Uma sala privada, uma decoração especial, um menu exclusivo feito por Ljubomir Stanisic e só quando ele está. É assim na nova Hendrick’s Room do Bistro 100 Maneiras, onde cabem até 13 pessoas.
Foto 1: A Hendrick’s Room do Bistro 100 Maneiras (foto Fabrice Demoulin/100 Maneiras)
O universo é o da Hendrick’s, mas não houve nenhum pedido especial da marca, que, aliás, já dava o nome à sala anteriormente. A proposta partiu dos dois artistas, o designer gráfico e ilustrador Mário Belém e o designer industrial Filipe Pinto Soares. A sensação é a de entrarmos num mundo meio mágico, feito de placas de choupo recortadas para nos contar histórias, com cavalheiros bigodudos do século XIX, relógios de bolso e gente em escafandros. À nossa volta, e por cima de nós, há fechaduras e chaves e um certo ar de Alice no País das Maravilhas. Não sabemos se, ao tocarmos em alguma parede, vamos ou não parar a um universo alternativo.
Foto 2: Ostra com amêndoa e kiwi
Mas, pensando bem, com a refeição que o Ljubomir está prestes a servir-nos, já estamos num universo alternativo. Mais arriscado e mais divertido que na esmagadora maioria dos outros restaurantes. Deixemo-nos por isso, sem medos, engolir pela Hendrick’s Room e ver como saímos do outro lado da noite.
Foto 3: Mar-a-mais
Primeiro prato: gelatina de uva com berbigão e creme de alho. Ficamos a pensar quem raio se que se lembraria desta combinação. Ljubomir lembrou-se e ainda bem porque é bom que se farta. Vem com Verdelho o Original, de António Maçanita, Açores, porque a comida pede salinidade e mineralidade. Segue-se ostra com creme de amêndoa e kiwi e depois um mil folhas de vieiras com trufas de Verão e puré de alcachofra, acompanhado por um Poço do Lobo, Arinto, de 1995, já de cor dourada revelando a passagem dos anos.
Foto 4: Inside the Mind – cabeça de carabineiro
A sala já gira à nossa volta (e ainda não bebemos muito), as fechaduras parecem saltar, o sol e os cometas dançam sobre as nossas cabeças. A música é escolhida por nós – é possível a ligação a um smartphone para uma selecção musical personalizada. Tal como é possível escolher a intensidade da luz.
Foto 5: Tosta de truta com salmonete, abacate e patê de sardinha
Vem agora, com um Herdade dos Grous Reserva, uma cabeça de carabineiro – é um prato “inside the mind”, como Ljubomir lhe chama – com maionese de lima e caril. E depois o prato mais arriscado, e mais polémico da noite: um creme brûlée de marisco com ovas de peixe-aranha, doce e salgado a confundir-nos a boca e o cérebro. Mas, caramba, é para isto que aqui estamos. Se fosse para comer sopa de legumes ficávamos em casa, certo?
Foto 6: Detalhe da sala
Chama-se Mar-a-mais o prato seguinte, um carpaccio de polvo e marisco com tangerina e caviar. Segue-se um raviolo de carabineiro com um creme de alho francês, servido com o Vinha Formal 2013 de Luís Pato. Tudo muito bom, tal como a tosta de pele de truta com salmonete, abacate e patê de sardinha que vem antes de pararmos para um granizado de aipo abrir caminho para o último prato, de carne. Muitas vezes este é, numa refeição, o momento menos interessante. Aqui, se bem que talvez menos surpreendente que alguns dos anteriores, continua a ser um prato fantástico: entrecôte maturado (120 dias) com polenta, um molho feito com trufa e mioleira e um croquete cinco estrelas, com um excepcional Porta dos Cavaleiros 1985, do Dão.
Foto 7: Mário Belém (à direita) e Filipe Pinto Soares, os autores do novo visual da sala
Final de refeição: geleia de flores com morangos silvestres e baklava de beterraba, acompanhada por uma salada de ervas e a confirmação de que esta é, sem dúvida, uma experiência única. O preço está à altura da exclusividade: 180 euros por pessoa, com bebidas incluídas. Quem quiser, pode também alugar apenas a sala (sem o menu especial) por um extra de 50 euros, optando pelo menu à carta do Bistro.
Projecto fantástico. Porém o preço é bem alto (há sempre clientes e mercado para estes preços) quando comparando com um 2 estrelas Michelin (como o Belcanto),
Louváveis projectos e criatividade do chef que muito admiro. Mas este preço praticado causa-me enorme confusão, estando nós em Portugal. Já comi num 1 estrela Michelin em Amsterdão por 60 euros (Sinne restaurant) e muitos mais estrelas michelin daquela capital praticavam preços semelhantes e até mais baixos.
Pagar tanto em Portugal e num restaurante sem estrela Michelin é algo que me faz confusão….
Mas cada vez mais há procura (os turistas ajudam em muito).
Deve ser uma experiência fantástica no entanto.
Cumps