F, de Fé
Há a fé que leva à guerra em Archives, de Arkadi Zaides, a fé que questiona futuro dos homens, em Huis, de Josse de Pauw, e o desejo de fé, de crença, em Orlando ou l’impatience, de Olivier Py. Três exemplos numa cidade onde cada lugar tem nome de santo, de ordem religiosa ou de presença espiritual. Mas a fé, e o modo como ela é expressa, cria reacções diferentes. Blasfémia, gritou-se numa das apresentações de Huis, como se o pensamento fosse, por si só, uma reza interdita. Fica-se a pensar se só a fé enraivecida tem lugar no teatro contemporâneo. E a generosidade das almas?
P de palmas
Há dois tipos de aplausos em Avignon. Ao atraso no início dos espectáculos responde-se com impacientes palmadas secas, breves, ocas, como quem chama a atenção. Às vezes passaram apenas cinco minutos, outras vezes nem isso. No fim, se o entusiasmo for muito e a plateia estiver de acordo, há uma espécie de organização silenciosa que origina uma salva em uníssono. Não conheço mais nenhum outro país onde isto aconteça.
X de xenofobia
Comenta-se em surdina porque não se quer acreditar mas os efeitos do voto expressivo na Frente Nacional (ou serão antes as razões que levaram ao voto) começam a ser evidentes numa cidade que depende de turistas e de estrangeiros para viver. Há quem ouça que se tem que habituar ao país onde está por não aceitar as informações vagas que alguns serviços prestam, há quem veja ser recusado atendimento por não falar francês, há restaurantes que fazem esperar, apesar das meias vazias, clientes por serem árabes. Numa cidade que vive de um princípio de partilha é um sentimento bizarro este o de ver avançar um perigoso descontentamento para com os estrangeiros.