Nos bastidores dos telejornais. RTP1, SIC e TVI, um livro do jornalista Adelino Gomes, editado pela Tinta-da-China, é uma interessantíssima investigação sobre a edição dos jornais televisivos das 20 horas das três grandes estações de televisão de Portugal. A obra examina também “o pólo das audiências, entendido “na dupla vertente bélica de níveis de audiências e de uma concorrência que na hora da verdade (a emissão em directo do telejornal) sacrifica critérios editoriais”.
O estudo, explica Adelino Gomes, tornou evidente que há “um ritual diário de consulta sistemática e prioritária das audiências dos jornais televisivos da véspera e a naturalidade com que as percentagens de agrado ou desagrado eram apontados como guias das opções editoriais” e “um mesmo modelo subjacente à diversidade das vozes a distribuir pelo alinhamento do jornal, o qual hierarquizava os conteúdos não necessariamente pela sua relevância editorial, mas pela ordem mais apropriada à captação de audiência e pela ordem presumida que a concorrência lhe iria atribuir”.
Adelino Gomes refere também o exagero no prolongamento dos telejornais, que não decorreu de uma ‘reivindicação’ dos editores, nem sequer dos directores. “Tornou-se um imperativo comercial. Este, no que à prevalência do marketing diz respeito, precisou apenas de aguardar o momento adequado para ser aplicado”.
O autor manifesta-se a favor da “manutenção das hard news – entendidas enquanto relatos, debate e reflexão de acontecimentos que afectam significativamente a vida das pessoas nos planos político, económico e social, a nível local, regional, nacional e global –, mesmo quando se mostre problemático tornar a sua abordagem interessante e sedutora, sobretudo para as camadas mais jovens, só torna maior o desafio ao campo profissional. Isto não significa que se omitam as soft news – desporto, celebridades, cultura popular em geral”.