Catabrisa estreou em Fevereiro no teatro Maria Matos, em Lisboa, e amanhã, na aldeia de Lapa do Lobo, no concelho de Nelas, distrito de Viseu, celebra a sua 91ª apresentação. Co-produzida pela Fundação Lapa do Lobo, um projecto secreto que tem na dinamização da região o seu maior fito, a peça, construída por Joana Providência (coreografia), Manuel Cruz (música) e Gémeo Luís (cenário, figurino e objectos), a partir do livro Catavento que o ilustrador assinou com Eugénio Roda (Edições Eterogémeas) é uma surpresa. Interpretado por Filipe Caldeira, é um exercício de precisão coreográfica, entre a dança, o circo e o teatro que nos deixa rendidos desde o início. O modo como os diferentes autores foram combinando as suas linguagem, mergulhando os espectadores (a peça é para idades compreendidas entre os 6 e os 10, mas merece ser vista por todos) num mundo onde há palavras que não se encontram, há segredos dentro da própria casa e surpresas que fazem crescer quem vive essa aventura de um dia espreitar pela janela e descobrir um mundo ainda maior, transforma por completo a nossa noção de construção progressiva de um olhar. Porque é o vento é o maior protagonista desta peça, os objectos de Gémeo Luís, os sons de Manuel Cruz e os movimentos desenhados por Joana Providência, surgem aqui como modos de o materializar, operando numa complementaridade imaginativa e nunca territorial, dando ao texto de Roda modos de evoluir no que seria apenas intuição e sugestão.
Muitas vezes as peças infantis parecem esquecer o público para quem se dirigem, a sua inteligência e a sua sagacidade. Aqui, num texto de uma poética hipnotizante, as palavras de Eugénio Roda encontram e preenchem as formas bidimensionais de Gémeo Luís e revelam modos de narrar e imaginar desafiantes. A surpresa é tanto maior quanto nos damos conta da complexidade do movimento, da música e da cenografia, elementos que, combinados, constroem um trabalho de delicada forma.
O espectáculo resulta de uma encomenda do Maria Matos e foi co-produzido pelo Centro Cultural Vila Flor, Cine-teatro Joaquim D’Almeida, Comédias do Minho, Companhia Instável, Fundação Lapa do Lobo, Fundação Casa da Música.