CORREIO LEITORES/PROVEDOR (20.12.2015)

 

 

Homenagem ao Professor Correia de Matos

 

Escreve-me o leitor Hugo M. Reis Silva a lamentar o silêncio do PÚBLICO, porventura inadvertidamente, sobre esta homenagem:

«Este sábado dia 12 de dezembro aconteceu na Fundação Gulbenkian uma elegante e importante homenagem ao Professor Coimbra de Matos, médico psiquiatra e psicanalista, pelo seu eminente contributo para o pensamento psicanalítico e para a psicoterapia. Várias personalidades ilustres, da ciência, política e cultura, estiveram presentes para homenagearem o mestre psicanalista. Escrevo-lhe manifestando-lhe a minha triste surpresa com a negligência editorial deste evento no jornal Público.»

 

Contra o genocídio na Nova Guiné

 

O leitor Carlos Eduardo da Cruz Luna envia-me um longo artigo sobre este drama e pede-me que não ignore o apelo que faz. Não cabe neste meu espaço a publicitação deste artigo. Todavia, vou publicar um extracto, sobretudo, para não ignorar o apelo. Reconheço que o seu artigo merece outro espaço.

 

«Vivemos numa época de contradições. As informações circulam a uma velocidade estonteante. Nada parece passível de ser escondido. A toda a hora surgem vagas de indignação contra atentados as Direitos Humanos. Manifestações. Vigílias.

O terrorismo islâmico, então, está na ordem do dia. Os massacres insanos entram na casa de cada um, pela televisão e pela “internet” (basta um “clique”). É verdade que a opinião pública tende a valorizar mais a ações de terror na Europa ou no Estado Unidos do que em África ou na Ásia, por exemplo. Os sofrimentos dos curdos do Médio Oriente ou dos africanos do Ruanda e do Burundi dizem pouco aos europeus. A 2 000 vítimas do fundamentalismo na Nigéria nestes meados de novembro de 2015 têm apenas um pequeno impacto. Mesmo assim, lá vão sendo notícia.

Menos sorte têm outros, de que quase ninguém ouviu falar. É um desses casos que aqui se aborda. O de um povo remoto, com costumes e culturas bizarros. E que, para além de estar a ser vítima de um genocídio diário, ainda teve o azar de sempre ter sido vítima de inúmeras decisões erradas de instituições internacionais.

Vou falar dos Papuas da Nova Guiné Ocidental, sob administração indonésia. Meio milhão de mortos desde 1969. Sempre lutando, principalmente contra a indiferença e o esquecimento. Mas de que se começa a falar um pouco mais, aqui e ali. Como neste texto.

Não se pode compreender a real dimensão da tragédia sem História. Que, até certa altura, é a História duma enorme ilha, sem metades ocidental e oriental.»

Carlos Eduardo da Cruz Luna descreve depois a HISTÓRIA DA NOVA GUINÉ E DOS POVOS PAPUAS terminando com um veemente apelo às instituições internacionais e à comunicação social para não esquecerem este drama.

 

«SALVEM OS PAPUAS NA NOVA GUINÉ OCIDENTAL…ANTES QUE SEJA TARDE!!

Logo após a instalação das autoridades indonésias, surgiram revoltas e guerrilhas na Nova Guiné ocidental. A repressão foi violenta, e mostrou-se de duas formas: repressão direta (mortes, prisão, tortura, falta de liberdade de expressão) e indireta (destruição das culturas locais, imigração de inúmeros indonésios, principalmente da ilha de Java, para alterar a composição étnica da população local. A separação de Timor foi vista

A separação de Timor (1999-2002) foi vista por muitos locais como um sinal de esperança. Em vão. Há poucos anos, o território foi subdividido em duas províncias: Papua ocidental, e Papua. Dividir para reinar continua a ser o lema dos opressores.

Nos nossos dias, vivem nos 421 981 Km.2 da antiga colónia holandesa quase 2 milhões de pessoas, contra pouco mais de oitocentos mil em 1969. Todavia, quase metade são imigrantes vindos de toda a Indonésia, desde então. A repressão contra os naturais terá feito um pouco mais de meio milhão de mortos. É quase impossível entrar no território, isolado do mundo em termos de informação. As populações, oprimidas, têm dificuldades até em movimentarem-se de um lado para o outro. Recentemente, as torturas, assassinatos, intimidações, parecem estar a aumentar. Em proporção, têm crescido os protestos internacionais, não só nos países vizinhos, mas na Europa e América. Refugiados papuas e amigos dos Direitos Humanos excedem-se em protestos e ações simbólicas. Alguns ecos se fazem sentir, aqui e ali. Entretanto, todo um povo se arrisca a ser eliminado, perante uma apatia que começa a ser criminosa. Será que ter a pele escura e uma cultura materialmente primitiva os condena ao desprezo? É triste ousar exprimir esta reflexão, mas, perante outras reações tão diferentes diante de violências e genocídios noutras partes do mundo, é-se levado a equacionar a razão do desprezo pela sorte destes povos papuas que parece predominar nos “media” de todo o planeta!»

 

Carlos Eduardo da Cruz Luna

Deixar um comentário

O seu email nunca será publicado ou partilhado.Os campos obrigatórios estão assinalados *

Podes usar estas tags e atributos de HTML:
<a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>