Como se referiu (aqui) o Governo e o Banco de Portugal têm vindo a tomar numerosas decisões que, em larga medida – mas não só, é certo – visam aumentar o capital do Novo Banco e dessa forma assegurar a privatização com sucesso desse banco.
Qual o resultado dessas diligências?
Foram admitidos à última fase da privatização do Novo Banco cinco candidatos: o Banco Santander Totta, dois grupos chineses (Fosun International e Anbang Insurance Groups) e dois “private-equity” americanos (Apollo Global Management e Cerberus).
Dos 5 candidatos “venha o diabo e escolha”. Não se trata de qualquer crítica ao bom nome ou à respeitabilidade dessas instituições, apenas significando que trazem consigo riscos e condicionalismos que importa ter presentes.
Se for o Santander Totta a adquirir o Novo Banco, a concorrência no mercado nacional diminui substancialmente. O Santander Totta – Novo Banco passa a ser o maior banco no país em termos de activos, com uma quota de mercado próximo dos 30%.
Só tenho conhecimento de um caso,[1] em países desenvolvidos, em que grandes bancos nacionais (i.e.,”too big to fail”) tenham sido vendidos a “private equity”. Porque uma estratégia frequente desses tipos de empresas é, grosso modo, a seguinte: aumentar o endividamento da empresa adquirida e retirar o capital investido, na forma de dividendos, o mais cedo possível; se a empresa conseguir sobreviver à dívida excessiva durante tempo suficiente, óptimo – obtêm-se retornos elevados; se correr mal, deixa-se a empresa ir à falência.
Ora é natural que nenhum regulador bancário goste de ver um banco vendido a um “private equity” porque se este tipo de estratégia é adoptado com um banco e corre mal, são os depositantes que têm de suportar os custos da falência perdendo parte dos seus depósitos. Note-se que o negócio bancário é, já de si, dos mais alavancados (i.e., endividados) que existem. Para quê mais alavancagem financeira?
A Fosun International é um conglomerado com interesses no aço, farmacêutica, mineração, turismo, gestão de activos, etc. que, segundo a Forbes, tem uma capitalização bolsista de 8,15 mil milhões de dólares. De acordo com a Wikipedia, não tem experiência no sector da banca , mas adquiriu 19% de um banco alemão em 2014. Tem realizado compras noutros pontos do globo. Adquiriu recentemente a Caixa Seguros, a Fidelidade e a Espírito Santo Saúde e pretende agora comprar o Novo Banco que a 3 de Agosto de 2014 possuía capitais próprios de 5,6 mil milhões de euros e, entretanto, recebeu os apoios públicos descritos (aqui) com valor de vários milhares de milhões de euros. A Fosun International vai precisar de muito dinheiro para esta aquisição e parecem-me muitas aquisições dispendiosas, num curto espaço de tempo, para um grupo de dimensão média! Como as irá financiar?
O Ambang Insurance Group é um grupo segurador chinês criado há apenas 10 anos. De acordo com a Fortune, é uma companhia seguradora pequena na China, com uma quota de mercado de 3,6%. Em Dezembro de 2013, gastou 2,2 mil milhões de dólares ficando com cerca de 5% do “China Merchants Bank”. Fez notícia e passou a ser conhecida por ter comprado, em Outubro de 2014, um hotel de luxo famoso em Nova York (o Waldorf Astoria) por quase 2 mil milhões de dólares. Comprou também no final do ano passado uma companhia seguradora na Bélgica e ponderou ainda adquirir um banco na Coreia do Sul. O Financial Times dizia que “a obscura” companhia estava num “global shopping spree” e que o modelo de negócio era mais parecido com um “private equity”, acima referido, do que propriamente com uma seguradora.
O Financial Times comparou ainda o grupo Ambang ao Grupo Fosun que, como se sabe, também é candidato à compra do Novo Banco. Segundo o Financial Times, o capital do Ambang Insurance Group seria de cerca de 4,3 mil milhões de euros, ou seja, muito inferior aos capitais próprios do Novo Banco.
Ou seja, as duas companhias chinesas, candidatas à compra do Novo Banco, parecem ter adoptado estratégias de crescimento muito agressivas e arriscadas, realizando compras por todo o mundo, em sectores diferentes. Têm muito pouca experiência na banca a retalho. Poderão ter activos de dimensão algo superior ao Novo Banco, mas parecem ter menos capitais próprios. Acresce que o seu modelo de negócio parece ser de “private equity”, como os candidatos americanos.
Chegados a este ponto, e a confirmarem-se estas informações acerca dos candidatos admitidos, a prudência e o senso comum obrigariam a “parar para pensar”.
Não vejo como, face a estes condicionalismos e elevados riscos, se possa fundamentar a “venda” do Novo Banco.
Mas isso será provavelmente exigir demais a quem quer ter razão a toda a força e a quem não quer perder a face, independentemente das consequências que se me afiguram quase certas de tal decisão…
[1] Em 2003, na sequência da crise asiática de 1997 e do resgate do FMI à Coreia do Sul, o private equity Lone Star adquiriu o Korea Exchange Bank, que é actualmente o 5º maior banco privado da Coreia do Sul, por conseguinte, menor em termos relativos que o Novo Banco. Essa aquisição resultou em processos e muita polémica. O Lone Star acabou por vender o Korea Exchange Bank a um banco coreano pelo dobro do valor que tinha pago, em 2011, mas foi impedido pelas autoridades coreanas de realizar uma venda em 2007 ao HSBC, que lhe teria permitido ganhar muito mais.
Ao passear hoje pelas ruas de Braga, reparei em vários autocolantes verdes espalhados pela cidade, com os seguintes dizeres em destaque: <>
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“Confia as suas poupanças num banco mentiroso?”
Depois, acrescentava a seguinte referência:
“”Novo Banco mantém intenção de pagar papel comercial subscrito pelos clientes de retalho aos seus balcões” – site Novo Banco, janeiro 2015″
E rematava:
“Tenham vergonha! Paguem papel comercial”
Terminando em letras garrafais:
“NOVO BANDO”
(30 Abril houve manifestação dos lesados do BES em Braga)