Tudo Menos Economia

Por

Bagão Félix, Francisco Louçã e Ricardo Cabral

António Bagão Félix

8 de Dezembro de 2014, 15:41

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Uma pérola: quando o mar bate na rocha, quem se lixa (não) é o mexilhão

Ainda e sempre o mexilhão. Não me refiro ao bivalve agarrado às rochas costeiras temente face aos seus predadores naturais, como por exemplo a estrela-do-mar. Mas à popular asserção de que quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão.

Há dias, o Primeiro-ministro (PM) falou num seminário sobre economia social em Braga, certamente estimulado por uma audiência grata depois de uma revisão do estatuto legal das IPSS em que o Estado entregou, em alguns aspectos, funções de tutela que só a ele deveriam competir. E, na sua intervenção, resolveu fazer doutrina sobre o molusco: “Ao contrário do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (…) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dúvida“.

Certamente tratou-se de um lapso. Ou de uma súbita amnésia. É que ao ouvi-lo lembrei-me, sobretudo, dos mais 600.000 desempregados (e inactivos desencorajados). Lembrei-me do aumento da taxa de pobreza para 19% da população e da taxa de privação material severa para 10,9%. Mas também me lembrei dos pensionistas com pensões acima de 250 euros que não têm aumentos desde 2010 (perda de 8% do valor real) e dos que, além disso, pagaram um imposto exclusivo, a CES. Lembrei-me de funcionários com vencimentos congelados ou diminuídos. Lembrei-me da menor comparticipação nos medicamentos ou da redução de descontos nos transportes públicos para os mais velhos. Lembrei-me do aumento brutal dos impostos sobre o trabalho e da sobretaxa do IRS que transformou a classe média em ricos fiscais (por exemplo, uma matéria colectável de 22.000 euros tem uma taxa marginal de 40,5%!). Lembrei-me do aumento do IMI para a habitação própria. Lembrei-me da diminuição inexplicável dos beneficiários de prestações sociais como o rendimento social de inserção, complemento solidário para idosos e abono de família (a agravar em 2015 – diz-se … por causa do mexilhão – com um tecto ainda por explicar). Lembrei-me da passagem da taxa reduzida (6%) para a taxa normal (23%) do IVA de alguns bens essenciais como a electricidade. Lembrei-me, ainda, de muitas taxas e taxinhas sobre os mexilhões e outros bivalves.

Neste orwelliano “triunfo dos mexilhões”, todos os mexilhões parecem iguais, mas há uns mais iguais do que outros.

É que, neste balanço memorial, não me esqueci da diminuição do IRC e da conta de outros moluscos (que não mexilhão) que se agarraram a certos bancos da costa offshore e que o mexilhão de cá vai pagando.

E embora não pareça,o mexilhão, tal como a ostra, tem a capacidade de produzir pérolas. Como a que o Senhor PM apresentou, com garbo e convicção, em ambiente de economia social, que é como quem diz, de economia de dom!

Comentários

  1. De facto o trajeto de Passos coelho reflete tudo o que ele é de fato! Uma pessoa k diz aquilo no meio das pessoas das Misericórdias ou mão percebe nada de nada , não vê as estatísticas sobre a pobreza, fome infantil desempregados ou pior que isso é um taliban português que Credita no k diz… Aí a situação passará para o foro mental…. grveBem haja Dr Bagão Déliz pela sua lucidez e verticalidade! O Senhor vai para a História o PCoelho n pasa de mais um Xico Esperto topo pusatS deHelicopetros Despesas de Representação e outras habilidades comp cabtarmo Bairro Alto.. Fadi?

    1. O que é que vai na cabeça do dr. Bagão Félix para que, de há uns tempos a esta parte, não pare de malhar neste governo centro/direita? Diga lá, dr. Félix, mas não foi o governo e meio de José Sócrates – o agora engavetado ex-primeiro-ministro por gravíssimos crimes contra a nação, entre eles o de corrupção – que levou o país à bancarrota e nos pôs na situação de pobreza a que acima se refere? Para um católico praticante, não acha que este seu ódio vesgo a Passos Coelho, por meras razões de intrigalhice política, merece-lhe que meta sem delongas a mão na consciência? ^Dê bordoada, isso sim, nessa choldra socialista que nos conduziram a esta situação de descrédito e indigência.

  2. Se eu fizesse exactamente o mesmo que o Dr. Bagão Felix, e tomasse apenas este seu texto, ou uma parte do mesmo, para o definir a si como governante, poderia chegar a conclusões estranhas, como por exemplo julgar que V. Exa. era membro do PCP e não do CDS. Porque o 1º Ministro não estava, com a frase em questão, a fazer o balanço da governação desde 2011 nem das suas causas e consequências, mas apenas a referir-se ao Orçamento para 2015, e ao facto de incluir prestações e impostos que têm melhor em conta os rendimentos, tendo sido reduzidos para quem tem menos. E por isso utilizou a tal frase: o discurso não era sobre os desempregados – ponto em que seria útil não esquecer que, se de facto seu número duplicou desde 2008, já eram nessa altura 433 mil segundo o INE!!!

    1. Respeito a sua posição, mas há um ponto que tenho de referir. Se bem ouvir ou ler a notícia que eu comentei, constatará que o Senhor PM não se estava apenas a referir ao OE 2015, mas a todo este período de crise. Nuca fala do Orçamento para o próximo ano e refere, mais do que uma vez, o tempo do que chamamos ajustamento face à crise.

  3. E quando esta legislatura terminar, e o agora primeiro -ministro voltar para Massamá, para a história só vai ficar o enorme contributo do dito para semântica.

  4. Obrigado pelo comentário Sr. Dr. Bagão Félix.
    É preciso que haja quem diga a esse Senhor que deixe de fazer dos Portugueses um bando de parvos que engolem tudo o que ele, do alto da sua insensatez, teima em proclamar. Caro Dr. Passos Coelho, não basta ter qualquer coisa em cima da cabeça. É preciso, é urgente que, dentro dessa coisa, exista alguma massa cinzenta.
    Por favor, pense um bocadinho antes de dizer o que diz e, sobretudo, procure imaginar que, em Portugal, sempre haverá alguém que tem reais motivos e suficiente capacidade para filtrar aquilo que o Senhor diz.

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