Ciclo Teatro e Música continua na próxima temporada

A programação da temporada 2012/2013 da Fundação Calouste Gulbenkian, conhecida esta semana, inclui a continuidade do ciclo Teatro/Música, feito em parceria com o Teatro Maria Matos. Sob o signo de duplas, junta Anne Teresa de Keersmaeker com Jérôme Bel, Vasco Araújo com André e. Teodósio, Sasha Waltz com Mark André, Jean-Philippe Clarac com Olivier Deloeuil, Luca Aprea com António Lagarto e Josse de Pauw com Jan Kuijen.

O ciclo abre com 3Abshied, a peça que junta Anne Teresa de Keersmaeker, em mais uma das suas passagens por Lisboa como Artista na Cidade, a Jérôme Bel. Dias 15 e 16 de Novembro, no grande auditório da Gulbenkian, vamos poder ver a coreógrafa belga morrer enquanto tenta compreender, cantar e dançar a parte final e A Canção da Terra, de Mahler.

O espectáculo, que vimos em Paris em 2010, partiu de uma ideia de Keersmaeker, conhecida pela sua relação próxima com o trabalho de compositores como Mozart (Mozart Concert Árias, 1993), Bartók, Beethoven, Schönberg (Soirée Repertoire, 2007), Berg, Wagner (Woud, 1997) e Steve Reich (Fase, 1982), bem como pela encenação de óperas. Na altura escrevi: “A intenção era a de coreografar o poema, prosseguindo uma série de inversões que nos últimos anos tem feito da sua obra a solo um contraponto, quase bipolar, da sua obra coral. Mas a ideia caiu por terra quando o maestro Daniel Barenboim, que Keersmaeker queria a dirigir a obra, lhe disse que era absurda. “Vocês na dança estragam sempre tudo. Esteja quieta. Vá lá para o Mozart que isso você sabe fazer”, disse. Keersmaeker conta-nos este episódio no início da peça, fala-nos da sua frustração e da sua vontade em prosseguir e contou-o a Jérôme Bel que logo ali encontrou o motivo para o fazer. E para o fazer sem poupar ninguém. “Resisti imenso ao convite. Mas, depois, como podia recusar a provocação dela?”, pergunta-nos Bel”

O ciclo prossegue com A Africana (5, 7, 12, 14 e 16 Dezembro, Maria Matos), que junta, de novo, o artista plástico Vasco Araújo ao colectivo Cão Solteiro, depois de A Portuguesa, apresentado no ciclo passado. A peça, inspirada em L’Africaine, de Giacomo Meyerbeer, tem arranjos do maestro Nicholas McNair, que conduzirá o Coro Gulbenkian Segundo as notas do programa, esta ópera, feita a partir do libreto de Eugéne Scribe, coloca Vasco da Gama como um navegador que ambiciona um país maravilhoso e a Cão Solteiro e Vasco Araújo a partirem desta vontade “para passar pelo inesgotável discurso de alteridade e do estrangeiro”, como um pretexto para “uma reescrita a pensar nas possibilidades de tais palavras no dia de hoje”..

Vaso Araújo regressará ao ciclo Teatro e Música, assinando, com o encenador André e. Teodósio, mais uma ópera, depois de Metanoite (2007, Estado do Mundo/Gulbenkian), Outro Fim (2008, Culturgest) e Gianni Schinni & Blue Monday (2011, São Carlos).

Emilie, uma co-encomenda da Gulbenkian à compositora finlandesa Kaija Saariaho a partir do libreto do escritor Amin Maalouf, foi escrita em 2008 e estreou na òpera de Lyon, em França, em 2010. Apresenta-se dias 17 e 18 na Gulbenkian e conta a história de Emile du Châtelet, “à beira de embarcar na última das suas viagens. Pressentindo a morte, faz contas à vida, lembra os amores, os medos, os arrependimentos e as culpas, ao mesmo tempo que passa para livro a forma como gostaria de ser recordada”, resume o programa daquela que será a 4ª encenação para ópera de André e. Teodósio, depois de . Emilie du Châtelet será interpretada pela soprano Barbara Hannigan, que ocupará o papel de Karita Mattila, a sua primeira intérprete e a quem a ópera é dedicada.

Fevereiro vê chegar a coreógrafa alemã Sasha Waltz , que trará Gefaltet (10 Fevereiro, Grande Auditório Gulbenkian), um concerto coreográfico co-assinado com Mark André, a partir de música do próprio compositor e de Mozart. Estreado em Janeiro em Salzburgo de 2012, a peça, explica Sasha Waltz, “visa experimentar a noção de interstícios entre as “falhas” da música e os espaços entre as notas”. Para o compositor francês, Gefaltet trabalha a partir de temas existenciais, talvez mesmo metafísicos”, onde a flexibilidade surge como “resposta ao impulso”.

Ainda em Fevereiro, dias 21 e 22, o grande auditório da Gulbenkian recebe a ópera Le Martyre de Saint Sébastien, a partir da música de Debussy e do texto de Gabriele D’Annunzio, e inspirado. A encenação de Jean-Philippe Clarac e Olivier Deloeuil, estreada em janeiro deste ano, inspira-se no filme Teorema, de Pier Paolo Pasolini e “adopta as revelações místico-eróticas de uma família burguesa, tocada pela graça de um estranho desconhecido chamado… Sébastien”.

Em Abril, dias 25 e 26, Luca Aprea encena Dido e Eneias, de Purcell, espectáculo com direcção artística do cenógrafo e figurinista António Lagarto, com o Coro Gulbenkian e Os Músicos do Tejo. E é este agrupamento que explica ter escolhido centrar-se “no gosto pelo grotesco e num certo distanciamento irónico face aos deuses e mitos europeus”. No programa junta-se Into The Little Hill, de Georges Benjamin, “uma ópera perturbadora que se tornou numa pedra angular do repertório britânico contemporâneo”.

O ciclo conclui com Les Pendus, colaboração entre o escritor Josse de Pauw e o compositor Jan Kuijen, e “uma homenagem ao pensamento crítico e à liberdade de expressão. Les Pendus (Os Enforcados), explica o programa, fala de pessoas que “reivindicaram a liberdade e muitas vezes morreram por ela”.

Os bilhetes, fora assinaturas, começam a ser vendidos a 2 de Julho, por correspondência, e a partir de 29 do mesmo mês pela Internet. No local só a partir de 3 de Setembro.

Deixar um comentário

O seu email nunca será publicado ou partilhado.Os campos obrigatórios estão assinalados *

Podes usar estas tags e atributos de HTML:
<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>