O historiador Rui Tavares faz hoje, no PÚBLICO [“Fora do tempo e do espaço”], um comentário bem observado sobre o modo como foi tratado num Telejornal da RTP o caso do vídeo colocado no Facebook mostrando duas jovens a espancar outra perante a complacência divertida de uns quantos adolescentes: “O telejornal passou para uma peça sobre o caso em que uma adolescente foi agredida por outras duas adolescentes, enquanto tudo era filmado por um jovem. A RTP mostrava o filme, se não quase todo, muito mais do que necessitaria mostrar para que estivéssemos ‘informados’. Ao contrário do que parecia achar o jornalista e o editor responsáveis, eu não preciso de ver uma rapariga apanhar pontapés na cabeça para saber o que se passa; não ficarei mais informado por cada segundo a mais de pancada.
Há ainda formas de, no jornalismo, descrever, resumir, interpretar.
Creio que a isso até se chama, salvo erro, fazer jornalismo.
Uma das coisas que chocavam naquela história era como podia o rapaz ter filmado a agressão em vez de parar para pensar. Também chocava, num plano diferente, ver como o jornalista tinha decidido mostrar o vídeo em vez de parar para pensar.”
Tem razão Rui Tavares. Também me interroguei sobre isso e até pensei que havia mais alguma sensatez no Youtube do que nas televisões, dado que o vídeo foi removido. Está provado que as mesmas imagens chocam uns e estimulam outros. Valerá a pena arriscar a continuidade de comportamentos assim desviantes, eufemisticamente falando?