A Frente Nacional foi derrotada na urnas. A ameaça de anulação do festival, para já, está suspensa, após um primeiro dia cancelado. A eliminação da selecção francesa do Mundial de futebol permitiu que os jogos deixassem de competir com os espectáculos. O mistral, o vento que assola a região e, diz-se, enlouquece as mulheres, acalmou. Mas a chuva, oh a chuva, a chuva, essa, ninguém a controla. E, por isso, Avignon, contra todas as expectativas, está suspenso. Mais de um terço dos espectáculos do festival acontecem ao ar livre. E os dois palcos principais, a Cour d’Honneur e a Carrére de Boulbon, são míticos precisamente por isso, por desafiarem as intempéries e apresentarem espectáculos para duas mil pessoas mesmo quando o céu ameaça cair em cima do palco. Depois há todos os claustros de todos os mosteiros e conventos onde os espectáculos se realizam: o dos Celestinos, o das Carmelitas, o Liceu de São José. Até o bar do festival é perturbado. Tudo cancelado. Ontem a estreia de Lied Ballet, do coreógrafo Thomas Lebrun (um mix de Icosahedron, de Tânia Carvalho, Quintette Cercle, de Boris Charmatz, e Tragédie, de Olivier Dubois), teve em risco de não acontecer depois das trombas de água que começaram a cair a partir das 21h. O Príncipe de Hamburgo, espectáculo para a Courd d’Honneur, encenado por Giorgio Barberi Corsetti foi interrompido a uma hora do fim. Esta manhã, 7 de Julho, o palco do Jardim da Virgem do Liceu de São José (os nomes dos espaços em Avignon são pura poesia) ficou destruído e a régie técnica inundada, adiando assim a abertura dos projectos Sujet a Vif, apostas inusitadas de dança, feitas por convite pelo festival e a SACD, a sociedade de direitos de autor.
Mais logo há a estreia de Mahrabahta, encenação japonesa assinada por Satoshi Miyagi, do poema épico indiano, no mítico espaço descoberto por Peter Brook em 1985 para a mesma peça, a Carrére de Boulbon. Talvez.