Limpando a gaveta — 2

Sob este título, que surgirá periodicamente, recuperam-se alguns casos que não foi possível tratar, por falta de espaço, na edição em papel do PÚBLICO. Trata-se, em geral, de temas resultantes de reclamações ou dúvidas dos leitores e que foram objecto de comentários ou explicações da redacção do jornal.

Vaticano, homossexualidade e pedofilia



A notícia “Vaticano liga homossexualidade à pedofilia, especialistas desmentem qualquer relação”, assinada pela jornalista Sofia Lorena na edição de 14 de Abril passado, suscitou uma reacção do leitor Manuel Ferreira dos Santos. Na origem da notícia, uma afirmação proferida no Chile pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone: “Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há relação entre o celibato dos padres e a pedofilia, mas muitos outros demonstraram, e disseram-no recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia. É a verdade, é esse o problema”. A afirmação provocou reacções naquele país sul-americano, negando a relação defendida pelo cardeal. A notícia do PÚBLICO citava as opiniões, no mesmo sentido, de dois especialistas portugueses.

Mensagem do leitor

Relativamente à notícia publicada pela jornalista Sofia Lorena e cujo título é:

“Vaticano liga homossexualidade à pedofilia, especialistas desmentem qualquer relação” (…), gostaria de propor uma pequena correcção para melhor adequar o conteúdo com o título. Assim, seria mais correcto: “Vaticano liga homossexualidade à pedofilia, dois especialistas desmentem qualquer relação”.

Na realidade foram ouvidos apenas dois especialistas, conforme se confirma no corpo da notícia: “Para além de recusarem a relação feita pelo cardeal Bertone, os dois especialistas também vêem nestas declarações uma tentativa de desviar o debate do seu foco.” Com certeza que facilmente se encontrariam outros dois especialistas que corroborariam a opinião do sr. cardeal Bertone. O que a notícia não consegue fundamentar é quais os fundamentos de uma opinião face à sua contrária e isso é que é pena.

Manuel Ferreira dos Santos

Explicação da jornalista

Em resposta às questões levantadas pelo leitor Manuel Ferreira dos Santos sobre a notícia “Vaticano liga homossexualidade à pedofilia, especialistas desmentem qualquer relação”, esclareço que tentei obter um comentário às declarações do cardeal Bertone junto de dez especialistas: alguns não quiseram falar, com outros não consegui contactar em tempo útil e um respondeu-me já com o texto fechado, corroborando a opinião dos dois citados.

Ao longo do dia 13 [de Abril] vários meios de comunicação portugueses e internacionais falaram com especialistas diferentes dos que eu ouvi para o artigo e as suas posições eram coincidentes com a do sexólogo e da psiquiatra citados no texto. A agência Lusa, por exemplo, ouviu a sexóloga Marta Crawford; a TSF, o psiquiatra Álvaro Carvalho. Poderia ter referido estas opiniões no texto – não o fiz por motivos de espaço, mas tê-lo-ia feito caso não fossem coincidentes com as posições já incluídas.

Acrescento apenas que, para além dos dois especialistas, é citado um parlamentar chileno. Vários políticos tomaram posições idênticas; o senador citado foi escolhido por ter elaborado legislação sobre pedofilia, o que, não fazendo dele um especialista, o torna mais habilitado a falar da questão do que um político que nunca se tivesse ocupado do tema.

Sofia Lorena

Nota



Valerá a pena acrescentar que, no dia seguinte ao da publicação da notícia citada, o tema voltou às páginas do PÚBLICO, numa peça assinada pelo jornalista António Marujo. Nela fomos informados de que o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, “fez uma declaração inédita, corrigindo as afirmações do secretário de Estado” Bertone, e afirmando nomeadamente: “As autoridades eclesiásticas pensam que não é da sua competência fazer afirmações gerais de carácter especificamente psicológico ou médico”.

José Queirós

Instabilidade linguística

Na edição de quinta-feira, 15 de Abril, numa peça referente à situação meteorológica, assinada por Luís Filipe Sebastião, a leitora Alda Nobre encontrou uma contradição entre o que se dizia no título e o que se afirmava no texto, e manifestou dúvidas sobre quais as fontes consultadas.

Primeira mensagem da leitora

Acabo de ler no Público de hoje [quinta-feira, 15 de Abril], numa notícia sobre os tornados de ontem na zona ribeirinha de Lisboa, uma “caixa” com o título: ” Instabilidade: Melhorias só a partir de amanhã” . (…) O que me inquieta é a total falta de concordância do título da caixa com o seu conteúdo. Vejamos:

Título: “(…) Melhorias só a partir de amanhã”

Conteúdo: no 2º parágrafo da caixa, nas linhas 8 e 9, pode ler-se: “Esta instabilidade deverá manter-se até ao fim de semana, com particular agravamento (…) durante HOJE E AMANHÃ (…)”.

Em que é que ficamos? Afinal o tempo melhora a partir de amanhã ou, como se lê umas linhas abaixo, a partir de AMANHÃ haverá um “particular agravamento”, etc.?

Isto revela falta de rigor, quer por parte de quem escreve, quer de quem, eventualmente, deveria rever os textos (…) Alguém aqui não está a fazer correctamente o seu trabalho…

Alda Nobre

Lisboa

Segunda mensagem da leitora

Relativamente [à mensagem] anterior, respeitante a uma notícia confusa sobre a meteorologia, devo acrescentar que fui agora mesmo (14h50) ao site do IM, e nele não consta qualquer referência ao “particular agravamento” do estado do tempo a que a “notícia” faz referência…ficando eu confusa sobre quais as fontes que serviram de base a tão confusa prosa.

Alda Nobre

Lisboa

Resposta do director-adjunto Nuno Pacheco



Estive a ler a caixa sobre a “tromba d’água”, e é verdade que parece um pouco escrita à pressa. Mas não me parece haver contradição entre o título e o texto.

No título fala-se em “instabilidade” e anunciam-se “melhorias só a partir de amanhã”.

No texto, diz-se: “Esta instabilidade deverá manter-se até ao fim-de-semana [repare-se que não se diz no fim-de-semana mas até ao fim-de-semana, ou seja até sábado], com particular agravamento das condições atmosféricas durante hoje e amanhã, e gradual melhoria da situação no sábado.” [A leitora cita parte da frase mas omite a “gradual melhoria da situação no sábado”, que justifica o título: melhorias só a partir de amanhã significa, já que o jornal saiu na quinta, só a partir de sexta, ou seja, no próprio sábado…].

Além do mais, o texto atribui (acredito que correctamente) tais informações ao Instituto de Meteorologia de Portugal e particularmente à meteorologista Cristina Simões, também citada.

Não me parece que haja, repito, qualquer contradição; nem erros de maior no texto.

Comentário



A esta distância, não será difícil saber como esteve o tempo no dia 16 de Abril. Mas constato que a língua portuguesa é, como dizem, traiçoeira. Quando, num jornal datado de quinta-feira, se escreve “a partir de amanhã”, devemos compreender “a começar na sexta-feira” ou “depois de sexta-feira”, isto é, no sábado? Por mim, não teria dúvidas em entender que um “amanhã” publicado numa quinta-feira se refere a uma sexta-feira (e a concordar por isso com a leitora sobre a contradição entre o título e o que se diz no texto), mas verifico que não é esse o entendimento dado, no PÚBLICO, à expressão “a partir de”. A palavra aos especialistas que queiram pronunciar-se.

José Queirós

Um título assertivo

O título de uma notícia do Desporto (edição de 6 de Abril, página 25), assinada pelo jornalista Paulo Curado, foi questionado pelo leitor Paulo Pais.

Pergunta do leitor

De que forma o desenvolvimento da notícia [“Interferência do FC Porto retira André Villas-Boas da rota do Sporting”] justifica a assertividade do título?

Paulo Pais

Resposta do editor do Desporto

A assertividade do título resulta de uma sucessão de contactos efectuados naquele mesmo dia, quer junto do Sporting, quer junto de elementos próximos do FC Porto e do próprio André Villas-Boas. Foi após juntarmos as peças oriundas destas diferentes fontes de informação que se concluiu o que vem expresso no título. Infelizmente, nenhum dos contactos que estabelecemos aceitou falar “em on”.

A posteriori, e apesar de as fontes contactadas não terem admitido dar a cara pelas informações avançadas, poder-se-ia ter deixado mais explícita no texto a origem das informações obtidas. Mesmo sem termos identificado as fontes, poderíamos ter deixado indicações mais claras no texto que ajudassem os leitores a perceber quais as bases que nos levaram àquele título ou que lhes dessem mais elementos sobre a origem das informações.

Mas o jornal está seguro da informação avançada, tanto mais que ela resulta do cruzamento de dados entre fontes independentes entre si. E mesmo sem quererem dar a cara, são fontes que o jornalista considera credíveis.

Jorge Miguel Matias





Comentário



De facto, teria sido mais correcto ” ter deixado indicações mais claras no texto, que ajudassem os leitores a perceber quais as bases que levaram [os jornalistas do PÚBLICO] àquele título ou que lhes dessem mais elementos sobre a origem das informações”. A futura confirmação ou não da notícia permitirá aos leitores avaliar da credibilidade das fontes citadas, devendo reconhecer-se que a sua não identificação pode ser aceitável quando o jornalista assegura, como neste caso, que o jornal está “seguro da informação avançada”. No entanto, essa ausência de identificação das fontes é sempre prejudicial para a credibilidade do que se noticia.

Quanto à questão específica levantada pelo leitor, deve sublinhar-se a sua pertinência, já que aquilo que se afirma no título aparece como hipotético no primeiro parágrafo, para surgir depois em tom mais afirmativo (mas sem referência a fontes ou factos concretos) no terceiro parágrafo.

José Queirós

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