Onde, como e porquê

Miguel Esteves Cardoso, cronista

Quando eu comecei a escrever em jornais, só havia jornais. Não havia computadores.

Escrevia numa máquina de escrever Olivetti Lettera 22 que o meu pai me ofereceu em 1970, quando comecei a escrever a sério, para mim e para o Rádio Clube.

Hoje continuo a escrever em casa, no computador menos portátil (embora bastante portátil) que há: um iMac de 27 polegadas.

A parte de escrever não mudou. Ainda há o teclado e o ter de escrever. Cada letra é batida à mão e cada palavra tem de ser imaginada antes de ser escrita. Não há nenhum acréscimo de rapidez ou de qualidade. Os fabricantes da Apple sabem que ainda precisamos de ouvir o barulho dos dedos a bater em cima das teclas.

O que mudou e o que mudou, ultra-parafraseando Yeats, terrivelmente foi a maneira de ler não tanto os jornais como o PÚBLICO.

Posso ler o PÚBLICO em papel, esperando que abra o quiosque. Posso lê-lo em pdf online ou impresso em casa, logo às quatro da manhã. Posso lê-lo no Kindle, depois de ter aparecido a versão impressa nas bancas (uma boa ideia), cerca das seis da manhã. Ou posso lê-lo no computador ou no iPhone (na versão grátis ou parcamente paga), conforme eu quiser.

É essa a diferença: sou eu que decido. Tenho sempre uma riqueza de escolha. Na versão mais perfeita, tenho o PÚBLICO impresso, o iPhone ao lado e o computador de trabalho. Escolho como quero ler.

Haverá maior liberdade; maior prazer no escolher o que se quer?
Não sei.

Sim, sei. Não há.

Miguel Esteves Cardoso, escritor e cronista do PÚBLICO (foto: Nuno Ferreira Santos)

2 comentários a Onde, como e porquê

  1. desculpe a minha ousadia em escrever, mas tenho dado volta a tudo, e tambem não percebo muito de computadores, mas agora consegui entrar aqui e vou tentar que a minha mensagem siga. Por duas vezes li o que escreveu sobre a nossa Maria João, e chorei, chorei muito. Digo “nossa”, porque a Maria João que conheci, é um poço de ternura, de amor e pertence um pouquinho a cada um de nós. Eu sou só a mãe da MARTA FRAGOSO, uma aluna da Crinabel que vivia em Stº Antonio dos Cavalº, e que foi aluna dela. A minha filha é deficiente, eu sou uma pessoa humilde, mas onde quer que nos encontrassemos, fazia-nos adeus, mandava-nos beijinhos, e sobretudo dava-nos aquele sorriso maravilhoso que nos fazia sentir “pessoas”. Gostava de saber como vai a nossa Maria João, e dizer-lhe que embora se diga que vozes de burro não chegam ao ceu, eu tenho rezado muito para que se cure. Fui a Fátima, porque apesar de Deus não ter sido generoso com a minha Marta, eu continuo a pedir à Sua Mãe que ajude a minha Filha, pelo menos que a deixe ser feliz, e pedi, pedi muito a Ela que é MÃE, que não nos tire esta Filha, de quem todos gostamos muito. Obrigado Maria João, por ter sido amiga da Martinha, obrigado pelos sorrisos que me deu, obrigado por existir. Teresa Almeida

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