Jornalismo que perdura

Victor Oliveira Ferreira, editor do PÚBLICO online

(Foto: Pedro Maia)

A 20 de Dezembro de 2010 foi publicado um artigo, do jornalista Luís Francisco, cujo título era “Sono – os mais inteligentes deitam-se tarde”.  Passou entretanto um ano, três meses e três dias (ou 459 dias), o suplemento P2 que publicou esse artigo já não existe, mas o dito cujo continua sendo um dos mais lidos no site do PÚBLICO.

Graças à partilha online, o artigo ressuscitou muito depois de ter sido publicado originalmente na edição em papel e na edição online exclusiva para assinantes. O poder de redes sociais como Facebook e Twitter, mas também a referência na blogosfera – onde tudo continua a ser mais perene – mantiveram este artigo longe de cair no esquecimento.

Seria fácil fazer desaparecer o texto em causa dos tops. Bastaria pôr o contador a zero. Além de ser enganosa, essa manipulação seria porém inútil. Um destes dias, o mundo haveria de lembrar-se outra vez daquele artigo e ressuscitá-lo. Foi mais ou menos isso o que recentemente aconteceu à redacção do jornal espanhol El País, que se deparou com um texto que ao fim de alguns anos reapareceu como o artigo mais lido. Os editores viram-se mesmo obrigados a introduzir no texto original uma nota para avisar que aquele texto já era antigo.

Esta é uma vertente das preocupações que também se vivem na imprensa portuguesa e no PÚBLICO, e cuja discussão deveria passar mais vezes pelas páginas de jornais ou por espaços como este blogue, que foi pensado como um ponto de encontro e de discussão entre a redacção e os leitores. A outra vertente é, obviamente, o modelo financeiro em que assenta o jornalismo – profissão que sendo filha da criatividade é também filha de uma actividade económica. No panorama português, e quiçá europeu, o PÚBLICO deu, neste último aspecto, um importante exemplo ao mundo, com o projecto PÚBLICO Mais, que se traduz numa forma diferente de financiar trabalhos jornalísticos, sempre com a ambição da excelência e da qualidade jornalística. Há muitos amadores ou freelancers a tentar o crowdfunding, mas não há muitos jornais a experimentar alternativas de financiamento.

Mais facilmente encontramos experiências no plano editorial e da criatividade. Como vamos abordar um tema? Uns escrevem um texto, outros juntam-lhe uma fotogaleria, um vídeo e outros fazem tudo isso e ainda mandam chamar os infográficos. A parafernália às vezes é tão grande que oculta a própria importância do assunto.

Enganam-se aqueles que apressadamente julgaram que a recente mudança gráfica do PÚBLICO em papel se tenha esgotado num novo visual. Isto foi apenas um passo para se perceber o “papel do papel”, um debate que nunca estará fechado porque será preciso ir afinando dia a dia as conclusões a que se chegou. Noutras frentes há questões a serem levantadas, há dúvidas em cima da mesa para o que se segue, que é o de dar sequência às mudanças e levá-las às edições online, tablets e mobile (smartphones).

Para mim, enquanto jornalista, o desafio é como integrar dezenas de milhares de leitores diários neste debate sobre o futuro do jornal que fazemos. Por outras palavras, como é que se faz para ter mais artigos que perdurem na mente dos leitores, como aquele artigo do Luís Francisco de que falei no início? No online, onde o imediatismo é um tirano, de que é feito o jornalismo que perdura?

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