Para que serve um provedor do leitor, do ouvinte ou do telespectador? O mais recente Mar da Palha, que se apresenta como o último número do jornal da Escola Secundária Emídio Navarro, Almada, e o primeiro do Agrupamento de Escolas Emídio Navarro, aproveitou a presença de vários ex-provedores no Congresso Literacia, Media e Cidadania, realizado em Maio, em Lisboa, para obter algumas respostas.
O provedor serve para ajudar os leitores a compreender melhor aquilo que lêem, afirma Joaquim Fidalgo, ex-provedor do leitor do PÚBLICO. Essa ajuda, diz Estrela Serrano, ex-provedora do leitor do Diário de Notícias, passa por um trabalho de desconstrução do que é a informação e a comunicação, que contribuirá para que os cidadãos entendam que o jornalismo não oferece a verdade absoluta. Adelino Gomes, ex-provedor do ouvinte da RDP, refere que o provedor promove a literacia mediática ao dar, a quem compra jornais, vê televisão ou ouve rádio, instrumentos para interpretar o trabalho dos jornalistas e de outros profissionais dos media.
O provedor e a língua portuguesa
O jornalismo, explica ainda Adelino Gomes, presta um serviço público. “Seja no vosso jornal, seja na rádio pública”, acrescenta o ex-provedor, que sublinha que a qualidade desse serviço impõe um excelente domínio da língua portuguesa.
Deveria, aliás, haver um provedor da língua portuguesa em cada órgão de comunicação social, recomendou-se, em 1989, num seminário sobre a língua portuguesa e a comunicação social, como recordam João Andrade Peres e Telmo Móia, em Áreas Críticas da Língua Portuguesa (2.ª edição. Lisboa: Caminho, 2003), um livro que analisa exaustivamente os erros gramaticais presentes em textos publicados na imprensa entre 1986 e 1994. Não sendo possível, competirá ao provedor do leitor o cuidado de zelar pela correcção linguística.
A figura do provedor
Os provedores estiveram em destaque no Boletim PÚBLICO na Escola de Fevereiro de 2004. A figura do provedor, como nessa altura se recordava, nasceu na Suécia em 1809 com o papel de ouvir as queixas dos cidadãos contra o Governo. Em Portugal, há provedores em exercício de funções em diversas áreas. O provedor de Justiça é, certamente, o mais famoso. A ele podem recorrer todos os cidadãos que se sintam prejudicados por acções ou omissões ilegais ou injustas dos poderes públicos. Ao provedor de Justiça compete, “por meios informais, defender os direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos do cidadão, assegurando ou repondo a legalidade e a justiça da actuação dos poderes públicos”.
Na imprensa, a função de provedor do leitor surgiu no Japão. A paternidade pertence ao jornal Asahi Shimbun, de Tóquio, que, em 1922, dispunha de uma espécie de comité para recepção e investigação das queixas dos leitores. O The Yomiuri Shimbun, outro jornal japonês de grande circulação, criou, em 1938, um órgão semelhante para olhar pela qualidade editorial. Os primeiros ombudsmen (palavra que deriva da língua sueca, cuja tradução portuguesa é provedor) surgem mais tarde, em 1967, nos jornais The Courier Journal e Louisville Times, ambos da cidade de Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos da América.
Em Portugal, a história dos provedores do leitor é mais curta. O Record, em 1992, foi o primeiro órgão de comunicação social a dispor de um. David Borges foi quem se encarregou da tarefa pioneira. O Diário de Notícias seguiria o mesmo caminho em 1997, sendo Mário Mesquita o primeiro a ocupar o cargo. Menos de um mês depois, o PÚBLICO tinha também um provedor. A função foi estreada por Jorge Wemans. No ano 2000, Fernando Martins inaugurou a provedoria no Jornal no Notícias.
O provedor e a educação para os media
Manuel Vásquez de Montalban, citado por Mário Mesquita, afirmou que o provedor pode certamente contribuir para melhorar a relação entre o leitor e o jornal, exercendo um “certo controlo de qualidade”, mas a verdadeira “defesa do leitor” só pode ser garantida por uma educação que se inicie na escola e ensine as pessoas a decifrarem as mensagens e os códigos ocultos, com vista a modificar uma situação em que “é o meio de comunicação que utiliza o leitor e não o leitor que utiliza o meio de comunicação”.