É difícil admitir a existência da maldade, sobretudo quando ela se encontra em crianças muito novas, constata a psiquiatra brasileira Ana Beatriz Barbosa Silva, autora de um livro sobre o tema, Bullying – Mentes Perigosas nas Escolas. O certo é que ela existe e em todas as escolas, tanto nas públicas como nas privadas, há bullying, garante a psiquiatra numa entrevista concedida ao diário brasileiro O Estado de S. Paulo (“Não existe escola sem bullying”). A realidade brasileira pode ser distinta da portuguesa, mas lá como cá, a boa escola, como diz a psiquiatra, é a que se esforça por lidar – e atempadamente – com o problema, em vez de o ignorar voluntária ou involuntariamente.
Conta Ana Beatriz Barbosa Silva que, quando vai às escolas falar sobre o caso de algum estudante, seu paciente, vítima de qualquer forma de violência, de um modo geral, escuta “a directora” dizer que apenas terá ocorrido uma brincadeira. Nessa altura, a psiquiatra esclarece que, se é brincadeira, todos se deveriam divertir. Sendo bullying, explica, há um grupo que se diverte à custa da humilhação de outros.
A psiquiatra nota que as vítimas, de um modo geral, são crianças ou jovens que se desviam da norma porque são, por exemplo, demasiado gordas ou excessivamente magras. “São crianças mais tímidas, menos pop”. Ana Beatriz Barbosa Silva considera que os motivos dos agressores variam, podendo eles, por exemplo, reproduzir a violência do lar ou exprimir uma revolta circunstancial. Os casos mais graves são os das crianças com transtornos comportamentais. Elas dão problemas na escola e em casa.
Ao consultório da psiquiatra chegam sobretudo vítimas. “A primeira coisa que eu faço é mostrar que elas não têm nada de errado. Hipersensibilidade não é doença. Muitas vezes as crianças chegam pedindo desculpa por serem tímidas. As vítimas justificam o injustificável. Nenhuma violência é justificável”.