Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

25 de Maio de 2015, 00:34

Por

Espelho meu, quem é mais liberal do que eu? (e uma correcção da Lusa)

espelhoPassos Coelho critica algumas soluções do PS por serem demasiado liberais, ele que nem aceitaria tal coisa, cruzes canhoto.

Responde alguém do PS: mas Passos Coelho já defendeu o mesmo. E dá-se como exemplo uma conversa antes das eleições em que actual primeiro-ministro propunha a normalização do contrato a prazo, para que seja fácil despedir a qualquer momento.

Então, das duas uma.

Uma: o que Passos Coelho defendeu é, ela por ela, a proposta de Mário Centeno, o chefe dos doze apóstolos do PS, para o mercado de trabalho. Para Centeno, até poderia haver contrato sem termo, mas a empresa poderia sempre terminá-lo a qualquer instante. O que dá igual ao que Passos Coelho propunha. No compromisso entre os economistas do PS, a formulação é ligeiramente diferente, inventa-se um “procedimento conciliatório” para facilitar e acelerar o despedimento colectivo. O que, mais uma vez, vai no mesmo sentido.

Ou seja, o PS ataca Passos Coelho, que o acusou de liberal, dizendo que ele, Passos Coelho, tem a mesma posição que ele, o PS. O que se critica não é o fingimento de Passos – credo, são liberais! – mas o facto de Passos não apoiar a solução do PS, tão parecida com a sua.

Ou, então, duas, é o PS que está a copiar as soluções de Passos Coelho. Na TSU, a proposta é, mais uma vez, só ligeiramente diferente: o PS corta mais na TSU (e o PSD e o CDS recuaram na sua proposta), distribui o corte entre empresas e trabalhadores, promete uma vaga compensação com impostos misteriosos do lado das empresas e reduzir as pensões futuras do lado dos trabalhadores. Mas a lógica liberal é a mesma: reduzir os custos do trabalho para melhorar a competitividade e aumentar provisoriamente o rendimento disponível sem aumentar os salários e as pensões.

Num caso como noutro, o argumento do PS é: que Passos Coelho não se faça de esperto, ele já defendeu o mesmo, devia por isso apoiar as propostas do PS, que são iguais ou parecidas, mas sem dúvida melhores porque mais liberais.

A competição será decidida pelo espelho mágico, que é o que sobra nestas circunstâncias: espelho meu, espelho meu, quem é mais belo do que eu, quem é mais liberal do que eu?

 

Nota: a Lusa corrigiu a sua notícia sobre o número de pensionistas, a que me referi neste blog. A notícia original estava errada e não era coisa irrelevante. A Lusa fez bem em publicar a correcção. Ficam as contas saldadas.

Comentários

  1. Para quem não se lembra, no Caderno de Economia do jornal Expresso de 3 de Abril de 2015, Nicolau Santos escrevia, de forma mordaz e irónica, que teríamos de decidir em quem votar em outubro: entre a proposta do PS baixar o IVA da restauração de 23% para 13% – uma medida que poderá contribuir para um crescimento em 0,2 pontos do PIB e aumentar o emprego; ou a proposta do PSD, pela voz de Rogério Gomes, de desenvolvimento regional, por contraponto ao investimento estrangeiro, onde se terá de saber como a fábrica de caramelos poderá criar mais dois postos de trabalho. Está tudo dito sobre este “centrão”! É de bradar aos seus céus. E como se não chegasse esta falta de ideias e propostas credíveis para o País, assistimos impávidos e serenos a casos como o do Sr. Daniel Proença de Carvalho, presidente do conselho de administração, da comissão liquidatária, de um grupo que controla jornais e uma rádio de notícias, que, pasme-se, encaixou 283 mil euros brutos em 2014, como chairman da Cimpor, mais do dobro que ganhou o presidente da comissão executiva, o brasileiro Ricardo Lima. A Cimpor, uma empresa portuguesa que foi desmantelada pelos “amigos- irmãos” do Brasil. O senhor Proença de Carvalho, que se contradiz em tudo o que diz, que assessorou a Camargo Corrêa na na OPA da Cimpor, não reconhece fronteiras, muito menos as do seu País, quando se trata de arrecadar capital. Não é o único. A selvajaria que por aí campeia deveria ter uma regulação muito maior por parte do Estado, para colocar pessoas perigosas e poderosas na ordem, como nos exemplifica o Sr. Proença de Carvalho.

  2. Quando precisamos de propostas claras há partidos, como o PS, que embrulham as coisas, tornando-as quase indecifráveis para depois fazerem o que sempre fizeram. O PS tem que se convencer que para seguir as mesmas medidas, ainda que com tonalidades diferentes, já temos quem o faça – PSD/CDS – queremos diferente, muito diferente.

  3. Quanto à TSU eu concordo quando diz que a proposta do PS é bastante semelhante à do PSD/CDS. À actual que é radicalmente diferente da de Vítor Gaspar que foi chumbada na rua, e que se traduzia num aumento da TSU total.
    Mas, e desculpe voltar a insistir nisto, a proposta é também semelhante à do BE de há alguns anos, quando se discutiu a última grande reforma na SS. E a argumentação do BE era em tudo semelhante. Era necessário baixar a TSU para não penalizar o factor trabalho. É fácil ir buscar passagens de textos da época onde isto é facilmente explicado. A ideia é bastante simples e nem consigo perceber como discordar dela: ao se taxar directamente os salários, ainda por cima de forma tão agressiva, cria-se uma fiscalidade que é pouco amiga do trabalhador. Baixar estes impostos (ou taxas) que incidem directamente sobre o trabalho e substituí-los por impostos com outras incidências é adequado num momento de tanto desemprego.
    A proposta do PS pode ser melhorada? Com certeza que sim. Está-se a trocar impostos certos (TSU) por impostos incertos (imposto sobre grandes heranças e TSU sobre rotação de trabalho) e voláteis (IRC). Mas se a ideia de base é correcta vale a pena explorá-la e trabalhá-la.

    PS Na minha argumentação, estou a referir-me à TSU paga pelas empresas. A redução da TSU paga pelos trabalhadores, à custa de uma futura redução de pensões, corresponde a uma privatização parcial da SS que, concordemos com ela ou não, é surpreendente que venha num documento do PS.

    1. Não é exacto. A proposta que fiz há uns anos foi mudar a composição da TSU, com uma parte a passar a ser paga em função do valor acrescentado e não só dos salários, alterando assim a incidência dada a composição do VA de cada empresa e penalizando as capital-intensivo. Assim, as receitas da segurança social aumentavam, como foi então demonstrado. A proposta do PS é simplesmente o contrário: reduzir a receita na parte dos trabalhadores e retirar-lhes depois uma parte da pensão. Argumentar que o efeito atuarial intertemporal é neutro é banha da cobra. As receitas descem mesmo nos próximos anos, até chegarem a uma redução de 1600 milhões no quarto ano. Resposta do PS: o emprego criado compensa. Ou seja, a receita Marco António Costa.

  4. Quanto à TSU eu concordo quando diz que a proposta do PS é bastante semelhante à do PSD/CDS. À actual que é radicalmente diferente da de Vítor Gaspar que foi chumbada na rua, e que se traduzia num aumento da TSU total.
    Mas, e desculpe voltar a insistir nisto, a proposta é também semelhante à do BE de há alguns anos, quando se discutiu a última grande reforma na SS. E a argumentação do BE era em tudo semelhante. Era necessário baixar a TSU para não penalizar o factor trabalho. É fácil ir buscar passagens de textos da época onde isto é facilmente explicado. A ideia é bastante simples e nem consigo perceber como discordar dela: ao se taxar directamente os salários, ainda por cima de forma tão agressiva, cria-se uma fiscalidade que é pouco amiga do trabalhador. Baixar estes impostos (ou taxas) que incidem directamente sobre o trabalho e substituí-los por impostos com outras incidências é adequado num momento de tanto desemprego.
    A proposta do PS pode ser melhorada? Com certeza que sim. Está-se a trocar impostos certos (TSU) por impostos incertos (imposto sobre grandes heranças e TSU sbre rotação de trabalho) e voláteis (IRC). Mas se a ideia de base é correcta vale a pena explorá-la e propor melhorias.

    PS Na minha argumentação, estou a referir-me à TSU paga pelas empresas. A redução da TSU paga pelos trabalhadores, à custa de uma futura redução de pensões, corresponde a uma privatização parcial da SS que, concordemos com ela ou não, é surpreendente que venha num documento do PS.

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