Ajudar a lidar com o assédio dos adolescentes na Internet é o objectivo de uma campanha que está a ser promovida na Suíça por uma organização privada de utilidade pública, Pro Juventute, que colocou à disposição dos professores informação variada e que se propõe oferecer-lhes ateliers de formação na área das novas tecnologias, noticia hoje o diário Le Temps.
A Suíça “ainda não contabilizou o número de suicídios cometidos na sequência de ciber-assédio”, afirma Urs Kiener, psicólogo e membro da direcção de Pro Juventute, citado pelo jornal. No entanto, referem-se vários estudos que indicam que chegou o momento de agir. É que, em 2010, 18% dos adolescentes suíços com 14 e 15 anos afirmavam que já tinham tentado ‘acertar contas na Internet’. Entre os que tinham 16 e 17 anos a percentagem descia para os 15% e entre os de 18 e 19 anos, para os 13%. Urs Kiener revela que, há cinco anos, a linha telefónica de Pro Juventute não recebia qualquer chamada por causa de problemas na Internet. Hoje, contabiliza entre dois e três casos de ciber-assédio por semana.
O autor da notícia, o jornalista Jonas Pulver, explica que, entre os mais novos, os nativos digitais, a fronteira entre o mundo real e o mundo 2.0 foi abolida, fazendo com que um se tenha tornado simplesmente a extensão do outro. “Quando se considera as agressões cometidas unicamente na Web, poder-se-á julgar que os danos psicológicos são menores”, refere Stéphane Koch, formador no domínio das novas tecnologias. “Mas é errado julgar que a agressão é virtual. Ela é digital, mas é bem real”.
“Os danos podem ser ainda maiores por o seu autor não poder ver as reacções emocionais da vítima e poder esconder-se por trás do anonimato”, acrescenta Urs Kiener. Assim sendo, diz o psicólogo, “o agressor pode nem sequer entender o que está a fazer. Não há empatia possível. De resto, o que caracteriza o ciber-assédio é a sua rapidez e constância. O assediador pode estar em todo o lado e a toda a hora.”
O resultado referido pelo jornal é o que sabe: “Uma escalada de ridicularizações, insultos e discriminações, amplificadas pelas redes sociais, provocando um sentimento de vergonha na vítima, que se vai isolar socialmente e apresentar sinais de depressão.”
Os conselhos sobre o que fazer são idênticos aos que amplamente se têm divulgado por todo o lado: “Evitar responder aos assediadores, prevenir um adulto, fazer capturas do ecrã para documentar a agressão e, se isto falhar, prevenir a polícia”, recomenda Stephan Oetiker, director de Pro Juventute, recordando que as leis, que protegem contra as ofensas à pessoa, como a difamação e a calúnia, também se aplicam na Internet. Stéphane Koch sublinha também que é “indispensável que os comportamentos e as identidades digitais sejam ensinados na escola como uma disciplina a tempo inteiro. Trata-se não de um divertimento, mas de uma componente real da nossa sociedade, cujo domínio é essencial tanto na vida privada quanto no mundo do trabalho”.