Acolhimento de estrangeirismos

A propósito da minha última crónica (“Eu tuíto, tu twittas, ele escreve no Twitter…”, edição de 20 de Novembro de 2011), recebi a seguinte mensagem de José Mário Costa, responsável pelo site Ciberdívidas da Língua Portuguesa:

A propósito do aportuguesamento (ou não) de Twitter

A propósito do aportuguesamento (ou não) de Twitter e do verbo dele derivado, conviria lembrar o que mandam as regras nesta matéria de estrangeirismos entrados no vocabulário comum do português. Assim:

1. Quando se trata de um nome próprio, escreve-se tal como no original. E quanto aos seus derivados (verbos ou adjectivos), deve respeitar-se igualmente a respectiva estrutura original. Já era assim e continua a ser assim com o Acordo Ortográfico, como especifica o n.º 3 da sua Base I:
“[…] mantém-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/jeffersônia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; wagneriano, de Wagner; shakespeariano, de Shakespeare.”

2. Como nome próprio de origem, Twitter seguiria, portanto, esta mesma regra. Ou seja: Twitter e, no caso do verbo dele derivado, deve manter-se o radical twitt-, ou seja, twittar.

3. Sucede que o nome próprio Twitter se converteu já entre nós num substantivo comum, twitter. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Gilette, nome de marca comercial, que passou a gilette e, depois, a gilete – forma mais consentânea com a ortografia portuguesa, para designar qualquer lâmina de barbear. Ou com Jeep e jipe. Ou ainda com os nomes próprios Internet e Facebook, cada vez já mais escritos com inicial minúscula – internet e facebook.

4. Esta é a tendência natural da língua portuguesa no acolhimento dos estrangeirismos com difusão corrente entre nós, de há séculos a esta parte. Nas palavras de Rodrigues Lapa, na sua infelizmente hoje muito esquecida “Estilística da Língua Portuguesa”: “Sempre que o estrangeirismo assentou já raízes na língua nacional, [só há que] vesti-lo à portuguesa.”

5. Se twitter e twittar são já, hoje, do domínio generalizado, e em todos os registos sociais (o que torna a sua derivação tudo menos uma questão de erudição), porquê tanta resistência ao seu completo aportuguesamento ortográfico – tuíter e tuitar –, como já é seguido, de resto, na sempre mais dinâmica imprensa brasileira?

21 de Novembro de 2011
José Mário Costa

 

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