(6 de Maio de 2012)
Lendo e ouvindo o que se disse nos últimos dias sobre a megapromoção do Pingo Doce, fica claro que há muita gente em Portugal que nunca conseguirá compreender os sentimentos de humilhação, vergonha e revolta que o espectáculo de lojas transformadas no 1º de Maio em ringues e arenas provocou junto de um bom número dos seus concidadãos. A evidência desses sentimentos, que também pôde ler-se e ouvir-se, devia no entanto ter sido bastante para que uma comunicação social responsável se abstivesse de empolar até à exaustão, de forma bombástica e sem sentido crítico, o golpe de marketing que tão tristemente espelhou a imagem da nossa menoridade cívica. Servem estas linhas, estranhas ao registo habitual deste espaço, para saudar a opção editorial do PÚBLICO. Contra a corrente, este jornal noticiou com sobriedade o que havia a noticiar — com destaque para o ambiente tumultuário e os problemas de segurança criados —, deu conta dos aspectos controversos da iniciativa nos planos económico, social e legal, comentou o que merecia ser comentado. E, sobretudo, surgiu nas bancas, a 2 de Maio, com uma capa (e esta fotografia) que mostram que o sentido da dignidade está enraizado na sua cultura editorial. É também disto que se faz a responsabilidade social da imprensa.
José Queirós