Estreado em 1963 o filme 8 1/2, de Federico Fellini, foi, como explica hoje Francisco Valente no PÚBLICO, um choque cinematográfico. Ainda ninguém tinha questionado directamente o cinema de autor desta forma. Os ecos do filme ainda hoje se sentem, diz o artigo, por exemplo no modo como integramos a visão de Quentin Tarantino sobre o cinema. Mas em 1982 essa influência foi levada ainda mais longe. Estreava, em Nova Iorque, um musical, intitulado Nine, que adaptava o filme para palco, recriando algumas cenas e introduzindo uma partitura que explorava as dúvidas e as ligações apenas intuídas pelo guião de Fellini. Vencedor de 5 Tony, o musical foi um sucesso no início de uma época em que a própria sensação de perda de imaginação estava a fragilizar a economia da Broadway. Anos mais tarde Rob Marshall, o mesmo que adaptou Chicago para o cinema (outro exemplo daquilo em que na academia se chama genética teatral, por ter começado como uma notícia de jornal, passado a peça de teatro, transformando em musical e adaptando para filme), levou Nine para o cinema, procurando fazer com que Daniel Day-Lewis fosse o Fellini que Marcelo Mastroianni interpretara em 8 1/2. O filme foi um fracasso de crítica e público.
Eis três excertos que mostram como uma mesma ideia pode ser adaptada de diferentes formas. A prostituta Saraghina e as memórias de infância de Guido.
No filme de Fellini (1963)
Na encenação do musical Nine (1982)
No filme Nine (2009)