Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

Francisco Louçã

10 de Dezembro de 2014, 10:13

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O criminoso foi obviamente o mordomo

buttlerNo final de uma das telenovelas mais populares, ficámos até ao último momento na ânsia de saber quem triunfaria, se o Dr. Mundinho se o Coronel Ramiro Bastos.

Nesta outra telenovela a que ontem assistimos a trama é muito mais densa. Começando pelos protagonistas, temos um banqueiro que “se considera um verdadeiro trabalhador”, apesar de “erros de julgamento” como nos submarinos, que só deram um milhão a cada ramo da “família” e um mar de arrelias, temos um Presidente Cavaco Silva atento às recomendações do banqueiro quanto à diplomacia com Angola, temos um Presidente Dos Santos que emite garantias que valem o ouro da sua palavra, temos um Durão Barroso que “dava conselhos” mas “por um montante nada significativo”.

Depois, temos os prejudicados, os “potenciais investidores” que se acotovelavam na antecâmara do governador para mostrarem a cor do dinheiro que queriam pôr no BES, e a PT que “foi uma tristeza”.

Chegamos aos culpados, um administrador angolano que muito “incomodou” os generais accionistas, um contabilista de Miami que terá sido o responsável por gerir a holding e criar o buraco de biliões de euros e que estará por parte incerta, um primo que andaria na solicitação de “contrapartidas”, um governador do Banco de Portugal que não facilitou o empréstimo salvífico. Com todos estes aborrecimentos, “o banco não faliu”, faliram-no. Mesmo assim, com toda a cabala, Ricardo Salgado, ele próprio, num gesto magnânimo e desprendido, devolveu Portugal aos seus donos, todos nós, encerrando o episódio com a grandeza dos aristocratas.

O governador, irritado, reagiu na hora divulgando as cartas que podia ter entregue à Comissão Parlamentar há uma semana, como se tivesse preferido guardá-las a manter-se o verniz. Na verdade, sabedor desde novembro de 2013 da falsificação das contas, as cartas que indicam que negociou a saída de Salgado demonstram também o tempo pusilânime do regulador.

Quer então saber quem é o Mundinho e quem é o Coronel nesta história? Não interessa. Se houve crime, e não me citem como sugerindo que houve tal, é só para supormos, se houve crime, o culpado, como não podia deixar de ser, foi o mordomo.

Comentários

  1. Há qualquer coisa de errado nesta Comissão de Inquérito ao caso BES.
    Se eu deixar a porta de casa aberta sujeito-me a que mais facilmente ela seja assaltada e aí a culpa não é dos ladrões, é minha.
    Não deveria ser antes a classe política a ser questionada com vista ao apuramento de responsabilidades?
    Cabe à classe política nacional e internacional a principal responsabilidade pelos desvarios da Alta Finança que nos conduziram a este caos económico. Foi exclusivamente ela que permitiu estes “buracos”, não regulando convenientemente, permitindo uma conivência desmesurada e sem vergonha entre políticos e grupos financeiros e deixando-se ultrapassar pelo poder económico.
    Querem exigir o quê aos detentores da Alta Finança? Que sejam comedidos na sua ambição? Pura ingenuidade ou incompetência já para não referir sobretudo as relações pouco ou nada transparentes entre a classe política e o poder económico.
    O caso BES não é um caso isolado e nem sequer uma particularidade nacional, é o resultado de uma política internacional propositadamente engendrada principalmente desde o início dos anos 80 do século passado assente nos “Chicago Boys”, “Meninos” defensores do Mercado Livre formados em economia na Escola de Chicago. As suas teorias foram então adoptadas pelas duas figuras mais nefastas da política mundial, nos Estados Unidos por Ronald Reagan, na Inglaterra por Margaret Tatcher, rédea solta à Alta Finança e os resultados estão aí. As teorias de Marx parece não terem servido mas de certeza que as de Milton Friedeman, o guru dos “Chicago Boys”, também não.
    Está na hora dos políticos, aquele resto que ainda pensa a política como causa nobre, pensarem outros caminhos e outras soluções. Suspeito no entanto que já iremos tarde, muito tarde para evitar o descalabro.
    Não quero ouvir o Ricardo Salgado, o primo Ricciardi ou o Pedro Queiroz Pereira, quero é saber o que a classe política pensa fazer para tentar corrigir o que de errado foi erguido, o resto são lantejoulas a decorar o cabaret.

  2. É óbvio que pelo seu discurso tem as costas quentes…diria mesmo muito quentes. Muitos dos que fizeram política nestes últimos anos e arruinaram este país estarão neste momento muito aflitos e vão com certeza safá-lo para se safarem também

  3. aconselho a todos a verem ou reverem o “sim,senhor ministro”.quem escreveu esta serie( em 1979,provavelmente) ou era um visionario…ou sabia perfeitamente como seria portugal(ou a europa) em 2014.e concordo com o francisco louçã: o culpado disto tudo(CDT)…é o mordomo.

    1. Grande série, grandes momentos de televisão, e explicam tudo, como o João Lopes sublinha.

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