(Crónica da edição de 31 de Outubro de 2010)
A questão não é nova e a controvérsia está longe de estar encerrada. Deve ou não um jornal português utilizar a palavra “islamista”, ainda hoje ausente dos principais dicionários da língua?
“A polícia francesa prendeu hoje doze pessoas ligadas ao movimento islamista, em duas investigações distintas que decorrem num contexto de alerta geral para possíveis atentados terroristas na Europa” — lia-se no PÚBLICO do passado dia 5. Cito esta notícia como poderia citar muitas outras, já que o termo “islamista” é há muito usado neste jornal com o significado que tem nesta frase. Refiro-a por ter sido a que levou o leitor Carlos Brighton a escrever o seguinte: ” A pessoa que escreveu o artigo queria dizer ‘islamitas’ e não ‘islamistas’, que é uma palavra que não existe em português. É um erro recorrente nesse jornal”.
Na verdade, não se trata de um “erro recorrente”, mas de uma opção deliberada. Expliquei ao leitor que, de acordo com o seu Livro de Estilo, o PÚBLICO emprega o termo “islamista” para definir “os que usam o islão como arma política e de terrorismo, de modo a distingui-los dos fiéis islamitas”, e usa o termo “islamita” para definir o crente no islão. Reconhecendo tratar-se de uma opção discutível, recordei que essa distinção vigora há largos anos no jornal e foi em devido tempo justificada, não propriamente a partir de um critério linguístico, mas em nome de uma procura de clareza conceptual, tal como sucedeu em outros meios de comunicação no mundo ocidental.
A explicação não agradou ao leitor. Do seu ponto de vista, não é aceitável “inventar uma palavra, semelhante a outra existente, e confundível com ela por parte de quem está menos atento”, ou pela “população menos esclarecida”, para “classificar um grupo de pessoas”. Para Carlos Brighton, “há maneiras mais honestas de o fazer, como, por exemplo, classificar essas pessoas como ‘terroristas islâmicos'”, o que “identifica perfeitamente o que se pretende comunicar, e não contribui para criar preconceitos susceptíveis de, neste caso, generalizar a opinião negativa que no ocidente se vai desenvolvendo sobre os islamitas em geral”.
Ou seja, pelo menos para este leitor, a clarificação procurada provocaria um efeito contrário ao pretendido. Motivo para regressar a um debate antigo e que continua a motivar posições contraditórias, confrontando uma visão mais ortodoxa da língua com uma perspectiva mais aberta à evolução terminológica. Sendo que o que está em causa, neste espaço, não é obviamente uma discussão sobre correcção linguística, mas sobre o mérito de uma convenção jornalística. Não sendo independentes, são questões diferentes.
Fiz apelo à experiência de Margarida Santos Lopes, redactora principal do PÚBLICO, reconhecida especialista nos assuntos do Médio Oriente e do mundo muçulmano, e autora de um pioneiro “Dicionário do Islão” (2002) e do recém-publicado “Novo Dicionário do Islão”. Num depoimento que me enviou, a jornalista defende a opção que vingou neste diário, começando por recordar: “Muitos estudiosos do Islão, incluindo muçulmanos portugueses como AbdoolKarim Vakil, académico no Kings’ College, em Londres, insistem na necessidade de distinguirmos entre ‘islamista’ (o combatente) e ‘islamita’ (o crente no Islam, termo árabe para ‘submissão’ a Deus e cuja raiz é a mesma de Salaam, paz). Recomendam também que não se confunda Islão (religião) e islamismo (ideologia), para que fé não seja sinónimo de terrorismo. Não vejo motivo para não aceitar esta distinção”. “A palavra ‘islamofobia'”, faz notar, “também não existia mas, infelizmente, apareceu (ou teve de aparecer) para definir a intolerância crescente em relação aos muçulmanos (…). Se insistirmos em chamar ‘islamitas’ aos ‘islamistas’ estamos a propagar a islamofobia — é a minha convicção, como estudiosa do mundo muçulmano desde há mais de três décadas”.
Margarida Santos Lopes também não vê com bons olhos o recurso à expressão, sugerida pelo leitor, de “terrorista islâmico”. Recorda que, em 1995, ninguém chamou “terrorista cristão” a Timothy McVeigh quando este fez explodir um edifício federal em Oklahoma, nos Estados Unidos, nem “terrorista judeu” a Yigal Amir, o jovem colono que assassinou o primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin. E questiona: “Por que havemos de discriminar os muçulmanos se a maioria deles (cada vez menos silenciosa) encontrou uma forma de se afastar de uma minoria (ainda ruidosa) que mata em nome de Deus?”.
Argumenta ainda: “Quando um insurrecto sunita ataca uma mesquita xiita no Iraque numa sexta-feira, dia de oração, dizemos que um ‘islamita’ atacou um templo ‘islamita’?”. E, contrariando a aplicação aos casos de terrorismo de uma outra expressão (a de “fundamentalistas islâmicos”), sublinha: “Grandes estudiosos desta religião (…) recomendam que designemos os terroristas como ‘islamistas’ — porque o termo ‘fundamentalista’ não significa terrorista. Um fundamentalista religioso não é necessariamente violento”.
“Da minha parte”, conclui Margarida Santos Lopes, “tenho a certeza de que a decisão editorial do PÚBLICO (seguida por muitas editoras portuguesas na tradução de obras sobre o Islão e os muçulmanos) de distinguir entre crente e combatente ajuda a promover a tolerância. O facto de raramente ou nunca usarmos ‘islamita’ como sinónimo de muçulmano deve-se ao facto de, em muitos meios de comunicação social, o termo ‘islamita’ estar a ser usado frequentemente como sinónimo de ‘terrorista islâmico’”.
A utilização do termo “islamita” para designar radicais ou mesmo terroristas, como acontece em outros órgãos de imprensa, é de facto criticável. Na nossa língua, a palavra está dicionarizada como significando seguidor da religião muçulmana. Como observava o jornalista Francisco Belard num texto publicado em 2007 no Expresso, “a tendência internacional é hoje a de chamar Islão (islam) à religião e ‘islamismo’ à ideologia (…) extremista ou fanática”. Notando que o dicionário da Real Academia Espanhola, de 2001, já regista “islamista” como “relativo ao integrismo muçulmano”, Belard argumentava que “todos os ‘islamistas’ se reclamam do Islão, dizendo-se muçulmanos, mas nem todos os muçulmanos são ‘islamistas'”. E concluía ser preferível utilizar em português “o conceito consagrado desde os anos 80 e 90 por politólogos, historiadores e jornais de referência em francês, inglês e espanhol”. “Islamistas”, portanto.
“O islamismo”, escreveu o politólogo francês Olivier Roy, estudioso do mundo muçulmano, é hoje “uma ideologia que quer fazer do Islão e do respeito integral pela sharia um modelo político alternativo à democracia”. É inegável que o termo, que os nossos dicionários ainda definem como significando a fé islâmica, sofreu nas últimas décadas uma evolução semântica nas principais línguas ocidentais, tanto no plano académico como no seu uso jornalístico, acompanhando uma clarificação de conceitos científicos e políticos. Uma história informada dessa evolução — que é também uma história da evolução da percepção ocidental sobre o mundo muçulmano — pode encontrar-se num estudo de Martin Kramer, publicado em 2003 na revista conservadora norte-americana Middle East Quarterly.
Kramer, também ele um estudioso de assuntos islâmicos, explica que a palavra “islamismo” (“islamisme”) surgiu em França no século XVIII, com o significado de religião dos muçulmanos, substituindo progressivamente o menos curial “mahométisme” e passando depois para outras línguas (como a portuguesa). Mostra que foi caindo em desuso desde o início do século passado, sendo preterida pela ocidentalização do nome árabe da fé, o Islão. E que viria a renascer, de novo em França, nos primeiros anos da década de 80, quando académicos e jornalistas sentiram a necessidade de distinguir a fé islâmica da ideologia que a invoca. Considerando inadequadas outras alternativas para descrever o fenómeno moderno do “Islão político”, como a de “fundamentalismo islâmico” (originada nos EUA por analogia com o fundamentalismo cristão de algumas correntes protestantes), diversos especialistas recuperaram o termo “islamismo” para denominar especificamente os movimentos que afirmam o Islão como ideologia e programa político, quer recorram ou não à violência. Uma década depois, o seu uso estava espalhado no mundo anglófono e em outras línguas ocidentais.
O autor norte-americano considera que este processo de ajustamento semântico poderá viver novas etapas, resultantes da evolução do conhecimento e percepção ocidentais acerca dos novos movimentos radicais no mundo islâmico. A expressão “jihadismo”, por exemplo, já concorre com as anteriores para designar os movimentos mais extremistas e violentos do “Islão político”. Em última análise, deverá prevalecer o vocábulo que garanta uma maior inteligibilidade do fenómeno que se descreve.
É essa perspectiva que, na minha opinião, deve nortear a avaliação da opção feita pelo PÚBLICO. Quando um jornal convenciona utilizar um determinado termo para referir um fenómeno específico, fá-lo precisamente porque a escolha não é óbvia. Trata-se de procurar maior clareza na informação transmitida e de o fazer com coerência. Quando o que está em causa é a descrição de fenómenos novos, nem sempre as melhores soluções se encontram na ortodoxia linguística.
“Islamista” é certamente, em português, um neologismo. Mas, se se consolidar como um neologismo útil e operativo, acabará, também no nosso país, por ser incorporado na língua e nos dicionários. Do meu ponto de vista, os argumentos para a sua adopção no PÚBLICO são razoáveis. Ainda que não seja a única solução possível, é por certo preferível — em contextos como o da notícia citada — a “islamita”, que, sendo em português o mesmo que muçulmano, leva a identificar com as minorias extremistas todos os crentes de uma vasta confissão religiosa.
José Queirós
Documentação complementar
Primeira carta do leitor Carlos Brighton
A pessoa que escreveu o artigo [“Doze pessoas ligadas ao movimento islamista detidas em França”, PÚBLICO, 05.10.10] queria dizer ISLAMITAS e não islamistas, que é uma palavra que não existe em português. É um erro recorrente nesse jornal, e era bom que se tivesse atenção a erros destes, que ainda são bastantes, quer na redacção, quer na revisão… Sendo um jornal de referência, tal coisa não é aceitável.
5 de Outubro de 2010
Carlos Brighton
Explicação ao leitor
Não se trata de um erro recorrente, mas de uma opção deliberada do jornal.
De acordo com o seu Livro de Estilo, o PÚBLICO emprega o termo “islamista” para definir “os que usam o islão como arma política e de terrorismo, de modo a distingui-los dos fiéis islamitas”. E usa o termo “islamita” para definir o crente no islão.
Será certamente uma opção discutível, mas essa distinção vigora há largos anos nas páginas do jornal e tem sido considerado que contribui para a clareza do que é noticiado.
O PÚBLICO justificou na altura essa opção com o facto de outras línguas fazerem uma distinção semelhante, sublinhando que não se trata tanto de um critério linguístico como de um critério prático, devido ao facto de o termo “islamismo” ter vindo a adquirir uma forte conotação política.
6 de Outubro de 2010
J.Q.
Segunda carta do leitor Carlos Brighton
A sua resposta é, no mínimo, … estranha. Inventar uma palavra, semelhante a outra existente, e confundível com ela por parte de quem está menos atento, ou, como é sabido e explorado por esse jornal, por parte de uma parcela, infelizmente grande, da população menos esclarecida, para classificar um grupo de pessoas, chama-se “desinformação”. Há maneiras mais honestas de o fazer, como, por exemplo, classificar essas pessoas como “terroristas islâmicos”. Identifica perfeitamente o que se pretende comunicar, e não contribui para criar preconceitos susceptíveis de, neste caso, generalizar a opinião negativa que no ocidente se vai desenvolvendo sobre os islamitas em geral . É por atitudes destas que há cada vez menos pessoas a comprar o “PÚBLICO”…
10 de Outubro de 2010
Carlos Brighton
Depoimento da jornalista Margarida Santos Lopes
Como acabo de publicar o Novo Dicionário do Islão (edição da Casa das Letras), o leitor oferece-me, de certa maneira, a possibilidade, de ser ainda mais clara a respeito da questão que me coloca e que muita discussão tem alimentado, em particular no Ciberdúvidas.
Muitos estudiosos do Islão, incluindo muçulmanos portugueses como AbdoolKarim Vakil, académico no Kings’ College em Londres, insistem na necessidade de distinguirmos entre “islamista” (o combatente) e “islamita” (o crente no Islam, termo árabe para “submissão” a Deus e cuja raiz é a mesma de Salaam, paz). Recomendam também que não se confunda Islão (religião) e Islamismo (ideologia), para que fé não seja sinónimo de terrorismo. Não vejo motivo para não aceitar esta distinção e, pelo contrário, ficarmos prisioneiros do que considero serem critérios linguísticos tão retrógrados como os que levam alguns muçulmanos a interpretarem literalmente os seus textos sagrados, como se ainda vivessem no século VII de Maomé.
Vejamos como temos evoluído neste campo: até muito recentemente, só se escrevia “Alcorão”, mas gradualmente a palavra “Corão” foi encontrando o seu lugar e, hoje, ambas coexistem na Língua Portuguesa. Durante anos usou-se o termo “maometano” para definir os fiéis de Allah/Alá, mas gradualmente foi sendo abandonado porque os muçulmanos alertaram para uma “conotação pejorativa”. Para os muçulmanos, é Deus e não Maomé que os define. A palavra “islamofobia” também não existia mas, infelizmente, apareceu (ou teve de aparecer) para definir a intolerância crescente em relação aos muçulmanos, tal como anti-semitismo há muito classifica o ódio aos judeus. Se insistirmos em chamar “islamitas” aos “islamistas” estamos a propagar a islamofobia — é a minha convicção, como estudiosa do mundo muçulmano desde há mais de três décadas.
Por outro lado, eu discordo totalmente da expressão “terrorista islâmico”. Em 1995, quando Timothy McVeigh fez explodir um edifício federal em Oklahoma, nos Estados Unidos (e recordemos que a suspeita recaiu imediatamente sobre a comunidade islâmica na América) ninguém o caracterizou como “terrorista cristão”. De igual modo, evita-se definir Yigal Amir, o jovem colono que, em 1995 assassinou o primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin, como “terrorista judeu”. Por que havemos de discriminar os muçulmanos se a maioria deles (cada vez menos silenciosa) encontrou uma forma de se afastar de uma minoria (ainda ruidosa) que mata em nome de Deus?
Quando um insurrecto sunita ataca uma mesquita xiita no Iraque numa sexta-feira, dia de oração, dizemos que um “islamita” atacou um templo “islamita”? Grandes estudiosos desta religião — muçulmanos (como Dalia Mogahed, Tariq Ramadan ou Abdolkarim Soroush) e não muçulmanos, como John Esposito, Olivier Roy, Karen Armstrong ou Hans Küng) —recomendam que designemos os terroristas como “islamistas” — porque o termo “fundamentalista” não significa terrorista. Um fundamentalista religioso não é necessariamente violento; pode ser apenas ultraconservador no modo como interpreta e aplica o Corão e as hadith (tradições do tempo de Maomé).
O Sultanato de Omã é disso um exemplo. A maioria da sua população é ibadita, corrente que emergiu dos kharijitas (a primeira seita do Islão, nascida quando os seguidores de Ali ibn Abi Talib o abandonaram — kharijita significa “aquele que parte” — e um deles o assassinou por o genro de Maomé ter aceitado submeter o seu “califado divino” a “arbitragem humana” numa batalha com o ambicioso e rival governador da Síria, Muawiyah ibn Abi Sufyan, em 657). Os kharijitas eram fundamentalistas e violentos; os ibaditas são fundamentalistas religiosos mas pragmáticos do ponto de vista social e político — os omanitas foram dos primeiros árabes a incluir mulheres em cargos de poder, dos raros a não ostracizar o Egipto quando Anwar Sadat fez a paz com Israel e os únicos que se mantiveram neutrais na guerra Irão-Iraque de 1980-88, optando pelo papel de mediadores.
De igual modo, os 15 milhões de ismai’liyyah/ismailis (não ismailitas, como erradamente se tem escrito) — com importante presença e influência em Portugal — descendem da seita xiita dos Assassiyun (Assassinos), talvez dos primeiros guerrilheiros suicidas no Islão, e são hoje um dos rostos mais tolerantes da religião nascida há 1400 anos. O actual imã (guia espiritual) dos ismailis, Aga Khan IV, príncipe Karim al-Hussayni, está envolvido em várias acções de filantropia, desde a preservação de lugares históricos, como Samarcanda (no Uzbequistão), a ajudas ao desenvolvimento em países como Moçambique, de onde provém uma parte importante dos cerca de 8000 fiéis portugueses.
Se a distinção islamita/islamista contribui para combater a islamofobia, não entendo por que não havemos de nos adaptar aos novos tempos pós-11 de Setembro, que aumentaram medos, desconfianças, preconceitos e estereótipos – em grande parte devido à ignorância do “outro”.
A Língua Portuguesa é generosa. Vejamos este exemplo: A “estalagem onde se hospedam gratuitamente as caravanas que atravessam regiões desertas” tem três designações aceites pelo Dicionário Houaiss: caravançará, caravançarai e caravancerá. O termo é uma ocidentalização da expressão persa que combina kârvân/caravana com sara/palácio ou habitação. Outro exemplo: em algumas obras recentemente traduzidas, também já encontrei grafias diferentes para referir o mais alto cargo da hierarquia religiosa dos xiitas: ayatollah, aiatolá e aiatola. Não vejo, nestes casos, que a controvérsia seja tão acesa como em relação ao de “islamista/islamita”, que se tornou quase obsessão doentia.
Da minha parte, tenho a certeza de que a decisão editorial do PÚBLICO (seguida por muitas editoras portuguesas na tradução de obras sobre o Islão e os muçulmanos) de distinguir entre crente e combatente ajuda a promover a tolerância. O facto de raramente ou nunca usarmos “islamita” como sinónimo de muçulmano deve-se ao facto de, em muitos meios de comunicação social, o termo “islamita” estar a ser usado frequentemente como sinónimo de “terrorista islâmico”.
Não tenho outros argumentos para fazer o leitor mudar de opinião – ele tem todo o direito a discordar.
15 de Outubro de 2010
Margarida Santos Lopes
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O termo Islamita ou islamista, e’ uma deturpação do termo muçulmano, tal como antiga deturpação menos usada agora – maometano. A religião designa-se Islão, e os seus seguidores muçulmanos. Tao simples quanto isso. Se verem um muçulmano terrorista denominem-lhe pelo próprio nome da pessoa (aquele que vem registado no seu documento de identificação oficial), sem introduzir a palavra muçulmano ou outra que desejem conectar ao Islão. Tal como fizeram com o terrorista Timothy McVeigh (que em 1995, fez explodir um edifício federal em Oklahoma, nos Estados Unidos), não chamaram-lhe cristão terrorista, não inventaram termo parecido com o cristianismo como por exemplo cristoes, cristonito, cristaoista, para o designarem. Apenas denominaram pelo próprio nome Timothy McVeigh. Não compliquem algo simples, a não ser que tenham outros objectivo obscuros como difamar o Islão e os muçulmanos.
Muito interessante a sua explicação/explanação Ivan Semedo.
NOTA: O comentário precedente, da autoria de Fernando Jesus Silveira, reporta-se ao depoimento prestado pela jornalista Margarida Santos Lopes.J.Q.
(continuação 2)8) Sim, devemos dizer que um islamita atacou um templo islamita, pois também dizemos que um benfiquista invadiu o relvado benfiquista. Querer fazer passar a ideia de que tal é errado é, mais uma vez e tal como já disse que a senhora estava a querer transparecer, desejar a entender que os terroristas islâmicos ou terroristas islamitas não são (bons) muçulmanos. E isso, pelo que também já disse, não é verdade.9) Acho curioso o seu elenco de “grandes estudiosos” do islão. Dos três nomes de maometanos referidos, dois são ocidentais que escrevem para ocidentais e o terceiro já teve uma fatwa lançada sobre ele pelos líderes religiosos do Irão. Quanto aos não-maometanos, já foram, por diversas vezes, desacreditados pelos maometanos que não lhes reconhecem saber para falar sobre o islão. Nomeadamente, os casos de Hans Küng e Karen Armstrong são paradigmáticos na medida em que chegam a conclusões aplicando aos textos islâmicos códigos interpretativos que, importados do âmbito histórico-crítico e aceites por outras religiões na análise dos seus textos porquanto os mesmos acolhem os seus princípios hermenêuticos, não podem ser aplicados, nem o são por parte de académicos maometanos, aos textos islâmicos. E o motivo é simples: é que se o fizessem, estariam a ter que chegar a conclusões que levariam a pôr em causa muitos dos mitos essenciais do islamismo como a “superioridade moral de Muhammad”, “a ideia de que o islão é pacífico”, “que o Qurão é de origem divina e foi redigido ainda em vida de Muhammad”.10) Estou de acordo que ser fundamentalista não é, necessariamente, um termo pejorativo, mas também não a vejo preocupada a evitá-lo somente porque os Cristãos Evangélicos o tomam como tal? Não lhe parece uma discrepância reveladora de coisas muito profundas?11) Por mim também não entendo que haja tanta polémica com o uso de islamita ou islamista, mas use-se, sempre, no mesmo livro, revista ou jornal, o mesmo termo, pois tal como disse, nem a designação “terrorista islamita” demoniza os islamitas em geral, como a expressão “terrorismo islamista” isenta os que o cometem de serem muçulmanos verdadeiros que agem da forma que agem por estarem a seguir interpretações ortodoxas da sua fé. Fazer o contrário (distinguir à força islamita de islamista) é que prestar um mau serviço ao diálogo com os maometanos, e não maometanos (pois não estou só preocupado com a sensibilidade daqueles), no pós-11 de Setembro na medida que o diálogo e o respeito devem estar apoiados na verdade e na realidade tal como ela é e não como gostaríamos que ela fosse.(Fim)Fernando Jesus Silveira
(continuação)6) a palavra islamofobia, de que se socorre para justificar uma inovação linguística, é profundamente errada do ponto de vista semântico e não é por isso que a rejeita. Ela, com efeito, surgiu para descrever o real e até, em alguns casos, justificado medo por uma fé que, como esteio normativo referido pelo qurão e os haditha, refere que se deve impor, quando numa sociedade islamizada, um imposto degradante àqueles e combater aqueles que não a acolhem uma vez ela a eles anunciada. Passou, depois, a ser usada pelos maometanos para descrever actos e palavras que os ofendem (mesmo que se limitem a meras descrições dos seus próprios actos ou actos e palavras do seu fundador) e assim levarem a que os mesmos sejam censurados. Contudo o islão não é uma pessoa: os islamitas, muçulmanos ou maometanos é que o são.7) a referência a Timothy McVeigh e a Yigal Amir para dizer que não é justo falar-se em “terroristas muçulmanos”, permita-me que o diga, não passa, parece-me, de diversão, de tentativa de mudança de campo de debate para se esquivar a encarar a realidade tal como ela é. Nunca os senhores Timothy McVeigh e Yigal Amir invocaram para justificar os seus actos religiosos a sua fé ou os textos religiosos fundantes das mesmas até porque, pelo menos no caso do primeiro, que é quem eu conheço melhor e que os maometanos dizem ser Cristão apesar do mesmo ter-se sempre dito ateu, isso nunca seria possível. E é isso, precisamente, que fazem os muçulmanos que enveredam por actos terroristas: eles recorrem, a partir de uma interpretação ortodoxa dos mesmos, aos seus textos religiosos. Mais: referindo-se a “terroristas muçulmanos” não se está a generalizar para os muçulmanos que não são terroristas uma designação adequada para os que o são. Quando digo “cavalo branco”, ninguém confunde isso com “cavalo negro”. Claro que ambos são “cavalos”, mas não se confundem. Querer inventar uma palavra nova apenas para dar a entender que os terroristas islâmicos ou terroristas islamitas não são (bons) muçulmanos é não querer ver a realidade; é querer adoçar algo em detrimento de se o enfrentar de frente e com os olhos da verdade bem abertos, é perpetuar, usando as suas palavras “a ignorância do ‘outro’” Eis porque, talvez, nunca os Cristãos se preocuparam em impor aos demais a conveniência de se não dizer que os Cruzados não eram Cristãos criando-se para os mesmos uma palavra mais agressiva como cristotolos. O que, aliás, não me parece que alguma vez a tenha preocupado nos seus artigos. Isto é: criar uma palavra para não se confundir os Cristãos que cometem actos terroristas dos que não os cometem. Mas talvez isso apenas seja devido ao facto de haver tão poucos actos terroristas cometidos por Cristão. Não sei. Mais lhe digo, permita-me: algo que é feito é Cristão ou muçulmano (ou de qualquer outra religião) se for feito de acordo com os textos fundantes, e interpretações ortodoxas, dessa religião, donde nunca poderá haver um “atentado Cristão”, mas poderão haver, lamentável e tristemente, “atentados islamitas”.(continua)
Permita-me discordar de si em diversos pontos que muito aprazia que me esclarecesse.1) o facto de "islam" e "salam" terem a mesma raíz não significa que tenham, de modo algum algo em comum como parece estar a querer dar a entender bem de acordo com o movimento de difusão dessa ideia no ocidente depois da década de 60 do século transacto; de facto a raiz comum a estas duas palavras "slm" está igualmente presente na palavra "salem" (inteiro), mas certamente não lhe ocorrerá dizer que, por isso, se aproximem no sentido, seja de modo directo ou indirecto; mais: nunca no qurão nem nos haditha autênticos surge essa aproximação que parece estar a desejar transmitir.2) diz ainda que a fé não é sinónimo de terrorismo. Estou de acordo, mas também não se pode ignorar que a fé islâmica, quando entendida de modo ortodoxo e tal como tem sido feito desde que Muhammad a propôs pela primeira vez, sempre foi um meio fértil para actos de terror: desde os raides conduzidos por Muhammad às caravanas de tribos judias que não reconheciam o seu profetismo até às notícias que, sem exagero, todos os dias nos mostram crentes maometanos a cometerem actos de terror apoiados naqueles que também são princípios religiosos da sua fé.3) concordaria, ainda, que seria incompreensível que alguns (não poucos por sinal, pois estão a seguir as 4 maiores escolas de jurisprudência islâmica ortodoxa) muçulmanos lessem os seus textos fundacionais (o qurão e os haditha) de um modo literal, mas só se eles o pudessem fazer, em fidelidade àqueles, de um modo diverso. O facto de os académicos muçulmanos não aceitarem que aqueles sejam lidos com o recurso aos métodos histórico-críticos, que foram os que revolucionaram a leitura dos demais livros religiosos pois estes estavam em consonância com o seu uso, revela isso mesmo.4) diz ainda que não se deve confundir o islão, com o islamismo, a fé coma ideologia, mas parece-me que isso é inserir uma divisão que não é aceite pelo islão ortodoxo, pois fazê-lo obrigaria a dizer que já no tempo de Maomé passou a existir essa diferença, o que de facto, até pelo que disse sobre as evidências de actos terroristas espoletados e até conduzidos por Maomé, não é verdade: o islão foi sempre indissociavelmente uma religião e uma ideologia.5) não se deve prescindir do uso de um termo apenas porque alguém diz que o mesmo pode ter uma conotação pejorativa: de facto a palavra maometano, a acreditar nas suas palavras que fazem referência ao parecer de alguns maometanos, pode tanto ter um sentido pejorativo, como neutro e até positivo consoante o contexto usado. Não se pode deitar fora a criança com a água. Mas historicamente falando, não foi, apesar inclusive do que os maometanos quiseram fazer dar a entender, o problema da sua suposta acepção negativa que levou aqueles a dizerem que preferiam ser denominados de muçulmanos ou islamitas, mas, isso sim, a sua pretensão, aliás ridícula, de que o islão não surgiu com Maomé, mas com Abraão.(continua)