As notícias morrem, os efeitos não
Não há jornais de imprensa, rádio, televisão, ou on-line que, na coincidência destes dias que marcam a mudança do último dígito na contagem do ano não façam um balanço. E julgo bem proveitoso. Se há coisas perturbantes neste nosso tempo em que a voragem das notícias que surgem a cada hora nos media, como serviço público, mas também como matéria prima e sustento destes, é o modo súbito e frenético como elas nascem e morrem tão de pressa. E com a «morte» delas (notícias) parece que os acontecimentos também morrem. Mas, não. Principalmente, os seus efeitos não passam. E vão construindo este lugar ubíquo que, de tão extenso e diverso, nos faz perder a consciência sobre os factos. Mas não deixam de nos criar essa imensa amálgama de sentimentos e ressentimentos com que vivemos. Olhando para um ecrã, para a página de um jornal ou de ouvido á escuta de uma rádio, o desbobinar das notícias é tão cumulativo que nos provoca algum ilusionismo sobre o que de facto aconteceu. A desproporção do valor das notícias é tão gritante que o cidadão comum recebe cada notícia como «olha, mais uma que aconteceu». Do óbito de um cidadão mais ou menos notoriedade, ao massacre de dezenas de crianças indefesas sem culpas nas lutas sanguíneas num Afeganistão, da greve de trabalhadores a uma privatização da TAP, do assalto a um qualquer banco ao «fácil» desdobramento de um banco em dois, um Bom e um Mau, da prisão de um ex-primeiro-ministro ao arquivamento do processo sobre os submarinos, de um acordo sobre comércio internacional de armas convencionais, mas sem incluir EUA, Rússia ou China, tudo vem incluído num só painel de notícias «frescas». Por isso, parece-me útil fazer parar as notícias sobre os acontecimentos nestes balanços de fim de ano, sobretudo, para recordar os eventos, os seus efeitos, mais do que propriamente as notícias.
E o PÚBLICO, neste sentido ou nesta dimensão, tem responsabilidades. Como provedor, não vou fazer – o que no espírito do tempo talvez se exigisse – um qualquer balanço, ou sequer balancete, das queixas e críticas que, ao longo do ano, recebo dos leitores. Como ponto positivo, direi que essas queixas e críticas radicam quase todas na exigência preconcebida dos parâmetros constitutivos de um jornal que reconhecem com estatuto de referência e qualidade. Por isso requerem a demonstração da maior independência dos poderes políticos e económicos, de uma mais clara imparcialidade no tratamento dos acontecimentos, sejam eles do foro partidário, judicial, religioso, científico, desportivo ou da simples crónica social. Gostariam de constatar uma definição sem titubeações dos seus posicionamentos de ideários declarados no seu Estatuto sem metamorfoses ou atitudes de camaleonismo a que os tempos difíceis por uma simples subsistência quase obrigam. A referência a estas exigências, julgo, ficaram expressas por pequenos apontamentos transcritos nestas páginas ao logo do ano. E se exprimem mais desejos do que lamentações, constituem votos para 2015.
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Reclamação: Na notícia: “Príncipe André aceitou oferta de sexo com menores?”, publicada no dia 2 de Janeiro, às 18h12, secção Mundo, por que razão foi denunciado o meu comentário que apenas dizia: “Que linguagem!” – referência crítica ao comentário de Manuel Peñascoso, que realmente continha linguagem imprópria. Ao denunciarem o dele, houve um erro e meteram o meu no mesmo saco. É favor corrigir este engano ou algo vai muito mal no reino dos moderadores e moderadores de moderadores do Público! O Público deve rever a forma como são moderados os comentários, deve haver uma explicação do motivo da denúncia. “Violação dos critérios do Público” é algo de muito vago que se presta a abusos, pois já aconteceu serem denunciados comentários inócuos, na perspectiva de quem os postou, e não ter havido qualquer justificação. Concluímos assim que apenas expressavam, sem ofender ninguém, opiniões de que outros não gostaram. Quando há um erro involuntário, como só pode ser o caso, deve ser corrigido rapidamente, o que não aconteceu até agora, pois o comentário em que reclamei, há quase uma hora, ainda está à espera de ser aprovado. Além disso, deve ser apresentado um pedido de desculpas a quem foi lesado.