Hoje no PÚBLICO

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Samuel Silva escreve no IPSILON sobre a nova peça do Teatro Oficina Cidade Domingo, escrita por Jacinto Lucas Pires e encenação de João Henriques, que estreia hoje na Fábrica ASA, em Guimarães, no âmbito da Capital Europeia da Cultura (apresentações só hoje e amanhã às 22h).

 

Excerto: Cidade Domingo é uma comunidade que estranha, resiste e acabará por reagir violentamente ao Outro. “Há aqui uma reflexão acerca da oposição ao novo, da destruição e de um certo remorso da negação da oportunidade de mudar”, destaca Henriques. E isto tem mais peso quando acontece numa comunidade concentrada nos seus hábitos. Nas idas ao café ao domingo, nos pedidos feitos repetidamente ao balcão e nos seus papéis acomodados: o presidente da câmara e a sua esposa, o advogado local que é o principal opositor político, um casal de classe média e o dono do café.

Por isso, o encenador começa por dizer que esta “podia ser qualquer cidade, nacional ou internacional”. Mas logo repara o discurso. Talvez Cidade Domingo não acontecesse numa grande urbe. Porque o que aqui vemos é uma comunidade “com um cariz fechado, que se encerra em si própria e nos seus hábitos e nos seus vícios” e onde, portanto, é muito mais complicada a aceitação da diferença. Não é uma cidade permeável ao novo. Será, pois, uma cidade mais pequena, não num sentido territorial, mas do seu comportamento social.

No ÍPSILON, Tiago Bartolomeu Costa escreve sobre Thanks to my eyes, de Jöel Pommerat e Oscar Bianchi, que hoje e domingo se apresenta no Teatro Maria Matos.

Excerto: Olhamos para o palco à procura da realidade e o que vemos, por entre o nevoeiro asfixiante, é a “montanha onde se passará a acção”. “Uma casa alta e isolada”. Será de noite, mas o nevoeiro cobre o palco de um brilho hipnotizante que não mais o abandonará. O mal toma diversas formas e o nevoeiro esconde-o. Às primeiras frases, ditas por figuras que não distinguimos, sente-se uma gravidade que afligirá permanentemente os corpos aparentemente abandonados à sua sorte; comunicam a partir de uma tensão que é, primeiro, interior e, depois, de oposição ao outro. As personagens vivem num estado de permanente fragilidade, prestes a quebrar. Oscar Bianchi, o compositor, diz que vivem “entre a mitologia e a ruptura”. Não serão personagens, serão arquétipos. “Representações”, diz Pommerat, antes de uma longa pausa. E depois corrige: “Chaves, são chaves”. Mas para quê? “Aymar, um rapaz novo. O seu pai, um cómico reconhecido. A sua mãe, uma mulher muito velha. Uma jovem mulher, a noite (quase não vemos o seu rosto). Uma jovem mulher loura. Um homem de cabelos longos que passa em frente à casa”. Bianchi diz que a “dimensão mitológica das personagens, da qual não se consegue escapar, quase que nos provoca e obriga a testar os limites da sua materialização”. E que tendo a palavra, no teatro de Pommerat, “uma importância capital, o impacto simbólico das palavras e da estrutura das frases interfere não apenas com o corpo das personagens, mas também com a própria dramaturgia criada em torno delas”.

 No caderno principal, um comentário de Tiago Bartolomeu Costa sobre a entrega do prémio União Latina a Olga Roriz

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