Não se espera que dure mas, no entanto, é exactamente isso que acontece. E acontece, precisamente, através de uma complexa narrativa de corpos, anonimamente espalhados pelo palco, que não fazem muito mais do que andar. A capacidade de acrescentar camadas de movimento e a habilidade com que lida com as expectativas criadas por esse mesmo gesto, faz de Tragédie, de Olivier Dubois, uma imensa fractura no discurso sobre a dança dita não-coreográfica. As possibilidades abertas pela imensa liberdade que Dubois consegue dar aos seus extraordinários 18 bailarinos, no interior de uma coreografia estrita, é a chave para lidar com um discurso sobre o potencial da dança como a mais complexa e indefinível das artes. Não será certamente novo. Maguy Marin e Anne Teresa de Keersmaeker já o fizeram antes, e é inclusivamente possível antever, em alguns movimentos, certas linhas rizomáticas que foram desenhadas por Maurice Béjart. Mas o que Olivier Dubois faz é outra coisa. É um impressionante retrato de um corpo que desaparece à nossa frente, que se decompõe pelos seus próprios erros e que é capaz, através desse processo de apagamento, de lidar com o niilismo que Nietszche defendeu (e que, precisamente, usou a dança para o provar).