Passos Coelho critica algumas soluções do PS por serem demasiado liberais, ele que nem aceitaria tal coisa, cruzes canhoto.
Responde alguém do PS: mas Passos Coelho já defendeu o mesmo. E dá-se como exemplo uma conversa antes das eleições em que actual primeiro-ministro propunha a normalização do contrato a prazo, para que seja fácil despedir a qualquer momento.
Então, das duas uma.
Uma: o que Passos Coelho defendeu é, ela por ela, a proposta de Mário Centeno, o chefe dos doze apóstolos do PS, para o mercado de trabalho. Para Centeno, até poderia haver contrato sem termo, mas a empresa poderia sempre terminá-lo a qualquer instante. O que dá igual ao que Passos Coelho propunha. No compromisso entre os economistas do PS, a formulação é ligeiramente diferente, inventa-se um “procedimento conciliatório” para facilitar e acelerar o despedimento colectivo. O que, mais uma vez, vai no mesmo sentido.
Ou seja, o PS ataca Passos Coelho, que o acusou de liberal, dizendo que ele, Passos Coelho, tem a mesma posição que ele, o PS. O que se critica não é o fingimento de Passos – credo, são liberais! – mas o facto de Passos não apoiar a solução do PS, tão parecida com a sua.
Ou, então, duas, é o PS que está a copiar as soluções de Passos Coelho. Na TSU, a proposta é, mais uma vez, só ligeiramente diferente: o PS corta mais na TSU (e o PSD e o CDS recuaram na sua proposta), distribui o corte entre empresas e trabalhadores, promete uma vaga compensação com impostos misteriosos do lado das empresas e reduzir as pensões futuras do lado dos trabalhadores. Mas a lógica liberal é a mesma: reduzir os custos do trabalho para melhorar a competitividade e aumentar provisoriamente o rendimento disponível sem aumentar os salários e as pensões.
Num caso como noutro, o argumento do PS é: que Passos Coelho não se faça de esperto, ele já defendeu o mesmo, devia por isso apoiar as propostas do PS, que são iguais ou parecidas, mas sem dúvida melhores porque mais liberais.
A competição será decidida pelo espelho mágico, que é o que sobra nestas circunstâncias: espelho meu, espelho meu, quem é mais belo do que eu, quem é mais liberal do que eu?
Nota: a Lusa corrigiu a sua notícia sobre o número de pensionistas, a que me referi neste blog. A notícia original estava errada e não era coisa irrelevante. A Lusa fez bem em publicar a correcção. Ficam as contas saldadas.
Para quem não se lembra, no Caderno de Economia do jornal Expresso de 3 de Abril de 2015, Nicolau Santos escrevia, de forma mordaz e irónica, que teríamos de decidir em quem votar em outubro: entre a proposta do PS baixar o IVA da restauração de 23% para 13% – uma medida que poderá contribuir para um crescimento em 0,2 pontos do PIB e aumentar o emprego; ou a proposta do PSD, pela voz de Rogério Gomes, de desenvolvimento regional, por contraponto ao investimento estrangeiro, onde se terá de saber como a fábrica de caramelos poderá criar mais dois postos de trabalho. Está tudo dito sobre este “centrão”! É de bradar aos seus céus. E como se não chegasse esta falta de ideias e propostas credíveis para o País, assistimos impávidos e serenos a casos como o do Sr. Daniel Proença de Carvalho, presidente do conselho de administração, da comissão liquidatária, de um grupo que controla jornais e uma rádio de notícias, que, pasme-se, encaixou 283 mil euros brutos em 2014, como chairman da Cimpor, mais do dobro que ganhou o presidente da comissão executiva, o brasileiro Ricardo Lima. A Cimpor, uma empresa portuguesa que foi desmantelada pelos “amigos- irmãos” do Brasil. O senhor Proença de Carvalho, que se contradiz em tudo o que diz, que assessorou a Camargo Corrêa na na OPA da Cimpor, não reconhece fronteiras, muito menos as do seu País, quando se trata de arrecadar capital. Não é o único. A selvajaria que por aí campeia deveria ter uma regulação muito maior por parte do Estado, para colocar pessoas perigosas e poderosas na ordem, como nos exemplifica o Sr. Proença de Carvalho.
Quando precisamos de propostas claras há partidos, como o PS, que embrulham as coisas, tornando-as quase indecifráveis para depois fazerem o que sempre fizeram. O PS tem que se convencer que para seguir as mesmas medidas, ainda que com tonalidades diferentes, já temos quem o faça – PSD/CDS – queremos diferente, muito diferente.
Um diz que será o diabo, o outro diz que não. Que venha o diabo e que escolha.
Francisco Louçã
é uma dança diabólica , um dança diabólica com a segurança social dos portugueses
Quanto à TSU eu concordo quando diz que a proposta do PS é bastante semelhante à do PSD/CDS. À actual que é radicalmente diferente da de Vítor Gaspar que foi chumbada na rua, e que se traduzia num aumento da TSU total.
Mas, e desculpe voltar a insistir nisto, a proposta é também semelhante à do BE de há alguns anos, quando se discutiu a última grande reforma na SS. E a argumentação do BE era em tudo semelhante. Era necessário baixar a TSU para não penalizar o factor trabalho. É fácil ir buscar passagens de textos da época onde isto é facilmente explicado. A ideia é bastante simples e nem consigo perceber como discordar dela: ao se taxar directamente os salários, ainda por cima de forma tão agressiva, cria-se uma fiscalidade que é pouco amiga do trabalhador. Baixar estes impostos (ou taxas) que incidem directamente sobre o trabalho e substituí-los por impostos com outras incidências é adequado num momento de tanto desemprego.
A proposta do PS pode ser melhorada? Com certeza que sim. Está-se a trocar impostos certos (TSU) por impostos incertos (imposto sobre grandes heranças e TSU sobre rotação de trabalho) e voláteis (IRC). Mas se a ideia de base é correcta vale a pena explorá-la e trabalhá-la.
PS Na minha argumentação, estou a referir-me à TSU paga pelas empresas. A redução da TSU paga pelos trabalhadores, à custa de uma futura redução de pensões, corresponde a uma privatização parcial da SS que, concordemos com ela ou não, é surpreendente que venha num documento do PS.
Não é exacto. A proposta que fiz há uns anos foi mudar a composição da TSU, com uma parte a passar a ser paga em função do valor acrescentado e não só dos salários, alterando assim a incidência dada a composição do VA de cada empresa e penalizando as capital-intensivo. Assim, as receitas da segurança social aumentavam, como foi então demonstrado. A proposta do PS é simplesmente o contrário: reduzir a receita na parte dos trabalhadores e retirar-lhes depois uma parte da pensão. Argumentar que o efeito atuarial intertemporal é neutro é banha da cobra. As receitas descem mesmo nos próximos anos, até chegarem a uma redução de 1600 milhões no quarto ano. Resposta do PS: o emprego criado compensa. Ou seja, a receita Marco António Costa.
Quanto à TSU eu concordo quando diz que a proposta do PS é bastante semelhante à do PSD/CDS. À actual que é radicalmente diferente da de Vítor Gaspar que foi chumbada na rua, e que se traduzia num aumento da TSU total.
Mas, e desculpe voltar a insistir nisto, a proposta é também semelhante à do BE de há alguns anos, quando se discutiu a última grande reforma na SS. E a argumentação do BE era em tudo semelhante. Era necessário baixar a TSU para não penalizar o factor trabalho. É fácil ir buscar passagens de textos da época onde isto é facilmente explicado. A ideia é bastante simples e nem consigo perceber como discordar dela: ao se taxar directamente os salários, ainda por cima de forma tão agressiva, cria-se uma fiscalidade que é pouco amiga do trabalhador. Baixar estes impostos (ou taxas) que incidem directamente sobre o trabalho e substituí-los por impostos com outras incidências é adequado num momento de tanto desemprego.
A proposta do PS pode ser melhorada? Com certeza que sim. Está-se a trocar impostos certos (TSU) por impostos incertos (imposto sobre grandes heranças e TSU sbre rotação de trabalho) e voláteis (IRC). Mas se a ideia de base é correcta vale a pena explorá-la e propor melhorias.
PS Na minha argumentação, estou a referir-me à TSU paga pelas empresas. A redução da TSU paga pelos trabalhadores, à custa de uma futura redução de pensões, corresponde a uma privatização parcial da SS que, concordemos com ela ou não, é surpreendente que venha num documento do PS.
Ora
é isso mesmo Louçã