O actor Frank Vercruyssen fala assim do drama moral que ocupa Mademoiselle Else, a novela de Arthur Schnitzler, escrita em 1924, que nesta sexta-feira o colectivo flamengo TgStan apresenta em estreia mundial (23h30, São Luiz).Apenas dois actores, Vercruyssen, que faz todas as personagens que pedem, vêem, e querem de Else (Alma Palácios) soluções, coisas, a alma e o corpo. Entre eles Von Dorsday (Vercruyssen) o homem para o qual a mãe a empurra porque um dia ajudou o pai de Else, mas que, para o fazer de novo, a quer ver nua.
Esta rede, aracnídea, permite que a universalidade do texto exista. O actor fala da “grande aventura da palavra” como “a grande aventura da imaginação”: “Há um trabalho sobre o próprio corpo da actriz que está a narrar a história, como se desse vida aos seus pensamentos, e fosse criando uma relação com um outro actor, e ao mesmo tempo, com os espectadores, que, individualmente, se vão aproximando dela, e da sua própria personagem”.
Os pensamentos de Else sobre o que a rodeia, “um monólogo interior”, como lhe chama a companhia, são já, explica, um exercício de desmontagem da convencionalidade teatral: “Ela, ao falar para si, está a falar directamente para o espectador”. Este jogo, tão caro ao TgStan, permite que a companhia prolongue o diálogo que há anos vem tendo com o “seu” público (em Portugal são presença regular desde 1997). É um jogo que pede que quem nele participe passe de testemunha a cúmplice. Vercruyssen gosta desta ideia, porque se aproxima dos exercícios de identificação tão caros à psicanálise que Schnitzler fazia operar nos seus textos. “Não é apenas ficção”, diz-nos o actor, lembrando que Schnitzler gostava de ver em Freud um duplo no que respeitava à importância da psicanálise.