Alexandra Prado Coelho foi a Marraquexe conhecer o trabalhod e Bouchra Ouizguen que, amanhã e depois, apresenta no São Luiz o extraordinário Madame Plaxa. Para ler no Ípsilon, hoje:
Um texto da Deutsche Welle sobre o espectáculo, quando este foi apresentado na Alemanha, diz que talvez o mais impressionante seja o facto de “os quatro corpos femininos em palco parecerem tão à vontade uns com os outros que parece quase rude olhar”. Mas diz também que “a confiança, a ternura e o humor partilhados entre elas é algo que não necessita de tradução”.
Nem sempre é assim, conta Bouchra. Houve sítios em que Madame Plaza não funcionou. “Mostrámos o espectáculo em Marrocos, no Mali, nos Estados Unidos, em Itália, na Alemanha. Gosto que as reacções se dividam. Há os que dizem ‘o que é isto? Não é dança’. Pode ser dança para uns e não ser para outros. No Líbano, onde há um grande culto do corpo feminino, um dueto com uma das intérpretes não funcionou de todo. Não estávamos dentro dos padrões de beleza. Mas na Tunísia, no Mali, em Marrocos, houve óptimas reacções.” E, de qualquer forma, para elas “a incompreensão é um motor para criar”. Chega mesmo a ser um ponto de partida para trabalhar.
O que as preocupa – ou melhor, o que preocupa sobretudo Bouchra – são os estereótipos que olhares exteriores insistem em colar-lhes porque são mulheres, marroquinas, árabes, muçulmanas. “Estou-me nas tintas quanto à questão do que é permitido ou não no meu país. Faço o que me parece importante, tento estar o mais próxima possível das coisas que nos tocaram. É excitante ver os possíveis. O campo do ‘não posso fazer isto no meu país’ não é um campo que me interesse.”
Na secção Cultura, do caderno diário, um texto assinado por mim, sobre as peças, em estreia mundial de João Fiadeiro, com Fernanda Eugénio, Secalhardida (hoje e até domingo, Culturgest) e a dupla Sofia Dias e Vítor Roriz, Fora de qualquer presente (hoje e amanhã, CCB):
Para os coreógrafos, que falaram anteontem com o PÚBLICO no fim dos respectivos ensaios, cada um dos espectáculos parte de uma ideia de encontro e de confronto, onde a acção que daí resulta sugere a criação de imagens, físicas, sonoras e, algumas delas, da ordem do imaterial. E onde cada uma das peças procura entender o modo como uma acção, um movimento, pode ocupar um espaço e, nesse espaço, estabelecer a sua própria estratégia de desenvolvimento. Em Secalharidade, Fiadeiro e Eugénio desenvolvem acções jogando com as imagens produzidas pela palavra (escrita, dita, construída), e as imagens sugeridas pela presença de corpos que são, eles mesmos, motores de activação dessas palavras. Em Fora de Qualquer Presente, Sofia Dias e Vítor Roriz ampliam um diálogo em que o movimento e o som se comportam como entes mutantes, mais do que orgânicos, sugerindo uma partitura coreográfica a partir de um encontro forçado entre aquilo a que chamam “corpos estranhos”.