A Ballet Story, de Victor Hugo Pontes

fotografia José Peixoto

“A Ballet Story, de Victor Hugo Pontes, é uma grande peça logo desde os primeiros momentos, marcando de forma indelével o ano e transformando-se no primeiro grande momento coreográfico de 2012. Um corpo deitado numa plataforma ondulada (recuperação adequadíssima do belíssimo cenário de F. Ribeiro, feito para As Três Irmãs, de Nuno Cardoso, que parece suspensa, aguarda que a música invada um espaço sem fronteiras e delimitações.

O corpo do bailarino parece abandonado, e irá parecê-lo muitas vezes, mal disfarçando uma força e uma energia que lhe irá servir, ao longo do tempo, para, com outros corpos, hesitarem numa reacção em massa ou individual a uma composição musical exigente, violenta, por vezes esgotante.

Será assim até que os bailarinos desistam de lutar contra a música e recusem, por fim, a pressão que era exercida por uma composição que os manietava.

O diálogo que se vai estabelecendo em palco entre a Fundação Orquestra Estúdio, conduzida por Rui Massena, e o extraordinário elenco de bailarinos – convém fixar-lhes o nome: André Mendes, Elisabete Magalhães, Joana Castro, João Dias, Ricardo Pereira, Valter Fernandes e Vitor Kpez -, oferece-se como um notável exercício de desmontagem do próprio movimento, sugerindo uma coreografia feita a partir da resistência, da exaustão e da superação de difi culdades criadas pela natural execução do movimento. Como se fosse um grande braço-de-ferro entre movimento e música, como se fosse afinal uma continuação de toda a base da dança clássica. A Ballet Story mostra Victor Hugo Pontes a reagir à partitura de David Chesky, recusando a narrativa onírica e a linearidade limitativa pretendida pelo compositor e jogando, a partir da ideia de corpo de baile do bailado clássico, com as ideias de indivíduo e comunidade. Ou seja, oferecendo os corpos dos bailarinos em sacrifício, trabalha as ideias de diferença e norma numa coreografi a feita de movimentos que demoram a instalar-se, num gesto de mutação que os vai ampliando, revelando as diferentes camadas que os compõem e que poderão ser usadas como factor de resiliência, gerida a partir da força anímica e filigrânica do movimento em uníssono.”

 A peça apresenta-se nos dias 28 e 29 de Setembro no Maria Matos, em Lisboa

excerto da crítica publicada a 15 de Fevereiro 2012 no Público

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