Questões de opinião: começo de conversa

(Crónica da edição de 23 de Setembro de 2012)

Entre as competências de um provedor do leitor, pelo menos tal como as entendo, não está a de se pronunciar sobre o conteúdo de artigos de opinião publicados no jornal. Devo essa explicação aos leitores que se me dirigem, protestando contra ideias defendidas em textos de colunistas regulares ou colaboradores ocasionais do PÚBLICO. Se uma parte desses protestos se limita a manifestar uma oposição genérica às teses de um articulista, outras vezes contêm argumentos úteis ao debate público, que deveriam ser canalizados para o jornal sob a forma de comentários, cartas à directora ou propostas de textos de opinião.

Julgo que é justo reconhecer a importância que o PÚBLICO desde sempre deu ao confronto de opiniões e estou certo de que os textos agrupados na secção Espaço Público e em outras áreas de opinião, interna ou externa, são dos mais procurados e apreciados por muitos leitores. É também pela capacidade de estimular o debate público que se avalia a qualidade de um jornal. O escrutínio da área de opinião é por isso legítimo e mesmo indispensável, mas a discussão das ideias defendidas pelos autores dos textos é estranha à vocação deste espaço. Para além da competência formal, faltar-me-ia aliás, para tanto, também a competência substantiva.

Coisa diferente são as dúvidas e queixas dos leitores que, acerca de artigos de opinião, levantam problemas que devem ser considerados à luz das regras éticas, dos valores assumidos pelo jornal ou da veracidade de factos invocados. A algumas dessas questões procurarei hoje começar a responder.

Vem este intróito a propósito de várias cartas que recebi, pedindo-me que me pronuncie sobre posições expressas na polémica historiográfica que desde o início de Agosto se traduziu já em duas dezenas de artigos publicados neste jornal, tendo por ponto de partida um texto crítico de Manuel Loff (historiador e colunista regular do PÚBLICO) sobre a História de Portugal coordenada por Rui Ramos, ou, mais precisamente, sobre a parte dessa obra, redigida por este último historiador, dedicada ao período do Estado Novo.

Sem cuidar aqui da substância da polémica, saúdo porém o facto de essa substância ter vindo a afirmar-se em algumas das últimas peças do debate, em contraste com métodos controversos de argumentação e ataques de natureza pessoal que marcaram a fase inicial da discussão e foram motivo de críticas dirigidas por leitores a alguns dos protagonistas desta querela historiográfica sobre a natureza do regime ditatorial derrubado em 1974. A importância do tema para a representação que fazemos de um passado recente, e ainda vivo na memória de muitos, torna desejável que o PÚBLICO incentive a continuação do debate (que ainda sabe a pouco), trazendo para fora dos muros académicos o confronto de interpretações historiográficas em torno do salazarismo.

Um dos leitores que tem criticado o que considera ser o estilo e conteúdo “agressivos” de certas colunas de opinião pergunta se não existe “um guia de boas práticas” ou “um código de recomendações” para os seus autores. A resposta encontra-se no Livro de Estilo do PÚBLICO, onde se lê que “o desassombro polémico” é “necessário à vitalidade do jornal”, mas se especifica que os textos de opinião — que podem naturalmente ser recusados, mas não podem ser alterados sem “prévia autorização do autor” — estão sujeitos “ao respeito pela linguagem não insultuosa e não panfletária” a que o jornal “se obriga”, bem como aos “preceitos de isenção ética e rigor de escrita” com que se identifica. E ainda, naturalmente, a “critérios mínimos de qualidade”. São estas as regras, é por elas que devem ser aferidas as decisões editoriais.

A última remodelação do Espaço Público passou a dividir os textos de autores externos ao seu quadro de colunistas em duas categorias, designadas como “Debate” e “Tribuna”. Nuno Pacheco, director adjunto e responsável mais directo pela área de opinião, explica que essas categorias “foram criadas para distinguir (…) artigos mais dados a intervir em polémicas em curso na sociedade portuguesa, seja em que área for (e estes devem assinalados como Debate) de outros em que simplesmente se dá voz a personalidades, cidadãos ou grupos de cidadãos (caso de manifestos) para exporem ideias ou fazerem apelos sob diversos pretextos (e aqui serão assinalados como Tribuna)”. A distinção é útil, mas algum desleixo tem levado ao seu esquecimento (“surge Debate onde devia surgir Tribuna”), erro que o director adjunto anuncia ir ser corrigido.

Qualquer que seja a classificação, o que não pode ser confundido com um artigo de opinião é um texto de natureza publicitária. Para isso alertaram, a meu ver com toda a razão, dois leitores que se insurgiram contra a inclusão no Espaço Público, na edição de 27 de Agosto passado, do artigo intitulado “Construir a universidade do futuro“, assinado por Nélson Santos de Brito, na qualidade de “CEO p/Portugal da Laureate International Universities”. O texto é, basicamente, um elogio da organização que dirige. A considerar-se que as informações que contém teriam interesse jornalístico, deveriam ter sido tratadas de acordo com as regras profissionais de elaboração de notícias.

Tal como foi publicado, o texto em questão não é, escreveu o leitor Eduardo Costa Dias, “nem uma peça jornalística nem um artigo de opinião, mas sim um panfleto publicitário metido pela porta do cavalo”. Madalena Oliveira enviou-me por seu lado a nota que publicou no blogue “Jornalismo e Comunicação”, em que começa por referir: “O título interessou-me e li o texto com expectativa sobre o anunciado debate sobre o ensino superior (é isto que se lê na linha que sucede o título — Debate / Ensino Superior). Acontece que, depois de meia dúzia de linhas com ideias genéricas sobre o que deve ser a chamada universidade do futuro, o autor mais não faz do que a promoção de um investimento”, em Lisboa, da entidade de que é “o director-geral (…) para Portugal”.

“É a este tipo de textos”— questiona a leitora —, “que deve corresponder o género jornalístico opinião? A acções de marketing? Onde fica o genuíno e descomprometido debate de ideias?” E ainda: “Que critérios tem, afinal, esta editoria do PÚBLICO para selecionar os chamados opinion makers a quem dá espaço?”. Nuno Pacheco reconhece o erro: “O início do texto (…) enuncia, na verdade, alguns pressupostos para justificar o título, mas o resto é a afirmação e elogio de um projecto (aquele em que está pessoalmente envolvido) e tem, na verdade, um tom propagandístico que não se coaduna nem com o título do artigo nem com a secção onde se insere”.

Outra chamada de atenção que me chegou referente a matérias da secção Espaço Público criticava no plano ético um artigo sobre a crise do euro assinado em 15 de Junho passado pelo colunista Domingos Ferreira, sugerindo que uma parte desse texto estaria “no limite do plágio”, ao utilizar, sem citação, excertos de um outro artigo, da autoria de um académico alemão, publicado três dias antes no New York Times. Consultei essa edição do diário nova-iorquino e não me restaram dúvidas: os parágrafos finais do texto em causa limitavam-se a transcrever, com muito ligeiras adaptações, e sem nunca referir a origem, o que fora escrito no jornal norte-americano. Confrontado com o facto, o colunista do PÚBLICO apresentou desculpas à direcção do jornal, explicando que se tratara de “um engano no envio do ficheiro”, tendo sido remetida para publicação uma versão anterior à revisão do artigo.

Para outra oportunidade ficará a discussão de uma questão importante sobre os artigos de opinião: até que ponto a identificação de um articulista deve, em nome da transparência, incluir dados que o relacionem com possíveis interesses na matéria sobre a qual se pronuncia? Deixo aqui a descrição em linhas muito gerais de um caso recente.

No dia 14 de Agosto foi publicado, sob o rótulo “Debate/Floresta e recursos naturais” um texto intitulado “Os prejuízos do eucalipto“, cujo autor, identificado como engenheiro agrónomo, contrariava críticas conhecidas à expansão daquela espécie. Um leitor reagiu, afirmando que o articulista em questão “não é um agente independente”, por ser assessor da administração de uma grande empresa com interesses na fileira do eucalipto, e defendeu que esse facto deveria ter sido referido na identificação do autor. Essa sugestão foi divulgada nas Cartas à Directora e expressamente acolhida numa Nota da Direcção.

Seguiu-se uma interessante troca de mensagens entre o articulista e o leitor, de que me foi dado conhecimento e que podem ser consultadas no meu blogue. O autor do artigo argumenta, nomeadamente, que as suas “opiniões pessoais” não têm de ser confundidas com as da empresa e diz recear os efeitos perversos de uma transparência “excessiva”, que poderia por exemplo, no caso de um artigo de tema político, levar a querer saber “de que partido é ou em qual vota” quem o escreveu. Que pensam desta troca de razões os leitores que seguem com interesse as páginas de opinião?

José Queirós

 

 

Documentação complementar

 

Opinião ou marketing?

Mensagem do leitor Eduardo Costa Dias

Chamo a sua atenção para o facto de o artigo de  Nélson Santos de Brito no Público de hoje (27 Agosto 2012, pág. 47),  não ser nem uma peça jornalística nem um artigo de opinião, mas sim um panfleto publicitário metido pela porta do cavalo.
27 de Agosto de 2012
Eduardo Costa Dias

Mensagem da leitora Madalena Oliveira

Escrevi hoje no blogue Jornalismo & Comunicação, de que sou co-editora, o seguinte post (…):

O jornal Público publica hoje [27.08.12], na secção de Espaço Público, um artigo intitulado ‘Construir a universidade do futuro’ (página 47). O título interessou-me e li o texto com expectativa sobre o anunciado debate sobre o ensino superior (é isto que se lê na linha que sucede o título – Debate Ensino Superior). Acontece que, depois de meia dúzia de linhas com ideias genéricas sobre o que deve ser a chamada universidade do futuro, o autor mais não faz do que a promoção de um investimento que a Laureate International Universities fez no ISLA – campus de Lisboa. O autor do artigo, Nélson Santos de Brito, é simplesmente o diretor-geral da Laureate International Universities para Portugal.
Muito haveria para debater sobre as afirmações do autor e sobre o modo como projeta a universidade do futuro, que, na sua opinião, «deve fundamentar a sua existência em três ideias fundamentais»: 1) valorização da mobilidade dos estudantes; 2) proximidade ao mundo empresarial; 3) a conversão do ensino num setor de ponta. Embora sejam ideias discutíveis, é outra coisa que me preocupa ao ler este artigo, cujo teor se fixa, destes princípios em diante, numa ação de propaganda àquilo que o autor chama de ‘ambicioso projeto’. O que é, afinal, a opinião de interesse jornalístico? É a este tipo de textos que deve corresponder o género jornalístico opinião? A ações de marketing? Onde fica o genuíno e descomprometido debate de ideias? 
O jornal Público chama a esta secção ‘Espaço Público’, mas todos sabemos que estas são as páginas votadas ao género opinião (como é, aliás, assinalado na versão online do ‘jornal do dia’). Por isso, esperar-se-ia que estas páginas finais das edições impressas fossem dedicadas a textos que realmente promovessem o debate crítico de ideias e a expressão de pensamento e provocações aptas a estimular a reflexão individual dos leitores. Pergunto-me, pois: que critérios tem, afinal, esta editoria do Público para selecionar os chamados opinion makers a quem dá espaço?
(…) Posso estar errada, mas, tendo eu formação em Jornalismo, não reconheço no texto a que me refiro um artigo de opinião no sentido jornalístico do termo.
27 de Agosto de 2012
Madalena Oliveira
(Departamento de Ciências da Comunicação —  Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade — Instituto de Ciências Sociais | Universidade do Minho)

Resposta do director adjunto do PÚBLICO Nuno Pacheco

A leitora tem razão (…). O início do texto que refere enuncia, na verdade, alguns pressupostos para justificar o título, mas o resto do texto é a afirmação e elogio de um projecto (aquele em que está pessoalmente envolvido) e tem, na verdade, um tom propagandístico que não se coaduna nem com o título do artigo nem com a secção onde se insere. Isso mesmo devia ter sido comunicado ao autor para que, querendo, o refizesse e só então deveria ter sido publicado.
21 de Setembro de 2012
Nuno Pacheco

 

Identificação e transparência

(Troca de correspondência entre leitores do PÚBLICO, com conhecimento ao provedor do leitor)

Carta do leitor Gonçalo P. Rosa

O Público de hoje (14 de Agosto de 2012) difunde na página 47 um texto de opinião assinado por João M. A. Soares, identificado como engenheiro agrónomo. Sob o título “Os Prejuízos do Eucalipto”, discute os méritos do eucalipto para a economia agrária, abordagem que aqui não discuto.
Ora, João M. A. Soares não é um engenheiro agrónomo qualquer. É, ao que tudo indica, João Manuel Alves Soares, vogal da Comissão de Sustentabilidade da Portucel e assessor do Conselho de Administração da mesma empresa, conforme pode ser verificado pelo site da mesma empresa e pelas suas sucessivas tomadas de posição no mesmo sentido desta coluna nos últimos anos. Não coloco em causa que seja especialista no tema, mas não é um agente independente.
Julgo que, apesar de se tratar de um texto de opinião, os leitores têm direito a essa declaração de interesses acrescentada junto ao texto, quer o autor assim o deseje ou não.
Ficaria depois ao critério de cada um ajuizar se esses cargos influenciam a orientação e motivação do texto.
Parece-me uma prática indispensável na publicação de textos de opinião, ao contrário da prática corrente do jornal, que se traduz na identificação simplista da profissão de cada articulista.
15 de Agosto de 2012
Gonçalo Pereira Rosa
Jornalista, National Geographic Portugal

(Nota: esta mensagem foi publicada, na forma de Carta à Directora do PÚBLICO, na edição de 27 de Agosto de 2012. Foi acompanhada de uma Nota da Direcção, do seguinte teor: “O leitor tem razão. Devia ter sido incluída no final do artigo essa indicação. As nossas desculpas”).

 

Carta de João M. A. Soares

Caro Dr. Gonçalo Pereira Rosa:

(…) Porque o seu comentário no Público tem pertinência (em tese), porque foi injusto (no caso concreto) e, especialmente, porque a ND da directora pode suscitar graves problemas — quanto a mim — de liberdade de expressão (se usado sem “bom senso” e/ou com “objectividade” discutível) , tomo a liberdade de lhe fazer chegar o comentário que enviei à srº directora. (…) P.S.: Permito-me enviar-lhe um CV resumido para ilustrar as minhas dúvidas…
“Cara srª directora:
Nas cartas à directora de hoje  [27.08.12] vem publicado um comentário de um leitor – que respeito – mas a N.D. que entendeu acrescentar-lhe levanta-me as seguintes questões:
1 – Escrevo há mais de 40 anos sobre o sector florestal e, com raríssimas excepções, faço-o assinando sempre da mesma maneira: ‘João M. A. Soares’, com referência ou não a ser engenheiro agrónomo;
2 – Que eu saiba, não existe mais nenhum autor que, sobre o tema, assine do mesmo modo;
3 – Entendo que as minhas opiniões – salvo nos casos e locais em que me represento uma entidade, eventualmente a Portucel – apenas me representam a mim e julgo ter, neste domínio concreto, conhecimentos e currículo para saber do que falo (sem que isso implique ter sempre razão, claro..);
4 – No caso concreto deste artigo, acho que a referência ‘com mais de metade da minha (já longa) vida profissional ligada à fileira do eucalipto/papel’ é mais do que suficiente como ‘declaração de interesses’;
5 – Acresce que a quase totalidade do artigo se limita a dar público conhecimento, de forma ‘arrumada’, a factos e números objectivos (e não passíveis de opinião pessoal);
6 – Tive o cuidado de escrever ‘não pretendo, obviamente, convencer o leitor de coisa nenhuma’, antes o convidando a recolher dados objectivos antes de ‘tomar partido’;
7 – No meu currículo figuram muitos outros elementos, passados e presentes, para além dos referidos pelo leitor;
8 – Não acredito que existam, nesta matéria como em qualquer outra, pessoas que todos aceitem como ‘independentes’ (como reclama o leitor);
9 – Sou defensor do contraditório e, nesta matéria, acho que os pratos da balança não estão equilibrados (nos media, e não necessariamente no Público);
10 – A ser como V-Exª diz na ND que publicou, ficarei impedido (eu e outros) no futuro, de expressar a minha opinião pessoal no Público, sempre que o quiser fazer em nome individual e não no da minha empresa (como foi o presente caso);
11- Quem vai escolher o ‘rótulo’ que o Público acrescentará aos textos dos Autores? Especialmente em casos em que as pessoas têm vários ‘skills’?
12 – E se eu enviar uma carta a V.Exa. dizendo que o leitor ‘queixoso’ e que assina “Jornalista, National Geographic Portugal” é também assistente universitário na Universidade Católica e escritor free lance com manifesta simpatia (julgo que escrita) pela Quercus? Acharia legítimo que eu me apresentasse igualmente como ‘reclamante’? Dar-me-ia uma N. D. equivalente?
Não pretendo, obviamente, qualquer publicação deste comentário, mas gostaria muito que o Público e o seu Provedor analisassem esta questão com mais cuidado. A bem da liberdade de expressão e da recusa da tentação – tão portuguesa – de por ‘rótulos’ (simplificadores?) nas pessoas e nas ideias.
P.S.: A minha empresa pode ter-me contratado por eu ter ‘certas opiniões pessoais’, mas não admito/não gosto que ninguém pense que eu tenho ‘certas opiniões pessoais’ porque a minha empresa me paga para as ter…”.
27 de Agosto de 2012
João M. A. Soares

Carta do leitor Gonçalo P. Rosa

Prezado Engenheiro João Soares,

(…) Começo por agradecer o cuidado de me escrever, dando-me conta da tomada de posição que entendeu transmitir à direcção do PÚBLICO (…). [Na] comunicação ao provedor (que a direcção do jornal entendeu publicar, com meu consentimento), tive o cuidado de referir que não está em causa a abordagem que o Engenheiro defende. Na verdade, creio mesmo que a sua posição tem sido subrepresentada no debate sobre gestão florestal. Um debate sério exige a difusão de todas as perspectivas e propostas de acção sobre um tema, na esperança de que a opinião pública possa depois formular uma conclusão adulta e fundamentada. Nem sempre acontece nos debates públicos, e este caso é um bom exemplo.
Como escrevi, considero-o um especialista no tema e respeito-o por isso, mesmo que as nossas opiniões possam não coincidir.
Para os leitores, porém, creio que não é justo difundir uma coluna de opinião claramente vinculada a um dos lados da barricada no debate sobre a gestão florestal sem uma adequada declaração de interesses. No caso em apreço, cuido que ela ficou diluída no texto e não faz referência à empresa a que o Engenheiro actualmente está ligado, agente fundamental na procura de soluções para a fileira florestal.
Defendo que um jornal pode e deve acrescentar uma declaração de interesses a uma coluna de opinião se considerar que a identificação fornecida pelo colunista não é suficiente. Percebo o seu desconforto por “não poder” emitir opinião a título individual ao abrigo deste procedimento, mas creio que a ele se sobrepõe o direito da opinião pública de receber o máximo possível de informação relevante.
Por último, permita-me que sublinhe que não pretendi insultá-lo com a sugestão de que o texto pode ser motivado por questões profissionais, nem me parece que seja censurável se for essa a motivação. Mas, repito, a opinião pública merece receber o máximo possível de informação, sem suspeitas de má fé ou complots, para poder formular uma opinião verdadeiramente fundamentada.
Frisando a coincidência de ambos sermos leitores dedicados do mesmo jornal, despeço-me com os melhores cumprimentos.

P.S.1: Não sou membro da Quercus, nem de nenhuma outra ONGA. A associação foi apenas o objecto de estudo que escolhi para a minha tese de mestrado sobre a consolidação de uma fonte não oficial no discurso jornalístico. Poderia ter sido a DECO, a Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados ou outra ONG com influência nos media. Calhou a Quercus. Posso enviar-lhe o livro daí resultante, se considerar útil para o debate.
P.S.2: Tomo a liberdade de dar conhecimento desta troca de mensagens ao provedor do PÚBLICO, na expectativa de que daqui possa emergir uma reflexão aprofundada sobre normas de publicação de textos de opinião e discriminação dos interesses relevantes de cada articulista para os temas que comentam, bem como o direito de cada colunista a formular opinião a título individual, independentemente dos cargos que desempenha.
27 de Agosto de 2012
Gonçalo Pereira Rosa

Carta de João M.A. Soares

Caro Dr. Gonçalo Pereira Rosa

Agradeço muito a sua resposta e os seus comentários.
Presumo que tenha sobre mim uma enorme vantagem: Deve ser bem mais jovem do que eu e, por isso, mais crente no “sistema”.Talvez tenha toda a razão!
A minha dúvida – e julgo que a deixei clara – reside na perigosa “deriva” que a sua (legítima) preocupação pode propiciar nos meios de comunicação em geral e no (“meu”) jornal em particular.
Quase todos os temas e artigos hoje publicados dizem respeito, directa ou indirectamente, a temas políticos e, tantas vezes, partidários. E se a “senda da transparência” (que, no meu caso considero excessiva) conduzir os jornalistas a perguntarem ao autor de que partido é ou em qual vota? São pequenas derivas que preparam a receptividade para grandes derivas, num momento em que a generalização e a rapidez da comunicação das notícias/eventos remete os jornais diários para o debate e para a apresentação de pontos de vista e não para o relato dos acontecimentos.A minha idade – perto da reforma – não me permite esquecer esse risco.
27 de Agosto de 2012
J. Soares

 

 

 

 

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