VAI SER DIFÍCIL
Um leitor, devidamente identificado, acusou-me de estar a demitir-me das minhas funções. Omito o nome, pois trata-se de uma crítica muito incisiva sobre o comportamento do provedor e, de modo algum, gostava de imprimir um cariz delatório a esta reflexão. São fundamentalmente dois os argumentos que consolidam esta acusação: 1) a quando da questão do conflito ucraniano esteve mais presente na agenda mediática encobri a parcialidade com que o PÚBLICO tratou este assunto; 2) habitualmente escamoteio a falta de cobertura que o PÚBLICO dá às realizações do PC.
Ora, “colocar o PÚBLICO numa posição de imparcialidade ou objectividade quanto aquele conflito é, de facto, um exercício de desonestidade intelectual”. Por outro lado, diz o leitor: “continuo a pensar que o PÚBLICO (que não tem obrigação de dar qualquer cobertura ao que faz o PC) cala este Partido. Mas, ao menos que assuma, que o cala.» E o leitor lança esta interrogação: “Para quê ter um provedor se ele se demite da sua função? A partir desta data deixei de ler a sua página. Para mim é um espaço viciado, um tempo perdido”.
Obviamente, hoje, não relevo as acusações feitas ao jornal, mas ao provedor. Porém, não vou aproveitar este espaço para fazer a minha defesa. Dar eco a acusações que recaem sobre as funções do provedor fazem parte desta missão e não devo escondê-las. Apenas, a título de enquadramento, direi que relativamente ao conflito ucraniano sentia que faltava ao PÚBLICO jornalistas seus sobre o terreno e que era natural que os comentadores de serviço fossem, sobretudo, do lado ocidental. Quanto à fraca cobertura dada aos eventos do PC – e o acontecimento que motivou esta crítica do leitor foi a recente marcha “Força do Povo”- reconheci que não eram de todo inapropriadas as queixas do PC/CDU.
Venho referindo ultimamente que tempo de propaganda eleitoral antecipada torna difícil a narração dos acontecimentos com a isenção necessária. E, também, as leituras subjacentes em cada um desses eventos. Estamos num clima em que todos os actos públicos se tornam sessões de propaganda. Até a apresentação de um livro não escapa a este quadro de leitura. Aliás, foi deste teor, conforme o PÚBLICO no seu editorial de 03.07.15, interpretou, a apresentação do livro do ex-ministro Miguel Relvas. Mas tal evento com esse claro sentido, mereceu, de imediato, críticas pelo PÚBLICO ter dado tão largo destaque. Vai ser difícil.