Como se sentiria se, de repente, descobrisse que uma fotografia privada, que podia ser mesmo muito íntima, sua ou tirada por si, com o telemóvel, tinha sido tornada pública? É provável que, mesmo para quem tenha não tenha imenso pudor, haja sensações mais agradáveis. Talvez, por isso, os ex-proprietários de uns quantos telemóveis não tenham apreciado que um conjunto de fotografias que tiraram e SMS que enviaram e receberam fossem, sem autorização, parar a um livro.
O autor, o fotógrafo Kyle M. F. Williams, comprou 44 telemóveis e, nos 28 que não estavam estragados, foi espreitar as memórias que os ex-donos lá tinham deixado. A seguir, fotografou as mensagens SMS que subsistiram, reproduziu as imagens (fotografias e vídeos) que não tinham sido apagadas e, com tudo isso, publicou um livro, intitulado Razrs. No site da Amazon, onde a obra se encontra à venda por cerca de dez dólares, nada se diz sobre se os ex-donos souberam que uma parte das suas vidas estava à venda ao público e, tendo-o sabido, o que sentiram.
Quem não quiser correr o risco de ter o que não quer ao alcance do olhar de todos, não se pode esquecer de limpar a memória do telemóvel antes de, quando chegar a hora, se desembaraçar dele.