Um editorial veio ontem defender que não se deve fazer nada que perturbe o regular funcionamento da mais importante das instituições, a dívida pública. Discutir muito, sim, desde que o assunto fique resolvido de seguida e tudo fique na mesma, o que é evidentemente também a posição do PSD e CDS. Em contrapartida, alguns comentadores comentaram que a posição do PS sobre a dívida, expressa esta semana com a sua recusa da “renegociação” e da “reestruturação” e, portanto, das propostas do Manifesto dos 74, seria uma desilusão, porque impõe a mesma opção, que Portugal fique onde está (uma viagem para nenhum lado, nos termos do post de ontem). Registo o meu desacordo. Não vejo nenhuma razão para desilusão, como não vi nenhuma para a ilusão.
Ao longo da sua campanha nas primárias, António Costa foi cristalino e não alimentou qualquer dúvida, afirmando que, embora atento às propostas “académicas” sobre a dívida, não pretende propor a sua reestruturação. Pelo contrário, comprometeu-se com as regras do Tratado Orçamental (desejando uma leitura “inteligente”, ao que se pode presumir porque uma leitura “estúpida” é sempre inconveniente) e com o cumprimento da dívida, porque, explicou, o problema português deve ser resolvido de outra forma que não a reestruturação. A reportagem do PÚBLICO acerca do seu principal discurso programático registava essa posição:
“Foi aí (na Convenção em Aveiro) que falou nesse ‘novo equilíbrio entre compromissos’, que identificou. Prometeu um Governo ‘batalhador’ na Europa que lutasse por ‘uma nova leitura do Tratado Orçamental’, que permitisse ‘ajustar as metas ao ciclo económico’, e assumiu a batalha para equilibrar a necessidade ‘de cumprir o serviço da dívida e as necessidades de investimento’ da economia. Falou em ‘refocar o quadro financeiro’ europeu, já depois de lembrar que esse embate na Europa não teria de ser feito sozinho, ao referir que já via ‘mudanças’ nos discursos tanto do novo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, como no próprio Conselho Europeu.”
Em bom português, tudo isto, “refocar o quadro financeiro”, “cumprir” a dívida e as “necessidades de investimento”, “novo equilíbrio” e o mais, quer simplesmente dizer pedir mais dinheiro à União Europeia. António Costa chamou a esse novo financiamento o fundo para a recuperação depois da “cirurgia” da austeridade. Com esse fundo poderíamos salvar a economia e pagar a dívida, “refocando o quadro financeiro”, tudo possível com as “mudanças” prenunciadas por Juncker.
Se houvesse quem ainda não percebesse, Rui Tavares explica. Ele entendeu a mensagem e dedica-se agora ao seu proselitismo, porque sabe que “só tendo voz no Conselho de Ministros em Portugal se tem voz no Conselho Europeu, e é aí que a batalha da renegociação terá de ser travada”. Renegociador, está pronto para a batalha, se lhe derem voz no Conselho de Ministros e por aí fora até ao Conselho Europeu. Limpidamente e seguindo António Costa, avisa-nos por isso que há uma forma “inteligente” de renegociar sem reestruturar a dívida:
“há que saber qual é o objetivo da renegociação: o alívio da canga que nos oprime, que pode chegar sob várias formas. Um grande plano de investimentos, um aumento da inflação, um estímulo ao crescimento económico podem ter tanto efeito como um corte nos montantes, a diminuição dos juros ou o alongamento dos prazos – e tão ou mais interessantes do ponto de vista do desenvolvimento económico.”
Um “grande plano de investimentos”, pois claro, porque inflacção é melhor não contar com ela, mas o “estímulo ao crescimento económico”, isso sim, pode ser “tão ou mais interessante do ponto de vista do desenvolvimento económico”. O “grande plano” é um fundo para o investimento, porque com o “desenvolvimento” a dívida cuidará de si própria e a renegociação, com voz em Bruxelas e em S. Bento, ficará feita no concerto entre todos.
Está então tudo pensado. Não é preciso reestruturar, ideia radical que não é apreciada pelos mercados e pela Europa. Mas é preciso pedir um “grande plano” de investimento. Ou seja, uns dinheiros para “aliviar a canga”.
A coisa parece simples. Será? Estou certo de que os proponentes deste “grande plano” fizeram as contas no excel e nunca irão a eleições sem dizerem quanto vai ser preciso, ano a ano, euro a euro. E sem nos dizerem, claro, quem se espera que pague esse fundo. Talvez até nos possam dizer já, porque seria inconcebível que anunciassem este proposta, que sabem que “é tão ou mais interessante” do que a reestruturação da dívida, sem lhe terem feito as contas. Conhecendo o seu profissionalismo, eu por mim estou pronto a acreditar que nunca apareceria em público uma proposta sobre a questão mais importante da nossa vida sem que os autores tivessem detalhado ao mais ínfimo pormenor a política que esperam poder prosseguir. Nunca pediriam a nossa confiança sem estarem prontos a dizer-nos já como é que este “grande plano” se concretiza.
Essa clareza é desejável porque, quando nos projectarem o seu powerpoint com as contas, vai haver quem sugira que isto tem dois problemas. Um, é que a “Europa”, que deveria dar uns dinheirinhos, costuma seguir a senhora Merkel, que não parece dada a essas extravagâncias, e está zangada com os incumpridores. Dois, que isto requer mais ou menos duplicar os fundos estruturais, alguma coisa como uns milhares de milhões de euros por ano, sem condições, só para melhorar o nível de investimento, enquanto a dívida, a canga, continua a ser penosamente suportada.
Mas estou certo de que os “renegociadores”, que têm o “grande plano” que é “tão ou mais interessante”, pensaram em tudo. E que, como rejeitam a proposta de reestruturação da dívida que, essa, tem contas feitas e submetidas ao debate público, mostrarão como a sua alternativa é consistente e bem “mais interessante”: quanto é preciso, quem paga, quando paga e, finalmente, como esse investimento recupera a economia e permite respeitar a “canga” da dívida. Se não for pelos eleitores portugueses, que seja pela Europa, porque ela não costuma dar uns dinheirinhos sem ver essas contas e não consta que tenha sido muito generosa ultimamente.
Penso que tem razão no que toca a renegociacão da dívida, mas sejamos realistas; Se o principal partido da oposicão, hoje, declarasse que o seu principal objectivo seria a renegociacão da dívida (Não pagar a quantia estipulada ou modificacão dos prazos de juro para se extenderem por muitos mais anos) a consequência imediata e directa seria o aumento do prémio a pagar pela emissão de divida pública. Ora com o peso da divida actual, muito antes do limite de 7% da divida a 10 anos estariamos outra vez sob um “programa de intervencão externa”. Ou discorda deste ponto? Agências de rating e afins iam punir ainda mais a nossa classificacão e afastar investimento. Teriamos então que voltar á conversa de sempre:1) Sair do Euro (sem um programa de assistência as consequências seriam no mínimo dramáticas).2)Fazer um default unilateral da dívida (Argentina…décadas à procura de financiamento a não ser que houvesse assistência dos nossos “parceiros” Europeus). Ambas as opcões também necessitariam de “assistência” dos nossos “parceiros”. Entenda-se que eu estou completamente de acordo com a hipócrisia das propostas agora apresentadas e triste com a situacão em que nos encontramos mas parece-me no minimo ótimista pensar que assumir publicamente que vamos persequir uma regociacão da divida iria resolver alguma coisa. Acredito que no entanto vamos, de uma maneira ou de outra, acabar por não pagar a totalidade do capital que agora nos é exigido.
A idade contemporânea (2ª idade média) vai ficar para a história como o período de maior atraso e estupidez da humanidade. Senão vejamos, na primeira idade média a população tinha de pagar aos parasitas da nobreza pela terra do planeta. Os parasitas da nobreza jogavam à guerra entre eles, e quem ganhasse colocava a população a servi-los e a ter de pagar rendas pela terra do planeta. Diziam os boçais que havia uma dívida da população pela terra do planeta, a pagar à nobreza. A população tinha de pagar à nobreza pela terra do planeta. A primeira idade média ficou bem servida de analfabetismo e estupidez.
Esta segunda idade média aparecem os feirantes com os mesmos objectivos da anterior nobreza bélica: abusar. A nobreza feirante afirma que a população deve pagar o nada de que é feito o dinheiro que eles emitem. O dinheiro é feito do nada, ou nem sequer é feito (fazem directamente dívida a partir do nada), e depois afirmam que a população tem de pagar a dívida por esse nada que é feito o dinheiro… enfim, é o mesmo atraso e analfabetismo mas numa escala muito maior, porque as terras do planeta são finitas, mas o nada é infinito, por isso a dívida aos feirantes pode ser infinita (e vigora enquanto os analfabetos acederem à estupidez de pagar esse nada).
A segunda idade média é igual à primeira, a nobreza joga ao mercado entre eles, e quem ganhar coloca a população a pagar o nada que eles quantificam como dinheiro. Portanto se antes pagavam pela terra do planeta aos parasitas, hoje melhoraram o sistema e a população paga directamente pelo nada. A idade contemporânea está muito melhor servida de atraso, analfabetismo e estupidez que a primeira idade das trevas. E o absurdo, é que acreditam mesmo que tem uma dívida para pagar o nada de que é feito o dinheiro da banca e dos investidores.
Para a posterioridade vai ficar esta demonstração de atraso e analfabetismo, deste sistema em que uns emitem dinheiro do nada (ou não emitem dinheiro e emitem logo dívida) e os outros analfabetos acreditam que têm de pagar esse nada.
Como é óbvio a população não deve coisa alguma à banca e aos investidores. É a banca e os investidores que devem mostrar o valor que está por trás do dinheiro que eles emitiram e usaram. E como não há nenhum valor a suportar o dinheiro emitido e usado por eles, para pagar o valor dos bens e serviços entregues pela população, são eles (banca e investidores) quem está em dívida com a população e não o contrário. A dívida, que a população tem para com a nobreza mercantil, é a dívida do ajuste de contas com esses burlões, e paga-se com a criação do estatuto de “indivíduo sem civismo mínimo para ter propriedade”. Nenhum feirante tem civismo mínimo para ter sequer a cidadania e muito menos para ter propriedade. A retirada de cidadania a abusadores e burlões (feirantes) é um acto de economia elementar.
No entanto isso só aconteceria se houvesse um conhecimento mínimo de economia, o que não é o caso. A universidade, para manter a tradição de analfabetismo e atraso, não faz a mínima ideia do que é economia hoje, tal como não fazia a mínima ideia do que era física na primeira idade média. E tal como o analfabetismo não a inibiu de inventar e divulgar todos os tratados de analfabetismo, sobre humores e vontades divinas, na primeira idade média, hoje o analfabetismo em economia não a inibe de inventar e divulgar os imensos tratados de analfabetismo económico que podemos observar nos seus canhanhos.
E para atestar esse analfabetismo nada melhor que uma pergunta simples de diagnóstico de conhecimentos elementares. Caro Louçã, proponho-lhe o desafio, para si ou para qualquer indivíduo da universidade e respectivos canhanhos de analfabetismo, de responder à simples questão: qual é o efeito do mercado numa economia?
quem
enfim
resumindo e concluindo
o que está a dizer é que o poder nao é um local, mas um vector
as hostes autoctones preferem vectorizar-se com a europa e outros tantos
eu por mim
2x – saiu-lhe o jackpot professor
inflacção
nao tras nada encravado com ela – ou é só um problema ortografico