Promover ou aprofundar o gosto pela leitura é o objectivo de incontáveis e muito variadas iniciativas que, como poderá comprovar quem espreitar o blogue da Rede de Bibliotecas Escolares, estão a decorrer em escolas de todo o país nesta última semana de aulas do segundo período lectivo. A semana de leitura é também uma boa oportunidade para estimular a leitura vagarosa.
“The art of slow reading” é o título de um artigo do jornalista Patrick Kingsley, publicado no jornal The Guardian. “Se estiver a ler este artigo impresso, o mais provável é que leia apenas metade do que escrevi. Mas se a leitura for online, talvez não chegue a ler um quinto”. A estimativa de Patrick Kingsley baseia-se nas conclusões de um estudo dos movimentos oculares de um conjunto de pessoas realizado pelo Poynter Institute, dos Estados Unidos da América, e de uma análise do cientista dinamarquês Jakob Nielsen, que sugerem que muitas pessoas já não se conseguem concentrar de modo a conseguirem ler um artigo até ao fim. Patrick Kingsley cita também Nicholas Carr, que, em Os superficiais. O que a Internet está a fazer aos nossos cérebros, refere que os nossos hábitos hiperactivos online já afectam nossa capacidade mental para processar e compreender uma informação textual muito longa.
“Ainda está a ler?”, pergunta, pouco depois, o jornalista aos leitores. Se a resposta for positiva, é provável que eles façam parte de uma minoria. “Mas isso não importa, já que uma revolução literária está em formação. Primeiro surgiu o slow food, depois o slow travel. E agora chegou o movimento slow reading, constituído por académicos e intelectuais que nos querem ver a ler e reler sem pressa”.
Patrick Kingsley cita, depois, vários autores sobre as vantagens de uma leitura vagarosa. John Miedema, autor da obra Slow reading (o primeiro capítulo, numa tradução brasileira, pode ser lido aqui), faz um convite: “se quer ter uma experiência profunda com um livro, interiorizá-lo, combinar as ideias de um escritor com as suas e fazer de tudo isso uma experiência mais pessoal, tem que ler lentamente”. Lancelot R. Fletcher, que o jornalista diz ter sido o primeiro autor contemporâneo a popularizar o termo slow reading, crê, pelo contrário, que a leitura lenta não serve para estimular a criatividade do leitor, mas para descobrir a do escritor. Para Nicholas Carr, “as palavras do escritor actuam como um catalisador na mente do leitor, inspirando novos discernimentos, associações e percepções, até mesmo epifanias”. Notando que apenas a leitura lenta permitirá que a grande literatura possa ser cultivada no futuro, o jornalista cita de novo Carr: “A existência de um leitor atento e crítico é que estimula o trabalho de um autor. Ele inspira confiança no escritor para explorar novas formas de expressão, para trilhar os caminhos difíceis e exigentes do pensamento, para se aventurar em territórios desconhecidos e, por vezes, perigosos”.
“O que fazer, então?”, pergunta Patrick Kingsley, que responde: “Todos os adeptos da leitura lenta com quem conversei sabem que uma rejeição total da Internet é algo irrealista, no entanto, muitos acham que a resposta será um isolamento temporário das tecnologias”. Para os alunos de Tracy Seeley, professora da Universidade de São Francisco, por exemplo, o ideal seria desligar o computador um dia por semana.
O jornalista diz não estar certo de conseguir ficar longe da Internet por muito tempo. Porém se, como ele, ocasionalmente, alguém quiser ler com mais atenção e profundidade, Patrick Kingsley oferece duas sugestões: descarregar uma aplicação chamada Freedom, que permite ler em paz desligando o acesso à Internet ou o leitor offline Instapaper para iPhone, que remove anúncios e outras distracções do ecrã. Isto, remata Kingsley, para o caso de o leitor não se ter ido já embora.
[Há mais informações sobre a semana da leitura no blogue Bibliotecar, de Angelina Maria Pereira]