Às três da tarde de sexta-feira, 4 de Julho, Avignon parecia ainda não ter acordado da festa do ano passado. Nas ruas ouvia-se o arrastar das malas de viagem que pisavam cartazes molhados pela chuva, muitos deles que pareciam ter ali ficado um ano. O céu pesado, a brutalidade das paredes, o silêncio nas ruas – apenas cortado por entusiasmos vindos dos cafés, horas antes do jogo França-Alemanha – pareciam recusar a ideia de que, sexta-feira, 4 de Julho, é dia de abertura do 68º Festival de Avignon.
Uma hora depois, vários grupos de pessoas foram surgindo para se juntarem à marcha silenciosa que percorreria ruas que, habitualmente, estariam invadidas de actores vestidos como se não houvesse paredes nos seus teatros e os palcos pudessem estender-se até onde ainda houver um potencial espectador.
Uma manifestação silenciosa, contra o acordo de 22 de Março, feita sob protesto quando, normalmente, a parada que pré-anuncia o festival Off (que começa este sábado) é feita de um ruído festivo, convidativo, quase excêntrico.
A essa hora já o serviço de imprensa se desdobrava a avisar que as duas estreias da noite tinham sido anuladas: O príncipe de Hamburgo, de Kleist, encenada por Giorgio Barberi Corsetti, na Cour d’Honneur, e Coup Fatal, de Alain Platel e Fabrizio Cassol, com bailarinos congoleses.
Olivier Py, o director, veio dizer que se perderam 29 mil euros por força da devolução dos bilhetes, ao mesmo tempo que se mantém solidário com o movimento, mas contra a greve a anulação. Os manifestantes consideram a ministra da cultura persona non grata em Avignon e ninguém arrisca o que poderá acontecer se Aurelie Filippetti descer, como descem sempre os ministros da cultura, para visitar o festival, normalmente no fim de semana de 14 de Julho.
Há nova acção prevista para dia 12. O off vai para já esta segunda-feira, 7. A noite foi ocupada com a desilusão do jogo que afastou a França do Mundial de Futebol. Em Avignon deixou de chover mas o céu não deixa de estar pesado por causa disso.