Pastéis de Santa Clara, manjar branco, arrufadas, queijadas, talhadas de príncipe, suspiros, barrigas de freira, encharcada – Coimbra orgulha-se dos seus doces, muitos dos quais saídos dos vários conventos que existiram na região, e por isso vai dedicar-lhes o próximo fim-de-semana. É a VI Mostra de Doçaria Conventual e Regional de Coimbra e parte da vontade de impedir que muitos destes doces sejam esquecidos.
O trabalho à volta da doçaria conventual e regional tem sido feito em grande parte pela Câmara Municipal de Coimbra, com o apoio da Universidade de Coimbra, e em particular do Mestrado em História da Alimentação: fontes, cultura e sociedade, e com a QUALIFICA (Associação Nacional de Municípios e de Produtores para a Valorização e Qualificação dos Produtos Tradicionais Portugueses). Um dos objectivos é trabalhar com os doceiros para garantir que são usadas as receitas genuínas e que os nomes dos doces conventuais não são desvirtuados, transformando-se noutra coisa qualquer que já pouco ou nada tem a ver com o original.
Para manter vivas essas tradições antigas, a Mostra deste fim-de-semana inclui peças de teatro como o Suplício dos Doces (sábado às 17h30), uma rábula satírica de 1727, escrita pelo Padre Jesuíta e Professor de Teologia, Silvestre Aranha, onde os doces de Coimbra são chamados a um Tribunal Académico pelo mal que faziam aos estudantes, e que será apresentada pela Bonifrates, Cooperativa de Produções Teatrais e Realizações Culturais, C.R.L.. Ou, no domingo às 16h30, a recriação de um Outeiro pelo Teatro Amador de Ribeira de Frades.
Explica o programa que “ligada à tradição doceira era habitual a realização dos outeiros ou abadessados, recitais poéticos, habitualmente nocturnos, onde junto às portarias dos Conventos femininos, devidamente engalanados para o efeito, se juntavam lentes, estudantes, poetas e fadistas. Estes freiráticos apinhavam-se nos adros esperando que pelas grades do convento as religiosas dessem o mote que seria depois desenvolvido pelos presentes em versos, sonetos ou outras criações melódicas. Nos conventos femininos de Santana, Santa Clara, Celas, Sendelgas, ou Tentúgal, procuravam os estudantes amores, suspiros e poesia e doces. No final e como escreve Almeida Garrett ‘mui gulloso doce as madres nos davam’. Ou seja, cada Convento oferecia as suas especialidades doceiras.”
E, para além de muita música, haverá também provas comentadas de doces organizadas pela QUALIFICA e os muitos doceiros da região que participam na Mostra – para quem ninguém saia de Coimbra dizendo que não conhece os doces locais e as suas histórias. Tudo acontece sábado e domingo no Convento de Sant’Anna.