante certas condições.
    Certamente que existem muitas coisas a mudar na administração publica grega, no sector empresarial do estado, no sistema de pensões, na cobrança de impostos, etc, etc.
    Uma renegociação efectiva da dívida logo de ínicio, condicionada ao cumprimento de um conjunto substancial de medidas de reforma, não se teria chegado a este ponto.
    Não acredito que um Estado e uma economia endvidados resolvam essa condição, continuando a gastar mais do que têm.
    A ideia do multiplicador keynesiano da despesa pública é para mim um conceito que não faz sentido em termos económicos. O Estado deve gastar o que tem e no que for necessário. Mas também sou pragmático e sei que uma dívida que é impagável, é impagável, ponto. Não há voltar a dar por mais resgastes ou empréstimos ou seja lá o que for que inventem.
    Numa coisa concordo totalmente com o Francisco Louçã. Isto é muito provavelmente o principio do fim da União Europeia. Ou pelo menos de uma União Europeia da qual eu gostaria de fazer parte.

  11. 1. «A Grécia chegou aqui com um défice colossal, o que foi imposto por sucessivos anos de políticas de austeridade».
    Que diabo, os gregos não terão também algumas culpas no cartório?

    2. Perante este massacre da Grécia, não seria caso para os gregos mandarem pura e simplesmente a União Europeia à merda? Miséria por miséria, ao menos restaria a dignidade…

  12. A tese do neo-colonialismo em paralelo com um sofisticadissimo processo de dominação, muito bem ventilada ao longo destes textos de participação, adquire um valor insubstituivel na racionalização do processo de submissão dos dirigentes e responsáveis do politburo de Bruxelas. Num blogue francês, o Médias-presse-info, uma fiscalista superlativa francesa, Valerie Bugault, em menos de meia-hora desvenda a hipótese de uma provável descoberta de reservas de hidrocarbonetos junto das costas gregas, que dada a sua dimensão acaba(ria) com todas as dificuldades gregas; e, noutra sequência, explica o funcionamento da nova fase de dominação politica euro-atlantista e mundialista que faz da usura( divida e processamentos ad eternum de juros…)e da caça às fontes energéticas um processo de guerra económica brutal.

  13. Confesso que não consigo deixar de me sentir solidário com o destino trágico do povo grego. As negociações do fim de semana tiveram o mérito de nos mostrar que há dirigentes europeus que consideram que a austeridade pode ser aplicada independentemente do custo humano associado.
    No entanto, penso que devemos igualmente ser mais autocríticos. Já não é possível continuarmos a ser indulgentes com os sucessivos escândalos de corrupção que abalam a nossa sociedade. Que pensarão os povos do Norte da Europa dos episódios lamentáveis oferecidos pelo sistema financeiro português? E do nosso sistema judicial, aparentemente impotente para fazer face aos mesmos? Penso que as ideias de castigo ou de punição continuarão a florescer por essa Europa fora, enquanto não revelarmos rigor e uma total intolerância para com os políticos e dirigentes prevaricadores.

    1. Sim, mas também podemos pensar nós dos escândalos da banca dos países nórdicos ou do Deutsche Bank ou ainda dos bancos regionais alemães…

  14. Todos nós sabemos que o Dr. Louçã é um reputado economista, sendo o seu saber e prestígio inquestionáveis, mas, sinceramente, continuo a pensar que lhe falta aderência à realidade. Ou seja, falta-lhe aquela mesma dose de realismo que, até 25-01-2015, faltava ao Tsipras e que desde janeiro até ontem, a situação de pré falência da Grécia, lhe terá feito perceber que uma coisa são os modelos teóricos e outra, bem diferente, é a dura realidade de gerir um país sem recursos e, ainda por cima, habituado a um nível de vida muito acima daquilo que a sua (fraca) economia lhe permite.
    Não sei se o programa agora proposto à Grécia irá, ou não, ter algum sucesso (duvido). Continuo, contudo, à espera que a esquerda (ex-)amiga do Syriza apresente um programa alternativo, capaz de resolver o problema da Grécia, que, recorde-se actualmente tem um saldo primário negativo, ou seja não conseguiria ser auto-suficiente mesmo que a sua dívida pública fosse zero.
    Solução:
    (1) Curto prazo:- Estado gastar menos ou cobrar mais impostos (o que num país onde os ricos não pagam impostos e pelos vistos os syriza não está interessado em fazê-los pagar, se mostra inviável) ou seja, AUSTERIDADE.
    (2) Longo prazo: – Crescimento económico, o qual implica a existência de condições para atrair investimento e que a Grécia manifestamente não tem, mas que terá que criar, ou seja, REFORMAS.

    Fico a aguardar que me indiquem outras soluções (realistas…).

    1. Austeridade é agravar a recessão, diminuir o investimento e o consumo. Não resolve nada a curto prazo.

  15. Confesso que não consigo deixar de me sentir solidário com a situação trágica do povo grego. As negociações do fim de semana tiveram o mérito de evidenciar que há dirigentes europeus que consideram que a austeridade pode ser aplicada seja qual for o custo humano. Os valores que estiveram na base do projeto europeu, infelizmente, já não animam esta Europa.
    Penso igualmente que devemos ser mais autocríticos. É imperioso passarmos a exercer a nossa cidadania de forma rigorosa e esclarecida. Não podemos continuar a ser indulgentes com a corrupção que corrói a nossa sociedade. Por exemplo, os custos associados aos sucessivos escândalos de corrupção que têm abalado o país, nomeadamente o sistema financeiro, correspondem a que percentagem do nosso PIB? Já imaginaram como somos encarados pelos povos do Norte da Europa? Penso que a ideia de castigar

  16. A Grécia vai continuar com divida, pior, vai vê-la aumentar, vai continuar com pobreza e desemprego, vai perder ativos, provavelmente ativos históricos que sustentam o turismo e que irremediavelmente verá de novo como seus. A Grécia sai humilhada, como nós aliás, mas que o orgulho de centro direita se recusa a admitir, como seu mea culpa. O descalabro das economias e das máquinas produtivas dos paises do sul é a grande oportunidade da industria dos paises do norte, dentro de pouco a unica alternativa de fornecimento dos nossos mercados. Tudo isto é muito conveniente aos meandros da corrupção que assistimos descaradamente na nossa sociedade. Com toda a austeridade fica também camuflado o roubo imenso que nos exturpe a cada dia. O plano é genial mas diabólico. A salvação é a saida do euro e da europa, enfrentar uma crise tremenda mas confiar que o tempo e o trabalho traz a recuperação e a prosperidade. Exemplo disso mesmo a Islândia. Grato Francisco.

  17. O terceiro filho de Satanás é o coxo alemão das finanças: Schauble

    Ele é quem mais ordena – Merkel só obedece!

    Tal como Napoleão e Hitler, Schauble só pensa em matar milhões de pessoas.

    1. Para Ana Lúcia (13-jul, 18:52): O dia correu mal e o chefe também usa cadeira de rodas?

    2. Eis um comentário que mostra tudo o que há para saber acerca desta reunião rasca de comunistas, ou reunião de comunistas rascas, à escolha do freguês.

    3. Schäuble a encarnação do famoso e sinistro Dr. Merkwürdig-Liebe “Dr Estranho Amor”…

  18. Como dizia Albert Einstein: “A definição de estupidez é fazer o mesmo outra e outra vez e esperar resultados diferentes.”

    Se o processo se desenrolar como se espera (se o acordo for aprovado em todos os parlamentos pelos quais terá que passar) e este novo empréstimo, e as suas draconianas contrapartidas (mais do mesmo), for posto em vigor, espero que o governo grego comece já a preparar uma saída do euro daqui a três anos. Face a esta Europa, duvido que para a Grécia haja recuperação dentro da zona Euro.

    Infelizmente, a médio prazo, o Senhor Schäuble terá o que tanto quer… E, também infelizmente, neste momento, para uma Grécia assolada de falta de liquidez a imediata saída do Euro seria uma mega catástrofe de reprecussões sociais. Agora é aguentar as tormentas e planear o futuro que se atrasou mais três anos.

    1. Einstein não estaria a pensar na austeridade, mas que se aplica, não há dúvida.

  19. Sendo eu um federalista assumido, digo e repetirei esta minha opiniao quantas vezes for preciso: Ou vamos para uma Federacao de iguais, ou que cada um va a sua vida. O Schauble preparou uma especie de misto de Tratado de Versailles e tratado de Munique de 38. A Merkel vai ser completamente destruida por ele, e Schauble sera o Chanceller em breve. A nao ser que a Angie peca a sua demissao. Sim a uma Europa federal, nao a uma Europa de directorios. Estou farto do PPE a criar ruina na UE ha 20 anos. Contudo tenho de congratular o Donald Tusk, com o seu “You shall not pass” durante a madrugada quando os dois meninos (Merkel e Tsipras), queriam partir. (peco desculpa, nao tenho acentos)

    1. É um ponto de vista interessante. Outro federalista, Viriato Soromenho Marques, tem escrito das críticas mais certeiras ao mapa da desgraça europeia.

    2. Eu creio que o Reino Unido ainda terá uma importante palavra a dizer à Europa, se Cameron cumprir com a convocação do referendo.
      Num cenário possível de “Brexit”, mais do que a simples saída dos britânicos da UE, poderá vir a significar a reconfiguração o mapa político da Europa – desde logo, motivando o possível realinhamento do Reino Unido com os membros da EFTA [Noruega, Suíça, Islandia, Liechetenstein], mais a pressão política que passaria a recair sobre os parceiros da UE, não aderentes ao euro (e ex-EFTA‘s) como a Suécia e a Dinamarca, etc. Isto, a par das relação transatlânticas privilegiadas com os EUA.
      De resto, a presença “indefinida” do Reino Unido na UE é também, visto de outro modo, um entrave ao aprofundar na via única do “federalismo”. De forma porventura mais realista, a reforma que propõem os britânicos para a Europa é mais condizente com a tese, diriamos – “confederal” – de livre convergência e associação de Estados.
      Seria a “realpolitik” a voltar ao velho xadrez de alianças políticas [Reino Unido, UE – Alemanha / França e Rússia], eventualmente concertados num Espaço Económico Europeu pacífico mais abrangente…
      Já a utopia federalista pode vir a desaparecer, antes de verdadeiramente existir, com o “fim do euro”… Neste cenário não inverossimil, talvez o mais apropriado ao futuro da “integração europeia”, ainda sonhando com a harmonia do todo, viesse a ser avançar para um novo tipo de conceito, ainda vago, de “moeda comum ” – com a particularidade de já não ser “única”!
      Mas enquanto o euro for uma realidade “irreversível” na cabeça de muitos federalistas utopicos e tecnocratas monetaristas, o “cesarismo” de Berlim manda, o centralismo burocrático de Bruxelas executa e os diferentes Estados fragilizados em lutas internas desiguais melhor obedecem!

      O federalismo dos Estados Unidos, Brasil, Rússia ou até Alemanha não é assimilavel ao conjunto da Europa. A tradição política europeia está fundada nos Estados-Nação, onde de resto se inscrevem os fundamentos das democracias modernas. Forçar a via “federalista” é cair perigosamente nos velhos “imperialismo”. Quem quem tiver olhos, veja!

  20. Merkel disse em tempos a Papandreou que pretendia fazer da Grécia um caso exemplar: http://www.wsj.com/articles/SB10001424052702304203604577393964198652568. Pois bem, neste caso a Chanceler não pode ser acusada de incoerência, porque o acordo atual visa justamente prolongar o ‘Exemplo’ (António Costa deve ter sido tomado por suores frios durante o fim-de-semana). Varoufakis chamava ontem a atenção, não sem a sua vaidade característica, para os paralelos entre o seu comportamento e o de Keynes na conferência de Versalhes, que esmifrou a Alemanha e levou a hiper-inflação de 1921-1924 (por via da decisão do governo alemão de imprimir dinheiro para pagar divida), ver aqui: http://www.marianne.net/les-eco-att/grace-au-depart-negociateur-arrogant-les-negociations-serieuses-vont-pouvoir-commencer. Nada disto me surpreende, exceto a cegueira alemã perante o exemplo da sua própria (e trágica) Historia. Surpreende-me, também, a total falta de orientação do Syriza nestas negociações. Se se estica a corda, e preciso estar preparado para que ela quebre. Tsipras recebeu há uma semana, cortesia dos outros lideres europeus, com Merkel e Hollande a cabeça, um mandato para tirar a Grécia do Euro (os eleitores gregos quando votaram ‘Não’ sabiam bem que corriam esse risco). Cheguei a pensar que o faria (aparentemente a queda de Varoufakis deveu-se a este ter admitido a um jornal que a Grécia se preparava para emitir IOUs). Estarei a ser injusto ao julgar uma Nação posta de joelhos pela possibilidade de colapso total do sector bancário, mas infelizmente acho que os Gregos mostraram (ate pela necessidade de recorrer a ajuda de técnicos franceses para elaborar um plano de austeridade, colaboração que terá deixado Merkel mal-disposta com Hollande, vá la saber-se porquê), que não estavam de todo preparados para transformar transitoriamente a Grécia numa Economia de Guerra, logo restou-lhes a capitulação. E pena, porque para se ser Radical e preciso começar por mostrar o mínimo de Competência, os princípios sozinhos servem para pouco…

    1. Infelizmente, como Varoufakis conta, a preparação de alternativas nunca chegou ao detalhe. E não acreditavam nelas…

  21. A direita parece ganhar a guerra de opinião nos midia. É ler os comentários e ver como a direita passou a ideia que “direita é rigor”… Esquerda pode ser idealismo, lirismo, poesia e bons sentimentos, mas para grande parte do público é sinónimo de falta de rigor e de ausência de realismo.

    Isto acontece porque o público tem sido alimentado com autêntica iliteracia económica e financeira. Uma iliteracia fundada em ideias simples, de “senso comum” que “todas as pessoas percebem”, que fazem sentido no mundo do dia-a-dia mas que são absurdos no mundo (ir)real da política monetária e financeira.

    Comentadores que falam de economia com metáforas da economia familiar, da dona de casa que gere bem o lar, de que não se pode gastar mais do que se ganha. “Isto é uma coisa que toda a gente percebe!”.

    Dizer que “quem não paga as dívidas é caloteiro” (como dizia em entrevista Marinho e Pinto há alguns meses) todos compreendem. É uma ideia que passa numa frase.

    Explicar que vivemos num sistema financeiro em que o dinheiro é criado sobre a forma de crédito – que os bancos criam dinheiro do nada – já demora cinco ou dez minutos. É preciso fazer referências, citar documentos, explicar implicações que nada têm de senso comum.

    Explicar o que são os fundamentos da actuação e as responsabilidades de um banco central demora outro tanto. Explicar passo a passo o que foi feito na Grécia desde há cinco meses pelo BCE dá trabalho. E dá trabalho explicar o que foi a bolha do crédito, da expansão monetária da década pré-2008, do absurdo que leva os países em regimes de moeda fiduciária a obrigarem-se a financiar-se directamente junto da banca privada, do absurdo de uma Europa que tem um banco central que insufla 1.2 biliões (milhão de milhões) de euros em quantitative easing para dentro do sistema financeiro privado, mas que para financiar um plano Juncker de estímulo económico obriga os países a endividar-se junto da banca privada, através de emissão de mais crédito, logo com aumento do dívida pública ao sector privado.

    O “rigor” e a “realidade” que nos impõe a direita europeia hoje é a da submissão a um sistema distorcido pela desregulação financeira, uma perversão das regras do próprio capitalismo que escravizou a sociedade ao poder financeiro. O que assistimos neste fim de semana de “European Horror Show” foi o cair da última máscara. Só os iletrados podem dizer-se hoje europeístas. É, de facto, o princípio do fim da União Europeia. É uma nova fase em que ficámos a conhecer, já sem falinhas mansas, o clube a que pertencemos. Um clube em que “daqui ninguém sai vivo”. E agora?

    1. Agora, responder com alternativas consistentes e pensadas, que sejam portadoras da disputa democrática.

  22. No caso da grecia só há uma coisa a fazer agigantar a onda iniciada com o referendo, aprofundar a revolução grega, passar por cima do tsipras e do syrisa se for necessário, novamente nas urnas e na rua, até ao limite, com o max de organização, rejeitar a Europa, nacionalizar a banca grega e as principais empresas gregas, e pedir ajuda financeira à China ou à russia.
    Se isso não for feito pela esquerda ,vai ser o aurora dourada a fazê-lo, o que será bem pior para os trabalhadores gregos.
    E se o prognostico do Francisco se verificar em que isto é o principio do fim da união europeia estão criadas as condições para o aprofundamento da revolução na europa aproveitando o vazio politico deixado pelos europeistas (Ps , Psd, cds, e seus amigos europeus)

  23. “Se o euro impedisse as duas pontes, porque é que elas estão lá? E os dois submarinos? Quanto a mortes políticas, percebo a aflição do CDS, que está nas sondagens bastante atrás do Bloco, ou do PSD, muito abaixo do que teve em 2011. Factos.”

    Precisamente, estão lá porque uma dela foi feita numa altura em que já não havia moeda própria, uma exemplar mostra de que para fazer despesa/divida para deixar aos netos o pagamento, e que levou, entre outros factores, a um resgate. Com certeza nem o Bloco, ou nem o maior Keynesiano, poderia afirmar que o nível de despesa português pré-troika era sustentável.
    Onde se cortaria, pois o debate é esse, agora que se tinha que reduzir a despesa, parece-me quase unânime, a partir do momento em que não temos controlo monetário.

    Em relação a mortes politicas, pois não me parece que a direita portuguesa esteja a recear desaparecer, coisa que o Bloco não pode propriamente afirmar. Alias, o CDS, ao que parece, até conseguiu o prodígio inimaginável de ter um rácio de distribuição com base nas eleições de 2011 onde obteve excelentes resultados, por isso o CDS está descansado nas sete quintas, como se costuma dizer. Agora o PSD, pois está a pagar o custo de aplicar a maior dose de austeridade da história da democracia, como está o PP, entre muitos outros. Com certeza ninguém pensaria que aplicando medidas impopulares, a votação neles aumentaria.
    O que mais surpreende é que a extrema maioria da população parece não acreditar que a oposição tenha a resposta correcta, seja o PS porque faria e fará exactamente o que este governo fez, seja a esquerda radical que, tendo em conta o que aconteceu com a Grécia, faria também exactamente o mesmo, mal o dinheirinho começasse a faltar, e com o medo de que os trabalhadores e o povo™ fossem dar uma volta até à avenida da liberdade a perguntar onde estão as pensões e os salários, porque uma coisa é receber com cortes, outra coisa é não receber.

    E sinceramente, numa nota mais pessoal, e que se está a manifestar nas sondagens, para partidos de protesto com representação parlamentar, entre o BE e o PCP, mais vale escolher aquele que tem quase uma centena de anos, que foi o mais feroz lutador contra o salazarismo, que tem uma organização de aparelho partidário a um nível lendário e que tem uma central sindical com mais fios ligados do que um boneco do Jim Henson.

    1. O problema nunca foi o nível de despesa, mas a sua qualidade. Investimento é “despesa” e é disso que precisamos para criar emprego. A escolha que se coloca a Portugal é ter ou não ter soberania monetária e democrática para decidir. Podemos sempre escolher ser um protectorado perpetuum seculorum.

  24. Acho que está claro aquilo que já deveria estar claro há muito tempo para certos sectores da esquerda: é que o € é aquilo que é, não por um erro, não por um engano que pessoas de Bem poderiam emendar ao verificarem as consequências nefastas. O € é aquilo que é porque se quis que assim fosse! E não há diálogo possível! a única possibilidade, como se tornará cada vez mais claro, é sair do € e da UE.
    Outra questão é a crise do sistema capitalista a nível mundial, como foi referido num comentário anterior. Concordo com tudo o que ele disse, só não sou tão optimista! O Capitalismo sobrevive, cada vez mais destruidor, mas sobrevive. A sua queda não virá de pormenores técnicos, como os rendimentos decrescentes, mas das lutas sociais que se souberem construir.

  25. Tsypras falhou. Ao abdicar desde o início das negociações do seu melhor argumento que seria admitir uma eventual saída da Grécia do euro tornou as ultimas “negociações” mais difíceis para si. Seguros de que jamais Tsipras admitia uma saída do euro os agiotas credores deram-se até ao luxo de lhe proporem uma saída “negociada”.
    Tsypras deveria compreender que esgotadas todas as cedências razoáveis, para além das quais já não faz qualquer sentido falar-se de uma alternativa à austeridade, que constituiu a base das suas promessas eleitorais e uma estratégia que foi sufragadas pelo povo grego no referendo da semana passada, só um caminho lhe restava, a saída do euro.
    Se não é possível um caminho alternativo à austeridade dentro do euro então não resta outro caminho aos partidos de esquerda, aos povos dos países sufocados e aprisionados no euro, do que procurar outra via fora do euro por mais custos iniciais que tal possa acarretar.
    Aceitar a austeridade sem fim, aceitar os ditames da ditadura financeira, aceitar o futuro sombrio do empobrecimento e do agravamento das desigualdades sociais, aceitar a capitulação de todos os seus ideais é miserável, totalmente desonroso e constitui uma deslealdade para com seu povo.

    1. É fácil falar quando se está de fora. Numa cimeira de 19 países, Tsypras estava isolado. E muito pressionado. Mas, de facto, a partir do momento em que os responsáveis de França, de Itália e do Luxemburgo declararam ser frontalmente contra a saída da Grécia do Euro (e isso aconteceu no sábado), Tsypras parece ter perdido uma oportunidade de explorar as divergências entre esses países e a Alemanha, ameaçando com a saída do Euro. Sobretudo a França queria evitar a todo o custo a saída da Grécia, por ter muito a perder. Eventualmente, Tsypras terá achado que era uma jogada demasiado arriscada.
      Nos próximos dias vamos ver como se passam as coisas na Grécia. Apesar de tudo o que se diz (relativamente ao referendo), desconfio que Tsypras interpretou bem a vontade do povo grego: poucos gregos gostarão da humilhação deste acordo. Mas se, em novo referendo, lhes fosse dado a escolher entre o acordo e a saída da moeda única, desconfio que os gregos escolheriam o mau acordo. Por medo.

    2. Mas se eu estiver errado, então os gregos que se manifestem em peso contra este acordo e que pressionem fortemente o parlamento a chumbá-lo. Eu desejo que este acordo seja chumbado. Na Grécia, na Finlândia, onde quer que seja. Preferentemente na Grécia.

  26. “e isso implica sair do espartilho do euro. ”

    Mas existe a mínima duvida que, havendo um referendo de Sim/Não ao euro em Portugal, teríamos um voto esmagador de permanência?
    Será que na altura os partidos que “choram” hoje pela democracia na Grécia, ao dizer que não se pode aplicar austeridade que foi rejeitada no referendo há 9 dias, viriam dizer que o voto popular não conta, porque a solução de saída do euro é a mais correcta, independentemente do que o povo, que é que mais ordena (até certo ponto, pelos vistos) pensa?

    O Euro foi mal desenhado a partir do momento em que se permitiu que a Goldman Sachs desenhasse a entrada da Grécia, e como os lideres europeus queriam um projecto-fantasma de solidariedade, lá deixaram entrar a Grécia. É um pouco como nos grupos do futebol na escola, ninguém quer escolher o gordinho, mas quando chega a vez dele, têm pena e incluem-no.

    Mas muito pior do que ficar no euro, seria não ficar nele. Pelo menos, no curto-médio prazo. E como os gregos (e o portugueses, já agora) não comem prazos, comem comida, a Grécia precisa do euro. Os tempos de imprimir moeda para sustentar o estado social já vão longe, muito longe. Os tempos em que a inflação subia 15%, aumentava-se os salários em 10% e os trabalhadores ficavam todos contentes, também já lá vai.
    Se teve que vir uma moeda externa para se acabar com o despesismo de construir as duas maiores pontes da Europa separadas por pouco mais de 30 kilometros, assim seja.

    Por alguma razão a esquerda radical está a morrer em Portugal, e o balão do Podemos está a deflacionar. e mesmo depois de anos de austeridade o PP está no caminho da vitoria nas eleições. A maior parte das pessoas sabe que não se pode gastar o que não tem. E quem se sujeita a fazer divida para pagar um estado forte, sujeita-se ás condições que os credores exigem. Se não querem ficar sujeitos a mercados, não façam divida. Mas depois, não se poderia fazer autoestradas bonitas, nem dar Magalhães a toda a gente ou muito menos sustentar um nanny state.

    1. Se o euro impedisse as duas pontes, porque é que elas estão lá? E os dois submarinos? Quanto a mortes políticas, percebo a aflição do CDS, que está nas sondagens bastante atrás do Bloco, ou do PSD, muito abaixo do que teve em 2011. Factos.

    2. Um dos factores determinantes da necessidade de existência de pontes não é a distância entre elas mas a intensidade de tráfego, embora este possa ser transporte individual privado (mais combustível mais bate-chapas, mais importação ou fabrico de automóveis) ou canalizado para o transporte colectivo, ferroviário ou não. Para descongestionar a ponte 25 de Abril a solução seria a ponte Chelas / Barreiro. Mas à especulação imobiliária, com ou sem aeroporto na Margem Esquerda, interessava a solução que veio a ser adoptada. A saída do aeroporto da Portela de Sacavém, qualquer que fosse a solução também interessava à especulação urbanística e imobiliária. Ambas de mãos dadas com a banca e as empresas de obras públicas e construção civil, as tais responsáveis e beneficiárias de PPP’s, campeonatos de futebol e respectivos Estádios, de Expos 98, de auto-estradas paralelas e de dormitórios suburbanos, etc, etc, etc. Quanto às dívidas, elas são o pulmão da actual fase do capitalismo financeiro, que cria as “bolhas” e transforma a dívida privada (que fomenta) em dívida pública, isto é, transfere os prejuízos dos accionistas e da má gestão para a colectividade e para os Estados. Com pura agiotagem e contratos leoninos. Quanto aos “mercados” é pura mistificação associá-los/identificá-los com o capitalismo. Porque lhe são anteriores e podem existir noutros sistemas económicos. E no capitalismo monopolista ou oligopolista em que vivemos, transnacional, os mercados como livre troca igualitária, entre produtores e consumidores, com ou sem intermediários, não existem de facto. Trata-se doutra mistificação.

  27. Cumpre dizer: o grande Varoufakis, um cobarde de primeira que ateou um fogo complexo, desapareceu assim que pode para o seu apartamento burguês ou para um qualquer destino caro (na sua mota americana ou no seu jacto privado) com a sua família bem endinheirada ao lado. Tsipras ficou e aguentou e nesse sentido merece respeito, um respeito que Varoufakis jamais merecerá. Varoufakis cobarde e oportunista.

    1. Percebo que para estes ajustes de contas pessoais seja conveniente um pseudónimo. É tudo corajoso. Segura-me se não eu bato-lhe.

  28. Uma derrota do syriza (PCP + Bloco esquerda + Socialistas) a todos os níveis:
    + austeridade;
    + cortes;
    + impostos;
    + privatizações;
    + sofrimento para a população como nunca.
    É o que dá quando se vota em irresponsáveis. Agora façam como no Brasil, Portugal, França, Itália, etc. chamem a direita (ou pessoas que governem à direita ou seja com rigor) para meter ordem na casa e organizar as contas. Senão daqui a 6 meses estão pior.

    Mas uma coisa conseguiram:
    – A troika hoje é designada por instituições. BRAVO! UMA SALVA DE PALMAS!!!!

    1. Pura propaganda. Os bons governantes de Portugal destruiram mais de 400 mil postos de trabalho e cortaram nas pensões dos idosos.

    2. Olhe, e onde està essa benfazeja e providencial “direita grega”? Talvez, esvaziada, desacreditada por anos de tanto “rigor” politico

  29. Tenho absoluta convicção de que é uma questão de tempo o desmantelamento desta UE. Ela comporta-se como uma vulgar sociedade comercial, Lda e, como todas as empresas, terá o seu tempo de vida. É o ciclo natural do percurso…
    Mas, lamente-se toda a efervescência e danos irreparáveis que esta “sociedade privada” vai causando aos “sócios”, sobretudo, aos mais débeis.
    No momento da insolvência os tumultos alem de imprevisíveis serão violentos…

  30. Gostemos ou não, a austeridade é inevitável. A única diferença é se será imposta a partir de dentro e gerida e numa lógica de redistribuição igualitária das perdas, ou a partir de fora e em função dos interesses da máfia financeira internacional. O eleante na sala, que poucos economistas conseguem enxergar, é que o crescimento infinito num planeta finito é impossível. O glorioso crescimento & progresso dos últimos duzentos anos só foi possível com o acesso a fontes de energia baratas. Mas o petróleo barato, a 20 dólares o barril, acabou. Sem energia barata não há crescimento, sem crescimento não se pode pagar dívidas. E se não se pode pagar dívidas, o sistema implode. O capitalismo não está feito para funcionar em decrescimento. Daí que nos últimos 20 anos, e sobretudo nos últimos dez, se tenha assistido a uma furiosa financeirização da economia, criando-se um crescimento artificial, primeiro com a bolha dotcom, depois a bolha imobiliária, a agora com programas de “quantitavive easing” e quejandos. Tudo para tentar manter a bicicleta do capitalismo em movimento por mais alguns quilómetros. Mas a lei dos rendimentos decrescentes, como o dr. Louçã bem sabe, é implacável. E isso significa que no futuro seremos inevitavelmente mais pobres do que no passado. Acontece que nenhum partido pode conquistar votos com a mensagem de que se pode ser feliz com menos. O homo economicus está viciado no consumismo, tal como o sistema económico está viciado no crescimento, e como nada se tem feito no sentido da transição para uma economia mais sustentável, a única coisa que nos espera é o colapso.

    1. Agradeço o coment´ário. Mas a lei dos rendimentos decrescentes não se aplica ao conjunto de uma economia: é possível criar emprego. Quanto à sua crítica ao capitalismo realmente existente, de acordo.

    2. Salazar também foi um ditador “austero”… que, como refere, impôs a austeridade “a partir de dentro” e arrumou as contas públicas. Mas, o que realmente levou Salazar a aguentar-se tantos anos no poder? Terá sido a eficácia implacável da PIDE, em contraponto à (im)competência da oposição? Terá sido a propagando política elevando a moral da nação, em contraponto ao medo, mais a “brandura” e o “costumeirismo” beneplácito dos portugueses? Terá sido a “astúcia” do ditador com que melhor soube mover-se entre apoiantes e adversários políticos – ou, como vimos a “ambiguidade” com que soube gerir a “neutralidade colaborante” de Portugal durante a II Guerra, entre outros?
      [E estará Dagerman em condições de defender aqui um regime “austero” em ditadura?]

      A seguir aos constrangimentos e oportunidades da Guerra, a economia estava estagnada. E, não fora o bode expiatório do perigo “comunista” a sustentar a base de apoio interna e externa, o poder poderia até escapar das mãos – como vimos com a entrada e saída de cena política de Humberto Delgado… O golpe de sorte (ou génio?) veio logo no início da década seguinte, com a surpreendente adesão à EFTA (pt AELC, 1960). Esta Associação de Europeia de Livre Comércio, sob o impulso do Reino Unido, e em contraponto ao surgimento da CEE (Tratado de Roma 1957), veio abrir novas portas à indústria portuguesa e seria responsável pelo assinalável crescimento económico das décadas seguintes – não obstante o descrédito político internacional que a deterioração da situação colonial iria despoletar.
      A entrada na EFTA desenvolveu-se num quadro diplomático favorável ao reconhecimento da “especificidade” do atraso da economia portuguesa, mas em condições mais atractivas do que aquelas apresentadas por outros estados – nomeadamente: Turquia, Grécia e Irlanda (fixando estes a negociação em torno de avultadas contrapartidas financeiras e períodos mais longos prazos de transição) – entretanto rejeitados. Nicolau Andresen-Leitão – na sua tese «O Convidado Inesperado: Portugal e a fundação da EFTA, 1956-1960» -, relata o ambiente em que decorreram as negociação e conclui:
      [vide: analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218705500E8uDM1zy8Lq83JP4.pdf – 2004]
      «Como explicar o facto de Portugal ter conseguido que o seu regime específico fosse analisado durante as principais negociações da ZCL [Zona de Comércio Livre] e aceite pelo grupo de peritos Melander? A resposta está numa combinação de obstinação,fortuna, perícia e flexibilidade. Recusando a classificação de país subdesenvolvido por motivos de prestígio, e receando que uma exclusão de um acordo à escala europeia pudesse comprometer o seu desenvolvimento económico, o governo português recusou terminantemente que a sua proposta de adesão fosse analisada pelo grupo de trabalho para os países em vias de desenvolvimento, o que acabaria por revelar-se uma melhor táctica de negociação do que o beco sem saída em que os outros países em vias de desenvolvimento se encontraram […] Em termos gerais, o factor mais importante foi, provavelmente, a flexibilidade de Corrêa d’Oliveira, e acima de tudo a disposição do governo português, em particular de Salazar, de fazer cedências nas negociações da ZCL com vista a alcançar um objectivo último: a participação num acordo à escala europeia.
      As razões que explicam o êxito da adesão de Portugal à EFTA, não obstante a sua economia atrasada, são similares às do sucesso que o país obteve nas negociações da ZCL de 1956-1958. Em primeiro lugar, a equipa diplomática utilizou as tácticas de negociação adequadas. Nas negociações iniciais da EFTA, Portugal omitiu o facto de que a sua adesão dependia de um regime específico. Só a partir de Março de 1959 os negociadores portugueses viriam a revelar gradualmente o carácter necessário dessa condição. Os motivos por detrás desta bem sucedida táctica são melhor descritos pelas palavras dos funcionários portugueses envolvidos — a adesão à EFTA foi “obtida passo a passo, e as principais concessões seriam concedidas pelos outros países em momentos em que parecia ser menos oneroso aceitar as nossas exigências (as quais, devido ao nosso pequeno tamanho, eram sempre relativamente pequenas) do que confessar ao mundo […] que as negociações de Saltsjobaden e Estocolmo tinham fracassado”. Associada às tácticas de negociação adequadas estava a flexibilidade dos negociadores portugueses, que se revelariam dispostos a fazer determinadas cedências tarifárias e a manter os termos do acordo confidenciais até ao momento em que a Convenção da EFTA fosse tornada pública. Uma segunda razão para que Portugal se tornasse membro fundador da EFTA foi o apoio político da Suíça, da Grã-Bretanha e da Suécia, bem como a ajuda da Suíça e da Noruega durante as negociações relativas ao comércio. Uma terceira razão, igualmente apontada pelos funcionários portugueses envolvidos nas negociações, prendia-se com o volume pouco significativo do comércio português, o que significava que as concessões dos outros membros da EFTA não teriam qualquer impacto sobre o comércio dos seus países, bem como como facto de a organização ser considerada temporária até se chegar a um acordo geral com a CEE. Uma quarta razão para a inesperada adesão de Portugal à EFTA foi o relatório Melander — este documento funcionou como uma garantia da OECE de que Portugal poderia aderir à EFTA sob um razoável regime específico. É razoável supor que, sem a ajuda do relatório,Portugal teria sido provavelmente excluído das negociações de Abril-Maio de 1959. Em termos gerais, a razão mais importante para a bem sucedida adesão à EFTA foi, provavelmente, a mesma pela qual Portugal esteve tão próximo de ser bem sucedido nas negociações finais da ZCL: a disposição do governo português, em especial de Salazar, de fazer cedências de modo a satisfazer a sua ambição final de não ser excluído de um acordo à escala europeia.»

      Sobre a assinalável longevidade política de Salazar, é caso para dizer que, não obstante a natureza repressiva do regime, a “austeridade” – e daí o mito de “Salvador da Pátria” e de “mago das finanças” – não explica tudo. Salazar, recriando um estilo “maquiavélico” próprio, e entre as muitas críticas e acusações que façamos aos regime, soube ser no momentos decisivos suficientemente ambíguo, duro, obstinado e flexível na defesa abnegada do que considerava ser o interesse superior de Portugal!
      * * *
      Ora, sem querer fazer aqui de “advogado dos anjos ou do diabo”, a adesão à EFTA, muito por mérito de Corrêa d’Oliveira, ensina-nos a relevância de apoiar uma estratégia de “entrada” que, em tempo oportuno, procure fazer prevalecer a “especificidade” (fragilidades e vantagens competitivas) dos candidatos junto dos restantes membros aderentes. Já uma estratégia que se contraponha a um eventual risco de “saída”, deve procurar implicar o maior número de membros como forma de impor uma mais justa partilha dos custos e dos riscos. E aqui, afigura-se que governo grego além de não ter preparado convenientemente o cenário (indesejado) de saída, também não pode ou soube sair “isolamento” maquiavélico em que foi colocado, não explorando a vulnerabilidade de outros membros ou, ainda, capitalizar a «opinião pública» europeia em torno da exposição das incoerências da “moeda única” e na “incriminação” da postura pouco ética (demasiado “usurária” e “monetarista”) dos parceiros europeus – como, de resto, foi sendo denunciado por analistas e comentadores insuspeitos como os “nobel” Krugman e Stiglitz. Aliás, outra lição desta «crise grega» é a falta de uma “opinião pública” dita europeia, o que demonstra, a par da falta de solidariedade dos Estados-membros, as insuficiências na construção de uma verdadeira “cidadania europeia”. Eis o paradoxo: temos uma “moeda única”, na construção de uma zona monetária sem “cidadania”!
      Afinal, como salienta Louçã, parafraseando Krugman: “não foram os gregos quem atirou a matar”!

    3. É possível criar emprego, sem dúvida. O problema é que o único emprego que se poderia criar seria com salários vietnamitas ou, quando muito, romenos. É a globalização em todo o seu esplendor:”exportou-se” o sector industrial para a Ásia (onde os custos energéticos e salariais são muito menores), pondo os trabalhadores europeus a concorrer com os asiáticos, e apostou-se tudo na terciarização da economia. Em vez do “trabalhadores de todo o mundo uni-vos” temos o “trabalhadores de todo o mundo, desuni-vos”. Agora temos uma bota de chumbo para descalçar, e não estou a ver como é que o vamos fazer sem perder o pé, ou a perna toda…

  31. O acordo que o Tsipras obteve foi a consequência do fanatismo e incoerência do SYRIZA. Declararam guerra ao capitalismo quando são viciados em capital. Acabam a lamber o prato em que cuspiram e as botas dos que lhe enchiam o prato.
    Os “senhores” revolucionários, que estão agora cheios de azia, culpam a Europa mas são os verdadeiros culpados do sofrimento causado ao povo Grego. Enquanto o povo definha bebem champagne e comem caviar patrocinados pelo Putin e pelo Maduro, sem remorsos.
    Vocês não aprendem com os vossos falhanços. Não se importam de sacrificar milhões de pessoas para testar as vossas teorias Orwellianas, culpando os “outros” por tudo ter corrido mal.
    Fico triste ao ver que 2014 a Grécia já estava a recuperar e era certo que a recuperação ia continuar em 2015. Bastou o Syriza chegar ao poder para destruir o pouco que se tinha conseguido.

  32. Costa Gravas, em entrevista à Euronews, entre considerandos e paráfrases reiterando o conteúdo da narrativa “anti-austeridade”, afirmou o problema nuclear da Grécia. Disse que a Grécia é uma nação mas não é um Estado.
    Tem razão, a Grécia é um Estado falhado. As questões financeiras e orçamentais da Grécia são um efeito de um problema mais profundo. Não sendo uma sociedade formalmente liberal, é um bom exemplo do colapso de uma sociedade em que impera o safanço pessoal e individual e em que o Estado é encarado como um agente externo, invasor, do qual se deve abusar em proveito próprio. A instituição de um Estado, de poderes verdadeiramente públicos, no sentido em que necessariamente prossegue interesses colectivos que por vezes colidem com interesses individuais, não irá ser popular em circunstância alguma (logo, será rotulada de anti-democrática), designadamente, a instituição de uma máquina fiscal eficiente. Qualquer influência externa no sentido de ajudar os políticos gregos a instituir esse Estado será reputada de colonialismo, de ocupação estrangeira. Não será aceite. Neste processo em curso, parece-me inevitável que os gregos venham a viver sob o signo do homo homini lupus; então, aí chegados, aceitarão todas as austeridades que lhes garantam a paz.

    1. De facto, é um bocado isso que se passa na Grécia e é algo com raízes culturais e históricas.
      A geografia da Grécia e a sua História de dominação por potências estrangeiras ajudam até certo ponto a explicar isso.
      Aconselho a leitura de um monografo do site Stratfor sobre a geopolitica da Grécia, creio que de 2011 ou 2012, que retrata e explica bem, ainda que resumidamente, a posição da Grécia no seio da UE e da Europa, e que faz uma previsão bastante acertada sobre o que de facto se está a passar actualmente.

  33. “Tempo de trabalho anual médio na Grécia: 2042 horas.
    Tempo de trabalho anual médio na Alemanha: 1371 horas”

    Não sou economista mas, qual o intuito destas frases? É vir dizer que os gregos são uns explorados e por isso têm que trabalhar mais que os alemães? Se é isso parece-me muito básico e não vai de encontro ao que realmente importa que é os alemães são mais eficientes/produtivos que os gregos só isso.

    1. Sim, a economia alemã é mais produtiva. Mas não eram os “joões” quem dizia que os gregos são preguiçosos?

  34. Sim, verificamos que a União Europeia, tal como muita gente a idealizou, como um espaço de liberdade, solidariedade e justiça, está dia a dia a esboroar-se à frente dos nossos olhos adormecidos. Para certas figuras sinistras, como o ministro Wolfgang Schäuble, é a continuação vitoriosa do projeto de unir a Europa pela força, sob a batuta alemã, sob o controlo do capital. Leiamos nesta edição o alerta do Rui Tavares (O sr. anti Europa) e fiquemos esclarecidos sobre o assunto). A serpente já se vê nitidamente dentro do ovo e a Alemanha, com os países nórdicos a seus pés, já conquistou novamente a Polónia, a Áustria, metade da França e prepara-se para destruir os países do sul ..

    1. Sem dúvida. Tavares tem razão ao chamar Schauble como anti-Europa.Mas mais vale não esquecer Merkel nem Hollande, ambos impuseram estas medidas à Grécia.

    2. Dizer que o Hollande tem culpa…..tendo em conta que se não fosse ele não haveria acordo algum e a Gré cia arder’ia esta noite….é demais

    3. 50 mil milhões retidos numa empresa privada para garantir os credores? Colonialismo puro, e deve-se agradecer a Hollande?

  35. Convenhamos que a Grécia (Syriza) se pôs a jeito. Desde quando é que se entra a matar e depois baixa a bolinha? O Syriza era contra a permanência na UE e agora faz esta traição? O Syriza está a condenar toda a esquerda europeia… E o Tsipras, a ser verdade o que diz nesta crónica, é um cobardola que só mostra que está agarrado ao poder. Nesse sentido, admiro mais o Varoufakis, pois, apesar de ser a favor da permanência na UE, deve-se ter apercebido do lodo da política e pôs-se a andar. O Syriza, depois do apoio popular veio espetar uma faca nas costas de quem o apoiou. Era bem-feito ser defenestrado.

    1. Não, o Syriza não era contra a permanência na UE nem sequer no euro. O que hoje se pode discutir, com mais razões, é se não devia ter preparado alternativas. Desde janeiro que argumento neste blog que é sempre preciso ter um plano B.

  36. Será que povo grego vai aceitar este acordo derrotista a troco de continuar na “EUROlândia? Aguardemos os próximos episódios….

  37. Excelente enquadramento, Francisco Louçã!
    Entretanto, enquanto é digerido os termos deste acordo [ou 3º resgate], o travo amargo na boca pode ainda trazer outros dissabores…
    Por muito que Tsipras se esforce por dizer – para consumo doméstico e zelando pela sua própria sobrevivência política – que conseguiu o melhor acordo possível [Nas suas palavras: “Evitámos um plano de estrangulamento financeiro e o colapso do sistema bancário” […] “Nesta dura batalha, conseguimos a reestruturação da dívida”, e, não menos importante, argumente ter conseguido bater-se contra os “ultraconservadores europeus”, pela permanência da Grécia no Euro…]; como vai ainda o Parlamento grego receber o documento – mais 50 mil milhões de “confisco” para satisfação dos credores)? Em que pé ficará coligação governamental – e que tipo de governo poderá sair num cenário de eleições antecipadas? Como reagirão os gregos a este duro golpe, que os condena a uma situação ainda mais precária do que antes do referendo?…

    E, daqui, uma outra questão inquietante: Se a Democracia falha e já não é percebida como representativa da vontade popular; se o Estado, demasiado exíguo, entra em falência e/ou implosão política e social, deixando de cumprir as suas funções sociais (justiça, saúde, educação, protecção social, etc…); se a decadência e a desesperança é percebida pela população na degradação continuada das condições de vida e sobrevivência – mais o empobrecimento, a carestia, o desemprego e as emigrações por longas décadas; se a Liberdade, a Soberania e a Identidade são percebido como estando sob ameaça ou controlo de “potestades” estrangeiras, estranhas ou adversas ao interesse colectivo nacional… – então, temos os ingredientes “explosivos” para a formação de movimentos subversivos e insurgentes à nova “ordem”, ou protectorado, que se está a ser imposta à Grécia. (Recordemos o passado, bem presente na memória colectiva da Grécia, das lutas, guerrilhas e resistência dos gregos contra o longo domínio “estrangeiro” otomano! – e quem poderá impedir um povo de lutar pelo verdadeiro “resgate” da sua Liberdade?)
    Espero que o Público não censure este meu comentário, mas, este é um argumento relevante na histórica da resistêncie e luta dos diferentes povos pela liberdade, dignidade e auto-determinação. Para mais, quem semeia o “terror” e instiga o “medo”, não pode esperar colher, em reacção, outra coisa que não seja o “terror” e “medo”. É importante, portanto, que as instituições e os governos europeus avivem a consciência e se retratem da má conduta com que tentam “subordinar” e “humilhar” os gregos, entre outros – e verdadeiramente se empenhem em promover a PAZ, a SOLIDARIEDADE e a PROSPERIDADE na Europa. E isto só se conseguirá quando o primado da política europeia voltar a estar recentrado nos cidadãos e na promoção da CIDADANIA EUROPEIA – e não na DITADURA financeira que ora se impõe!

    Por cá, bem pode o “profeta” da austeridade, Passos Coelho, reclamar o protagonismo que diz ter tido nas negociações e gabar-se de si próprio: “Curiosamente, a solução que acabou por desbloquear [foi] uma ideia que eu próprio sugeri”, ao sugerir que metade do fundo de “confisco” fosse para “reembolsar os empréstimos” no resgate aos bancos gregos. Ou, António Costa querer colar-se à sombra de Hollande, e dos socialistas europeus, que na teatralidade da tragédia grega se autoproclamam os “salvadores” da Grécia, contra os “conservadores” que se opunham à permanência no Euro…
    Na instigação do Medo, percebemos que também não há em Portugal alternativa à “austeridade”!
    A mensagem deixada pelo eixo franco-alemão, acima da teatralidade de qualquer divergência entre Merkel e Hollande, é que não pode haver lugar na Europa a novos “syrizas” ou outros movimentos que afrontem os dogmas do “status quo” europeu – para o “desassossego” das esquerdas previnam-se desde já quaisquer veleidades de mudança radical!
    Porém, é de esperar que de “crise em crise”, e de “resgate em resgate”, entre a austeridade económica e a depressão social colectiva, cresça entre os europeus o sentimento eurocéptico, ou até anti-europeísta, adverso à “integração europeia”. Como bem coloca Francisco Louçã, este pode muito mal ser “o princípio do fim da União Europeia”!

    Em resumo: «NÃO PODE HAVER UM BOM ACORDO, ONDE NÃO HÁ BOA MOEDA!»
    Merkel tem razão quando diz que a moeda mais importante é a “CONFIANÇA” – ora, não havendo confiança, coesão e harmonia entre os governos e instituições europeias, a opção menos má a prazo será: DESMANTELAR O EURO!
    A Paz na Europa depende do Fim do Euro…

    1. Certo. E deu-se um passo para esse desmentelamento, infelizmente em catástrofe e não em inteligência.

  38. A esquerda na europa nunca podia ter apoiado os Gregos da forma cega como o fez. O que aconteceu na Grécia, nos últimos 7 meses foi, Mentira, Falta de educação, Falta de civismo. O siriza fechou todas as portas de relacionamento com os colegas europeus. No fim, resta um acordo humanitário.
    O pior serviço á esquerda europeia, foi o que o siriza fez. Da grecia não vêm definitivamente bons ventos.

    1. Relacionamento com “colegas”? Acha mesmo que o problema de Schauble é falta de educação?

  39. Por favor,não confundam os Gregos com as elites Gregas.Os Gregos estão a passar muito mal ,as elites Gregas vão continuar a passar muito bem.Lamento a falta de solariedade com os Gregos

  40. Pelos vistos o plano B, o plano para do Dia Seguinte do Syriza/ANEL era …. a capitulação total face ao grande capital. Pelo meio fica um referendo “ingénio”! Merkel, Hollande, Schauble, a “esquerda” social.democrata ou a direita ultranacionalista e fascista são apenas testas de ferro, pontas de lança. Mas alguns comentários batem sempre na mesma tecla: os mandriões dos gregos corruptos que viveram à vara larga e que até receberam empréstimos de Portugal, o protectorado que se segue. Mas a maioria das vítimas, as que estão a ser esmagadas num autêntico genocídio, embora encoberto, não saiem, não conseguem sair ainda, do círculo vicioso, mais e mais e mais do mesmo, olhos submissos no chão, procurando alguns a salvação individualista na vã tentativa de evitarem o matadouro. Conseguissem as pessoas e os povos perceberem que dentro deste sistema não há saída. Mas … “não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
    nada deve parecer impossível de mudar.” (Brecht)

  41. … Voltemo-nos a César.
    A calva ocasião é esta agora.
    Corramos-lhe ao encontro: generoso
    E magnânimo é Júlio: há-de quebrar-lhe
    As iras todas submissão tão pronta —,
    Tão resignada: — e nós salvos, benquistos
    Do senhor do universo, porventura
    Quinhoaremos também nos seus despojos.
    (Garrett, Catão, Acto I, cena III)

  42. Depois do dia de hoje, que esperança reside nos partidos anti austeridade? Para quê desperdiçar o voto neles?

    Se o mais esquerdista dos partidos – eleito para terminar com a austeridade, no país que mais sofreu com a crise – falhou redondamente, vão ser os outros que vão ter sucesso?

    O que ficou bem claro é que, para terminar com a austeridade a solução mesmo é não precisar do dinheiro dos outros!

    1. Não precisar dos mercados financeiros é acabar com a austeridade, e isso implica sair do espartilho do euro. Mas enquanto Portugal aceitar as condições actuais, será sempre uma economia deficitária e dependerá sempre da finança e das suas condições.

  43. Só me ocorre este paralelismo: a Grécia está de novo ocupada e nós, menos visivelmente por agora, também. Nunca duvidei que estamos num grande sarilho . Está tudo muito bem armadilhado, destroem as economias dos periféricos,depois sair do euro só por meio de uma economia de guerra. A falta de vergonha das propostas dos dirigentes alemães revelam como estão poderosos a dirigir a Europa. Sim, estamos num enorme sarilho.

    1. Schauble assumiu-se como um dos donos do mundo, ao perguntar aos EUA se não queria trocar de países deficitários… Quem manda pode! Agora dou razão à Lagarde o Tsipras é um rapazola imberbe.

  44. A esperança na alternativa capitulou. A nossa Esquerda fica órfã e parece-me que em muitos maus lençóis. Não existirão mais argumentos porque dirão: “Vejam o Syriza…“ . Uma desilusão para o combate ao pensamento único. A esquerda aliou-se à direita. Qual social-democracia… O Syriza meteu o programa no caixote do lixo a troco de uma mão cheia de nada.

    1. perder uma batalha não é perder a guerra. O Syrisa está a governar um país, admito que se batesse com a porta, a crise fosse tão grave que poderia haver um golpe militar.
      O Syrisa conseguiu uma coisa formidável que só foi possível porque eram governo, puderam confrontar a europa e ter um tempo de antena precioso: pôr a nú o caracter fascista do eixo alemão que comanda a europa e o papel abjecto, de lacaios, dos socialistas europeus.
      A luta é de todos. Nesta luta de apoio à Grécia pareceu-me ver por vezes qq coisa como ” aguentem isso aí, nós por cá agradecemos “. Pois, isso é que não vai dar, os povos dos periféricos têm todos de fazer a sua parte.
      E vai ser longo e doloroso.

    2. Para Margarida Garrido (13-jul, 11:52): Então, deve ter sido para combater o fascismo que o Syriza se aliou a um partido fascista no governo. Também deve ser por o Syriza ter andado a combater o fascismo, que Marine Le Pen não tem poupado elogios ao Syriza (google: Marine Le Pen + Greece). Se tiver conhecimento de comentários de Marine Le Pen sobre o acordo de hoje, faça o favor de nos dizer.

    3. ANEL não é um partido fascista. É uma cisão da Nova Democracia, o partido tão estimado pelo Pedro Lemos. Um partido de direita que apoiou medidas anti-austeridade e que, ao que se sabe, está agora a criticar as soluções austeritárias do acordo. Em Portugal houve também grandes figuras da direita, como Adriano Moreira, que defenderam a reestruturação da dívida e recusaram o protectorado.

    4. Para Louçã (13-jul, 14:58): “ANEL não é um partido fascista…”. Admito que a expressão pode ser excessiva, pois não conheço suficientemente bem a política grega.

      Sei que a wikipedia tem limitações, de qualquer modo aqui vai:
      “ On social policy, Independent Greeks oppose multiculturalism and want to reduce immigration,[20][21][22] and support development of a Christian Orthodox oriented education system.[23] Roman Gerodimos, a specialist on Greek politics, says the party has a record of xenophobic and homophobic policies.[24] ”
      https://en.wikipedia.org/wiki/Independent_Greeks

      Não é isto o que a esquerda radical costuma chamar “um partido fascista”?

    5. Esse partido “fascista” aprovou a nacionalidade grega para os filhos dos imigrantes.

    6. Para Louçã (13-jul, 14:58): “Nova Democracia, o partido tão estimado pelo Pedro Lemos”. Nem por isso. Se a Nova Democracia falecer, não vou ao funeral.

  45. Foi também um dos momentos mais desoladores na história recente da Esquerda europeia. Ficará certamente na memória de todos e suspeito que terá repercussões graves nas diversas esquerdas parlamentares europeias. O Syriza sofreu uma derrota praticamente total, reduzido a governar com e para a Direita europeia. A TINA de Thatcher e o espectro de Mitterrand pairam sobre tudo isto. Não houve acordo, é uma erradicação.

  46. Depois de reler o artigo ocorreu-me o comentário “que mau perder”, mas não seria original.

    Tsipras tinha certamente outras opções.

    Podia decidir sair da UE. Fazia de calimero, não pagava a dívida, imprimia dinheiro novo, aumentava salários e pensões com esse dinheiro e ia encostar a cabeça ao ombro do czar. Uma solução fácil e provavelmente popular, pelo menos durante algum tempo.

    Podia decidir sair do euro e continuar na UE. Teria uma negociação mais fácil e provavelmente uma reestruturação da dívida. Uma solução intermédia.

    Escolheu estar no coração da construção europeia. A escolha de grande estadista. Parabéns!

    1. Percebo e respeito a satisfação dos merkelianos. Ganharam. Mas será que acham que uma Europa colonizada é um futuro que se apresente para a democracia?

    2. Como provavelmente imagina, eu não acho que soberania partilhada seja colonização. Os ***ismos e os ***ianos são conceitos que não aprecio por aí além.

    3. Ó Pedro Lemos, e a soberania partilhada também dá para a Grécia mandar (a meias) na Alemanha?

    4. Para lj (13-jul, 13:10): “… a Grécia mandar (a meias) na Alemanha?” Não! A soberania partilhada diz respeito aos assuntos comuns, nos termos dos tratados.

    5. O problema é que se o Tsipras fizesse isso a seguir arriscava-se a acabar como o Salvador Allende. Com um balázio na cabeça. Não te esqueças que as forças armadas da Grécia compraram muito equipamento militar à Alemanha e aos EUA. Não me surpreendia se eles já tivessem alguns oficiais no bolso. E também não era a primeira vez que os militares da Grécia esmagavam um governo de esquerda. O Tsipras fez bem em negociar o melhor que podia, era o dever dele, e penso que a seguir deve propor isto para voto no parlamento e a seguir demitir-se e convocar novas eleições.

      O que o Syriza não teve estômago para fazer talvez outro partido com um braço armado tenha vontade de fazer. Porque sim se a diplomacia não funciona não fiquem com dúvidas que alguém irá tentar outro tipo de argumentos mais “sólidos”.

  47. Gosto muito das suas análises pelo simples facto de serem construídas por cima de uma lógica muito superior à lógica dos tubérculos.
    Sabendo todos nós que os syrisas não merecem um pingo de confiança, mesmo assim a Europa, em nome da solidariedade, está disposta a lançar.lhes, mais uma vez uma bóia.
    Há uma boa dúzia de anos que os gregos parasitam a Europa do Trabalho recebendo muitos milhões de euros que criminosamente deslapidam.
    Têm vivido à custa de quem trabalha…
    até de Portugal receberam mais de 1 milhão de euros
    O que deveriamos assistir era ao fim da Grécia na Zona do Euro, isso sim.
    Mas o senhor, como bom esquerdista, vê tudo ao contrário.

    1. Tempo de trabalho anual médio na Grécia: 2042 horas.
      Tempo de trabalho anual médio na Alemanha: 1371 horas.

    2. É preciso muita má fé e incompetência para equiparar horas de trabalho a produtividade.

      Por exemplo há muita função pública em portugal que diz trabalhar 35 horas por semana. Efectivamente? Nem 10 horas devem realmente trabalhar.

  48. Hoje é dia para celebrar. Um dia grande para a Europa. Tsipras, em primeiro lugar, e todos os outros responsáveis pela decisão merecem admiração e respeito por terem escolhido a unidade europeia. Um dia triste para Marine Le Pen, os amigos e os afins.

    1. Quando chegar a vez de Portugal ser humilhado, lembre-se do que andou aqui a escrever, Pedro Lemos.

    2. Para Filipe (13-jul, 11:34): Como Mário Soares, também acho que só os burros não mudam de ideias. Veja lá, há uma semana, depois da trapalhada do referendo, até pensei que Tsipras era um caso perdido e hoje admiro que ele tenha tido a coragem de pôr a Grécia à frente da ideologia e do partido. Em face de novos factos, posso mudar de ideias novamente. Isto de não acreditar em ideologias agiliza o pensamento. Experimente!

    3. Para José P. (13-jul, 13:23): Eu compreendo que, para um crente, é muito complicado entender que alguém não tenha crenças. Os fanáticos do Estado Islâmico também não entendem.

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