Sobre algum correio electrónico que recebemos


Somos, todos os dias, os indiferenciados destinatários de correio electrónico variadíssimo.
De remetentes que nos são desconhecidos, podem chegar, umas vezes, “ofertas” de todo o género. “Torne-se sócio e receba 10 euros em vale de compra”, promete uma. Outra garante: “Faça um depósito a prazo e receba logo os juros”. “Tem aqui a oportunidade de ganhar a máquina […]. Existem 3 cores disponíveis, para escolher de acordo com a sua preferência”, anuncia a terceira.
Em outras ocasiões, prometem-nos diversão a troco de um simples registo num site: “Depois do sucesso da ultima edição […] a festa chique e atrevida, que decorre sob o tema […], está de regresso ao […]. A data já está marcada! […] Dezembro, a partir das 23h45. […] Tudo isto, claro, com requinte e bom gosto. Diversão, sensualidade e fantasia q. b. é o que se espera desta festa. […] O acesso ao evento é exclusivo através de registo no site […] Após o registo o convidado receberá um e-mail com uma password e todas as informações sobre como participar no evento”.
Por constarmos nas listas dos “contactos” de conhecidos ou de amigos, recebemos também e-mails sobre tudo e sobre nada.
Um deles indica no assunto: “Fwd: FW: Apelo – URGENTE! Este jovem é amigo duma amiga minha. POR FAVOR REPASSEM”. Lido tudo, verifica-se que o pedido já percorreu uma imensa lista de pessoas, tornando-se, portanto, impossível que o jovem seja amigo da amiga dos amigos que reenviaram o apelo.
Os temas das mensagens que vão sendo reencaminhadas a todos os contactos existentes nos e-mails variam entre a amizade, que se enaltece, ou os salários de políticos, que se vituperam. Há também links de vídeos, cujo visionamento se recomenda por serem divertidos ou por conterem denúncias que, segundo se refere sempre, ninguém, até então, tinha tido coragem de fazer. Em certas ocasiões, a sugestão é apressada: “Vê antes que apaguem”.
Por regra, os envios não acautelam que não se incomode o destinatário com uma mensagem – uma anedota, para usar um exemplo comum – que o inclui entre os alvejados.
O que caracteriza um grande número destas mensagens é a falta de cuidado. E a falta de cuidado existe quando, como tantas vezes sucede, a veracidade de uma imputação não é devidamente aferida ou quando a autoria de um texto não é confirmada.
Desde há dias, tem circulado através do correio electrónico (e das redes sociais) uma imprecação de Miguel Esteves Cardoso, que tem uma coluna diária no Público. A de hoje fala sobre isso.
“Anda para aí na Internet uma frase bacoca, fascista e estúpida que se atribui falsamente à minha pessoa”, diz Miguel Esteves Cardoso, acrescentando: “O que mais me ofende não é o furto da identidade. É a alacridade e a rapidez com que é espalhada a frase, pelo Facebook, pelo Twitter e por alguns blogues. Pelos vistos, muita gente acha-lhe graça ou diz achar-lhe graça. Como não tem graça nenhuma, é muito triste”.
Uma tristeza que alguma cautela, facilmente, evitaria.

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