Bárbara Reis, directora
No Verão de 2011, criámos o Público Mais, um fundo para fazer mais e melhor jornalismo. Sete empresas com perfil filantrópico acreditaram no projecto e, de forma desinteressada, contribuíram para a sua construção: Banco Espírito Santo, EDP, Galp, Mota-Engil, REN, Banco Santander Totta e Vodafone.
Este é um projecto inovador, inédito em Portugal. Passados estes primeiros 12 meses, fazemos um balanço inequívoco: com o Público Mais, o PÚBLICO foi um jornal melhor. E, por isso, foi um sucesso.
Comprometemo-nos com os leitores e os mecenas a investir em quatro áreas – Reportagem, Ciência/Ambiente, Cultura e Multimédia. Fomos identificando as questões centrais do nosso tempo e concentrámos aí os nossos esforços e o capital do fundo. Fizemo-lo com critério e rigor. E seguimos o princípio sempre presente na redacção do PÚBLICO: a vontade de conhecer mais, mais perto e mais fundo. Uma vontade que não é só nossa. É também dos leitores.
Vivemos tempos de crise, difíceis para todos e também para os jornais. Por isso foi tão importante a criação de um fundo como o Público Mais, que permite ir além do obrigatório e expectável, além das agendas comuns e previsíveis, além da rotina. Em plena austeridade, demos aos leitores do PÚBLICO mais e melhor para ler.
Estreámos o Público Mais com uma série de reportagens sobre Goa. Cinquenta anos depois da saída das forças portuguesas, fomos à procura da identidade goesa e, pelo caminho, mergulhámos em Bombaim, a maior cidade indiana, espelho da nova e pujante classe média.
Nas grandes reportagens, percorremos 3000 quilómetros de barco através da Amazónia, onde descobrimos pessoas corajosas como um jornalista que faz um jornal sozinho e que vive rodeado por 40 mil livros, processos judiciais e ameaças de morte. Em Março, fomos ao fim do mundo, literalmente: passámos dez dias na Antárctida com os cientistas do Programa Polar Português que estudam os pinguins, a forma como as alterações climáticas afectam a sua dieta, a adaptação dos peixes antárcticos ao frio e muito mais – e que passaram horas e horas a escavar um buraco no gelo à procura do solo que nunca descongela. Acabámos por conhecer também as pessoas que se “apaixonaram pelo Inverno”, como diz uma famosa canção chilena, e vivem no continente branco durante todo o ano.
Na área do Ambiente, fizemos uma grande radiografia à poluição do rio Tejo, resultado de uma longa investigação em todo o seu estuário. Este Verão, acompanhámos no Rio de Janeiro as negociações para o documento que definiu os novos princípios mundiais para o desenvolvimento sustentável, aprovado na conferência Rio+20 das Nações Unidas.
Nos grandes temas da actualidade, fomos à Grécia em plena crise e cobrimos as eleições russas. Ao longo de meses, acompanhámos a queda de Mubarak e de Khadafi. Com esse trabalho, “Diário da Primavera Árabe”, o jornalistaPaulo Mouraganhou o Prémio Gazeta 2011 na categoria Imprensa. Estivemos em Londres a ouvir os indignados britânicos e os portugueses que trabalham na City e descobrimos que têm afinal algumas ideias em comum para resolver a crise.
Na Cultura, fomos a Madrid perceber melhor a história de como um pedido do Louvre desencadeou uma investigação e um restauro com resultados surpreendentes – a cópia mais antiga de Mona Lisa, pintada ao mesmo tempo que a de Leonardo da Vinci, estava há anos – serenamente anónima – pendurada nas paredes do Museu do Prado. Assistimos ao Festival de Avignon, o mais importante do mundo, onde são estreados muitos dos espectáculos que a seguir enchem as principais salas internacionais. Percorremos os campos ingleses seguindo os passos do escritor de culto W.G. Sebald nos dez anos da sua morte. E pedimos ao escritorRui Cardoso Martins, que em 2010 recebeu o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, que escrevesse um conto sobre a história do mundo na última década a propósito dos dez anos dos atentados do 11 de Setembro. Para o site, num ambicioso projecto multimédia, fomos a Nova Iorque ouvir os sobreviventes do atentado e perceber o impacto que o ataque terrorista teve nas suas vidas, na América e no mundo. Também graças ao Público Mais, mantemos há um ano uma rubrica fixa sobre História, para a qual têm escrito alguns dos principais historiadores da actualidade.
Estas foram algumas das nossas apostas deste primeiro ano. Agradecemos a confiança dos nossos leitores e o apoio dos nossos novos mecenas.