(Crónica da edição de 1 de Maio de 2011)
Na sequência dos últimos textos publicados neste espaço, em que procurei ilustrar — com os contributos de muitos leitores — a frequência inaceitável com que os erros de escrita e outras falhas no controlo da qualidade editorial têm vindo a multiplicar-se nas páginas do jornal, gostaria hoje de partilhar com os que me lêem o que pude apurar, junto da direcção editorial e da equipa de copy desk, sobre os procedimentos de revisão em vigor no PÚBLICO. Penso que os leitores têm direito a conhecê-los, para poderem fazer a sua própria avaliação das causas de um problema que, se não for enfrentado com a eficácia exigível, poderá afectar decisivamente os padrões de qualidade que os levaram a fazer deste o seu diário.
As equipas profissionais de revisão são indispensáveis num bom jornal. Se é certo que de qualquer redactor de um jornal de referência se deve esperar que saiba exprimir-se correctamente em português (o que, infelizmente, nem sempre acontece), não é menos verdade que a ocorrência de erros de redacção é, até certo ponto, inevitável. O ritmo de escrita de um diário, o crescimento das solicitações profissionais em equipas redactoriais emagrecidas, as pressões da hora de fecho, a simples distracção que está na origem de uma “gralha” — a que devem somar-se as insuficiências culturais ou de domínio da língua a que não escapam muitos jornalistas talentosos — explicam que assim seja. O que não é inevitável, nem aceitável, é que esses erros não sejam corrigidos e sobrevivam nos textos que irão ser lidos pelos compradores do jornal.
É para os corrigir que existem os revisores. É do seu trabalho invisível e anónimo que depende em boa parte a qualidade do produto final. No caso do PÚBLICO, a criação de uma equipa de copy desk representou uma ambição superior ao que tradicionalmente se exigia às secções de revisão. Para além de garantirem a correcção ortográfica e gramatical dos textos produzidos na redacção, estes profissionais funcionam como copy editors (os “desks“, na gíria interna), habilitados a corrigir ou melhorar as peças noticiosas em vários outros planos (factual, técnico, deontológico) e a adequá-las às regras de estilo do jornal. Na enumeração de Rita Pimenta, responsável pela edição de textos da revista Pública, isto implica intervir tanto no plano do conteúdo (nomeadamente para assegurar a audição das partes envolvidas numa notícia, detectar e eliminar contradições, garantir o respeito pela distinção entre informação e opinião e, em geral, zelar pelo cumprimento das regras éticas e deontológicas), como no plano da forma (assegurando, entre outros pontos, o respeito pelas regras jornalísticas de construção dos textos, a harmonização de grafias, a correcção ortográfica e linguística, a concisão e clareza na redacção de notícias, a ausência de repetições ou a adequação dos títulos às frases de arranque das peças). As tarefas destes “editores de texto” incluem ainda a verificação de certos aspectos gráficos. E deve acrescentar-se que integram também, actualmente, a equipa responsável pela moderação das muitas centenas de comentários diariamente enviados pelos leitores da edição on line.
Para o conjunto destas funções de controlo de qualidade, abarcando idealmente, sete dias por semana, todos os cadernos e suplementos do jornal, o PÚBLICO dispôs originalmente de 16 profissionais. Após sucessivas reduções da dimensão da equipa, restam actualmente cinco pessoas, mais uma em exclusivo para a revista dos domingos.
Nestas condições, e também devido a alterações no processo de produção editorial, a intervenção destes profissionais foi-se tornando menos exaustiva. Segundo escrevem os “desks” da redacção do Porto, “de um tempo em que havia seis intervenções em cada texto (revisão pelo autor, revisão pelo editor da secção, edição por um copy editor, revisão na página electrónica por um copy editor, exame da sua impressão em papel ainda por um copy editor e ok final do director de fecho) passámos para o procedimento actual, que mantém todas as outras, mas retira aos copy editors duas das três intervenções anteriores”. O que faz aumentar, naturalmente, a possibilidade de os erros não serem detectados, sobretudo quando, por desleixo ou falta de tempo, não são devidamente garantidas as releituras a cargo dos autores e da hierarquia editorial.
Por outro lado, o próprio âmbito do controlo de qualidade de textos e páginas foi sendo reduzido. Os textos do caderno P2, do suplemento Cidades e da Pública são em regra “revistos na totalidade”, o que já não acontece com os suplementos Ípsilon e Fugas e com matérias para a edição on line. Quanto ao caderno principal do jornal diário, a revisão é feita em página, acontecendo nem todas passarem por este crivo, “por razões de tempo”. Em princípio, deve ser assegurada a leitura integral da primeira e última páginas, do destaque do dia, das aberturas de secção e das páginas de opinião (editorial incluído) e dada prioridade, nas restantes, a títulos e legendas, bem como à entrada e remate dos textos. Na prática, a pressão do fecho leva com alguma frequência os responsáveis editoriais a dispensarem a passagem pelos “desks” de algumas das páginas de fecho mais tardio, que contêm muitas vezes as notícias mais importantes e que por isso serão as mais lidas — o que poderá explicar a sensação de que é nelas que se concentram os erros que dão origem a mais protestos dos leitores.
Há quatro anos, a direcção do jornal procurou enfrentar as deficiências na revisão das páginas, em boa parte resultantes da crónica dificuldade organizativa em “conseguir fechar o jornal de forma gradual”, para evitar o congestionamento das tarefas de controlo de qualidade na ponta final de cada jornada de trabalho. A directora, Bárbara Reis, explica que foi então criada “a figura do editor de fecho, um editor experiente que é responsável pelo fecho do jornal com um membro da direcção”, e que deve garantir precisamente a revisão das páginas já “fechadas pelos respectivos editores”. Esse filtro permitiu, segundo afirma, “diminuir muitos erros óbvios”.
Mas a verdade é que está longe de os eliminar, como se verificou com a capa da edição da última quinta-feira, em que nenhuma experiência terá sido suficiente para evitar o erro (só ontem assinalado na secção O PÚBLICO errou) de ilustrar o justo destaque dado ao falecimento do historiador Vitorino Magalhães Godinho com uma fotografia do seu irmão José, também já desaparecido. Ou com novos absurdos numéricos, como o que indignou o leitor Manuel Pipa na página 10 da edição de anteontem, em que se podia ler, numa notícia sobre a operação Censos 2011, que já estão recenseadas mais de dez milhões de pessoas, “em 5639 alojamentos”. Ou com os recorrentes erros de português, que há algum tempo levaram o leitor José Laranjo — estupefacto com o título “Mais de 1200 bolsistas fora da Universidade”, estampado na capa do jornal a encimar uma notícia sobre bolseiros — a pedir: “Por favor, não contribuam para destruir a língua portuguesa”.
Neste último plano, os responsáveis editoriais do PÚBLICO reconhecem que o problema tem vindo a agravar-se e preparam uma iniciativa para o enfrentar. “Há um mês” — informa Bárbara Reis —, “a direcção discutiu e acordou com o Conselho de Redacção fazer uma lista, com a ajuda dos copy-desks, dos erros mais comuns, os que são eliminados antes da publicação e os que, infelizmente, saem no jornal. Essa lista servirá, precisamente, para alertar a redacção e tentar reduzir a sua frequência e, idealmente, eliminá-los”. É uma boa medida, sobretudo se for acompanhada de outras formas de envolver periodicamente os jornalistas no reconhecimento e na crítica interna desses erros mais frequentes.
Não compete aos jornais resolver os desastres sofridos pelo ensino do português no sistema educativo, nem essa anomalia académica que permite que escolas de jornalismo habilitem para o exercício da profissão quem não domina correctamente a língua. Mas compete a um jornal como o PÚBLICO garantir processos de selecção, enquadramento e, se necessário, formação dos seus redactores que correspondam aos padrões de qualidade a que os leitores têm direito. No jornal impresso como na edição on line, na qual as agressões à língua são bem mais frequentes.
Dito isto, e sem fazer da falta de meios uma desculpa (os leitores não são responsáveis pela gestão de pessoal das empresas de comunicação social), cumpre notar que nenhum jornal de qualidade pode dispensar uma boa equipa de revisão, e que nenhuma inovação tecnológica substitui a sua intervenção qualificada. Ao longo de mais de uma década, os processos de reestruturação destinados a assegurar o equilíbrio financeiro das empresas do sector têm feito dos revisores e editores de texto vítimas preferenciais, encarando-os erradamente como dispensáveis. No caso do PÚBLICO, uma diminuição de efectivos em cerca de dois terços não poderia deixar de ter, como teve, consequências negativas.
Sem esquecer as crescentes dificuldades financeiras que ameaçam os jornais de qualidade, e que obrigam a muita imaginação, empenho e escolhas difíceis para encontrar soluções capazes de satisfazer as expectativas dos seus compradores, considero que o drástico enfraquecimento da equipa de copy desk do PÚBLICO foi uma péssima decisão, que deveria ser repensada. Quem quer vender um produto no segmento da “qualidade” deveria saber que não pode dispensar os meios necessários ao controlo dessa qualidade, sob pena de insucesso a prazo. Creio que também isto deve ser dito aos leitores que protestam, com toda a razão, contra os erros que afectam a imagem do jornal.
José Queirós
Documentação complementar
Questionário enviado à equipa de copy desk do PÚBLICO
1) Concordam com os leitores que consideram que a quantidade de erros (gramaticais, ortográficos, semânticos e outros erros de escrita) nas páginas do PÚBLICO é um problema sério para a sua imagem de jornal de referência? Concordam com a percepção de muitos deles, de que esse problema se tem vindo a agravar nos últimos anos? Pensam que existe uma percepção adequada desta questão na redacção do jornal?
2) Independentemente do que pensem sobre o grau de gravidade do problema, o que pensam sobre as suas causas, e sobre medidas que possam resolvê-lo ou atenuá-lo?
3) Quais são, neste domínio, as responsabilidades atribuídas à equipa que integram?
4) O que distingue essas responsabilidades das tarefas das tradicionais equipas de revisão dos jornais? O que significa, exactamente, ser “copy-desk” no PÚBLICO?
5) No plano da revisão e correcção de erros, a vossa equipa é responsável por rever todos os textos, ou apenas uma parte (e, nesse caso, que textos e porquê)?
6) A vossa equipa assegura a revisão das páginas finalizadas, de uma parte delas ou de nenhuma?
7) Existem objectivos prioritários definidos que devam ser assegurados na revisão — por exemplo certas páginas (como a capa, destaques, aberturas de secção), títulos, legendas, infografias, e outros elementos de maior visibilidade?
8) Quantas pessoas efectuam o trabalho de revisão? Quantos textos e/ou páginas cabem a cada uma num dia de trabalho?
9) Qual é o vosso grau de autonomia para alterar os textos?
10) Têm alguma intervenção nos textos publicados na edição on line?
11) É feito algum acompanhamento reforçado das peças cujos autores eventualmente apresentem um “histórico” mais negativo no uso correcto da língua?
12) Existe algum procedimento de chamada de atenção para erros detectados que envolva os seus autores?
13) Na vossa opinião, quais são os principais problemas (ou os mais recorrentes) que afectam a qualidade de escrita do jornal?
14) Qual é o vosso papel na definição e cumprimento de normas de harmonização na grafia de nomes?
15) Querem comentar qualquer outro aspecto relacionado com a qualidade de escrita do jornal que considerem importante ser abordado, ou sobre o qual tenham sugestões a fazer?
12 .04.2011
José Queirós
Resposta de Rita Pimenta
1) Concordo com os leitores quando afirmam que os erros são um problema sério para a imagem e credibilidade do PÚBLICO. Sem dúvida. E (sim) têm vindo a agravar-se nos últimos anos. Não me parece que a percepção deste problema na redacção seja generalizada. De outra forma, creio que haveria um maior investimento e um outro cuidado na escrita dos textos. No entanto, há muitos jornalistas e editores bastante cuidadosos e atentos a estas questões. O que tem evitado desaires maiores…
2) Uma das causas será certamente o peso do factor tempo. Se os condicionalismos dessa dimensão sempre pesaram na produção de um jornal, agora agravam-se com a pressão de se “pôr em linha” a notícia o mais rapidamente possível. A difícil gestão da quantidade de informação que invade as redacções (e, cada vez mais, através de múltiplos meios) também conduz a que no momento da escrita o jornalista já esteja exausto. A urgência/emergência da publicação online propicia a desatenção. Eventualmente, essa prática pode ir ferindo também a edição em papel. A regra de dar sempre a ler um texto a um colega antes de ser publicado (a um jornalista sénior, a um editor, a um copydesk, ao colega do lado…) provavelmente deixou de ser cumprida em muitas circunstâncias. Nada disto desculpa os erros, apenas os explica.
3) Quando exercia funções de coordenação da secção de Lisboa, semanalmente elegíamos dois ou três “erros da semana” e fazíamos uns cartazes divertidos, com imagens do Calvin & Hobbes, que afixávamos à sexta-feira junto das máquinas de café (nos vários pisos do edifício). Exemplo: “Dispêndio, mas despender.” Eram assinados assim: “Palavra de desk.” E a verdade é que resultavam. Os erros tornavam-se motivo de conversa entre muitos de nós. Nessa altura, íamos às reuniões da manhã (onde se faz a planificação da edição do dia) e tentávamos antecipar as particularidades de escrita relativamente aos temas que seriam destaque (por exemplo, definir a grafia das regiões em conflito ou os cenários de catástrofes). Também assinalava os erros detectados na edição desse dia e alertava a equipa para o que tínhamos “deixado passar” (…).
4) O trabalho de copydesk no PÚBLICO pode ser entendido como o de “editor de texto” (sem preocupações de agenda, mas “apenas” de edição de textos) e tem duas vertentes principais: conteúdo e forma.
Conteúdo
— Assegurar que foram ouvidas todas as partes
— Evitar que se incorra em processos de difamação
— Garantir que foram respeitadas as particularidades dos vários géneros jornalísticos (ex: uma notícia não é uma opinião)
— Detectar e eliminar contradições
— Zelar pelo cumprimento dos princípios éticos e deontológicos adoptados no Livro de Estilo do PÚBLICO
Forma
– Respeito pelas regras jornalísticas de construção (estrutura) das notícias, reportagens, etc.
– Normalização de grafias
– Correcção ortográfica e linguística
– Assegurar que os textos são claros e concisos
– Evitar palavras repetidas nos títulos da mesma página ou de um plano
– Alterar títulos com formulações idênticas
– Verificar se os títulos estão sustentados no lead da notícia e se os nomes dos protagonistas e dos territórios estão correctamente grafados (sobretudo internacionais)
Aspectos gráficos
– Verificar se o espaço previsto para publicidade está contemplado nas páginas
– Aferir se os tipos e corpos de letra respeitam as normas gráficas do PÚBLICO e se estão correctamente hierarquizados
– Alertar o director de fecho para soluções de paginação que se nos afigurem “menos felizes” (formato final da página confuso ou deselegante)
(…)
7) No caso da Pública, por norma, todos os textos são corrigidos por mim. Depois de a página estar completa (com destaques, subtítulos, legendas e créditos fotográficos), volto a revê-la. Ainda assim, por vezes há falhas que só detecto no domingo seguinte… Quando já nada há a fazer. E ninguém fica mais zangado e infeliz com os erros do que quem faz este trabalho.
(…)
9) O grau de autonomia é total dentro do que o bom senso dita. “Se não está mal, está bem”, como diz um dos nossos colegas mais competentes e experientes na tarefa de revisão/edição (André Lopes). Havendo necessidade de confirmação de dados ou clarificação de pormenores, contacta-se o autor e esclarece-se o que houver a esclarecer. Nunca se deve alterar um texto assinado seguindo critérios de gosto pessoal de quem revê.
(…)
12) Não há um procedimento formal. Mas por vezes acerco-me de um ou outro colega e, diplomaticamente, digo-lhe qualquer coisa como: “Andas enganado há algum tempo. ‘Tal e tal’ não é assim, mas assim.”
13) Além da pressão do factor tempo (já descrita), penso que o afastamento da redacção de pessoas mais velhas, mais experientes e com maior cultura literária provocou um empobrecimento no vocabulário dos textos produzidos. Escrever correctamente tornou-se algo que parece preocupar apenas “meia dúzia de exóticos”. O hábito crescente de se comunicar depressa, sem vogais, com abreviaturas ou por siglas, que os novos meios tecnológicos estimulam, vai sub-repticiamente contaminando a comunicação tradicional, digamos assim. Escreve-se um texto e “envia-se” sem ser revisto, muitas vezes nem pelo próprio autor.
14) Na minha opinião, fomos perdendo autoridade para impor algumas das regras. Por outro lado, também a diminuição do número de elementos da equipa não permite em todas as circunstâncias assegurar o cumprimento das normas de harmonização.
15) Sugiro que nas reuniões diárias da manhã, onde estão presentes as chefias com maior responsabilidade do jornal (directores e editores), se leia com atenção a edição do dia, se aponte os erros e se sensibilize todos os intervenientes para que se preocupem tanto com o rigor e a clareza da escrita como se preocupam com a preservação e o tratamento das fontes. Motivar os jornalistas mais jovens para outros tipos de leitura, que não apenas a de jornais e revistas. Eventualmente, convidá-los a escrever uma recensão sobre um livro de três em três meses, por exemplo. Com a possibilidade de ser publicada no Ípsilon (ou não, caso não tenha qualidade). Periodicamente, poder-se-ia também patrocinar a frequência cursos de formação sobre escrita, jornalística ou outra.
19.04.11
Rita Pimenta
(Copy Desk- Redacção de Lisboa)
Resposta de Manuela Barreto
1) Quando leio o jornal por interesse pelos assuntos ou pelos jornalistas de que gosto particularmente, dou com erros e gralhas, mas não me parece que abundem assim de forma tão avassaladora. Alguns amigos leitores queixam-se por vezes de que nos últimos anos, genericamente, há mais erros e a qualidade/estilo da escrita se degradou. Não creio que haja uma preocupação particular no jornal em relação à questão linguística. A pressão do fecho, entre outras razões que as minhas respostas irão esclarecendo, atenuou-a comparativamente há anos (20, 10 anos).
2) Tem havido, como é natural, uma renovação da redacção do Público. Perdeu-se um bocado a coesão estilística dos primeiros anos e os seniores, que ensinavam, também se têm ido. Além disso, a redacção também foi reduzida. Muito trabalho, menos gente, pressão para mais rapidez, parece-me que não há tempo para formar/ensinar/pensar. A equipa dos desks (que começou com 13 elementos em Lisboa + 3 no Porto) também foi sendo alvo de cortes. A que existe hoje mantém porém toda a disponibilidade para responder às questões da redacção e esta aproveita o “serviço”. O pior é quando a dúvida não se chega a colocar ou mais ninguém lê. Deve insistir-se na velha regra de pelo menos dar a ler ao colega do lado. E as pessoas podem e devem perguntar, casuisticamente, se há disponibilidade para ler um dado texto. Duvido que levassem uma resposta negativa.
3), 4), 5), 6) e 7) O Público nunca foi revisto na íntegra. Mas era mais lido (em número de textos) tanto no diário, como nos suplementos. Actualmente, a Pública tem um desk próprio e é lida na totalidade. O ípsilon, a Fugas e o online não são revistos, salvo esporadicamente. O P2 e o Cidades, em regra, são revistos na totalidade, em versão texto. No diário revêem-se páginas e são de leitura integral obrigatória o destaque, as aberturas de secção, a primeira e a última páginas, as páginas de opinião (incluindo cartas de leitores e editorial). Nas restantes páginas devem ler-se título, antetítulo, pós-título, entrada, começo e final da notícia, destaques, legendas, assinatura das fotos, verificar se a sequência da notícia faz sentido coluna a coluna. Acontece que em dias de atraso (em cima da 23h30-24h) há páginas que a direcção decide que não são lidas, sejam elas quais forem, exceptuando, até à data, a primeira e a última. (…). Os desks corrigem aspectos linguísticos, mas também factuais, deontológicos, técnicos, da construção da notícia, embora estes últimos aspectos menos do que há anos. Podem refazer leads, sugerir alterações de títulos, fazer legendas, subtítulos, entradas, destaques, cortar texto. São o primeiro leitor. Tem de ser claro para eles, independentemente do assunto. As intervenções mais profundas implicam consultar autor/editor/director.Também revêem infografias (em regra em print).
8) A equipa actual de desks que lê diário e P2 comporta 2 desk em Lisboa e 3 no Porto. Para assegurar o mínimo de 3 pessoas das 16h ao fecho – excepto ao fim-de-semana e feriados, em que só trabalham dois desks -, por baixa ou férias, recorre-se a “desks externos”, pessoas com experiência em revisão e que nós formámos. Em fases normais pode haver 1 desk logo a partir das 14h. (…). Os “desks residentes” também participam na equipa que edita os comentários online dos leitores. O fluxo de trabalho é variável, dependendo do número de desks a trabalhar, do dia da semana e do número de páginas do jornal. Haverá um mínimo de 8 páginas e 6 textos e um máximo (à sexta, em que se fecha o P2 e o Cidades) de 14 páginas e 12 textos, números aproximados, por cada desk.
9) Questões de português são corrigidas sem mais. Questões de estilo, de estrutura de texto, títulos, decisões que vão perdurar (topónimos, gentílicos, traduções de palavras) são vistas com autores/direcção e comunicadas aos mais directamente envolvidos.
10) Não há intervenção no online, a equipa não chega para isso. Quando abro o online e vejo um erro, tento corrigi-lo ou alertar para que seja corrigido. Mas é preciso ter tempo para isso. E para ler o jornal (por interesse e para apanhar “background” para o noticiário da edição a fechar).
11) Sim, pelos editores. Há autores que conheço há anos e esses, apesar de muita e boa evolução, procuro lê-los na íntegra. Actualmente tendo a fazer isso com textos da Lusa (que segue o novo acordo ortográfico), se percebo que ninguém da redacção os leu.
12) É uma questão delicada, mas sobretudo quando há discrepância de critérios ou um erro mais clamoroso, abordo o assunto o mais diplomaticamente possível.
13) Más traduções, sem tempo para a reflexão. Erros de gramática. Algum economês. Diria que são recorrentes “chamado de”, mau uso dos infinitivos (“o facto do ter escolhido”), acentuação errada nos compostos de pôr; “vêm” quando querem escrever “vêem”, reunir-se e estrear-se não surgem conjugados reflexamente, tal como aparece “as acções negociaram em alta”, “alavancagem” (ainda não sei o que é), “elencar”; discurso indirecto errado na sua transformação do discurso directo e na pontuação (o ministro disse que “a minha ideia é…”)
14) Os desks são consultados. E, por vezes, têm de ser combativos, para impor o seu ponto de vista.
15) Tentei apurar a que se deveram as falhas a que o José Queirós se referiu no seu texto editado a 10/4. A falta do “que” na capa da edição de 7/4 foi falha minha, tal como a confusão entre Ernâni Lopes e Silva Lopes no texto e na pequena caixa em destaque (era Silva Lopes). Nem a p.2 dessa edição, nem a p.2 da edição da véspera foram objecto de revisão (a tal decisão da direcção que pode ser tomada de não enviar páginas a desks). Também não veio a desks a p. 6 de 7/4. “É possível que leilão de dívida de ontem seja o último do ano” foi revisto e o que é areia na engrenagem é o lugar do ontem na frase, não os tempos verbais, diria. Quanto à p. 12 da mesma edição de 7/4 creio que não veio a desks, embora não tenha, neste caso, certeza absoluta. Fico bastante aborrecida quando falho, mas falho, importa dizer.
(…) Decidimos, desks de Lisboa e desks do Porto, enviar respostas em separado por termos experiências “históricas” diferentes, já que a secção apenas se tornou uma só, à semelhança de outros sectores do jornal, após a remodelação gráfica ocorrida em 2006. Não há coordenador de secção desde essa altura.
19.04.11
Manuela Barreto
(Copy Desk – Redacção de Lisboa)
Resposta da equipa de Copy Desk da Redacção do Porto
1) Concordamos que a ocorrência de erros num jornal que é visto como “de referência” é mais grave do que se o jornal não tivesse essa imagem: os leitores estão menos predispostos a relevar esses erros. Quanto à percepção dos leitores, é difícil comentar, uma vez que basta um erro para “sujar” uma edição ou pelo menos um caderno. E mesmo que a edição estivesse “limpa”, incidiria sobre a imagem do jornal a ocorrência de erros imaginários, aqueles que cada leitor imagina que existem, mas que não são fundados. Neste campo, o leitor não tem sempre razão. Mas restringindo a presente análise aos que a têm ou, ciclicamente, a vão tendo, é possível que os lapsos se tenham agravado nos últimos anos. Pensamos que existe a percepção, por parte da actual direcção, desta questão e da sua importância para os leitores. Quanto à percepção da redacção do Porto sobre esta questão (é-nos mais difícil avaliar a redacção de Lisboa), pensamos que ela existe (…).
2) Entre as causas pensamos estarem a exiguidade de meios humanos para corresponder às expectativas dos leitores e às mudanças introduzidas ao longo dos anos nos processos de redacção e edição do jornal.
3)Revisão de textos e páginas e edição de textos, ou seja, revisão editorial dos conteúdos, de modo a adequá-los ao disposto no “Livro de Estilo do PÚBLICO”.
4) Numa secção de revisão, os revisores fazem a correcção ortográfica, gramatical e sintáctica dos textos; na secção de Copy Desk do PÚBLICO, os copy editors (jornalistas), além daquela revisão, cumprem e fazem cumprir as regras dispostas no “Livro de Estilo do PÚBLICO”, examinando e reescrevendo os textos tanto quanto seja necessário, de modo a adequá-los a essas regras, que se aplicam quer a formas, quer a conteúdos. Há, contudo, dependência prática de dois elementos: tempo e meios disponíveis.
5) A equipa é responsável, diariamente, pela revisão editorial, no todo ou em parte decidida pela editoria, dos textos do caderno P2 e de todas as páginas do caderno P1 (as excepções são ditadas pela direcção de fecho, de acordo com o tempo disponível). Semanalmente, é responsável pelo caderno Cidades e, mensalmente, pelo caderno PÚBLICO na Escola.
6) A equipa assegura a revisão de todas as páginas do P1, excepto as que, por razões de tempo de fecho, a direcção decide não enviar ao Copy Desk.
7) As prioridades – que podem ser alteradas em edições especiais como eleições, etc. – são a primeira página, a última, a do editorial e as de opinião. Em cada página dá-se particular importância aos títulos, entradas, legendas e fotolegendas.
8) O Copy Desk é actualmente constituído por cinco pessoas – duas em Lisboa e três no Porto –, após a saída de um elemento que passou a ter a seu cargo a revisão da revista de domingo, Pública. Esta vaga deixada na secção não foi preenchida. Na sua dimensão máxima, a secção chegou a ser constituída por 13 pessoas em Lisboa e três no Porto.
9) O grau de autonomia é aquele consagrado no “Livro de Estilo do PÚBLICO”. O Copy Desk reporta directamente à direcção editorial e trabalha em cooperação com os editores das secções e com os redactores.
10) Actualmente, essa intervenção é escassa, nomeadamente pela falta de meios humanos para ser viável acumular esse trabalho com o da edição em papel.
11) Além de um trabalho que nesse sentido poderá ser feito, em primeira mão, pelo editor da respectiva secção, o conhecimento das características próprias dos colegas redactores poderá justificar um ou outro cuidado especial na revisão, em especial em casos de edições em que não haverá tempo para rever todos os textos na íntegra.
12) Penso que, oficialmente, essa chamada de atenção cabe aos editores das secções e à direcção editorial, o que não impede que informalmente um copy editor converse sobre o assunto com um colega redactor. A pedido do Conselho de Redacção, está a preparar-se uma sessão de sensibilização no Porto (a que deverá seguir-se outra em Lisboa) com a intenção de se contrariar a ocorrência de erros identificados como mais comuns.
13) Pensamos que os erros mais comuns se devem a imperativos de tempo e a alterações no processo editorial do jornal que encurtaram ou suprimiram fases de controlo de qualidade anteriormente existentes. De um tempo em que havia seis intervenções em cada texto (revisão pelo autor, revisão pelo editor da secção, edição por um copy editor, revisão na página electrónica por um copy editor, exame da sua impressão em papel ainda por um copy editor e OK final do director de fecho) passámos para o procedimento actual, que mantém todas as outras, mas retira aos copy editors duas das três intervenções anteriores. Ou seja, na maior parte dos casos, há apenas um momento de revisão para cada texto no Copy Desk. Se falhar nesse momento, o lapso poderá não ser detectado em tempo útil.
14) Cumpre-nos o papel de uniformização, mas nem sempre somos chamados a dar parecer na sua definição. Noutros casos, há vontades antagónicas que é praticamente impossível harmonizar.
15) Pensamos ser desejável fazer essa reflexão directamente com a direcção editorial, em futuras oportunidades, ou mesmo requerer uma oportunidade específica para esse efeito.
19.04.11
Aurélio Moreira, Ricardo Neves e José Luís Baptista
Copy Desk – Porto
Questionário enviado à direcção editorial
1) Consideram que, como sustentam muitos leitores, a quantidade de erros (e nomeadamente de erros de português) no jornal é um problema sério para a sua imagem de qualidade? Concordam com a percepção de muitos leitores, de que esse problema se tem vindo a agravar nos últimos anos?
2) Independentemente do que pensem sobre a gravidade do problema, existe, por parte da direcção, alguma reflexão sobre as suas causas? E sobre medidas que possam resolvê-lo ou atenuá-lo?
3) Quais são os procedimentos de revisão de textos e de páginas? Que passos envolvem?
4) Os textos publicados passam sempre pelo crivo dos editores?
5) Quais são os procedimentos específicos, se existem, de revisão e fecho de páginas e textos de maior visibilidade, como a capa, os destaques, as aberturas de secção, os títulos e legendas em geral?
6) Como é assegurada a revisão das informações (em forma gráfica ou de texto) contidas nas infografias? Passa pelos autores das peças com que se relacionam e/ou pelos editores de secção?
7) Existem procedimentos específicos de revisão para as zonas de informação “utlitária”, como roteiros de espectáculos, farmácias de serviço, resultados dos jogos da Santa Casa, etc.?
8) Existem procedimentos específicos de controlo de qualidade na edição on line, em que a ocorrência de erros e gralhas parece ser maior? São utilizados, como por vezes parece, sistemas automáticos de tradução de textos de agências e publicações estrangeiras?
9) São usados correctores ortográficos informáticos? Em caso afirmativo, como se explica a frequente ocorrência de erros ortográficos?
10) Por que é que continuam a aparecer de vez em quando, no jornal impresso, fragmentos de “texto virtual” (não recordo o termo técnico), que servem para contar espaços ou para transmitir indicações de ou para os gráficos?
11) Como se explicam os casos de descoordenação entre o que se diz num texto e no seu título, ou numa chamada de capa a esse texto?
12) É feito algum acompanhamento reforçado das peças de jornalistas que eventualmente apresentem um “histórico” mais negativo no uso correcto da língua?
13) Existe algum procedimento para expor e fazer circular internamente informação sobre os erros detectados no jornal impresso? Ou outras formas de sensibilizar os autores de erros de escrita, para que os compreendam e não voltem a cometê-los?
14) Sendo óbvio que nem todas as correcções de erros caberiam na secção “O PÚBLICO errou”, quais os critérios para a escolha do que ali se corrige?
12.04.11
José Queirós
Resposta da directora do PÚBLICO
1) Sim.
2) Há um mês acordámos com o Conselho de Redacção fazer uma lista, com a ajuda dos copy-desks, dos erros mais comuns, os que são eliminados antes da publicação e os que, infelizmente, saem no jornal. Essa lista servirá, precisamente, para alertar a redacção e tentar reduzir a sua frequência e, idealmente, eliminá-la.
3) Há critérios – e portanto passos – diferentes para as diferentes plataformas. Não são os mesmos para o primeiro caderno do jornal, a revista de domingo ou o online, por exemplo. Todos estão longe de ser ideias. A redução de copy-desks ao longo dos anos é uma de muitas razões para esta fragilidade. Outra é o facto de a redacção fazer hoje mais coisas – e mais complexas e diversificadas – do que uma redacção, esta ou outra, fazia há uns anos. Temos consciência da gravidade destas fragilidades e nada nos incomoda mais do que a falta de rigor.
4) Nem sempre. No online, por exemplo, a urgência em publicar e a quantidade de textos publicados por dia (mais de 100) nem sempre permite a leitura de um editor.
5) No Público há a figura de editor de fecho, um editor experiente que é responsável pelo fecho do jornal com um membro da direcção. Ao fim-de-semana, há uma pool de jornalistas seniores que exercem essa função. Uma das principais tarefas do editor de fecho é, precisamente, a revisão de páginas, uma vez dadas por fechadas pelos respectivos editores. Este filtro, criado há 4 anos, permitiu diminuir muitos erros óbvios, como repetição de palavras em títulos que surgiam em páginas seguidas; repetição de notícias (a mesma notícia publicada em duas secções diferentes), ou uma legenda cujo campo, por esquecimento, o jornalista e o editor deixaram em branco. Mas permitiu também encontrar e corrigir outro tipo de erros menos óbvios como “leads” que repetem “entradas”, títulos demasiado distantes do conteúdo inicial do texto; erros ortográficos, etc. (…).
6) As regras são a infografia ser construída e acompanhada e revista pelo jornalista e editor envolvidos na notícia que a acompanha. No entanto, a revisão falha por vezes.
7) Os dados das farmácias são fornecidos pela Associação Nacional de Farmácias e gerados automaticamente; não temos por isso controlo sobre o seu conteúdo (se os horários estão errados, não temos forma de o confirmar; há pouco tempo aconteceu até publicarmos os dados de uma farmácia cujo edifício já não existe e foi a própria farmácia a ligar para nos dar a sua nova morada). Os roteiros são feitos a partir da informação enviada pelos teatros, cinemas, produtoras de espectáculos em geral e, em caso de dúvida (perante contradições, omissões, etc) confirmados por telefone pela nossa equipa do Guia do Lazer. Santa Casa: consultamos o site oficial e a própria Santa Casa envia dados por mail. São publicados no site com a ressalva de que pode ocorrer um erro na transcrição.
8) Não há tradutores automáticos. Além dos editores, que lêem o maior número de noticias possível, há um mecanismo muito útil que é o reporte directo de erros pelos leitores.
(…)
12) Há um mês a direcção discutiu e acordou com o Conselho de Redacção fazer uma lista, com a ajuda dos copy-desks, dos erros mais comuns, os que são eliminados antes da publicação e os que, infelizmente, saem no jornal. Essa lista servirá, precisamente, para alertar a redacção e tentar reduzir a sua frequência e, idealmente, eliminá-los.
(…)
28.04.11
Bárbara Reis
Mensagem de um leitor sobre a crónica anterior (“Erros vistos de fora e de dentro”)
Felicito-o por voltar a este tema, que é recorrente a todos os provedores do leitor do Público, e que, como em mais “outros temas”, não vai ter emenda, enquanto não houver verdadeira força e vontade para emendar. E tal ainda mais espantoso se torna – a não mudança – estando a falar-se do Público, jornal de qualidade, e que se (quando) perder totalmente a qualidade, acaba. E ainda não entenderam “dentro” este problema! O mais fácil, sempre, é continuar a dizer que existem poucos recursos humanos – desculpa que vem desde o primeiro provedor – e o problema fica por aí. E todos pensam no dia em que o quadro do pessoal do Público aumentar, tudo se resolve, qual milagre.Talvez, ou talvez não! Mas se em vez de culpar os outros e esperar por mais, muito mais, ou só mais 1….pessoal que nunca virá, cada pessoa que escreve o que quer que possa ser – estamos a falar de profissionais que são pagos para escrever ou para ler, ou para rever e não de amadores – tiver muito, muito mais cuidado e autocorrigir-se, (…).tudo ficará de imediato diferente (…).
26.04.11
Augusto Küttner de Magalhães
Porto
Mensagem de um leitor sobre “bolsistas” e “bolseiros”
Sou leitor assíduo do PUBLICO desde a primeira edição, até ao dia de hoje.Tenho visto, ao longo destes 21 anos, mas mais nos últimos, fazer algumas atrocidades à língua em que todos nos entendemos. Começo a ficar sem paciência para continuar a fazê-lo, sem me manifestar. Na primeira página [edição de 31.01.11], vem a seguinte notícia:”Mais de 1200 bolsistas fora da Universidade”. Um profissional da escrita deve ter à mão um dicionário, para verificar a palavra que está a usar é apropriada. É que, não basta que ela exista, e que o corrector ortográfico a aceite como correcta, é necessário que ela exprima o que se deseja transmitir. (…)
– bolsista (adj. 2 gén.)1. Econ. Que é relativo à bolsa ou aos movimento comerciais nela realizados; 2. Econ. Profissional que opera na bolsa.
– bolseiro (s. m.)1. O que faz bolsas; 2. Alforgeiro;3. Bolsa, tesoureiro; 4. Aquele a quem foi concedida bolsa (subsídio).
Por favor, não contribuam para destruir a língua portuguesa.
José Laranjo