(Crónica da edição de 18 de Julho de 2010)
1. O aumento do preço do jornal pode ser compreendido pelos leitores, ainda que lhes desagrade. Já uma explicação coxa para esse aumento tenderá, provavelmente, a irritá-los. Foi o que aconteceu quando, no início deste mês, se anunciou na última página que o PÚBLICO iria passar a custar mais dez cêntimos aos fins-de-semana, “por causa do aumento do IVA”.
O leitor José Alberto Tomé, de Lisboa, não gostou da explicação. E vá de fazer contas: “O PÚBLICO (…) no dia 1 de Julho avisa-nos que o preço ao fim de semana será de 1,6 euros às sextas, sábados e domingos ‘por causa do aumento do IVA’! Ora esta informação não corresponde à realidade (quanto muito podem dizer que o aumento do IVA é um dos factores que leva ao anunciado aumento). De facto, 30 cêntimos por semana correspondem a um aumento do preço semanal actual de 3,5%, muito para além do aumento do IVA. Mas a base a considerar para saber qual o ‘IVA’ que o PÚBLICO vai cobrar deveria ser o actual preço sem IVA, que actualmente é de 7,08 euros. Teríamos assim, para justificar o novo preço, um ‘IVA’ de 24,3% (8,8/7,08 igual a 1,243)”.
“Ironicamente”, comenta o leitor, “este anúncio é feito no mesmo dia em que noticiam o facto de o retalho querer pôr os fornecedores a pagar a factura! Então e o PÚBLICO? Porque aumenta a factura? Não merecemos uma explicação mais séria?”.
Claro que sim. Redigido como foi, o anúncio do aumento do preço parecia-se mais com alguma publicidade enganadora que por aí anda do que com uma explicação honesta e verdadeira aos leitores. Saibam os responsáveis pelo jornal manter sempre o respeito pela inteligência de quem os lê e não terão, penso eu, de recear que um aumento de 30 cêntimos por semana possa afastar quem hoje compra este diário.
O director adjunto Manuel Carvalho reconhece que “as contas do leitor são claras e inequívocas”. E justifica: “O que se pretendia dizer aos leitores é que no actual contexto do mercado da imprensa não nos seria possível acolher o impacto do agravamento da taxa do IVA. Ou, como sugere a carta do leitor, ‘o aumento do IVA é um dos factores que leva ao anunciado aumento’ (…). O PÚBLICO não aumentava o seu preço desde 2008. Entretanto, não só se agravaram os custos de matérias-primas como o papel, como as receitas publicitárias recuaram por força da actual crise. O aumento do IVA foi, por isso, mais um custo a ser considerado na decisão da empresa de aumentar o preço nas edições de fim-de-semana”.
Era o que, no mínimo, deveria ter sido dito desde o início. Manuel Carvalho considera pertinente, no caso, o conselho do leitor: “O PÚBLICO deveria ter mais cuidado com as informações que nos transmite!”. Eu subscrevo e só acrescento que não deveria ser necessária a intervenção dos leitores atentos para que a direcção editorial corrigisse falhas que são nocivas para a exigível relação de transparência com os compradores do jornal.
2. Mais cuidado e atenção deveriam os responsáveis editoriais dedicar também à leitura do que publicam nas suas páginas. Evitariam, assim, reclamações justificadas, como a que me chegou de Maria do Rosário Gama, directora da escola secundária Infanta D. Maria, de Coimbra.
Passo a transcrever: “Na contracapa do jornal PÚBLICO de hoje [16/7], na secção ‘Sobe e Desce’, vem uma notícia falsa sob o título ‘Rosário Gama’. É aí referido que eu fui eleita sucessora do dr. Álvaro Santos na presidência do Conselho das Escolas, quando este órgão só agora vai ser constituído. O escrutínio para a constituição do Conselho das Escolas foi feito ontem [15/7] e só depois da primeira reunião dos elementos eleitos se procederá à eleição do presidente. A jornalista sabia isto porque eu expliquei, em contacto telefónico, como se processava a eleição, por isso é muito desagradável para mim e para os outros conselheiros eleitos uma notícia deste teor, em contradição com o conteúdo sobre o mesmo tema incluído na página 7”.
Acrescenta a directora da escola de Coimbra: “Devo informar que não sou candidata ao cargo de presidente do Conselho das Escolas e por esse facto mais gravosa é a notícia. Agradeço pois um desmentido em nome do jornalismo de verdade”.
A correcção, acompanhada das devidas desculpas, foi já feita na edição de ontem, na secção “O PÚBLICO Errou”. Mas o que aconteceu ilustra bem o que o director adjunto Manuel Carvalho chama “um daqueles erros indesculpáveis que por norma acontecem na hora de fecho”. Explicação: a nota da última página “resulta de uma leitura apressada do texto que lhe está na base (…). O facto de Rosário Gama ter sido eleita para o Conselho das Escolas justificou sem dúvida o destaque que lhe foi concedido no corpo da notícia, e esse destaque pode ter influenciado a ideia de que a professora foi eleita não apenas para o Conselho, mas também para a presidência desse órgão”. Para concluir: “Uma leitura mais atenta do que se escreveu na página 7 seria suficiente para afastar esta percepção. O que, de facto, não aconteceu”.
Traduzir numa chamada de primeira página ou utilizar numa nota valorativa, como são as do “Sobe e Desce”, o que outro jornalista escreveu envolve, para os directores ou editores de fecho, uma responsabilidade dupla. Para com os leitores, no que toca à selecção dos temas, e à síntese e interpretação adequadas da notícia. E para com os próprios jornalistas autores das peças, às vezes envolvidos em erros pelos quais não são responsáveis. Esses jornalistas, ou os seus editores, podem e devem, aliás, ser consultados quando surjam dúvidas “na hora de fecho”.
No caso vertente, a jornalista Clara Viana, que assinou a notícia propriamente dita, transmitiu a informação correcta sobre o processo de eleição do Conselho das Escolas, destacando, com toda a lógica jornalística, o facto de um dos futuros membros deste órgão consultivo do Ministério da Educação ser alguém que fora, nas suas palavras, “uma das caras da contestação” à política da anterior ministra. No topo da hierarquia redactorial, o responsável de fecho tresleu, e o resultado foi uma “notícia falsa”.
Compreensível? Sim, a pressão do fecho de um diário pode facilitar o desacerto. Aceitável? Não, os leitores têm direito a esperar que existam a organização e o rigor profissional que evitem lapsos deste tipo. Remédios? Reler, perguntar, pensar duas vezes. No caso específico das notas de uma secção como o “Sobe e Desce”, dialogar com aqueles por quem passou a notícia que lhes deu origem.
3. Os leitores também têm direito a não ser prejudicados por outros sinais de desorganização, como os que se revelam em falhas de coordenação interna e deficiências de revisão. Não me refiro, hoje, aos erros frequentes no uso da língua portuguesa, tema de queixas recorrentes e justificadas de vários leitores, a que não tive ainda oportunidade de dar a atenção sistemática que merecem.
Falo, desta vez, da área da chamada “informação utilitária” (farmácias de serviço, grelhas televisivas, roteiros de espectáculos), cuja exactidão é essencial, e em que a negligência pode provocar contratempos aos leitores que nela confiam. Veja-se o caso do leitor Gonçalo Rosa, que já tivera a experiência de esbarrar na porta fechada de uma farmácia que o jornal lhe indicara estar aberta, e que no passado dia 26 de Junho viu frustrado o convite que fizera a amigos americanos para assistirem ao jogo de futebol entre as selecções dos EUA e do Gana, que o PÚBLICO anunciara, erradamente, ir ser difundido num canal televisivo de sinal aberto.
Referindo-se às edições de 26 e 27 de Junho, diz o leitor: “A informação televisiva referente aos jogos do Mundial desse fim-de-semana e publicada numa tabela de suporte aos textos estava toda errada: o Uruguai-Coreia foi difundido na SIC e não num exclusivo da Sport TV, o Gana-EUA e o Alemanha-Inglaterra não foram difundidos na RTP, como anunciado, mas sim apenas no canal pago”.
Consultei essas edições e concluí que a reclamação do leitor só pecava por defeito. Na verdade, na edição de 26/6 anunciava-se, na tabela referida, que o jogo Uruguai-Coreia do Sul seria difundido pela Sport TV, mas na mesma página, num quadro referente à partida, dizia-se que passaria também na SIC, enquanto na página da informação televisiva se voltava a referir apenas o canal pago. Quanto ao EUA-Gana, era anunciado, em lugares diferentes da mesma página, como passando só na RTP ou só na Sport TV, que por sua vez tinha o exclusivo da transmissão na página das grelhas televisivas. Na edição seguinte, referia-se na página 26 que o Alemanha-Inglaterra passaria na Sport TV, para na página seguinte se garantir que seria na RTP, e na informação televisiva que seria em ambas. Mesmo sabendo-se que os erros em matéria de programação são por vezes da responsabilidade das próprias estações televisivas, uma trapalhada como a que descrevi, com informações contraditórias na mesma página, só pode ser explicada por descoordenação e uma revisão desatenta ou inexistente.
Os responsáveis editoriais olham para estes erros, muitas vezes, como falhas menores, desvalorizando a desconfiança que provocam, que pode levar um leitor como o que citei a interrogar-se: “Se o PÚBLICO erra o básico, o que não fará com a informação mais complexa?”. Este é um problema de organização e profissionalismo. Sabe-se como as rotinas mais monótonas levam ao abrandar da vigilância. Uma monitorização regular da fiabilidade destas páginas poderia ajudar.
José Queirós
Documentação complementar
Carta de um leitor sobre o anúncio do aumento de preço do jornal
O “Público” deveria ter mais cuidado com as informações que nos transmite! Dia 1de Jullho avisa-nos que o preço ao fim de semana será de 1,6 Euros às sextas, sábados domingos “por causa do aumento do IVA”! Ora esta informação não corresponde à realidade (quanto muito podem dizer que o aumento do IVA é um dos factores que leva ao anunciado aumento). De facto 30 cêntimos por semana correspondem a um aumento do preço semanal actual de 3,5% muito para além do aumento do IVA. Mas a base a considerar para saber qual o “IVA” que o “Público” vai cobrar deveria ser o actual preço sem IVA, que actualmente é de 7,08 Euros. Teríamos assim, para justificar o novo preço, um “IVA” de 24,3% (8,8/7,08 igual a 1,243). Ironicamente, este anúncio é feito no mesmo dia em que noticiam o facto do retalho querer pôr os fornecedores a pagar a factura! Então e o “Público”? Porque aumenta a factura? Não merecemos uma explicação mais séria?
José Alberto Tomé
Lisboa
Resposta da direcção editorial
As contas do leitor são claras e inequívocas, assim como a recomendação com que inicia a sua carta. O que se pretendia dizer aos leitores é que no actual contexto do mercado da imprensa não nos seria possível acolher o impacte do agravamento da taxa do IVA. Ou, como sugere a carta do leitor, “o aumento do IVA é um dos factores que leva ao anunciado aumento” de dez cêntimos nas edições do fim-de-semana. Vale a pena recordar que o PÚBLICO não aumentava o seu preço desde 2008. Entretanto, não só se agravaram os custos de matérias-primas como o papel, como as receitas publicitárias recuaram por força da actual crise. O aumento do IVA foi, por isso, mais um custo a ser considerado na decisão da empresa de aumentar o preço nas edições de fim-de-semana.
Manuel Carvalho (director adjunto)
Reclamação da leitora Maria do Rosário Gama
Na contra-capa do jornal Público de hoje, dia 16 de Julho, na secção “Sobe e Desce” vem uma notícia falsa sob o título “Rosário Gama” : É aí referido que eu fui eleita sucessora do Dr. Álvaro Santos na presidência do Conselho das Escolas, quando este órgão só agora vai ser constituído. O escrutínio para a constituição do Conselho das Escolas foi feito ontem, dia 15 de Julho e só depois da primeira reunião dos elementos eleitos se procederá à eleição do Presidente. A jornalista sabia isto porque eu expliquei, em contacto telefónico, como se processava a eleição, por isso é muito desagradável para mim e para os outros conselheiros eleitos uma notícia deste teor, em contradição com o conteúdo sobre o mesmo tema incluido na página 7.
Devo informar que não sou candidata ao cargo de Presidente do Conselho das Escolas e por esse facto mais gravosa é a notícia. Agradeço pois um desmentido em nome do jornalismo de verdade.
Maria do Rosário Gama
Coimbra
Resposta da direcção editorial
O “sobe” em questão resulta de uma leitura apressada do texto que lhe está na base. Ou, por outras palavras, resulta de um daqueles erros indesculpáveis que por norma acontecem na hora de fecho. O facto de Rosário Gama ter sido eleita para o Conselho das Escolas justificou sem dúvida o destaque que lhe foi concedido no corpo da notícia. E esse destaque pode ter influenciado a ideia de que a professora foi eleita não apenas para o Conselho, mas também para a presidência desse órgão consultivo. Uma leitura mais atenta do que se escreve na página sete seria suficiente para afastar esta percepção. O que, de facto, não aconteceu. Na qualidade de director de fecho da edição em causa apresentei de imediato um pedido pessoal de desculpas à professora Rosário Gama e na edição do dia seguinte a confusão foi devidamente esclarecida no espaço “O PÚBLICO Errou”.
Manuel Carvalho (director adjunto)
Queixa de um leitor sobre erros no anúncio de transmissões televisivas
(…) Gostava de partilhar consigo um erro que o jornal cometeu nas edições de 26 e 27 de Junho.
Lamentavelmente, a informação televisiva referente aos jogos do Mundial desse fim-de-semana e publicada numa tabela de suporte aos textos estava toda errada: o Uruguai-Coreia foi difundido na SIC e não num exclusivo da SportTV; o Gana-EUA e o Alemanha-Inglaterra não foram difundidos na RTP, como anunciado, mas sim apenas no canal pago.
Dir-me-á que é uma falha menor. É possível. Mas a secção de informação utilitária existe exclusivamente para informar. Admito que possa não ser a secção mais aliciante para os jornalistas que a têm de preencher, pois não constitui um desafio profissional, mas ela tem de estar correcta. Caso contrário, é um gasto de espaço. E justifica-se perguntar: se o Público erra o básico, o que não fará com a informação mais complexa?
Há alguns meses (infelizmente, não anotei a edição em concreto), segui a indicação publicada das farmácias de serviço e, numa emergência, esbarrei com a porta fechada, ao contrário do noticiado. Agora, convidei amigos americanos para verem o jogo da sua selecção porque, dizia o Público, ele era difundido em regime aberto. Afinal, não foi.
Não voltarei a confiar na informação sobre os cinemas e as farmácias, as exposições e a informação televisiva, a meteorologia e os obituários. Parece-me claro que ela só lá está para ocupar espaço ou para troçar dos incautos que a tomam como verdadeira.
Gonçalo Rosa